Resgate a Pérola da Lama
Louis Claude de Saint Martin
O Filósofo Desconhecido

Quando a marcha da mente humana será direcionada a um final mais sábio e proveitoso? Será esta literatura, nas mãos humanas, sempre uma arte de falsidade dissimulada, vícios e erros sob uma roupagem graciosa ou picante, ao invés de ser uma passagem de virtude e verdade? Como pode a Verdade acompanhar tal curso?

Pergunto uma vez mais, oh! astutos escritores e consagrados homens de letras, quando irão deixar de usar seus preciosos dons de forma tão tola e nociva?

O ouro só serve para ornar as vestes usadas no palco? Os raios que deverão comandar a fim de derrotar os adversários de seu bem estar podem ser desperdiçados como fogos de artifícios para a diversão da multidão desocupada? Em estados bem ordenados o que é supérfluo se presta para este papel, toda produção útil do país, existe para prover abundância e segurança aos cidadãos e meios de defesa ao governo.

Vocês pretendem estimular nossos corações e transportar nossas almas com emoções vivas! Onde poderiam encontrar algo mais vivo senão no grande drama do Homem, que nunca deixou de ser apresentado desde o princípio, naqueles quadros reais de dores e assustadores perigos que atacam a negligente família do Homem, desde sua queda? Neste drama, encontrariam cenas prontas, ainda que sempre novas e que conseqüentemente teriam maior impacto sobre nós, do que aquelas que vocês compõem com a doçura de sua fronte e que vos alimentam, assim como a nós, apenas com imagens artificiais das verdadeiras emoções que deveriam despertar em nós.

O Verbo aqui, desenvolve todos estes poderes maravilhosos diante de nós e poderia, de fato, torná-los mestres de todas nossas emoções e ao mesmo tempo nossos benfeitores. Mas, como poderiam realizar o prodígio de penetrar nossas almas, não estando vocês familiarizados com elas?

É verdade que Deus, algumas vezes, nos empresta nossos próprios pensamentos, ou seja, Ele nos deixa conosco, como um mestre que dá alguns momentos de relaxamento e liberdade aos seus servos, após terem feito seu trabalho. Pode-se supor que isto ocorra com a grande maioria de pensadores no mundo que, realmente, parecem escolares em férias. Contudo, estes escolares estão brincando, de férias, sem primeiro ter freqüentado suas aulas ou feito o trabalho do mestre; eles consomem seus momentos de liberdade, com disputas, discussões e lutas um com os outros; freqüentemente até falam mal do instrutor ou fazem intrigas contra ele.

Imaginem se eu fosse falar aqui da classe científica de escritores, que insistem em dirigir nossas mentes a nada além de resultados superficiais ao invés de dirigi-las ao Centro e ao Princípio. Já disse o bastante sobre eles em várias passagens desta obra.

Como o Homem deve ser o sinal de seu Princípio, que é Deus, tudo em sua existência e em seus caminhos deve ser Divino; tudo deve ser Democrático em seu progresso, em todas as suas medidas, sociais, políticas, especulativas, científicas, literárias ou outra qualquer.

Quem não percebe as trevas espalhadas por toda a terra através das obscuras especulações do homem, quando é deixado ao seu próprio espírito? Nestas variações da literatura e das ciências, o que restou do Verbo? o que restou, ao menos da linguagem dos homens?

As palavras tem se tornado, nas linguagens humanas, o que os pensamentos tem se tornado nas mentes dos homens. Se tornaram como mortos enterrando mortos ou vivos talvez, ao menos, muitos que desejavam viver. Muitos homens se enterram a cada dia com suas próprias palavras pervertidas que perderam completamente seu sentido. Eles, desta forma enterram o Verbo.

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