A Paixão De Jesus
50. JUDAS VENDE
O SENHOR
O apóstolo Judas foi encontrar-se com os príncipes dos judeus
e disse-lhes: "O que me dais se vos entregar Jesus". Ofereceram-lhe
trinta moedas e ele aceitou.
51. JESUS NO
JARDIM DAS OLIVEIRAS
Saindo do Cenáculo, Jesus atravessou a torrente do Cedron e dirigiu-se,
com seus discípulos, para o monte das Oliveiras.
Chegando a um lugar chamado Getsêmani, onde havia um jardim, entrou
nele com os discípulos e disse-lhes: "Sentai-vos aqui enquanto
eu vou orar".
Levou consigo Pedro, Tiago e João e disse-lhes: "A minha alma
está triste até à morte. Ficai aqui e vigiai comigo".
Depois, andou um pouco, pôs-se de joelhos e orou, dizendo: "Pai,
se for possível, afasta de mim este cálice! Mas seja feita
a vossa vontade e não a minha".
Depois de orar assim por três vezes, apareceu-lhe um anjo do céu
para o consolar. Jesus, prolongando a sua oração, caiu em
agonia e começou a suar sangue que escorria até o chão.
Depois voltou para junto dos três apóstolos, que estavam dormindo.
Jesus disse-lhes: "Vamos, levantai-vos! Já está perto
aquele que me traiu".
52. A PRISÃO
DE JESUS
Jesus ainda estava falando quando chegou Judas com um grupo de soldados
e servos. Todos traziam lanternas e archotes, espadas e varapaus. O traidor
tinha-lhes dito: "Será aquele que eu beijar. Prendei-o".
Judas aproximou-se logo de Jesus e disse: "Mestre, eu vos saúdo".
E deu-lhe um beijo na face. Jesus disse-lhe: "Meu amigo, que vieste
fazer? Judas, é com um beijo que entregas o Filho do Homem?".
Então Jesus disse aos que acompanhavam Judas: "A quem procurais?".
Eles responderam: "A Jesus de Nazaré". Jesus disse-lhes:
"Sou eu". E logo caíram por terra. Jesus perguntou-lhe
outra vez: "A quem procurais?". Eles repetiram: "A Jesus
de Nazaré". Jesus respondeu: "Já vos disse que sou
eu. Se é a mim que buscais, deixai que estes se vão".
Então puseram as mãos em Jesus e o prenderam.
53. JESUS PROÍBE
A RESISTÊNCIA
Vendo isto, os discípulos perguntaram: "Senhor, e se os feríssimos
à espada?". Sem esperar a resposta, Simão puxou a espada,
feriu Malco, servo do sumo-sacerdote, e cortou-lhe a orelha direita. Jesus
disse: "Basta!". E, dirigindo-se a Pedro, disse: "Coloca
a espada na bainha porque quem com o ferro mata, com o ferro será
morto. Julgas que eu não poderia pedir a meu Pai e ele não
me enviaria mais de doze legiões de anjos? Mas como se cumpririam
as Escrituras, que anunciam que assim deve acontecer? Não hei de
beber o cálice que o Pai me deu?". E, tocando a orelha de Malco,
a curou.
Depois Jesus disse aos príncipes dos sacerdotes, aos magistrados
do templo e aos anciãos: "Viestes armados de espadas e varapaus
para me prender, como se faz a um ladrão. Todos os dias eu estava
sentado entre vós, ensinando no templo e não me prendestes.
Mas é esta a vossa hora, a hora do poder das trevas. Tudo isto aconteceu
para que se cumprissem as palavras dos profetas".
Então os discípulos o abandonaram e fugiram. Só Pedro
e João o seguiram de longe.
54. O SINÉDRIO
CONDENA JESUS À MORTE
Os soldados levaram Jesus preso ao palácio do sumo-sacerdote Caifás,
onde estava reunido o Sinédrio.
Os príncipes dos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam algum
falso testemunho contra Jesus, para o entregarem à morte, mas nada
encontravam, embora se apresentassem muitas falsas testemunhas. Por fim,
apareceram duas que declararam: "Ouvimos ele dizer: 'Posso destruir
o templo de Deus e reedificá-lo em três dias. Destruirei este
templo, feito pela mão do homem e em três dias edificarei outro
que não será feito pela mão do homem". Mas as
testemunhas não eram concordes.
Então o sumo-sacerdote levantou-se e, em pé, no meio do Sinédrio,
disse a Jesus: "Nada respondes aos que depõem contra ti?".
Mas Jesus permaneceu em silêncio e nada respondeu. Então o
sumo-sacerdote disse: "Eu te conjuro pelo Deus vivo que nos digas se
és o Cristo, o Filho do Deus Altíssimo". Jesus respondeu:
"Sou eu". Então o sumo-sacerdote rasgou as vestes, dizendo:
"Blasfemou! Que necessidade temos de mais testemunhas? Acabais de ouvir
a blasfêmia! Que vos parece?". Responderam: "É réu
de morte!".
55. PEDRO NEGA
O SENHOR TRÊS VEZES
Simão Pedro, que tinha seguido Jesus de longe, entrou no átrio
do palácio e sentou-se com outros perto de uma fogueira, a aquecer-se.
Então a criada que abriu-lhe a porta aproximou-se dele e disse: "Tu
também andavas com Jesus da Galiléia". Pedro negou diante
de todos, dizendo: "Não era eu, mulher. Eu não o conheço,
nem sei do que falas". No mesmo instante o galo cantou.
Pouco depois, enquanto se dirigia para a porta, outra criada reparou ele
e disse aos que o cercavam: "Este também estava com Jesus de
Nazaré". Pedro protestou pela segunda vez, jurando: "Não!
Eu não conheço esse homem!".
Passada quase uma hora, outro veio confirmar as suspeitas, afirmando: "Certamente
este estava com ele pois é galileu!". Os assistentes se aproximaram
e disseram-lhe: "Não há dúvidas! Também
pertenceis a eles! Até se percebe pela fala!".
Um dos servos do sumo-sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortara a
orelha, disse-lhe: "Então eu não te vi com ele no jardim?".
Ainda desta vez Pedro negou, protestou e jurou: "Não conheço
esse homem de quem falais".
Ele ainda falava quando o galo cantou pela segunda vez. Nesse instante,
Jesus virou-se e bateu o olhar em Pedro. Então o apóstolo
lembrou-se da palavra que o Mestre lhe dissera: "Antes que o galo cante
duas vezes, tu me negarás três vezes!". Pedro saiu do
palácio e chorou amargamente.
56. JESUS É
RIDICULARIZADO E MALTRATADO
Os criados que estavam guardando Jesus começaram a ridicularizá-lo
e a maltratá-lo. Uns cuspiam-lhe no rosto e o feriam a punhaladas;
outros vendavam-lhe os olhos e davam-lhe bofetadas, dizendo: "Profetiza
agora, Cristo: quem te bateu?". E acrescentavam muitos outros ultrajes.
Logo ao raiar do dia, os anciãos do povo, os príncipes dos
sacerdotes e os doutores da Lei se reuniram e decidiram entregar Jesus à
morte.
Então Judas sentiu o remorso de o haver traído e foi devolver
as trinta moedas de prata ao Sinédrio, dizendo: "Pequei ao entregar
sangue inocente". Eles responderam: "E o que isso nos importa?.
Judas arremessou o dinheiro no templo e, retirando-se, enforcou-se numa
árvore.
57. JESUS NA
PRESENÇA DE PILATOS
Os judeus levaram Jesus da casa de Caifás ao Pretório para
o entregarem a Pôncio Pilatos, governador romano da Judéia.
Pilatos saiu do Pretório e perguntou aos judeus: "Que acusação
apresentais contra este homem?". Eles responderam: "Estava sublevando
a nossa nação, proibindo de pagar o tributo a César
e dizendo que ele é o Cristo Rei".
Pilatos tornou a entrar no Pretório, chamou Jesus e perguntou-lhe:
"És tu o rei dos judeus?". Jesus respondeu: "Dizes
isto por ti mesmo ou foram os outros que te falaram sobre mim?". Pilatos
respondeu: "Acaso eu sou judeu? A tua nação e os príncipes
dos sacerdotes é que te entregaram nas minhas mãos. O que
fizeste?". Jesus respondeu: "O meu reino não é deste
mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, certamente os meus soldados se
esforçariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas
o meu reino não é daqui". Então Pilato disse-lhe:
"Logo, tu és rei". Respondeu Jesus: "Tu o dizes: eu
sou rei". Então Pilatos foi ter com os judeus e disse-lhes:
"Não encontro nele crime algum". Os príncipes dos
sacerdotes e os anciãos apresentavam toda espécie de acusações
contra ele, mas Jesus não repondeu nada.
58. PILATOS
QUER LIBERTAR JESUS
Tendo chamado os príncipes dos sacerdotes, os magistrados e o povo,
Pilatos disse-lhes: "Apresentaste-me este homem como perturbador. Interroguei-o
na vossa presença e não encontrei nenhuma das culpa de que
o acusais. Vou soltá-lo depois de o castigar".
Havia um preso famoso chamado Barrabás. Era um ladrão e assassino,
preso por ter cometido homicídio num motim. Quando a multidão
se juntou, Pilatos perguntou: "A quem quereis que eu solte: Barrabás
ou Jesus chamado o Cristo".
Os príncipes dos sacerdotes incitaram o povo a pedir a libertação
de Barrabás e pedir a morte de Jesus. O governador, falando outra
vez, disse: "Qual dos dois quereis que eu solte?". O povo gritou:
"Queremos Barrabás". Pilatos, que desejava libertar Jesus,
disse: "O que farei com Jesus, chamado o Cristo?". Gritaram: "Crucifica-o!
Crucifica-o!".
Pilatos disse-lhes ainda: "Mas que mal ele fez? Não encontro
nele causa alguma de morte". Mas os judeus gritavam cada vez mais:
"Crucifica-o! Crucifica-o!".
59. JESUS É
FLAGELADO E COROADO DE ESPINHOS
Pilatos, vendo que nada conseguia, mandou vir água e lavou as mãos
diante da multidão, dizendo: "Estou inocente do sangue deste
justo! A vós pertence toda a responsabilidade!". O povo gritou:
"Que caia o seu sangue sobre nós e nossos filhos". Cedendo
às exigências, Pilatos soltou Barrabás e mandou flagelar
Jesus.
Em seguida, os soldados levaram Jesus para o Pretório, despojaram-no
de suas vestes e puseram-lhe sobre os ombros um manto escarlate; teceram
uma coroa de espinhos e enterraram-na em sua cabeça; colocaram-lhe
uma cana na mão direita e, dobrando o joelho, ridicularizavam-no,
dizendo: "Salve, ó rei dos judeus". Cuspiam-lhe na face
e, tirando-lhe a cana da mão, batiam-lhe com ela na cabeça.
Depois, davam-lhe bofetadas.
60. JESUS É
CONDENADO À MORTE
Então Pilatos mandou levar Jesus à presença do povo,
com a coroa de espinhos e o manto púrpura. E disse aos judeus: "Eis
aqui o homem". Mas logo que o viram, os judeus gritaram: "Crucifica-o!
Crucifica-o". Disse-lhes Pilatos: "Tomai-o vós e crucifiquem-no
porque eu não encontro nele crime algum". Responderam-lhe os
judeus: "Se o soltas, não és amigo de César".
Aterrado, Pilatos pronunciou a sentença de morte e entregou Jesus
aos judeus, para que o crucificassem.
61. JESUS É
CRUCIFICADO
Depois de tornarem a vesti-lo com suas vestes, os soldados levaram Jesus
para ser crucificado. Carregando a sua cruz, Jesus saiu da cidade a caminho
do monte Calvário, também chamado Gólgota.
Com ele seguiam outros dois condenados, dois malfeitores, destinados ao
suplício.
Pelo caminho, encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, que
voltava do campo e o obrigaram a levar a cruz atrás de Jesus.
No Calvário, Jesus foi crucificado, entre os dois ladrões,
um à sua direita e o outro à sua esquerda. E Jesus orava:
"Pai, perdoai-os pois não sabem o que fazem".
Os soldados dividiram entre si as vestes de Jesus, tirando a sorte. Como
a túnica era uma peça única, lançaram a sorte
para ver a quem cabia.
Junto à cruz do Senhor estava Maria, sua Mãe, e o apóstolo
João. Jesus disse à Mãe: "Mulher, eis aí
o teu filho". Depois disse ao discípulo: "Eis aí
a tua Mãe". E a partir daquele momento o discípulo tomou
Maria consigo.
62. JESUS MORRE
NA CRUZ
Depois Jesus disse: "Tenho sede!". Um dos soldados molhou a esponja
em vinagre, colocou-a na ponta de uma vara e chegou-a aos lábios
de Jesus. Após provar o vinagre, Jesus disse: "Tudo está
consumado!".
Em seguida, exclamou em alta voz: "Pai! Nas vossas mãos entrego
o meu espírito". Depois destas palavras, inclinou a cabeça
e expirou.
Imediatamente a terra tremeu, os rochedos racharam, os túmulos se
abriram e muitos mortos ressuscitaram.
O centurião e os soldados que estavam de guarda disseram: "Verdadeiramente
este homem era o Filho de Deus!".
63. JESUS É
SEPULTADO
Ao anoitecer, um dos soldados traspassou com a lança o lado de Jesus.
E logo saiu sangue e água.
Pouco depois, dois homens piedosos e estimados, José de Arimatéia
e Nicodemos, desprenderam da cruz o corpo do Senhor. Envolveram-no em um
lençol de linho fino e o colocaram em um sepulcro novo, aberto no
rochedo. Rolaram uma grande pedra sobre a entrada do sepulcro.
Os judeus selaram a pedra e puseram soldados a guardar o sepulcro.