Colóquio dos Aprendizes Elus Cohens
P. - "Qual
é a origem da Ordem que professamos?
R. - Sua origem vem do Criador e começa desde os primeiros tempos
de Adão e de lá até nossos dias.
P. - Como pôde perpetuar-se esta Ordem até nós?
R. - Pela misericórdia do Grande Arquiteto do Universo, que enviou
emissários adequados para manifestar esta Ordem entre os homens,
para sua própria glória e justiça.
P. - Que utilidade tinha esta Ordem para os homens dos primeiros tempos?
R. - Servia-lhes de base e fundamento espiritual para executar as cerimônias
do culto do Eterno e, também, para conservar a pureza de seus princípios
primitivos e suas virtudes e poderes espirituais.
P. - Que emissários empregou o Grande Arquiteto para perpetuar esta
Ordem entre nós?
R. - Desde Adão até Noé, desde Noé até
Melquizedec, até Abrahão, Moisés, Salomão, Zorobabel
e o Cristo".
Martinez de Pasqually proclama, desta maneira, sua ortodoxia e continua a obra social e cientifica que principiou quando apareceu o homem sobre a terra e que não concluirá até que a raça humana venha a se extinguir.
É certo que a Tradição não se perdeu nem pode perder-se, porém, quando os encarregados de transmiti-la faltam a seu dever, os Guardiões Invisíveis da Verdade, mandam missionários a quem conferem poderes especiais; afim de que as nações não sumam pôr completo na noite espiritual.
Martinez, no seio da Ordem dos Elus Cohen, praticava o que se denomina operações mágicas. Conforme o próprio testemunho de Saint-Martin, o Mestre reunia seus discípulos em uma habitação qualquer, sem dúvida purificada por meio de uma operação preliminar. Martinez traçava em seguida um círculo no centro do quarto e escrevia nele, em língua hebraica, o nome dos Anjos e outros de caráter Divino que fossem necessários.
Tais preparativos assombravam aos principais e, possivelmente alguns teriam perguntado, no início, porque eram necessários tantos preparativos para comunicar-se com o Céu. Porém, estes em seguida davam-se conta que não havia razão para arrepender-se em empregar tais precauções, uma vez que, desde o instante em que as conjurações eram formuladas, as Influências Superiores começavam a manifestar-se e a dar eloqüentes provas da realidade de sua existência no mundo invisível. Aqueles que assistiam a tais experiências tornavam-se iluminados, quer dizer, para eles a existência do mundo invisível e a imortalidade da alma convertiam-se em realidade mais positiva que a existência do mundo físico. Desta maneira, estes iluminados chegavam a desprezar a morte e estavam sempre dispostos a tudo para propagar e defender as doutrinas que professavam.
Nos ensinamentos de Martinez, em conseqüência, os Trabalhos práticos tinham um grande destaque. Estes trabalhos consistiam na evocação do que Martinez chamava "A Coisa"; a que se manifestava por certas fases, quer dizer, por aparições fugitivas e luminosas. Esta entidade, posteriormente, firmou seus escritos com o pseudônimo de Filósofo Desconhecido, pseudônimo que Louis Claude de Saint-Martin adotou em seguida, pôr ordem da própria "Coisa". Conforme declaração própria de Saint-Martin, escreveu uma parte de suas obras sob seu ditado. O Filósofo Desconhecido ditou 166 Livros de Instruções, dos quais Saint-Martin conseguiu copiar alguns. Destes livros, mais ou menos 80 foram destruídos em 1790 pelo próprio Filósofo Desconhecido, a fim de que não caíssem em mãos de Robespierre, que havia mandado dois de seus sequazes para deles se apoderarem.
O último grau dos Elus Cohen era o de Réau-Croix. Os historiadores, seguidamente, confundiam este grau com o de Rosa-Cruz. No entanto, este último constitue o cume de uma larga Tradição esotérica, transmitida através dos séculos, enquanto que os Réau-Croix (Poderosos Sacerdotes) constituíam a mais alta dignidade hierárquica do sistema ocultista de Martinez. Willermoz, em uma carta dirigida, em 20 de outubro de 1780 ao Príncipe de Hesse, escreveu:
"Admito os conhecimentos dos Rosa-Cruzes, mesmo que se baseiem em um fundamento temporal em sua natureza, de maneira que não operem senão sobre a matéria mista, ou seja, sobre uma mistura do material e do espiritual e obtenham, em conseqüência, resultados mais aparentes do que os Rèau-Croix, que operam sobre o espiritual-temporal e cujos resultados se apresentam em forma de hieróglifos".
A influência das idéias de Martinez foi enorme. A ele pode-se atribuir a vocação de Pernety, o fundador dos Iluminados e dos quais derivaram os Philaléthes, a quem se pode considerar, por sua doutrina, os precursores da Revolução Francesa.
Martinez contou no número de seus mais ardorosos discípulos, além de Saint-Martin e Willermoz, o Barão de Holbach, o célebre autor do Sistema da Natureza; Duchantenau, a quem se devem os quadros místicos mais procurados pelos amantes deste gênero de pintura; Andreas Chenier; Gazotte; Mirabeau; etc.. Em 1772, Martinez embarcou para São Domingos, onde um parente seu lhe havia deixado uma herança muito grande. Ali morreu em 1774.
Pode-se dar a denominação de Martinesismo à corrente de pensamento e ao movimento ao qual deu origem Martinez de Pasqually. A Ordem dos Elus Cohen foi dissolvida em 1780, desaparecendo oficial e oficiosamente no Convento Maçônico de Wilhemsbad, no qual, entre outros, estiveram presentes os mais altos dignitários das diversas Ordens Iniciáticas daquela época. Entre estes, deve-se mencionar Louis Claude de Saint-Martin, Willermoz e o Conde de Saint-Germain, como emissário dos Grupos R+C mais secretos da Europa.
Martinez de Pasqually expôs suas doutrinas em seu livro intitulado "Tratado da Reintegração dos Seres em suas primeiras propriedades, virtudes e poderes espirituais e Divinos". Nesta obra, Martinez expõe sua teoria da Queda e da Reintegração.