O
TARÔ
EXTRATO DO TEXTO "A CABALA E O TARÔ"
"Vocês
não são nada mais que um baralho de cartas ! "
Alice sobre a razão humana.
...ao voltar do País das Maravilhas para a realidade,
e recuperar o seu tamanho natural...
Lewis Carol.
1 - INTRODUÇÃO
O SIMBOLISMO DO TARÔ E O OCULTISMO
O Taro é reconhecido como a pedra fundamental do Hermetismo no Ocultismo
Tradicional do Ocidente. Ouspensky no seu trabalho "The Symbolism of
the Tarot - Philosofy of Occultism in Pictures and Numbers", resume a
ligação entre o Ocultismo e o Simbolismo do Taro, como a seguir:
Nenhum estudo de filosofia oculta é possível sem uma familiaridade
com simbolismo, pois se as palavras ocultismo e simbolismo são corretamente
utilizadas, elas significam quase que a mesma coisa. O Simbolismo não
pode ser aprendido como se aprende a construir pontes ou a falar uma língua
estrangeira, e a interpretação de símbolos requer um
estado mental especial; além de conhecimento, faculdades especiais
como o poder do pensamento criativo e o desenvolvimento da imaginação
são necessários. Alguém que entenda o uso do simbolismo
nas artes, sabe, de maneira geral, o que significa simbolismo oculto. Porém,
mesmo neste caso, um treinamento especial da mente é necessário,
para a compreensão da "linguagem dos Iniciados", e para expressar
nesta língua as intuições, à medida em que são
levantadas.
Existem muitos métodos para o desenvolvimento do "sentido dos
símbolos" para aqueles que procuram conhecer as forças
ocultas na Natureza e no Homem, assim como ensinar os princípios fundamentais
e os elementos da linguagem esotérica. O mais sintético, e um
dos mais interessantes destes métodos, é o Taro.
Este estudo, entretanto, obedece regras especiais, pois um símbolo
pode servir para engatilhar e transferir nossas intuições e
sugerir novas, apenas enquanto seu sentido não é definido; por
isso, símbolos reais como o Taro, estão perpetuamente em processo
de criação, porque se recebem um significado definido, tornam-se
hieróglifos e finalmente, um mero alfabeto. Desta forma passam a expressar
conceitos ordinários, deixando de ser a linguagem dos Deuses ou dos
Iniciados e tornando-se meramente um língua, que qualquer um pode aprender....
Em sua forma exterior o Taro é um pacote de cartas utilizado para jogos
e adivinhação da sorte. Estas cartas foram inicialmente conhecidas
na Europa no final do século XIV, quando eram utilizadas por ciganos
espanhóis, como quer Ouspenski; Taro do Bohemios, para Papus.
Embora sua origem exata seja desconhecida, diversos ocultistas famosos como
Paracelso (Teophrastus Bombastus von Hohenheim), Papus (Gerald Encausse),
Fabre d'Olivet, Court de Gebelin e Eliphas Levi (Alphonse Louis Constant)
a atribuem aos egípcios, outros aos Atlantes.
Segundo Ouspensky, durante a Idade Média, quando os Taros apareceram
historicamente na Europa, existia uma tendência para a construção
de sistemas lógicos, simbólicos e sintéticos análogos
à "Ars Magna" de Raymond Lully. Mas produções
similares ao Taro existiram na China e na Índia, desse modo impedindo-nos
de imaginar que o Taro foi um destes sistemas criados na Europa, durante a
Idade Média. Por diversos motivos, é também evidente
que o Taro está conectado aos Antigos Mistérios e Iniciações
Egípcias. Entretanto, embora de origem discutível e de objetivos
desconhecidos o Taro é sem nenhuma dúvida o mais completo código
de simbolismo Hermético que possuímos.
Diz Eliphas Levi no seu Dogma e Ritual da Alta Magia:
O Taro é uma verdadeira máquina filosófica que impede
a mente de vagar, embora mantenha sua iniciativa e liberdade; é matemática
aplicada ao Absoluto e aliança entre o positivo e o ideal, uma loteria
de pensamentos tão exatos quanto números, talvez a mais simples
e maior criação do gênio humano...
Ainda relacionando o Taro à Cabala diz em outro trecho:
...A Tétrada simbólica representada nos mistérios de
Menphis e Tebas pelos quatro aspectos da esfinge - homem, águia, leão
e touro, correspondia aos quatro elementos do mundo antigo: água, ar,
fogo e terra. ...Agora estes quatro símbolos com todas as suas analogias,
explicam o mundo único e oculto em todos os santuários. ...Além
do mais, a palavra sagrada que não era pronunciada, era soletrada e
expressa em quatro letras: Iod, He, Vau, He...
Eliphas afirma ter encontrado uma peça de Taro cunhada no antigo Egito,
e sobre ela diz:
...Essa Clavícula, considerada perdida durante séculos, foi
por nós recuperada e temos sido capazes de abrir os sepulcros do mundo
antigo, de fazer os mortos falarem, de observar os monumentos do passado em
todo o seu esplendor, de entender enigmas de cada esfinge e de penetrar todos
os santuários. ...Ora a chave em questão era esta: um alfabeto
hieroglífico e numérico, expressando por caracteres e números
uma série de idéias universais e absolutas.
Laurens van der Post em sua introdução para o livro "Jung
e o Taro - uma Jornada Arquetípica" de Sallie Nichols, coloca:
... Ele (Jung) reconheceu de pronto, como fez com muitos outros jogos e tentativas
primordiais de adivinhação do invisível e do futuro,
que o Taro tinha sua origem e antecipação em padrões
profundos do inconsciente coletivo, como acesso a potenciais de maior percepção
à disposição desses padrões. Era outra ponte não-racional
sobre o aparente divisor de águas entre o inconsciente e a consciência,
para carrear noite e dia o que deve ser o crescente fluxo de movimento entre
a escuridão e a luz... Desta forma o Taro é no mínimo
uma autêntica tentativa de ampliação das possibilidades
das percepções humanas...
AS QUATRO CIÊNCIAS HERMÉTICAS NO TARO
Muitos comentaristas do Taro acreditam que este é um sumário
das quatro Ciências Herméticas: Cabala, Astrologia, Alquimia
e Magia, com as suas diferentes divisões. Todas estas ciências,
atribuídas a Hermes Trismegistus, realmente representam um sistema
amplo e profundo de investigação psicológica da natureza
humana em sua relação com o mundo "noumena" (Deus
e o Mundo do Espírito) e com o mundo fenomênico (o visível,
o Mundo Físico), conforme Ouspensky:
...As letras do alfabeto hebraico e várias alegorias da Cabala; os
nomes dos metais, ácidos e sais da Alquimia; os planetas e constelações
da Astrologia; os bons e os maus espíritos da Magia - todos estes aspectos
estão contidos no Taro, de modo velado aos não iniciados. Mas
quando o verdadeiro alquimista procura pelo ouro, procura o ouro da alma humana;
quando o astrólogo fala de constelações e planetas ele
fala de constelações e planetas na alma humana ou seja nas qualidades
da alma humana e sua relação com Deus e com o mundo; e quando
o verdadeiro cabalista fala no Nome de Deus, imagina Seu Nome na alma humana
e na Natureza, não em livros mortos ou textos bíblicos, como
faziam os cabalistas escolásticos. Assim Cabala, Astrologia, Alquimia
e Magia são sistemas paralelos de metafísica e psicologia, simbolicamente
representados pelo Taro. Desta forma, qualquer Arcano do Taro ou qualquer
sentença alquímica pode ser lida de modo cabalístico
ou astrológico, mas o seu significado será sempre psicológico
ou metafísico.
Diversas analogias existem entre o Taro e os ensinamentos da Cabala:
Os vinte e dois arcanos maiores correspondem as vinte duas letras do alfabeto
hebraico e aos vinte e dois caminhos que interligam o Sephiroth.
Os quatro naipes (Pentáculos, Espadas, Copas e Paus) e as quatro figuras
dos arcanos menores (Rei, Dama, Cavaleiro e Valete) correspondem aos quatro
elementos alquímicos, as quatro letras do tetragramaton (Iod, He, Vau,
He) ou ainda os quatro mundos no caminho do Relâmpago Brilhante (Olam
ha Aziluth - Mundo da Emanação, Olam ha Briah - Mundo da Criação,
Olam ha Yezirah - Mundo da Formação e Olam ha Aziah - Mundo
da Manifestação ou Concreto).
As dez cartas dos arcanos menores (de As a Dez) representam as sephiras da
Árvore da Vida.
E assim por diante, de tal forma que é impossível não
notar as similaridades entre os dois sistemas..
O TARO NOS TEMPLOS EGÍPCIOS
Oswald Wirth em seu "Essay upon the Astronomical Tarot" refere-se
à sua origem assim: "De acordo com Christian (Histoire de la Magie)
os vinte e dois arcanos maiores do Taro, representam pinturas hieroglíficas
que foram encontradas nos espaços entre as colunas de uma galeria,
onde os neófitos deviam passar nas iniciações egípcias.
Haviam 12 colunas ao norte e 12 colunas ao sul, ou seja, onze figuras simbólicas
de cada lado. Estas figuras eram explicadas ao candidato em ordem regular,
e elas continham as regras e os princípios da iniciação.
Esta opinião é confirmada pela correspondência que existe
entre os arcanos quando eles são desta forma arranjados."
Na galeria do Templo, as figuras eram arranjadas em pares, uma oposta à
outra, de tal modo que a última era oposta à primeira; a penúltima
à segunda, e assim por diante.
Quando as cartas são colocadas, encontramos uma significação
interessante e profunda. Desta forma a mente encontra a unidade a partir da
dualidade, o monismo à partir do dualismo, o que podemos chamar da
unificação da dualidade. Uma carta explica a outra e cada par
mostra mais do que cada uma de per sí.
Assim, por exemplo, os arcanos X e XIII (Vida e Morte) significam em conjunto
uma certa unidade, uma condição complementar que não
pode ser concebida pelo processo mental normal e imperfeito. Pensamos em Vida
e Morte como dois opostos antagônicos um ao outro, mas, se pensarmos
mais longe, veremos que cada um depende do outro para existir e nenhum dos
dois pode existir separadamente.
Assim temos a seguinte organização para os 22 Arcanos Maiores