O Natal não
é uma simples data em que se comemora um fato histórico ocorrido
há 2.000 anos, na Palestina. Trata-se de uma das quatro festas cardeais
correspondentes à fenômenos cósmicos, a saber: o Natal,
a Páscoa, a festa de São João e a festa de São
Miguel.
Ao longo de um ano, o Sol passa pelos quatro pontos cardeais que marcam
o Equinócio de Primavera, o Solstício de Verão, o Equinócio
de Outono e o Solstício de Inverno.
Durante estes períodos produzem-se na Natureza grandes fluxos e circulações
de energias que influenciam a terra e todos os seres que nela habitam. Os
Iniciados que estudaram estes fenômenos puderam constatar que se o
homem estiver atento, preparado e em harmonia para receber estas emanações,
poderá alcançar grandes transformações.
É de conhecimento geral a história que envolve o nascimento
de Jesus, cabe ao Iniciado fazer uma nova leitura destes fatos, caso a considere
estória, a fim de obter uma ressonância interior.
Em primeiro lugar, quem eram Maria e José?
Eles foram os escolhidos para receber a Encarnação do Verbo,
o Cristo. Se isto ocorreu, certamente foi porque eles já haviam passado
por um grande trabalho espiritual em suas vidas anteriores. Até mesmo
Jesus, por uma questão de justiça, foi submetido a uma longa
preparação antes de se revelar ao mundo. Deus escolhe aqueles
que têm condições de realizar determinado trabalho,
portanto é preciso reunir condições, nunca ficar esperando
que a vontade de Deus ou se preferirem a Providência, embora poderosa,
opere alguma transformação. Para que a nova criatura nasça
é preciso um Pai e uma Mãe. O pai, José, é a
inteligência, o espírito do homem. A mãe, Maria, é
o coração, a alma do homem.
Quando o Espírito e a Alma estão purificados a criança
nasce, mas nasce da Alma Universal ou através do Espírito
Santo sob a forma de fogo, de amor divino. Uma chama pura que vem fecundar
a alma e o coração deste homem.
Quando Maria e José procuraram abrigo, já não havia
lugar para eles, assim também acontece com o interior dos homens,
não há lugar para o instrumento que procura encarnar esta
chama que purifica e regenera, chamada Força Crística.
Seguindo este sentido alegórico, o estábulo é o símbolo
das dificuldades exteriores que o homem enfrenta. Mas graças à
luz que ele projeta acima da manjedoura, outros o verão de longe
e virão visitá-lo. Esta luz está representada pela
estrela de cinco pontas e é uma realidade absoluta. Ela brilha por
cima de todos os Iniciados cujo princípio feminino, a alma, deu à
luz o menino Jesus concebido pelo Espírito Santo. Neste momento a
inteligência, o espírito, José desaparece dizendo humildemente:
"Foi Deus que aflorou no coração e na alma de Maria,
eu não conseguiria fazê-lo".
Maria e José são símbolos da vida interior, aqueles
que repudiaram Maria secaram-se a si mesmos e nada mais tem do que intelecto
inferior, que divide, critica e está sempre descontente com tudo.
O homem não pode permitir que este intelecto inferior continue prevaricando.
Só um sentimento puro para com a Divindade poderá reconciliar
sua alma.
Os três Reis Magos: Melchior, Baltazar e Gaspar sentiram a Luz e reconheceram
o fenômeno astrológico que se produziu no céu há
2.000 anos. Eles trouxeram o ouro, pois Jesus era Rei; a cor dourada é
o símbolo da sabedoria, cujo brilho cintila por cima da cabeça
dos Iniciados, como uma coroa de Luz. Eles trouxeram incenso, querendo dizer
com isto que Cristo era um Sacerdote, pois o incenso significa o domínio
da religião, que é também o do coração
e do amor universal. Eles também trouxeram mirra, que é o
símbolo da imortalidade, pois era usada para embalsamar os corpos
e livrá-los da destruição.
Assim, os Reis Magos trouxeram presentes ligados aos domínios do
pensamento, do sentimento e do corpo físico. Cada um está
ligado também a uma Sephirot na Árvore da Vida: a mirra ligada
à Binah, que conserva tudo; o ouro à Thiphereth, a luz e o
incenso à Chessed a religião.
No estábulo havia um boi e um asno.
O estábulo representa o corpo físico, o boi o princípio
da geração; o asno, sob a influência de Saturno, representa
a personalidade humana. Estes dois animais estavam lá para servir
ao menino Jesus. Mas como?
Quando o homem começa a trabalhar em seu interior para se aperfeiçoar,
entra em conflito com as forças de sua personalidade e de sua sensualidade.
O Iniciado é justamente aquele que domina estas forças e as
coloca ao seu serviço.
O que dizer então do Anjo que avisou aos pastores sobre o grande
acontecimento ocorrido no estábulo?
Os anjos avisam todas as almas boas e afortunadas das bênçãos
do mundo espiritual.
São Paulo recomendava aos seus discípulos que se purificassem
e se pusessem num estado de aceitação, submissão e
de adoração, pois estas são as condições
necessárias para receber o gérmen que vem dos mundos superiores.
Não faria sentido acreditar que o Cristo nasceu uma única
vez e há tanto tempo. Ele nasce todos os anos no Universo e a cada
instante na alma dos homens. A semente Crística ele deixou em todos
nós e é através da caridade e do amor universal que
todo homem a faz florescer em seu interior e perpetua esta chama de geração
em geração. Este novo nascimento é a esperança
de que Deus não abandona os homens, apesar de suas faltas e transgressões
às Suas leis.
É no Natal portanto, que ocorre o nascimento do princípio
Crístico na Natureza, a vida, a luz e o calor que tudo transforma.
Os mundos da criação também ficam em festa, os Anjos
cantam e todos os grandes Mestres e Iniciados se reúnem para orar
e glorificar o Eterno. Na verdade, é preciso ter consciência
da importância de tal acontecimento e ser sensível aos influxos
divinos. O homem só não recebe a Graça de Deus porque
não se prepara interiormente.
Tenhamos todos o desejo de fazer com que o nosso Cristo interior floresça
em nossas almas, para que sejamos como Ele e a terra fique povoada de Cristos,
assim como Ele mesmo pediu: "aquele que crê em mim fará,
ele também, as obras que eu faço. Ele fará até
maiores".
Ora, onde estão estas obras maiores do que as de Jesus?
Para alguns, o Cristo já nasceu; para outros, nascerá em breve
e para muitos outros demorará séculos. Que esta data de reflexão,
de oração, de caridade e de amor universal desperte nos homens
o desejo de compreender o simbolismo contido no nascimento de um novo Cristo
e que todos possam manifestá-Lo em seu interior.