Há
certos assuntos que podemos abordar sem muita reflexão e mediante o
auxílio de uma erudição mediana . Há outros ,
no entanto , que despertam um verdadeiro temor de conduzir as inteligências
ao erro. Quando atravessamos a fase da evolução intelectual
em que o materialismo parece ser a verdade integral , comentamos com a mesma
leviandade a existência do Cristo e a de Zoroastro . Sentimo-nos muito
orgulhosos de nosso conhecimento e, entretanto, possuímos tanto menos
a verdade quanto mais julgamos conservá-la Mais tarde , percebemos
um canto da ciência viva , folheamos uma quantidade de livros , acumulamos
montanhas de informações sobre todas as Tradições
religiosas, supersticiosas , literárias ou cientificas que podemos
assimilar . Criamos idéias que julgamos originais ao reunir os mais
diversos documentos. Reunimos a poeira das sepulturas para construir uma casinha
de bonecas. Alimentamo-nos com as idéias dos outros e não vivemos
por nós mesmos. Neste momento da evolução , escrever
uma obra sobre o Cristo parece algo coberto de mil dificuldades para não
repetir o que já foi feito centenas de vezes. À medida que a
evolução prossegue , tomamos consciência da vida em diferentes
planos , consciência essa que não é mais unicamente intelectual,
mas experimental. Abandonamos a metafísica e suas classificações
estéreis , deixamos a poeira das sepulturas para respirar o príncipio
mesmo que, outrora, animou os ossos do deserto , e ao mesmo tempo ,tomamos
consciência de um fator até então desconhecido : a responsabilidade
efetiva de todo escritor em relação à interpretação
dos leitores ; a responsabilidade terrível de quem se julga um mestre
e que é responsável pela evolução dos espíritos
daqueles que escolheu para discípulos.
Aproveitarei essa ocasião para expor minhas idéias pessoais
sobre a questão do Cristo , primeiro em sua defesa , como um pobre
soldado , perdido num canto da batalha , para defender sua bandeira , e depois
para explicar de uma vez por todas a meus leitores como podemos ser um soldado
do Cristo , sem ser clerical nem beato , e porque os verdadeiros Rosa-Cruzes
e os Martinistas defendem sempre a identidade absoluta do Verbo Eterno, do
logos , e do indivíduo no qual o verbo se encarnou na pessoa de Jesus
de Nazaré , Deus vindo na carne.
Essa afirmação, em nossa época , requer como corolário
os seguintes estudos :
1- A personalidade de Jesus existiu na Terra?
2- Jesus é um Homem evoluído ou verbo encarnado?
3- Jesus tem uma existência metafísica ou é um princípio
vivo que age atualmente em relação a nossas ações
terrestres e à história dos povos?
4- O que significa a vida esotérica de Jesus e o que podemos dizer
sobre sua vida não- pública?
1) A personalidade de Jesus existiu na Terra?
Suponhamos que nos dirigimos a profanos que exigem provas físicas porque
é impossível a um iniciado digno desse nome negar o que ilumina
o plano divino , assim como é impossível a uma pessoa normal
negar a luz do sol. Para afirmar a existência da personalidade do Cristo
vamos eliminar enquanto críticos :
· Os evangelhos que deixaremos de lado no que diz respeito ao ponto
de vista crítico desse assunto , enquanto os consideramos como a luz
viva no referente à devoção ;
· Os teólogos e os padres da Igreja com todos os seus argumentos
metafísicos;
· As obras dos gnósticos e de todos os cristãos interessados
em afirmar a existência terrestre do Verbo . O que nos sobra então?
Nos sobra as obras dos autores pagãos e dos inimigos do Cristo: os
Judeus . Apoiando-se em Josefo , Tácito e Suetônio, alguns autores
afirmam a existência terrestre do Cristo - o que nos alegra sobremaneira
. Tratam de argumentos sérios ; mas não devemos esquecer que
alguns críticos de má fé afirmaram que essas passagens
eram interpoladas ! Por conseguinte , menciono um texto pouco conhecido que
não pode ser considerado interpolado , uma vez que só se encontra
nas obras dos inimigos de Jesus : os Talmudistas . Por outro lado , esse texto
se refere unicamente a uma questão de jurisprudência . Ei-lo
:
"Talmude de Babilônia ( Simedrim pag 67 ) e Talmude de Jerusalém
( Sanedrim , VII, XVI, pag 25 ) , abordam esse tipo de testemunho nos processos
criminais e, apresentando-os como lei tradicional , citam unicamente o processo
de Jesus no qual foi posto em uso " ( Graetz , Sinai et Golgotha , pag
338 , citado por Hippolyte Rodrigues Le Roi des Juifs , pag 245 ). Esse testo
possui uma importância capital, porquanto prova definitivamente a existência
do indivíduo que foi objeto dessa jurisprudência especial . Alem,
deste documento , existe um outro , trata-se de um livro escrito pelos rabinos
da sinagoga contra o Cristo e que se intitula o Livro do Impostor , Sepher
Toldos Jeschouah. É um livro inteiramente farisaico e anticristão
. Todas as histórias abjetas e as calunias dirigidas contra Jesus e
sua família são colhidas nessa obra . Mas por pior que seja
, ela afirma, pelo testemunho dos inimigos mesmo do Cristo , dois fatos importantes.
1- A existência do Cristo enquanto indivíduo .
2- A realidade de seus milagres .
Em suma , se abandonamos aos críticos os Evangelhos , os teólogos
, os padres da Igreja e os gnósticos , bem como todos os cristãos
, resta-nos ainda a prova absoluta da existência histórica de
Jesus fornecida:
1-Pelos pagãos
2- Pelos rabinos contemporâneos;
3- Pelo Talmude .
E isso nos Basta !
Em todas as escolas mais ou menos ligadas à tradição
oriental e , por conseguinte , não cristã , bem como em muitos
centros pitagóricos , os mestres dizem aos neófitos o seguinte:
"Todo homem possui em si uma centelha divina proveniente do Logos ou
verbo divino . Basta desenvolver essa centelha para se tornar Cristo . Jesus
fez isso e é um homem evoluído à máxima potência."Segundo
essa tradição , Jesus foi procurar no Oriente um centro capaz
de desenvolver sua centelha divina . Ao Meu Ver, e segundo todos os ensinamentos
dos verdadeiros Rosa-Cruzes e das fraternidades ocidentais , essa afirmação
é errônea . Para os hermetistas iluminados, bem como para Jacob
Boehm , Swedenborg e Saint Martin , Jesus é o príncipio-verbo
, isto é , vindo na carne e não uma carne humana divinizada.
A opinião deles , além do resultado das visões diretas
no invisível a respeito das quais nos calamos por principio , baseia-se
no fato de que Jesus foi o único de todos os reveladores vindos à
Terra que passou pela morte e voltou no mesmo corpo que suportou a morte terrestre,
demonstrando assim a futilidade dos terrores humanos referentes à passagem
de um plano a outro.
Nem Buda , nem Moisés , nem nenhum daqueles que foram postos em paralelo
com o reparador e que eram homens evoluídos , nenhum desses atravessou
a porta dos mortos e voltou no mesmo invólucro carnal . Pela reencarnação
, pela substituição dos corpos , é possível continuar
uma vida física como faz o Dalai-Lama; mas somente o principio da existência
pode animar de novo um corpo ferido e torturado , porque não se trata
nesse caso de uma letargia voluntária, como insinuaram os críticos
desorientados por essa ressurreição . Já que mencionamos
o fato , é necessário falar da objeção que o absoluto
não pode se particularizar e que o verbo não pode se encarnar
num ponto do espaço e num ciclo do tempo . O verbo pode manifestar
seu principio num ponto do espaço sem cessar de estar no absoluto ,
uma vez que esse ponto particular se confunde em todos os momentos com ele
mesmo . Saint Martin consagrou muitas páginas a demonstrar que o homem
de carne materializado pela queda de Adão Cadmon não podia ser
"reparado em sua essência senão por um principio não-humano
que se unisse a sua natureza ". E , por essa união , o principio
aceita todas as condições da existência terrestre , inclusive
o esquecimento do plano divino e a angústia do abandono do Pai .
Jesus tem uma existência metafísica ou é um principio
vivo e atualmente atuante em relação a nossas ações
terrestres e à história dos povos ?
Muitas pessoas imaginam o verbo como um principio colocado acima das nuvens
, a quem se fala muito raramente de joelhos dizendo palavras que se recita
de cabeça sem pensar no significado delas e sem verificar se eles correspondem
exatamente a nossos pensamentos. Outros freqüentemente assíduos
das igrejas , pensam que ele delegou , desde a sua vinda à Terra ,
todos os seus poderes aos sacerdotes de diferentes cultos , e que desobedecer
a esses é o mesmo que desobedecer a Deus . Por ultimo , os espíritos
mais esclarecidos admitem uma ação do plano divino sobre as
boas ações e os bons pensamentos , mas não vão
mais longe.
Lacuria , nas Harmonias do Ser Expressas Pelos Números , fornece alguns
esclarecimentos muito importantes em seu capítulo da personalidade
de Jesus . Ele observou especialmente que o verbo criador é um principio
intimamente ligado a todas as manifestações vivas da natureza
e que nada recebe da vida sem um sacrifício permanente feito ao Pai
, nada recebe a faculdade de ação e de reflexão criadora
sem um sacrifício permanente do verbo , e nada recebe a luz da sensibilidade
e da inteligência sem uma ação constante do espírito
divino.
E como tudo é vivo , nossas ações assim como nossos pensamentos
e nossos desejos nossas ações e nossos pensamentos e desejos
serão reflexos de nossas atitudes.
Porque o principio que se encarnou em Jesus não abandonou o plano físico
, seja ele terrestre ou não , e está sempre presente para curar
a todos que conscientes de sua insignificância , aproxima-se dele para
lhe tocar na veste . Quando a Terra foi criada e se tornou adequada para ser
povoada pela humanidade , cada raça recebeu a promessa de uma libertação
de suas correntes e de seus véus de carne pela intervenção
do princípio criador.
Saint Martin expressou misticamente esse fato pela figura na qual o 1 representa
Deus , 4 o homem e 0(zero) a matéria . Antes da queda tudo era separado
1,4,0 . Depois da queda e antes da redenção tínhamos:
1
depois da vinda
do redentor temos:
No invisível o nome do principio reparador está escrito desde
a formação de nosso planeta , e o arqueômetro de Saint
Yves D' Alveydre determina exatamente que esse nome , em todas as civilizações
, é o de Jesus.
Somente o ciclo de Jesus é pessoal ; nenhum outro revelador veio
ao mesmo tempo nas outras raças . Quando o rei vem em pessoa , a
multiplicidade dos embaixadores se torna inútil.
Aqueles que tem olhos e ouvidos , olhem e escutem no invisível e
compreenderão.
A luz gerada por Jesus na " aura do universo material" foi tão
grande , sua ação de abrir um caminho aos espíritos
nas barreiras zodiacais foi tão evidente para todo iluminado , que
cada raça procurou apoderar-se de uma parte dessa ação
, como se fosse proveniente dela.
Ao terminar esse estudo , desejamos declarar que as idéias que expomos
nos são pessoais e que assumimos toda responsabilidade por elas ,
fora de toda sociedade ou fraternidade . As Ordens Martinistas procuram
fazer cavaleiros do Cristo: não são uma ordem dogmática
e cada qual desenvolve livremente sua consciência e seu coração.
Mas todos devem compreender que seus membros não teriam razão
de existir se não procurassem com todas as suas forças prestar
ao reparador , ao condutor da humanidade em direção ao Pai
, ao Cristo de Glória , a honra e o mérito que lhe são
devidos em todos os planos. Ao realizar isso , cumprimos apenas com uma
parte de nosso dever , porque não temos o direito de julgar nem de
condenar os negadores ; tudo que podemos é conduzi-los ao plano da
Luz , e o céu fará o resto.