Tradição
Hermética E Maçonaria (1)
Federico Gonzalez
No antigo manuscrito
maçônico Cooke, (cerca de 1.400) da Biblioteca Britânica,
lê-se nos parágrafos 281-326 que toda a sabedoria antediluviana
foi escrita em duas grandes colunas. Depois do dilúvio de Noé,
uma delas foi descoberta por Pitágoras, a outra por Hermes, o Filósofo,
que se dedicaram a ensinar os textos ali gravados. Isto se encontra em perfeita
concordância com o testemunhado por uma lenda egípcia, da qual
já dava conta Manethon, segundo o mesmo Cooke, vinculada também
com Hermes.
É óbvio que essas colunas, ou obeliscos, semelhantes aos pilares
J. e B., são as que sustentam o templo maçônico e, ao
mesmo tempo, permitem o acesso ao mesmo e configuram os dois grandes afluentes
sapienciais que nutrirão a Ordem: o hermetismo, que assegurará
o amparo do deus através da Filosofia, quer dizer do Conhecimento,
e o pitagorismo, que dará os elementos aritméticos e geométricos
necessários, que reclama o simbolismo construtivo; deve-se considerar
que ambas as correntes são direta ou indiretamente de origem egípcia.
Igualmente que essas duas colunas, são as pernas da Mãe loja,
pelas quais é parido o Neófito, quer dizer pela sabedoria
de Hermes, o grande iniciador, e por Pitágoras, o instrutor gnóstico.
De fato, na mais antiga Constituição Maçônica
editada, a de Roberts publicada na Inglaterra em 1722 (portanto anterior
à de Anderson), mas que não é mais que a codificação
de antigos usos e costumes operativos que derivam da Idade Média,
e que serão desenvolvidos posteriormente na Maçonaria especulativa,
menciona-se especificamente a Hermes, na parte chamada "História
dos Franco-maçons". Efetivamente, ali aparece na genealogia
maçônica com esse nome e também com o de Grande Hermarmes,
filho de Sem e neto de Noé, que depois do dilúvio encontrou
as já mencionadas colunas de pedra onde se achava inscrita a sabedoria
antediluviana (atlântica) e lê (decifra) numa delas o que em
seguida ensinará aos homens. O outro pilar, como se mencionou, foi
interpretado por Pitágoras enquanto pai da Aritmética e da
Geometria, elementos essenciais na estrutura da loja, e portanto ambos os
personagens formam, como vimos, a "alma mater" da Ordem, em particular
em seu aspecto operativo, ligado às Artes liberais.
No manuscrito Grand Lodge nº 1 (1583) só subsiste a coluna de
Hermes, reencontrada pelo "Grande Hermarines" (a quem se faz descendente
de Sem) "que foi chamado mais tarde Hermes, o pai da sabedoria".
Note-se que Pitágoras não figura já como o intérprete
da outra coluna. No manuscrito Dumfries nº 4 (C. 1710) também
aparece, como "o grande Hermorian", "que foi chamado 'o pai
da sabedoria' ", mas, neste caso, retificou-se sua origem de acordo
com o texto bíblico que o faz descendente de Cam e não de
Sem, por intermédio de Kush; como diz J.-F. Var em La franc-maçonnerie:
documents fondateurs, Ed. L'Herne, P. 207, N. 33: "Agora, na Gênese
(10, 6-8), Kush é o filho de Cam e não de Sem. O redator do
Dumfries retificou conseqüentemente a filiação. Ao mesmo
tempo, esta filiação resulta em ser a que a Escritura dá
com relação a Nemrod. Daqui a assimilação de
Hermes com Nemrod, contrariamente a outras versões que fazem deles
dois personagens distintos."
Assim o destaca também o manuscrito chamado Regius, descoberto por
Haliwell, no Museu Britânico em 1840, ao qual reproduz J. G. Findel
na História Geral da Franco-maçonaria (1861), em sua extensa
primeira parte que trata das origens até 1717, embora nele não
se inclua Pitágoras como o hermeneuta que, junto com Hermes, decifra
os mistérios que serão herdados pelos maçons, senão
a Euclides, a quem se faz filho de Abraão; a este respeito, deve
se recordar que o teorema do triângulo retângulo de Pitágoras
foi enunciado na proposição quarenta e sete de Euclides.
O mesmo Findel, referindo-se à quantidade de elementos gnósticos
e operativos que constituem a Maçonaria, e concretamente ocupando-se
dos canteiros alemães, afirma: "Se a conformidade que resulta
entre o organismo social, os usos e os ensinos da franco-maçonaria
e os das companhias de maçons da Idade Média já indica
a existência de relações históricas entre estas
diversas instituições, os resultados das investigações
feitas nos arcanos da história e o concurso de uma multidão
de circunstâncias irrecusáveis estabelecem de modo positivo
que a Sociedade dos Franco-maçons descende, direta e imediatamente,
daquelas companhias de maçons da Idade Média." E adiciona:
"a história da franco-maçonaria e da Sociedade dos Maçons
está por isso mesmo intimamente unida à das corporações
de maçons e à história da arte de construir na Idade
Média; é, pois, indispensável dirigir um rápido
olhar sobre esta história para chegar a que nos ocupa."
O interessante destas referências provenientes da Alemanha é
que sua História Geral... é considerada como a primeira história
(no sentido moderno do termo) da Maçonaria, e desde o começo
o autor estabelece que: "a história da Franco-maçonaria,
assim como a história do mundo, tem sua base na tradição"
1. Desta forma resulta óbvio que os Antigos Usos e Costumes, os símbolos
e os ritos e os segredos do ofício, transmitiram-se sem solução
de continuidade desde datas muito remotas e certamente nas corporações
medievais, e a passagem do operativo ao especulativo não foi senão
a adaptação de verdades transcendentes a novas circunstâncias
cíclicas, fazendo notar que o termo operativo não só
se refere ao trabalho físico ou de construção, projeção
ou planejamento material e profissional das obras, mas também à
possibilidade de que a Maçonaria opere no iniciado o Conhecimento,
por meio das ferramentas proporcionadas pela Ciência Sagrada, seus
símbolos e ritos. Precisamente isto é o que procura a Maçonaria
como Organização Iniciática, e o confirma na continuidade
da passagem tradicional, que faz com que, igualmente, seja encontrada na
Maçonaria especulativa, de modo reflexo, a virtude operativa e a
comunicação com a loja maçônica Celeste, quer
dizer, a recepção de seus eflúvios que são os
que garantem qualquer iniciação verdadeira, principalmente
quando os ensinos são emanados do deus Hermes e do sábio Pitágoras.
2 De todas as maneiras, tanto uma quanto outra são os ramos de um
tronco comum que tem os Old Charges (Antigos Deveres) como modelo; destes
se encontraram numerosos fragmentos e manuscritos em forma de cilindro do
século XIV em diversas bibliotecas. 3
Quanto a Hermes, não mencionado nas constituições de
Anderson, em particular o Hermes Trismegisto grego (o Thot egípcio),
é uma figura tão familiar à Maçonaria dos mais
distintos ritos e obediências como o poderia ser para os alquimistas,
forjadores da imensa literatura posta sob seu patrocínio. Não
só o Hermetismo é o tema de abundantes pranchas e livros maçônicos,
e inumeráveis lojas maçônicas se chamam Hermes, mas
também existem ritos e graus que levam seu nome. Assim, há
um Rito chamado os discípulos de Hermes; outro o Rito Hermético
da loja Mãe Escocesa de Avignon (que não é a de Dom
Pernety), Filósofo de Hermes é o título de um Grau
cujo catecismo se encontra nos arquivos da "loja dos amigos reunidos
de São Luis", Hermes Trismegisto é outro grau arcaico
do qual nos dá conta Ragón, Cavaleiro Hermético é
uma hierarquia contida em um manuscrito atribuído ao irmão
Peuvret onde também se fala de outro denominado Tesouro Hermético,
que corresponde ao grau 148 da nomenclatura chamada da Universidade, aonde
existem outros como Filósofo Aprendiz Hermético, Intérprete
Hermético, Grande Chanceler Hermético, Grande Teósofo
Hermético (correspondente ao grau 140), O Grande Hermes, etc. Igualmente
no Rito do Memphis o grau 40 da série Filosófica se chama
Sublime Filósofo Hermético, e o grau 77 (9ª série)
do Capítulo Metropolitano é nomeado Maçom Hermético.
Não faltam tampouco na atualidade, em revistas e dicionários
maçônicos, referências diretas à Filosofia Hermética
e ao Corpus Hermeticum, 4 onde esta se encontra fixada, senão que
incluem analogias com a terminologia alquímica; eis aqui um só
exemplo tirado do Dictionnaire de la franc-maçonnerie de D. Ligou
(pág. 571): "Citaremos uma interpretação hermética
de alguns termos utilizados no vocabulário maçônico:
Enxofre (Venerável), Mercúrio (1.º Vigilante), Sal (2.º
Vigilante), Fogo (Orador), Ar (Secretário), Água (Hospitaleiro),
Terra (Tesoureiro). Encontram-se aqui os três princípios e
os quatro elementos dos alquimistas."
Por isso que Hermes e o Hermetismo são referências habituais
na Maçonaria, como o são também Pitágoras e
a geometria. Por outra parte ambas as correntes históricas de pensamento
derivam através da Grécia, Roma e Alexandria, do Egito mais
remoto e por seu intermédio da Atlântida e da Hiperbórea,
como em última instância acontece com toda Organização
Iniciática, capaz de religar o homem com sua Origem. E naturalmente
que esta impressionante genealogia na qual estão compreendidos os
deuses, os sábios (sacerdotes) e os reis (tanto de Tiro e Israel,
quanto da Escócia: a realeza não desdenhava a construção
e o rei era mais um mestre operativo) forma um âmbito sagrado, um
espaço interior construído de silêncio, lugar onde se
efetivam todas as virtualidades e, assim, pode refletir o Ser Universal
de modo especular. A loja maçônica, como se sabe, é
uma imagem visível da loja Invisível, como o Logos é
o desenvolvimento da Triunidade dos Princípios.
A influência do deus Hermes, e as idéias do sábio Pitágoras
não desapareceram totalmente deste mundo crepuscular que habitamos,
de fato é tudo o que resta dele; não esqueçamos que
os alquimistas equiparam Jesus com o Mercúrio Solar, no Ocidente
pelo menos. Por outra parte, talvez sequer pudera ser o mundo sem eles,
tanto no aspecto das energias perpetuamente regeneradoras atribuídas
a Hermes e sua Filosofia, como o das idéias-força pitagóricas,
sem cuja ordem numérica (e geométrica) hoje não seria
possível a menor operação.
A deidade é imanente em cada ser, e os Filhos da Viúva, os
filhos da luz, re-conhecem-na no interior de sua própria loja maçônica,
feita à imagem e semelhança do Cosmo. A raiz H. R. M. é
comum aos nomes Hermes e Hiram, e este último forma com Salomão
um paredro onde se unem a sabedoria e a possibilidade (a doutrina e o método),
destacando-se à Tradição (Cabala) hebraica, em que
nasceu Jesus, como a veiculadora desta revelação sapiencial,
real, e artística (artesanal), que constitui a Ciência Sagrada,
que é aprendida e ensinada por símbolos e ritos na loja maçônica,
"livro" cifrado que os Mestres decodificam hoje, tal qual o fizeram
seus antepassados no tempo mítico, posto que a Maçonaria não
outorga o Conhecimento em si, mas mostra os símbolos e indica as
vias para aceder a ele, com a bênção dos ritos ancestrais,
que atuam como transmissores mediáticos desse Conhecimento. 5
Ou seja, que a atualização da possibilidade, quer dizer, o
Ser, a comprovação de que tudo está vivo, de que o
Presente é Eterno, a simultaneidade do Tempo, a idéia da Triunidade
do Único e Só, formam um Conhecimento ao qual os maçons
conduzem pela própria experiência, que proporciona um aprendizado
gradual e hierarquizado.
O Mestre Construtor leva sua loja maçônica interior a todas
partes, ele mesmo é isso, uma miniatura do Cosmo, desenhada pelo
Grande Arquiteto do Universo. Mas a obra está inacabada, necessita-se
polir (com Ciência e Arte) sua pedra bruta tal como cinzelou o Criador
sua Obra. Os números e as figuras geométricas simbolizam conceitos
metafísicos e ontológicos, que também representam realidades
humanas concretas e imediatas, tão necessárias como as atividades
fisiológicas e, daí por diante, quaisquer outras. O número
estabelece idéia de escala, de proporção, e relação;
também de ritmo, medida e harmonia, já que são eles
os canais que tende a Unidade para a indefinidade numérica, até
os quatro pontos do horizonte matemático e da multiplicidade.
É óbvio que Pitágoras ou Tales de Mileto não
"inventou" nada, mas sim reconheceu na série decimal, que
retorna a sua Origem (10 = 1 + 0 = 1), uma escala natural, uma ascese, que
permitisse ao ser humano completar a Obra e transmutar assim no Homem Verdadeiro,
paradigma de todo Iniciado, localizado na Câmara do Meio, entre o
esquadro e o compasso. 6 Não houve Tradição que não
tenha desenvolvido um sistema numérico que lhe servisse como método
de conhecimento, em perfeita correspondência com as pautas criacionais.
Recordemos que o teto da loja está decorado pelos astros, os Regentes,
que governam as esferas celestes e estabelecem os intervalos e as medidas
da Harmonia Universal.
Entretanto os maçons não deixaram nunca de reconhecer a frase
evangélica: "Na casa de meu Pai há muitas moradas"
(João, 14, 2), pois embora saibam que eles têm uma senda aberta
diante de si que os conduzirá a seu Pai, não negam outros
caminhos nem se opõem a nenhuma via, já que pensam que as
estruturas invisíveis são as mesmas, protótipos válidos
para todo tempo e lugar, apesar da adaptação constante de
distintas formas aptas para diferentes individualidades, a maior parte das
vezes determinadas pelos ciclos temporais tal qual poderia ser exemplificado
por qualquer organismo vivo, entre eles o ser humano e suas modificações
e adaptações ao longo dos anos, ciclos aos quais tampouco
a Maçonaria é alheia, como se comprova em sua paulatina transformação
concretizada finalmente no século XVIII. E é por essa mesma
compreensão de suas possibilidades metafísicas e iniciáticas
que a Maçonaria reconhece outras Tradições, e também
deixa em aberto o exercício de qualquer crença religiosa,
ou pseudo-religiosa, entre seus membros, muitos dos quais conciliam seu
processo de Conhecimento, leia-se Iniciação, com a prática
de preceitos e cerimônias religiosas exotéricas e legais, que
pensam poderem enriquecer sua passagem e o de outros por este mundo. Não
há portanto conflito entre Maçonaria e Religião, sempre
que não tratem de misturar os conceitos, ou se pretenda, como já
aconteceu, que determinados fundamentalistas (religiosos ou não)
tentem monopolizar as lojas maçônicas para seu proveito pessoal.
De fato, numerosos hermetistas, pitagóricos e maçons foram,
e são, perfeitos cristãos, ou grandes cabalistas, e todos
eles tiveram os símbolos como seus mestres. A Igreja Católica
jamais condenou o Hermetismo, nem Euclides, herdeiro da ciência geométrica
pitagórica, e mestre dos maçons, mas teve problemas com a
Maçonaria do século XVIII a ponto de condená-la e excomungar
seus membros. Entretanto foi sendo produzida nos últimos tempos uma
paulatina aproximação entre ambas as instituições,
salpicada aqui e acolá por incompreensões e interferências,
muitas vezes interessadas. Segundo José A. Ferrer Benimelli, S. J.,
a revista a Civilittà Cattolica de Roma, publicada desde 1852, e
que deu seguimento ao tema da Maçonaria até nossos dias, marca
em sua evolução este processo de aproximação,
ou ao menos de respeito mútuo. Efetivamente os primeiros artigos
são violentos e condenatórios, há um período
de transição, e os dos últimos anos, bastante conciliatórios
e abertos ao diálogo. 7
São numerosos os maçons católicos, muitos deles franceses,
que tentam há anos conciliar ambas as instituições
e suspender a excomunhão; entretanto há muitos outros autores
maçônicos que se integram completamente à Tradição
Hermética, com sua Ordem, sem necessidade de um exoterismo religioso,
tal o caso de Oswald Wirth, diretor durante muitos anos da revista Le Symbolisme,
e reconhecido maçom que tem escrito sobre os Símbolos da Tradição
Hermética e os símbolos maçônicos, El Simbolismo
Hermético en sus relaciones con la Alquimia y la Masonería,
Saros, Bs. As. 1958 (ver aqui pág. XXX), mostrando muitos aspectos
de sua identidade de Origem; quanto a maçons que publicaram nos últimos
anos, tanto sobre os distintos graus como acerca dos Números, desejaríamos
citar em primeiro lugar a Raoul Berteaux, dentro de um nutrido grupo que
tratou amplamente a Aritmosofia, de base pitagórica. 8
Hermes, a quem se lhe adjudica o ensino de todas as ciências, gozou
de supremo prestígio ao longo de distintos períodos da história
da cultura do Ocidente. Isto foi assim entre os alquimistas e os chamados
filósofos herméticos, e estas mesmas idéias se manifestaram
na Ordem dos Irmãos Rosacruzes, influências todas que recolheu
a Maçonaria a tal ponto que se lhe pode considerar como um depósito
da sabedoria pitagórica e sua transmissora nos últimos séculos,
assim como uma receptora dos Princípios Alquímicos, e também
das idéias Rosacruzes, 9 o que é evidente quando à
simples vista comprovamos que um dos mais altos graus no Rito Escocês
Antigo e Aceito, o 18, denomina-se precisamente Príncipe Rosacruz.
Igualmente analogias e conexões com as Ordens de Cavalaria são
reclamadas por alguns maçons, concretamente com a Ordem do Templo.
Há muitos indícios históricos que mostrariam estas
sementes, também tradições e ritos, especialmente uma
das palavras de passe no grau 33, mas ficam bastante diminuídos quando
se recorda que os Templários eram ao mesmo tempo monges e soldados
(embora grandes construtores medievais), o que não guarda relação
aparente com a Maçonaria, onde, por outra parte, há destaque
para uma influência bem clara do hebraico que já assinalamos
no caso de Salomão e da Construção do Templo, e se
vê confirmada pela simples comprovação de que quase
todas as palavras de passe e grau, segredos sagrados, pronunciam-se em hebraico.
10
No Diccionario Enciclopédico de la Masonería (Ed. del Valle
de México, México D. F.), talvez o mais conhecido em castelhano,
sob o título "Hermes" encontramos o verbete correspondente,
onde pode apreciar a importância atribuída ao Corpus Hermeticum
que, em algumas lojas maçônicas sul-americanas, ocupa o lugar
da Bíblia como livro sagrado. É conhecida a relação
de Hermes com o silêncio, e é costume chamar-se hermético
àquilo que se encontra perfeitamente fechado, ou selado. O silêncio
deste modo é próprio da Maçonaria e também dos
pitagóricos que passavam cinco anos cultivando-o.
Elías Ashmole é também um bom ponto de confluência
entre o Hermetismo e a Maçonaria. Este extraordinário personagem,
nascido em Lichfield, Inglaterra, em 1617, parece ter desempenhado um papel
importante na transição entre a antiga Maçonaria, anterior
a Anderson-Desaguliers, e sua projeção histórica posterior,
encaminhada para resgatar a maior parte da mensagem espiritual-intelectual,
ou seja, gnóstica (no sentido etimológico do termo), das autênticas
organizações iniciáticas, entre elas a Maçonaria
e a Ordem da Jarreteira. Foi recebido na loja maçônica de Warrington
em 16-10-1646, embora segundo seu diário, só foi à
sua segunda sessão muitos anos depois, somente. Entretanto, não
deve nos chamar a atenção este comportamento numa individualidade
como a sua, produto do ambiente da época, onde o culto do segredo
e do mistério era habitual por razões óbvias de segurança
e de prudência. Em 1650 publica seu Fasciculus Chemicus sob o nome
anagramático de James Hasolle; trata-se da tradução
de textos latinos de Alquimia (entre eles o de Jean d'Espagnet), com sua
introdução. Em 1652 edita o Theatrum Chemicum Britannicum,
uma coleção de textos alquímicos ingleses em verso,
que reúne muitas das mais importantes peças produzidas nesse
país, e seis anos depois The Way to Bliss, ao mesmo tempo em que
trabalha em buscas documentais literárias como historiador, e desenvolve
sua atividade de antiquário reunindo num museu toda espécie
de "curiosidades" e "raridades" relacionadas com a arqueologia
e com a etnologia, como igualmente coleções de História
Natural, inclusive todo tipo de espécies minerais, botânicas
e zoológicas. Na realidade, este último foi o objetivo científico
do museu (onde inclusive se realizaram os primeiros experimentos químicos
na Inglaterra), que hoje é visitado em suas magníficas instalações
de Oxford, mais como Museu de Arte que como instituição precursora
da ciência e auxiliar da Universidade. A vida de Ashmole esteve muito
unida à de Oxford, e os recursos de suas doações de
objetos e manuscritos à instituição de seu nome (onde
também se encontram seus jornais redigidos num sistema cifrado e
que contêm numerosas notas sobre a Maçonaria) 11 foram muito
importantes para essa cidade, dado seu prestígio universitário.
Em Oxford, e também em Londres, Ashmole teve um destacadíssimo
papel; filho de sua época, entregou-se à ciência natural
e experimental como uma forma da magia das transmutações,
tal como numerosos filósofos herméticos. Nesse sentido tratou
com Astrólogos, Alquimistas, Matemáticos e todos os tipos
de sábios e dignatários da época, junto com os quais
formará a Royal Society de Londres e a Philosophical Society de Oxford.
Seus numerosos amigos e companheiros de toda uma vida são nomes de
muitíssimo relevo, muitos deles ligados à Maçonaria
em seus mais altos graus, como Christopher Wren, ou à investigação
e exercício das Artes liberais e da Ciência Sagrada, que formaram
um conjunto de personalidades de um papel fundamental em seu tempo, concretamente
na difusão e prática da Tradição Hermética
e na relação desta com a Maçonaria. Como disse René
Guénon ao referir-se ao papel de Ashmole: "Pensamos, inclusive,
que se buscou no século XVII, reconstituir a este respeito uma tradição
da qual uma grande parte já se perdeu". Neste extraordinário
trabalho brilha o nome do E. Ashmole em dois aspectos: como um dos reconstrutores
da Maçonaria quanto à relação desta com as ordens
da Cavalaria e as corporações de construtores, e igualmente
como ponto de confluência com a Tradição Hermética.
O mesmo Ashmole se chamava filho de Mercúrio (Mercuriophilus Anglicus),
e sua obra mais importante, a já mencionada The Way to Bliss, 1658,
recolhe seus estudos em Filosofia Hermética, conforme indica em sua
introdução ao leitor.
Deste modo deve ser destacado que alguns autores fazem muita questão
sobre certos temas relacionados com o catolicismo e com o protestantismo
no processo de passagem da Maçonaria operativa à especulativa.
De fato, acostumou-se a simplificar o assunto dizendo que as corporações
operativas eram católicas e as especulativas, posteriores, protestantes.
Certamente que, do ponto de vista histórico, estes fatos podem ser
mais ou menos "reais", pois a Ordem, como toda instituição,
está sujeita a determinados vai-e-véns cíclicos que
têm manifestações sociais, políticas, econômicas,
etc. Mas do ponto de vista da Maçonaria como organização
iniciática, ela não está sujeita ao devir, motivo pelo
qual subsistirá até que finalize o ciclo. 12 Na realidade,
a Tradição Hermética (e Hermes mesmo) sofreu inumeráveis
adaptações através do tempo, embora jamais deixou de
se expressar; e é óbvio que esta Tradição, como
os fundamentos da Maçonaria, identificada com a Ciência de
Construir, é anterior ao Cristianismo, embora tenha convivido com
ele durante vinte séculos, e até produziu hermetistas cristãos
e cristãos herméticos (entre estes últimos, dignitários
do mais alto nível, papas inclusive), o que não impede que
essa Tradição tenha antecedentes claramente pagãos,
relacionados com as escolas de mistérios, ou como hoje se as denomina,
religiões mistéricas; portanto, poder-se-ia asseverar que
o hermetismo tem uma vertente pagã e outra cristã. Neste sentido,
devemos esclarecer que a palavra pagão soa a nossos ouvidos acostumados
ao mais superficial das religiões abraâmicas a maldito, ilegal,
bastardo, ou pelo menos a um nebuloso pecado. Também a ignorância
atribuída ao atraso de povos que se desconhecem, e que nem sequer
interessam. É costumeiro o entendimento do pagão como algo
renhido com a opinião civilizada, extremamente primitivo, ou que
está contrário ao cristianismo, ou à religião,
e portanto fora de toda ordem. Em suma, o paganismo está eliminado
previamente, por censura interior, como algo um pouco repugnante, antes
de que nos inteiremos que, na realidade, só se trata da sabedoria
de indefinidos povos tradicionais que povoaram este mundo antes e durante
os só vinte séculos que caracterizam à chamada Civilização
contemporânea. 13
Supomos que desde este último ponto de vista, quase oficialmente
ecumênico, não há nada injurioso em compartilhar o pensamento
pagão, como bem o viram dos Pais da Igreja até numerosos sábios,
sacerdotes e pastores contemporâneos. 14
Na verdade para o Hermetismo, anterior historicamente ao Cristianismo, existe
uma Cosmogonia Perene, manifestada por sua filosofia e seus escritos, como
para o maçom religioso ou não o está em seus símbolos
e ritos.
A respeito da relação entre os Franco-maçons e as corporações
de construtores e artesãos existem três grandes testemunhos
bastante citados como fontes documentais sobre a prática da construção
na idade Média. 15 Nicolá Coldstream as recolhe em seu livro
sobre os artesanatos na Idade Média, 16 onde rechaça a idéia
da filiação "fantasmal" da Franco-maçonaria
com os construtores e artesãos medievais, (sua simples tese é
que os maçons eram operários e não pessoas de gabinete)
embora paradoxalmente seu estudo o confirma de diferentes maneiras; assim
nos diz referindo-se ao tema:
"Trata-se do documento, redigido pelo abade Suger, que relata a construção
do novo coro da abadia de Saint-Denis; do manuscrito, datado cerca 1200,
do monge Gervais do Canterbury, sobre o incêndio e a reparação
da catedral de Canterbury, e do Album de Villard de Honnecourt, conjunto
de desenhos e de planos de edifícios, molduras e tornos elevadores.
Dos três, o texto do Suger nos informa mais sobre o homem e da decoração
de sua igreja que sobre o edifício, embora faça, de passagem,
algumas alusões preciosas sobre sua construção. O exame
atento do Album de Villard de Honnecourt nos permite duvidar seriamente
de que este tenha construído alguma vez Igrejas e de que tenha tido
algum conhecimento de arquitetura; quanto a seus desenhos, embora sejam
interessantes, não seriam entretanto os de um arquiteto ou os da
oficina de um maçom. O texto de Gervais, pelo contrário, é
o único documento medieval que descreve uma equipe de maçons
trabalhando; proporciona numerosas informações sobre a prática
dos maçons e alguns métodos de construção."
Interessa-nos especialmente a referência ao Album de Villard de Honnecourt.
Efetivamente, não é a primeira vez que se destacam certas
características sobre o fato de que este caderno não é
um manual de tecnologia aplicada, senão completamente outra coisa,
muito mais ligada com as propostas da Filosofia Hermética que se
anotam para uso dos mestres de obras. 17 E o fato de que exista um documento
deste tipo (mais de gabinete que outra coisa) é uma prova de que
a especulação sobre o simbolismo e a linguagem hermética
em sua versão cristã já tinham cultores a princípios
do século XIII, que vê nascer, entre outras, as catedrais de
Chartres e de Reims.
Muito se tem escrito sobre este tema e fica aberto o debate; o investigador
tirará suas próprias conclusões, mas não poderá
ignorar a Tradição oral, e sua filiação universal
com o Simbolismo Construtivo, que tanto pode manifestar-se no Extremo Oriente,
como no Egito ou na América Central; nos "collegia fabrorum"
romanos, ou nas corporações medievais, às quais se
acostumaram considerar fazendo abstração de qualquer referência
iniciática ou ligada aos Franco-maçons como fechadas e ao
mesmo tempo depositárias de conhecimentos relativos ao "ofício",
que se transmitiam por símbolos e termos de uma linguagem cifrada.
Não obstante deve-se fazer a ressalva de que a influência da
Filosofia Hermética, por um lado, e por outro a das corporações
de construtores cristãos (e algumas mais já mencionadas como
a da Ordem do Templo), é desigual nos distintos Ritos, onde sobre
um fundo comum, observam-se algumas filiações inclinadas para
um ou outro aspecto. Não podemos tratar aqui o complexo e extensíssimo
assunto da diversidade dos Ritos maçônicos, mas podemos assinalar
sua existência, e igualmente a de distintos aspectos da Ciência
Sagrada que provocam em alguns maior ou menor simpatia. Já que, sendo
uma só a Maçonaria, como é uma só a Construção
Cósmica, e portanto o Simbolismo Construtivo, as interpenetrações
de diferentes influências, suas oposições e conjunções,
formam parte do jogo de desequilíbrios e adaptações
às quais se vê exposto o legado maçônico, veiculado
pela civilização judaico-cristã. Isto foi assim também
no passado e explica a passagem da Maçonaria operativa à especulativa,
como já dissemos, fato que foi gradual, ao extremo que certas lojas
maçônicas "operativas" (anteriores a 1717) tinham
elementos "especulativos" e que muitas lojas maçônicas
"especulativas" (atuais), são propriamente operativas.
Inclusive há documentos que testemunham a coexistência de ambas,
tema que foi expressamente mencionado por distintos autores Maçonaria
de transição. 18
Efetivamente, depois da publicação das "Constituições
de Anderson", um grupo muito numeroso de maçons, escoceses,
irlandeses e de outros lugares da Inglaterra, decidem desvincular-se da
Grande Loja fundada em Londres (e que começou com só quatro
lojas maçônicas), sendo em parte suas diferenças relativas
a certas alterações de sentido, inclusive ritualísticos,
das que não são alheias as distinções religiosas,
e inclusive criaram uma espécie de Federação da Antiga
Maçonaria, a qual depois de umas dezenas de anos começará
novamente a ter relações com os ingleses, mas mantendo seus
pontos de vista tradicionais mais relacionados com o operativo ou iniciático
que com o especulativo ou alegórico; a isto devem-se somar problemas
de sucessão ao trono da Inglaterra, pretendido pelo escocês
e católico Jaime, que contava com muitos partidários, não
só nas ilhas mas também em todo o continente. 19
Em todo caso esta situação da diversidade de Ritos se reproduz
nos distintos graus, que variam em número, nome e condição,
segundo as diferentes forma maçônicas. Este tema é de
interesse, mas se nos parece prioritário recordar que esses graus
(seja em número de três, sete, nove, ou mais,) representam
etapas no Processo de Conhecimento, ou Iniciação, e que essas
passagens ou estados na Maçonaria são sintetizados e designados
com os nomes de Aprendiz, Companheiro e Mestre, em correspondência
com os três mundos: físico, psíquico e espiritual. Estes
três grandes graus contêm sinteticamente em si todos os graus,
que a maior parte das vezes não são senão especificações
ou prolongações deles. Mas está claro que a divisão
é hierárquica e se efetua dentro de uma ordem ritual que corresponde
simbolicamente a estas etapas na Iniciação ou Via do Conhecimento.
Ainda assim, não há um poder central que agrupe toda a Maçonaria,
apesar de que haja Grandes Lojas muito poderosas, com um passado tradicional,
e as diferentes Obediências e Ritos mantêm uma atitude de mútuo
respeito, já que são vergônteas de uma árvore
comum.
Esta espécie de independência, se assim é possível
dizer, também é clara em cada loja maçônica,
onde se efetivam ou não os símbolos, e se praticam ou não
os ritos prescritos. A Unidade maçônica se produz fundamentalmente
na Oficina, projeção do Cosmo, com liberdade da Obediência
à qual esta pertence.
Resta-nos mencionar que estes três graus formam o que se chama a Maçonaria
Azul ou Simbólica. Acima deles se encontram os Altos Graus, sistema
de hierarquias que não é considerado em certas Obediências
nem aceito por determinados Ritos. Cabe saber também que, ao passar
de um grau a outro, apenas se inicia a realizar o grau obtido; assim ao
receber um Companheiro o grau de Mestre, é que começa a iniciação
nesse grau. Deste modo que os graus são permanentes e jamais se perdem
os adquiridos em uma carreira maçônica normal.
Falta-nos mencionar um pouco mais à Alquimia como influência
presente na Ordem Maçônica. Já assinalamos que Enxofre,
Mercúrio e Sal, os princípios alquímicos, encontram-se
diretamente incorporados, desde os primeiros graus.
A Alquimia tem em comum com a Maçonaria o desenvolvimento interior,
tendente à Perfeição, que tanto os alquimistas consideravam
o objetivo de seus afãs (já que a Natureza não tinha
finalizado sua Obra, que o Artista ou Adepto devia completar), como os maçons
aos fins últimos da Maçonaria, que incluem a morte e a conseqüente
regeneração em outro nível, ou estado de consciência.
Por outro lado, costumou-se dizer entre os amigos da Filosofia Hermético-Alquímica
que o último grande Alquimista (e escritor sobre estes temas) foi
Irineu Filaleto no século XVII. Isto é bastante exato de uma
perspectiva, só que não se obseva com toda claridade que a
partir dessa data não se interrompe esta Tradição até
o presente, mas sim se transforma, e muitíssimos de seus ensinos
e símbolos passam à Maçonaria, como transmissora da
Arte Real e da Ciência Sagrada, tanto nos três graus básicos
como na hierarquia dos altos graus. Segundo René Guénon, estes
altos graus são um prolongamento do estudo e da meditação
sobre os símbolos e ritos (a uma parte deles, chamam-nos filosóficos)
20 nascidos do interesse de muitos maçons por desenvolverem e fazerem
efetivas as possibilidades outorgadas pela Iniciação; por
esse motivo a utilidade prática destes graus é indubitável
e constituem a hierarquização que coroa o processo de Conhecimento,
tendo em conta sempre o caráter iniciático da organização,
como nos adverte isso o autor, que também nos põe em guarda
sobre o perigo de que estes graus se dediquem a problemas sociais ou políticos,
mutáveis por natureza, e portanto afastados dos alicerces do Templo
maçônico, construído em pedra. (Ver "René
Guénon": artigo "Os Altos Graus").
No simbolismo maçônico, tal como no Alquímico, o sol
e a lua exercem um papel fundamental e se os encontra em lugares tão
essenciais como nos quadros e na decoração das lojas maçônicas
(localizado-se em seu Oriente). Certamente que se trata dos princípios
ativo e passivo, que também se correspondem às colunas Jakín
e Boaz, que deste modo assinalam a oposição destas energias,
ao mesmo tempo que sua conjunção num eixo invisível,
do qual tende o prumo o Grande Arquiteto do Universo. Sem deixar de dar
primazia a este significado geral, deve também se ter em conta a
realidade destes astros, já que existe um calendário maçônico
cujos dois pontos extremos constituem, como em quase todas as Tradições,
os solstícios de verão e de inverno, festividades dos dois
São Joões, que marcam os pontos limites do sol em seu percurso,
sinalizando também os pontos intermédios correspondentes aos
equinócios na roda temporal, e nos introduzem na doutrina dos ritmos
e dos ciclos. Por outra parte, existe uma preeminência entre estas
luminárias, já que a lua resplandece graças à
luz solar, conceito que não é alheio à Tradição
Hermética e à Cabala, posto que ambas são utilizadas
de maneira generalizada para indicar graus de Conhecimento, ou etapas no
percurso iniciático. Jean Tourniac no prólogo ao conhecido
Tuileur de Vuillaume 21 aponta, referindo-se aos ciclos, a semelhança
do paredro simbólico lua-sol ao do simbolismo solar e do polar. Esta
associação que possui indefinidas vias de desenvolvimento,
poderia igualmente relacionar-se com dois aspectos da Maçonaria,
encarnados nas figuras míticas de Salomão (solar) e Pitágoras
(polar), que por sua vez - e isto não o diz Tourniac - guardariam
alguma analogia com os graus simbólicos (Maçonaria Azul) e
os Altos Graus, ou ao menos, supostamente isto é o que pretenderam
aqueles que foram instituindo estes últimos.
A literatura sobre a Maçonaria, ou as investigações
históricas sobre a Ordem, soem incluir os autores, meios e escritos
anti-maçônicos, tão confuso é o panorama a respeito
de suas origens e fins, havendo-se criado uma série de "lendas"
paralelas, o que ocasiona que certos investigadores custem cruzar uma espécie
de fronteira "maldita" e invisível que obedece às
"lendas negras" a respeito da Maçonaria como as divulgadas
por Leo Taxil na França, muitas delas originadas no catolicismo.
Outro tipo de críticas, não referentes a seu conteúdo
espiritual, funda-se na atuação política e econômica
de algumas lojas maçônicas que utilizando a estrutura maçônica,
e aproveitando-se da independência das Oficinas, auferiram vantagens
desse modo da Ordem e do público, projetando uma imagem distorcida
da Maçonaria. Deverá se reconhecer que isto foi desse jeito
em ocasiões, embora simultaneamente é o que acontece há
anos com todas as instituições, cuja decomposição
é evidente. Em algumas sociedades a Ordem goza ainda do prestígio
que teve no passado, e em certos países sua força espiritual,
como gestora de grandes empreendimentos deixou rastros claros, que hoje
são seguidos. Às vezes há maçons que ainda não
conhecem a Maçonaria, ou acreditam que é outra coisa mais
concreta e material, mas todos eles têm claro seu lema: Liberdade,
Igualdade, Fraternidade, e cumprem seu Rito de acordo a seus Antigos Usos
e Costumes. Se não tivesse sido pela coerência e pelo conteúdo
espiritual-intelectual, que os símbolos e os ritos manifestam, a
Maçonaria seria mais um absurdo e, em todo caso, talvez não
tivesse chegado até nossos dias.
Outra coisa que deveria ser assinalada é a curiosidade por saber
qual é o grau real de Conhecimento que tem tal ou qual maçom,
ou em geral, este ou aquele Iniciado; mas isso a quem interessa? que importância
tem e diante de quem?
Essa pergunta, como é lógico, não cabe nos limites
de uma investigação histórica baseada na documentação,
e portanto é muito difícil estabelecer origens claras e seqüências
lógicas num tema que não é [claro], embora se tente
forçá-lo [como tal]. Um destes investigadores, o já
mencionado J. A. Ferrer Benimelli, que tem mais de vinte interessantes obra
publicadas sobre Maçonaria, e que ignora sistematicamente a Hermes,
informa-nos: "Bernardin, em sua obra Notas para servir à história
da Maçonaria em Nancy até 1805, depois de comparar duzentas
e seis obras que tratavam dos origens da Maçonaria, encontrou trinta
e nove opiniões diversas, algumas tão originais como as que
fazem descender a Maçonaria dos primeiros cristãos ou do próprio
Jesus Cristo, de Zoroastro, dos Magos ou dos Jesuítas; para não
citar as teorias mais conhecidas, as chamadas 'clássicas', que remontam
a Franco-maçonaria aos Templários, aos Rosacruzes ou aos judeus"
e adiciona em nota: "Destes trinta e nove autores, vinte e oito atribuíram
os origens da F. M. aos pedreiros construtores do período gótico;
vinte autores se perdem na antigüidade mais longínqua; dezoito
os situam no Egito; quinze se remontam à Criação, mencionando
a existência de uma loja maçônica maçônica
no Paraíso Terrestre; doze, aos Templários; onze, à
Inglaterra; dez, aos primeiros cristãos ou ao próprio Jesus
Cristo; nove, à antiga Roma; sete, aos primitivos Rosacruzes; seis,
à Escócia; outros seis, aos judeus, ou à Índia;
cinco, aos partidários dos Stuart; outros cinco, aos jesuítas;
quatro, aos druidas; três, à França; o mesmo número
o atribuem: aos escandinavos, aos construtores do templo do Salomão,
e aos sobreviventes do dilúvio; dois, à sociedade 'Nova Atlântida',
de Bacon, e à pretendida Torre de Wilwinning [Kilwinning]. Finalmente,
à Suécia, China, Japão, Viena, Veneza, aos Magos, à
Caldéia, à ordem dos Essênios, aos Maniqueos, aos que
trabalharam na Torre de Babel e, por último, um que afirma que existia
a F. M. antes da criação do mundo." 22
Análogo quanto à confusão das origens, é o que
acontece na Tradição Hermética, com o mito do Hermes
e Hermes Trismegisto, e com todo mito ou origem, e por certo com o Corpus
Hermeticum, livros que, como vimos anteriormente, 23 condensam e recordam
o saber dessa Tradição. Efetivamente, Jean-Pierre Mahé,
um estudioso que junto com P. J. A. Festugière dedicou sua vida ao
estudo destes textos, acredita que os fragmentos em armênio desta
literatura procedem do primeiro século anterior a esta era e que
as versões posteriores conservadas em grego, latim e copta, desprendem-se
delas sendo seu conteúdo nitidamente pagão, fora de influências
gnósticas e cristãs que com certa liberalidade lhe atribuíram.
É interessante observar como este estudioso, ao longo de seu trabalho
mais importante a respeito, Hermès en Haute-Egypte 24, onde coteja
diferentes versões do Corpus entre si, com outros manuscritos encontrados
em Nag-Hammadi e com autores da antigüidade, etc. chega à conclusão
de que todos eles estão aparentados, que procedem de uma única
fonte, e inclusive têm um tom, um ar, um aspecto comum, que também
se manifesta em seu estilo, opinião que compartilhamos. Mas este
saber, próprio do Corpus, 25 que Mahé vê como solene,
repetitivo, contraditório e sentencioso, em suma como má literatura
(o que é boa literatura e quem está em capacidade de defini-la
e com relação a que?), parece-nos difícil de apreciar
com parâmetros lógicos, por mais esforço e trabalho
que se ponha nisso, e pese à valiosíssima contribuição
que supõe o estabelecimento destes textos, sua tradução
e comentário, embora estejam reiteradamente vistos de uma perspectiva
totalmente alheia à que os textos possuem. Daí o perigo de
se aproximarem de coisas de uma ordem determinada com meios que, por sua
natureza, não são os correspondentes, já que eles mesmos
estão formados por séries de condicionamentos pertencentes
ao mundo profano, que ainda uma assombrosa erudição não
sabe esconder, pois aparecem aqui e acolá na literalidade dos delineamentos,
o infantilismo das concepções, a desproporção
abismal entre o sentido sapiencial-emocional do texto e a leitura "universitária",
quer dizer, profana que se faz do mesmo. 26 Não se deve tratar uma
sociedade iniciática por suas ações humanitárias
ou altruístas exclusivamente, pois se corre o perigo de desvirtuar
a autêntica razão de sua existência.
Outro assunto mais ou menos utilizado como crítica, tanto da Maçonaria
como do Hermetismo, é seu caráter pretendidamente sincrético.
Em primeiro lugar nos parece imperdoável o abuso que se faz desta
palavra, que equivale para alguns a uma desqualificação. O
Cristianismo, o Islã, o Budismo, a Antigüidade Greco-romana,
inumeráveis Tradições arcaicas, inclusive a Civilização
Egípcia e a China, poderiam hoje ser julgadas como "sincréticas"
à luz dos documentos mais antigos e sem mencionar a idéia
de uma Tradição Unânime, além desta ou daquela
forma. Efetivamente, o termo esteve em voga numa época em que a investigação
antropológica e a História das Religiões estavam em
fraldas, e se acreditava na "pureza", tanto de certas culturas,
conceito muito perigoso, além do mais, capaz de derivar no engano
das raças como religiões. Desgraçadamente este termo
seguiu sendo usado, e é utilizado por alguns como uma arma esgrimida
para condenar aquilo que imaginam não lhes convir, ou que escape
a suas simplificações elementares. Muito perto está
a História da Igreja, seus Concílios e a formação
de seus Dogmas, sua Teologia, a História dos Papas, etc., para que,
em todo caso, a Cristandade possa reprovar à Tradição
Hermética e à Maçonaria, algo neste sentido, e o dito
poderia ser generalizado a outras religiões e influências espirituais
que compõem a Cultura do Ocidente. São inumeráveis
as correntes que formaram esta Civilização, a maior parte
das quais, de um modo ou de outro, coexistem conosco mesmos, e devemos dar
graças a Deus, em nome de nossa cultura, porque estas inter-relações
naturais que se transvasam com as migrações humanas de um
povo e sua língua a outro, existiram sempre, pese à ácida
recriminação de sincretismo, emanada de supostas autoridades
baseadas em imaginárias estruturas caducas.
Definitivamente, os diversos componentes da Maçonaria não
impedem que esta adaptação da Ciência Sagrada, da Filosofia
Perene, seja totalmente Tradicional, senão mais provam o contrário
assim que se consideram em suas doutrinas, quer dizer: em si.
NOTAS
1
O mesmo Findel no Anexo de sua História publica o primeiro documento
de que dispomos, datado em 1419, sobre os trabalhadores de canteiros alemães.
2
"Parece-nos indiscutível que ambos os aspectos, operativo e
especulativo, estiveram sempre reunidos nas corporações da
Idade Média, que empregavam, por outra parte, expressões tão
nitidamente herméticas como a de 'Grande Obra', com aplicações
diversas, mas sempre Analogicamente correspondentes entre elas." R.
Guénon, Etudes sur la Franc-Maçonnerie et le Compagnonnage
T. II, cap. "A propos des signes corporatives et de leur sens originel".
Ed. Traditionnelles, Paris 1986.
3
Enciclopédia Britânica. Artigo 'Freemasonry', edic. 1947.
4
Ver Claude Tannery "Le Corpus Hermeticum (Introduction, pour des dévéloppements
ultérieurs, à l'hermétisme et la maçonnerie)";
nº 12 revista Villard de Honnecourt, Paris 1986. as referências
a Hermes e à Tradição hermético-alquímica
na literatura maçônica são muito abundantes como já
dissemos; não há o que dizer de Pitágoras, tema que
é tratado em outro estudo deste mesmo nº do V. do Ir.: Thomas
Efthymiou, "Pythagore et sa présence dans la Franc-maçonnerie".
5
Ver E. Mazet "Eléments de mystique juïve et chrétienne
dans la franc-maçonnerie de transition (VIe-VIIe s.)"; nº
16, 2ª série, igualmente da revista Travaux de la loge nationale
de recherches Villard de Honnecourt. O autor publicou nesta, que edita os
trabalhos da loja maçônica de estudos do mesmo nome, adscrita
à Grande Loge Nationale Française, outras colaborações
igualmente interessantes sobre aspectos documentais da Maçonaria.
Na verdade, esta revista junto com a Ars Quatuor Coronatorum, também
órgão difusor de uma loja maçônica de estudos
homônima, (Quatuor Coronati Lodge) e que desde 1886 tem já
mais de 80 volumes publicados na Inglaterra, são as melhores fontes
que se podem achar para o estudo integral da Maçonaria.
6
É conhecida a importância da Tetraktys pitagórica em
qualquer tipo de conhecimento metafísico e cosmogônico. Por
outra parte, a relação das harmonias musicais em relação
aos números, em particular com a escala dos sete primeiros, é
também um tema pitagórico que a Maçonaria e o Corpus
Hermeticum recolhem em forma de graus e toques de reconhecimento ligados
com as esferas planetárias e os Regentes que as governam. Há
que se adicionar os distintos teoremas geométricos pitagóricos,
conhecendo-se a importância que para a Maçonaria e para a ciência
e arte de construir possuem; só bastaria assinalar entre eles o do
triângulo retângulo, posteriormente enunciado por Euclides,
outro dos ancestrais maçônicos, como já mencionamos.
Em 1570 John Dee, conhecido mago elisabetano e notável matemático
que exercera um papel tão importante no Hermetismo inglês e
no europeu publicou um famoso prólogo aos "Elementos de Geometria"
de Euclides. Como é sabido, os ensinos de Dee foram retomados por
Robert Fludd, que editou em 1619 seu Utriusque Cosmi Historia e por seu
intermédio, concatenadamente, fizeram-no os futuros integrantes da
maçonaria especulativa.
7
J. A. Ferrer Benimelli, "Bibliografía de la Masonería"
- Fundación Universitaria Española - Madrid - 1978, pág.
112. Este sacerdote jesuíta que deu impulso aos estudos maçônicos
em língua castelhana -a ponto de que alguns autores sobre maçonaria,
como J. A. Vaca de Osma (La Masonería y el Poder), chegam a se perguntarem
se verdadeiramente não é membro da Ordem- tem, entretanto,
uma idéia escassa sobre ela, tomando-a como uma sociedade filantrópica
e espiritualista, não lhe outorgando nenhuma categoria iniciática,
termo que jamais emprega e que parece inclusive desconhecer em sua verdadeira
dimensão.
8
La Symbolique au Grade d'Apprenti, La Symbolique au Grade de Compagnon,
La Symbolique au Grade de Maître, Edimaf, París 1986, íd,
y 1990; La Symbolique des Nombres, íd. 1984. Também queremos
destacar aqui os livros amplamente conhecidos em castelhano assinados por
Magister (Aldo Lavagnini): Manual del Aprendiz, del Compañero, del
Maestro, del Gran Elegido, etc. De fato, todos os manuais maçônicos
têm menções aritmético-geométricas.
9
Desde 1824, Thomas de Quincey destacava em um periódico londrino
a conjunção da Maçonaria com o rosacrucianismo como
um tema conhecido.
10
A genealogia maçônica é também bíblica,
embora se combine com a Egípcia. Deve se recordar a relação
de Israel com o Egito na época de Moisés e ainda o simbolismo
do Egito nos evangelhos cristãos. Segundo o livro I dos Reis, 3-1,
há uma filiação direta entre o Rei Salomão e
o Egito, já que aquele era genro do Faraó, seu vizinho.
11
"The few notes on his conexion with Freemasonry which Ashmole has left
are landmarks in the sparsely documented history of the craft in the seventeenth
century". C. H. Josten, Elias Ashmole. Ashmolean Museum and Museum
of The History of Sciences, Oxford 1985. Estes diários foram publicados
sob o título: Elias Ashmole, His Autobiographical and Historical
Notes, his Correspondence and other Contemporary Sources relating to his
life and Work. Introd. C. H. Josten, 5 vol. Deny, 1967.
12
De acordo às mudanças que demandam os ciclos e os ritmos,
às quais não se pode subtrair nenhuma Tradição
ou Organização, por iniciática que seja, e que marcam
as diferentes fases e formas em que se expressa a Cosmogonia Perene, e portanto
também assinalam as adaptações históricas à
mesma.
13
Segundo Geoffrey de Monmouth em "História dos Reis da Britania"
(1135-39), uma das primeiras crônicas escritas sobre a História
da Inglaterra, os ilhéus procedem dos troianos que chegaram a suas
costas, passando antes pela França, vindos da Grécia, onde
permaneciam os descendentes dos que sobreviveram à famosa guerra.
14
Algo análogo quanto suspeita de herético, defeituoso, ou falso,
acontece com os sistemas, ou religiões, do Oriente. Com a condição
de que estas últimas gozam nos meios ocidentais de um maior prestígio
generalizado, embora estes às vezes não conseguem evitar o
desdém, ou a fobia, pelo fato de serem politeístas, outro
termo que em boca de alguns pareceria ser um insulto.
15
É óbvio o crescimento da Maçonaria com o nascimento
dos burgos e a cultura das cidades, que sempre necessitaram construtores
para sua efetivação, pelo que não é difícil
inferir que muitas cidades mais ou menos importantes da Europa, assim como
a construção de castelos, fortificações, conventos
e palácios, foram realizadas por arquitetos, diretores de obra e
pedreiros maçons, sem contar os carpinteiros e marceneiros, vitralistas,
escultores e pintores, todos eles iniciados nos segredos de seu ofício.
Isto se observa claramente na época moderna (e tem que ver também
com a passagem do operativo ao especulativo), em relação com
o incêndio da cidade de Londres que incluiu a catedral de S. Paulo
e que teve que ser totalmente reconstruída por mão-de-obra
especializada dirigida pelo arquiteto Christopher Wren, maçom de
alta hierarquia na Ordem e de reconhecido renome, que efetuou este gigantesco
trabalho no menor tempo possível. O incêndio de Londres é
um tema fundamental na história da Inglaterra e na Maçonaria
em geral. Sua reconstrução, efetuada por maçons, é
um símbolo cíclico relacionado com a perenidade da Ciência
Sagrada que, manifestando-se em qualquer parte, expressou-se em uma cidade
tão mágica, como é o caso da capital inglesa.
16
Medieval Craftsmen, Masons and Sculptors. British Museum, 1991.
17
Cf. Villard de Honnecourt, Cuaderno, siglo XIII. Apresentado e comentado
por Alain Erlande-Brandenburg, Régine Pernoud, Jean Gimpel, Roland
Bechman. Ed. Akal, Madrid 1991.
18
É importante fazer constar, dos começos, a presença
de militares em todas as lojas maçônicas. Isto chegou a ser
tão comum que, inclusive, algumas delas foram exclusivamente militares,
tanto as que se organizaram em bases militares, como as que funcionavam
em navios, seja em alto mar ou em portos.
19
Como se sabe, uma corrente numerosa de maçons liga especialmente
com a Origem Templária, Escocesa e Jacobita da Ordem, para a qual
exibem numerosos testemunhos e fatos muito prováveis. Isso sem que
esta corrente negue a herança Pitagórica, Hermética
e Platônica, e tampouco a das corporações de construtores,
dos Rosacruzes e a influência judaica dada pelo mito de Hiram e a
construção do Templo de Salomão. Michael Baigent e
Richard Leigh, em seu livro The Temple and the Lodge (Londres 1989) apoiando
a validade desta origem que desenvolvem em sua obra desde a Idade Média
ao século XVIII afirmam: pág. 187, "Ela [a Maçonaria]
tinha suas raízes em famílias e associações
vinculadas pelo antigo juramento de fidelidade aos Stuarts e à monarquia
Stuart. (...) Jaime I, um rei escocês que era ele mesmo maçom."
Na obra de Robert Kirk, The Secret Common-Wealth, ("La Comunidad Secreta".
Madrid, Siruela 1993) escrita em 1692, a respeito de "Os costumes mais
notáveis do Povo da Escócia", este erudito historiador
do mais antigo "folclore" escocês e da cultura celta, anota
no parágrafo "Singularidades da Escócia", e como
característica desse reino a: "A palavra maçônica,
da qual, embora alguns haja que façam mistério dela, não
ocultarei o pouco que sei. É como uma tradição rabínica,
como comentário relacionado a Jakín e Boaz, as duas colunas
eretas do Templo do Salomão, à qual vem se acrescentar algum
sinal secreto, que passa de mão em mão, graças ao qual
eles se reconhecem e familiarizam entre si."
20
Outros se consideram, no Rito Escocês Antigo e Aceito: "de perfeição",
"capitular" e "administrativos".
21
Vuillaume, le Tuileur. Ed. du Rocher, Mónaco 1990, reimpressão
do de 1830. Manual maçônico que contém os seguintes
Ritos praticados na França: Escocês Antigo e Aceito, Francês,
da Maçonaria de Adoção, e Egípcio ou de Misraím.
Ver resenha (em espanhol).22
José A. Ferrer Benimelli, la Masonería Española en
el siglo XVIII. Siglo XXI de España Editores, Madrid 1986.
23
"Os Livros Herméticos". SYMBOLOS Nº 11-12, Guatemala
1996. (Reproduzido em página do autor. - Portuguès : em construção
).24
Les Presses de l'Université Laval, Quebec 1978-1982. 2 vol.
25
E que é comum ao resto da literatura hermética, inclusive
a Alquimia.
26
O discurso do Corpus é efetivamente reiterativo e se repetem certos
axiomas ou máximas num tom que comporta certa solenidade, um "estilo"
para ser identificado entre outros tons, e também porque lhe imprime
uma cadência musical, que à par que fixa a memória,
é um agente "invocador".