O MARTINISMO E O CAVALHEIRISMO
Irmão Saryh SI


 


os faz meditar, profundamente, o brado de alerta de uma das maiores inteligências contemporâneas, a do filósofo francês Jean François Revel, que no discurso intitulado "Elogio da virtude", proferiu na Academia Francesa de Letras, na sessão de encerramento do ano de 1998, perante as mais destacadas figuras representativas do mundo cultural e científico da Europa, finalizou-o, assustadoramente, com as seguintes palavras : "... Para além de todos os limites até agora conhecidos, o século 20 foi o século do vício. Nossa civilização democrática não se perpetuará e não se estenderá, se no século 21 não for o século da VIRTUDE ".

Façamos uma breve análise sobre virtude ...

Platão a chama de ciência do bem. Aristóteles, o hábito de dirigir a nossa conduta pela inteligência; os estóicos, a disposição da alma que, durante todo o decurso da vida, está de acordo consigo mesma; Malebranche, o amor da ordem; Kant, a força moral pela qual obedecemos às ordens da razão.

Comparando todas estas definições, vê-se que a virtude implica essencialmente duas condições : o conhecimento do dever e uma disposição firme e constante de praticá-lo.

Os antigos reuniam toda a Moral em quatro virtudes, que denominaram de virtudes cardeais, isto é, preeminentes ou principais, em torno das quais giram todas as outras ou das quais dependem as outras. Estas qualidades viris ( virtutem) eram : Sabedoria, Coragem, Justiça e Temperança. Foram posteriormente classificadas como : Temperança, Fortaleza, Prudência e Justiça.

Após esses esclarecimentos iniciais, nós, Martinistas, em razão de nossa condição de buscadores da verdade, no caminho ascendente em direção ao Grande Arquiteto do Universo, devemos cultuar e praticar a Virtude, combatendo, como se fossem inimigos mortais, a hipocrisia e a traição, defendendo a Virtude e a Inocência, contra a violência, o engano e a calúnia.

Devemos lutar ardorosamente e sem desfalecer jamais nesta empresa, em favor da Liberdade, do Direito e da Livre Manifestação do Pensamento e da Palavra; defender a Sabedoria popular contra os atentados da tirania e da superstição e contra os abusos de todo poder; ter por principio o Amor aos semelhantes, por base a Ordem e por fim o Progresso .

As sete virtudes que devemos praticar : Sinceridade, Paciência, Coragem, Prudência, Justiça, Tolerância e Devotamento.

O Martinista tem como premissa de vida, o Amor ao Grande Arquiteto do Universo, e o Amor ao seu próximo.

O Amor Martinista é, com efeito, muito mais do que uma virtude de ordem moral, é o Amor no sentido cristão, como dele falam São João e São Paulo, realização do conhecimento, participação direta do Absoluto.

A fé e a Caridade, unindo-se a todos os homens na comunhão do Amor, procuram tudo o que pode contribuir para a reabilitação da humanidade.
O mal desaparecerá sobre a Terra, uma vez que a humanidade seja remunerada pela lei do Amor, uma vez que todos os homens se amem a si mesmos, graças à propagação pelo Martinismo das doutrinas de Fé, Esperança, de Caridade e de Amor fraternais que constituem a Verdade.

O Martinista tem a mais ampla visão relativamente aos seus deveres para com os seus semelhantes. O seu Amor por eles aumenta porque sabe que é somente pelo Amor que a humanidade poderá aniquilar as tiranias, destruir as intolerâncias e fazer desaparecer os fanáticos, sejam eles de ordem política ou religiosa.
A lei do dever induz a prática do Bem; fazer o Bem é dever do Martinista e ele deve ser praticado sem visar recompensa nem futura nem imediata.

O dever deve ser cumprido porque é o dever; ele não se limita aos bens materiais; o auxilio em forma de bens perecíveis; mas o apoio de todo irmão deve a seu irmão, que é um imperativo absoluto; não se pode fazer parcialmente um bem; ele é completo e total.

Esse, também, foi o espírito da Cavalaria; e se no passado, tantos nobres como plebeus, leigos e religiosos, deram a sua própria vida pelo ideal da prática do Bem, merecem seguimento. E nós Martinistas, sejamos os Cavaleiros do século 21, a praticar e difundir as virtudes morais, para que todos tenham a oportunidade de, seguindo o caminho do meio, talvez, no próximo Milênio, se aproximar do Absoluto.

Formado o termo espanhol "caballero", é uma
atitude habitual de distinção no trato,
como expressão das virtudes morais que
devem presidir à convivência humana, em
especial, a verdade e a lealdade.
O termo teve sua origem na instituição
Medieval da Cavalaria.
A Igreja, no esforço por suavizar a rudeza dos
costumes, procurou transformar o soldado
bárbaro em defensor das virtudes do cavaleiro
medieval.

O Cavalheiro seria o herdeiro das virtudes do cavaleiro medieval. Muitos crêem que a nossa época não dá valor a esse ideal. É falso tal pensamento. O homem que cultiva as virtudes cavalheirescas dignifica a sua própria vida e é um exemplo para a sociedade a que pertence.

Façamos uma retrospectiva histórica.

Quando surgiu a Cavalaria, seus integrantes lutavam por castelos e terras. Mas quando a Ordem dos Cavaleiros se estabelece, e eles já são poderosos senhores que têm inclusive vassalos, a glória individual, característica do bárbaro, cede perante a defesa da honra, da família ou do clã. A dignidade e a fidelidade aos juramentos e compromissos encontram, pela primeira vez nesta sociedade, rigorosa aplicação.

A coragem guerreira é a motivação da vida de um cavaleiro e a literatura da Idade Média a descreve como o ideal mais cultivado.

Embora ricos, de maneira geral, os cavaleiros dos séculos IX e X vivem sem conforto. Seus castelos são de madeira, desprovidos de luxo. A alimentação simples : carnes de caça e os poucos legumes conhecidos da época. Não há frutas e eles não conhecem ainda o chá, o café, nem talheres.

Seus úmidos castelos não dispõem de recursos para aquecimento durante o inverno. E a frieza também impera no trato - indiferente, quando não brutal- com as mulheres. Numa condição de quase total servilidade, a mulher deve estar sempre pronta a servir seu marido e senhor.

A partir de 1095, depois das primeiras cruzadas, esse quadro muda completamente. Os cavaleiros permanecem muito tempo no Oriente, em contato com civilizações mais avançadas, em Bizâncio e nos lugares Santos, acabam assimilando a cultura oriental.

As cruzadas acabariam concretizando o prestígio dos cavaleiros, dando-lhes um forte cunho religioso, que se exteriorizava na promessa de proteger a Igreja, a cristandade e combater os infiéis, de proteger os fracos, os oprimidos, as mulheres e os órfãos, de respeitar a hierarquia e a disciplina, de combater a mentira, a calunia e o vício.

Quando voltaram das cruzadas, introduzem o progresso em seu meio. Constróem novos castelos: de pedra, amplos e com lareiras, enfeitados com tapetes e tapeçarias. Com sedas trazidas do Oriente, fazem roupas mais sofisticadas. Com as especiarias, o café e o chá, sua alimentação também enriquece.

Os costumes suavizam-se e nasce um novo ideal cavalheiresco: o amor romântico. A mulher passa a ser o centro da atenção dos cavaleiros, participando das festas e cerimônias. Para homenageá-las, fazem-se caçadas, lutas e duelos. O cavaleiro quer ser herói da dama escolhida, cuja beleza e virtude são contadas nas poesias. O sacrifício e o heroísmo são as novas metas do cavaleiro.

Transformada em escola de lealdade, cortesia e respeito para com a mulher e os fracos, a cavalaria entra em decadência no século XIV. O cavaleiro não ambiciona mais riquezas; ao contrário, seu ideal agora é lutar desinteressadamente, sacrificando até as próprias riquezas em proveito dos necessitados.

A idealização da pobreza mostra a decadência do feudalismo. Os cavaleiros, que não possuem mais terras e que vêem suas rendas, transformam a pobreza em heroísmo. Cervantes satiriza o cavaleiro pobre desta época em seu Dom Quixote.

Por outro lado, o cavaleiro começa a ter preocupações intelectuais. Para cativar damas é preciso saber histórias, mostrar-se culto. Surge então a necessidade de alfabetização, para poder ler a Bíblia e mandar mensagens à amada. Os cavaleiros passam a convidar trovadores e poetas ao castelo, em vez de ir à caça, preferem o jogo de xadrez, que havia sido importado do Oriente.

Após este breve relato dos feitos dos Cavaleiros e das Cruzadas, reiteramos nosso chamamento; aproveitemos tudo de positivo que eles fizeram e nos legaram, e sejamos NÓS, Martinistas, os virtuosos cavaleiros do século XXI !.

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