Hoje, que
tornou-se moda no Ocidente falar em Yoga, é preciso deixar as coisas
bem claras e evitar confusões, infelizmente tão abundantes,
que se pode dizer que há tantos desvios, que já não
sabemos onde estamos.
Tem contribuído em alto grau, o desconhecimento do assunto, a ignorância
dos editores que, para conseguir maior público, tem enfeitado suas
obras com fotografias de quatro infelizes faquires quase nus e que, estão
fotografados em posições extravagantes, dignas dos mais perfeitos
contorcionistas.
Tem contribuído também, os turistas de toda parte, que ao
visitar a Índia sem, como é de costume, entender nada do que
vêem, admiram--se em qualquer praça pública, diante
de um infeliz que, para conseguir quatro rúpias dos idiotas, engolem
espadas, chamas ou deitam-se numa cama de pregos.
Tudo isso não tem, em absoluto, nada que ver com a yoga e, qualquer
yogue autêntico, mesmo que seja o último dos principiantes,
afastaria indignado uma comparação parecida.
A palavra yoga é de origem sânscrita que quer dizer "jugo"-
(em francês) . O jugo é uma grande peça de madeira que
os lavradores utilizam para ajuntar os bois no arar os campos ou a puxar
uma carreta. A idéia essencial é a de união de duas
vontades para cumprir determinadas finalidades.
Assim é que yogue é aquele que busca a união, porém,
com que deve unir - se?. Trata-se nada menos que unir- se com Deus. Mas,
para chegar a tão alta finalidade, é preciso esforçar-se
por um longo tempo, para conseguir um auto- domínio total, coisa
que evidentemente não se pode conseguir em quatro dias. Os grandes
místicos cristãos conseguiram, com mais ou menos êxito,
mas sempre dentro de um quadro religioso que, naturalmente, limitava o assunto.
Os orientais, que tem um sentido metafísico muito mais aguçado
que os demais, compreenderam que esta união com Deus, não
era total, não em todo momento exatamente a vontade de Deus e, esta
soma de vontades, só pode conseguir cumprindo a primeira condição
desse total ou seja, a sua quantidade homogênea. Então Deus
fala pela boca do homem e, este deixa de ser um elemento que perturba na
obra divina, transformando se num colaborador.
Existe uma grande diferença entre o faquir das praças públicas
e o yogue digno desta tão alta classificação.
Naturalmente é impossível para o homem vulgar chegar à
perfeição em uma só existência, o que levaria
os ocidentais ao desespero, porém , no oriente, onde todo mundo acredita
em reencarnação, eles não sentem seu caminho de progresso
espiritual limitado em nenhum sentido pelas próprias insuficiências
temporais e, nas que tem possibilidades de vencerem, com energia e constância,
vão modificando as condições de seu caráter
que poderão impedi-lo no caminho de seu progresso.
Há que compreender que deste ponto de vista, bem pouco servem os
ideais para qualificar um homem ocidental. Com efeito, não é
nenhuma garantia, a honradez, o altruísmo, a estrita moralidade,
a posse de um pomposo título universitário, concedido por
pessoas que devem seus cargos e posições afortunadas e, que
no melhor dos casos, suas vidas privadas deixam muito a desejar. O grande
defeito de nossas instituições pedagógicas oficiais
é limitarem se a ensinar técnicas, descuidando em absoluto,
da formação de conceitos abstratos, imprescindíveis
para o desenvolvimento da consciência.
O princípio da nova vida do chelá (discípulo) será
a regeneração e o domínio do seu corpo para fazer deste,
um instrumento apto para as altas funções que mais tarde se
lhe pedirão. No momento serão : o domínio de todas
as funções biológicas, respiração, alimentação,
reprodução e boa saúde em geral, depois; controle de
todas as suas emoções, para que nada possa perturbar a impassível
serenidade do discípulo, finalmente; o domínio da mente, a
fim de impedir que esta se torne caótica e que tragam mais confusões
e desgostos.
Esta etapa é conhecida pelo nome de Hata- Yoga, se bem que não
é mais que um estado preparatório, de experiências notáveis,
que mais tarde se irão ampliando e perfilando no seu campo. É
o princípio de rompimento com a vida vulgar e o começo de
certos estados de consciência de qualidades extraordinárias.
Para fixar melhor o plano de exposição deste tema, traçamos
os seguintes caminhos, tirado da tradição cabalística,
porém perfeitamente utilizáveis para nossas finalidades, já
que a verdade sempre é uma só em todas as escolas.
São em número de três os caminhos da tradição
cabalística:
Estes caminhos
determinarão os objetivos políticos, intelectuais ou religiosos
do interessado, que usando sua prática constante lhe será
dado, à força das experiências e dos desenganos, ou
seja conhecer as verdades que sua ignorância, cheia de ilusões
velava - lhe, dando- lhe assim a qualidade de iniciado, ou seja, a de que
se empenhou em ascender para um estado superior de consciência.
Longos anos de experiência ou várias vidas são necessárias,
apurando- lhe a mentalidade, despertando - lhe a faculdade superior da intuição,
justamente por ser única em seu caráter sucinto.
Já dotado desta, o discípulo será qualificado como
possível Mestre. Com efeito, se ele já escolheu o caminho
da política, poderá ser um bom chefe de governo, sem fazer
nenhum disparate catastrófico; se escolheu o caminho do conhecimento,
seus ensinamentos marcarão um rito no progresso de seu povo e , se
escolheu o caminho da religião, a iluminação interna
dará às suas prédicas uma claridade e uma precisão
altamente exemplares.
Em pleno uso de sua maestria poderá ser um extraordinário
filósofo ou um reformador social, capaz de dar as linhas gerais de
uma civilização que represente um passo mais fácil
no ideal de fraternidade humana, que bem falta faz em todo momento. No terreno
religioso pode ser um grande teólogo que, superando todas as gratuitas
afirmações dogmáticas, venha a delinear novas formas
religiosas ou a purificar as existentes da superstições que
o passar dos ciclos se acumularam.
Como adepto, que seguiu o caminho da Karma - yoga, se expressará
como um autêntico gênio daqueles que marcaram época na
história, pois terá um guia espiritual elevadíssimo,
que deixará admirado o próprio interessado e a todos que o
rodeiam.
O homem de igreja que tem categoria de adepto, será um santo daqueles
que são reconhecidos como tais por todas as religiões, já
que suas ações aqui na Terra, tem um caráter tão
elevado que são indiscutíveis.
Estas são as características gerais das etapas a conquistar
por aquele que aspira a Yoga com sinceridade de coração e
espírito humilde, já que quanto mais alto é o objetivo
a conseguir, mais pobre é o que somos, portanto mais insignificante
é a nossa personalidade presente.
E chegando ao ponto de encontro dos três caminhos, o lugar onde se
somam todas as melhores qualidades humanas, a esfera da Paz, eis que aí
reside o Nirvana.
A Natureza e o coração do homem já não tem segredos
para ele, não por ação, nem por propósito. Pode
contemplar o imenso panorama de sua vida de uma altura que daria vertigem
a qualquer mortal. Baixa seus olhos espirituais se desenvolvendo nos infinitos
emaranhados de causas e efeitos, desmascarando suas limitações
temporais, cujas origens e finais se perdem na eternidade. A beatitude,
a sabedoria e a compaixão quedam - se em seu coração,
já que foram conquistados de maneira definitiva com seus esforços
e sacrifícios constantes. É chegado a libertação
final, porque já libertou de si mesmo, da pesada lei que o obrigava
às sucessivas reencarnações. Já conquistou a
Raya - Yoga ou Yoga - Real, que lhe dá a coroa própria dos
melhores vencedores.
Longe de nossa vontade, querer desanimar aqueles que estão dispostos
a empreender o caminho, somente temos a intenção de fornecer
uma perspectiva mais exata possível. Se outros o seguiram e triunfaram,
pensamos que tudo que um homem consegue, o outro também poderá
fazê- lo.