O
CÍRCULO MÁGICO
Franz Bardon
Todos autores de livros que lidam com magia cerimonial que dão relatos sobre conjuração e invocação de seres de qualquer espécie apontam que o círculo mágico tem nisto o mais importante papel. Centenas de instruções podem ser encontradas de como fazer círculos mágicos para alcançar os mais variados objetivos, por exemplo com Albertus Magnus, na Clavícula Salomonis, na Goethia, em Agripa, na Magia Naturalis, na Magia Naturalis de Fausto e nos velhos grimórios. É dito em todos lugares que quando invocando ou chamando um ser, deve-se ficar dentro do círculo mágico. Mas uma explicação do simbolismo esotérico do círculo mágico é raramente dada. Conseqüentemente eu tenho a intenção de dar ao estudioso e ao mago impaciente uma descrição completa e satisfatória do círculo mágico de acordo com as leis e analogias universais.
Um verdadeiro círculo mágico representa o layout simbólico
do macrocosmo e do microcosmo, ou seja, do homem perfeito. Ele fica para
o início e o fim como para o alfa e o Omega, assim como para a eternidade,
que não tem início nem fim. O círculo mágico,
conseqüentemente, é um diagrama simbólico do infinito,
da divindade em todos seus aspectos, e pode ser compreendida pelo microcosmo,
i. e. pelo adepto verdadeiro, o perfeito mago.
Desenhar um círculo mágico significa simbolizar o divino na
sua perfeição, para obter contato com ele. Acontece, acima
de tudo , no momento que o mago está no centro do círculo
mágico, pois por este ato o contato com a divindade está demonstrada
graficamente. É o contato do mago com o microcosmo em seu "maior
passo" de consciência Conseqüentemente, do ponto de vista
da magia verdadeira, é muito lógico que ficar no centro do
círculo mágico é equivalente a ser, na consciência
de quem fica, em unidade com a divindade universal. Disto pode-se ver claramente
que um círculo mágico não é somente um diagrama
para proteção de influências negativas não desejadas,
mas segurança e inviolabilidade são trazidas através
desta consciência e contato espiritual com o altíssimo.
O mago que fica no centro do círculo mágico é protegido
de qualquer influência, não importa que seja má ou boa,
pois ele próprio está, de fato, simbolizando o divino no universo.
Adicionalmente, por permanecer no centro do círculo mágico,
o mago também representa a divindade no microcosmo e controla e governa
os seres do universo em um modo totalitário.
A essência esotérica do mago que permanece no centro do círculo
mágico é, conseqüentemente, muito diferente da qual os
livros de evocação usualmente mantém. Se um mago que
está no centro do círculo mágico não estiver
consciente do fato que ele está, no momento, simbolizando Deus, o
divino e o infinito, ele não estará apto a praticar qualquer
influência em qualquer ser de qualquer espécie. O mago é,
naquele momento, uma perfeita autoridade mágica a quem todos poderes
e seres devem obedecer de modo inquestionável, definitivo e completo.
Sua vontade e as ordens que ele dá a seres e poderes são equivalentes
à vontade e ordens do infinito, do Divino, e devem conseqüentemente
ser incondicionalmente respeitada por todos os seres e poderes que o mago
conjurou.
Se o mago, durante tais operações, não tiver a atitude
correta sobre seus atos, ele degrada a si mesmo para um feiticeiro, um charlatão,
que simplesmente gesticula e não tem contato verdadeiro com o mais
elevado. A autoridade do mago, em tal caso, seria certamente duvidosa.
Além disto, ele estaria em perigo de perder seu controle sobre tais
seres e poderes, ou , o que seria pior, ser zombado por eles, não
falando das outras surpresas não desejadas e previstas e dos fenômenos
acompanhantes que ele estaria exposto, principalmente se forças negativas
estiverem envolvidas. O modo no qual o círculo mágico é
formado depende do grau de maturidade e da atitude individual do mago. O
diagrama, que é o desenho pelo qual a divindade é expressa
no círculo, é sujeito aos conceitos religiosos do Mago.
O procedimento seguido por um mago oriental quando forma um círculo
mágico não tem utilidade para um mago ocidental, porque suas
idéias de divino e infinito são bem diferentes daquelas de
um mago do Oeste. Se um iniciado ocidental desenha um círculo mágico
de acordo com instruções orientais, com todos nomes divinos
correlatos a este sistema, se tornaria inefetivo e completamente deficiente
de seu propósito.
Um mago cristão nunca deve desenhar um círculo mágico
de acordo com os indianos ou quaisquer outras religiões se ele quer
salvar a si mesmo de um esforço desnecessário. A construção
do círculo mágico depende, desde o princípio, das idéias
e crenças individuais e da concepção individual das
qualidades da Divindade, que deve ser simbolizada graficamente por este
círculo.
Este é o motivo pelo qual um mago autêntico nunca desenhará
um círculo, procederá com rituais, ou seguirá instruções
sobre magia cerimonial com as quais ele próprio não esteja
identificado em sua prática individual. Isto seria semelhante a vestir
roupas orientais no ocidente.
Conduzindo-se com estes fatos em mente, torna-se natural que o círculo
mágico deve ser desenhado em completa concordância com os pontos
de vista e maturidade do mago. O iniciado que está consciente da
harmonia do universo e sua hierarquia exata irá, certamente, fazer
uso de seu conhecimento quando estiver desenhando o círculo mágico.
Tal mago pode, se desejar, e se a circunstancia permitir, desenhar dentro
de seu círculo mágico diagramas representando a inteira hierarquia
do universo e assim entrar em contato (acordando sua consciência do
fato) com o universo muito mais rapidamente.
Ele é livre para desenhar, se necessário, muitos círculos
a uma certa distância um do outro de modo a usá-lo para representar
a hierarquia do universo na forma dos nomes divinos, gênios, príncipes,
anjos e outras potências.
Deve-se, com certeza, meditar apropriadamente e levar o conceito dos aspectos
divinos em questão na consideração quando do desenho
do círculo. O mago verdadeiro deve conhecer que os nomes divinos
são designações simbólicas das qualidades e
poderes divinos.
Isto é devido ao motivo de que enquanto desenha o círculo
e entra os nomes divinos o mago deve também considerar as analogias
correspondentes ao poder em questão, tais como cor, número
e direção, se ele não quiser permitir que uma brecha
em sua consciência venha à existência devido a ele não
apresentar o universo em sua completa analogia.
Cada círculo mágico, não importando se um desenho simples
ou um complicado, sempre servirá ao seu propósito, dependendo,
claro, na faculdade do mago de trazer sua consciência individual em
completa concordância com a universal, à consciência
cósmica.
Mesmo um largo barril de madeira faria o trabalho, com a condição
de o mago ser capaz de encontrar o relevante estado mental e estar completamente
convencido que o círculo em cujo centro ele está permanecendo
representa o universo, o qual é em conseqüência, uma representação
de Deus.
O mago irá perceber que quanto mais extensas suas leituras, maior
sua capacidade intelectual e maior sua bagagem de conhecimento será,
mais complicado seu ritual e seu círculo mágico será
de modo a construir o suporte suficiente para sua consciência espiritual,
a qual então tornará possível uma conexão mais
facilitada do microcosmo e do macrocosmo no centro do círculo.
Para os círculos propriamente ditos, eles podem ser desenhados de
vários modos para adequar-se às circunstancias, à situação
prevaleceste, ao propósito, as possibilidades, não importando
se eles são simples ou se eles seguem um complicado sistema hierárquico.
Quando trabalhando ao ar livre, uma arma mágica, adaga ou espada
deve ser usada para desenhar o círculo no chão. Quando trabalhando
em uma sala, o círculo pode ser desenhado no chão com um pedaço
de giz. Uma grande folha de papel pode ser usada para o círculo.
O circulo mais ideal, entretanto, é o bordado ou costurado em um
pedaço de tecido, flanela ou seda, pois tal círculo pode ser
posto no chão de uma sala ou fora da casa. Os círculos desenhados
em papel tem a desvantagem que o papel logo irá gastar-se e rasgar-se
em pedaços.
De qualquer modo, o círculo deve ser largo o suficiente para habilitar
o mago mover-se nele livremente.
Quando desenhar o círculo, o estado mental apropriado e completa
concentração são essenciais. Se um círculo fosse
desenhado sem a concentração necessária, o resultado
seria um círculo sem dúvida, mas não seria mágico.
O círculo mágico que foi feito em um pedaço de tecido
ou seda deve ser redesenhado simbolicamente com o dedo ou bastão
mágico, ou com outra arma mágica; não esquecendo a
necessária concentração, meditação e
estado mental. O mago deve, em tal caso, estar totalmente consciente do
fato que não é a arma mágica em uso que desenha o círculo,
mas as faculdades divinas simbolizadas por aquele instrumento mágico.
Além disso, ele deve estar ciente que não é ele que
está desenhando o círculo mágico no momento de concentração,
mas o Espírito Divino que está realmente guiando sua mão
e instrumento para desenhar o círculo.
Entretanto, antes de desenhar o círculo mágico, um contato
consciente com o todo poderoso, com o infinito, tem de ser trazido à
tona pelo auxílio da meditação e identificação.
O mago treinado, tendo um comando através dos exercícios práticos
da primeira carta de taro, como explicado em meu primeiro trabalho "Iniciação
ao hermetismo", aprendeu durante os passos daquele livro como se tornar
totalmente consciente do espírito e como agir conscientemente como
um espírito.
Não é difícil para ele imaginar que não foi
ele, mas o espírito divino em todos seus aspectos elevados que está
realmente desenhando o círculo mágico que ele deseja ter.
O mago tem conseqüentemente aprendido também que no mundo do
invisível não é o mesmo embora duas pessoas possam
estar fazendo fisicamente o mesmo, pois um feiticeiro, que não possui
a maturidade necessária, nunca estará apta a desenhar um verdadeiro
círculo mágico.
O mago que está também familiarizado com Cabala pode desenhar
outro círculo assemelhado a uma cobra dentro do círculo interior
e dividi-lo em 72 campos, dando a cada um destes o nome de um gênio.
Estes nomes de gênios, juntamente com suas analogias, deve ser desenhado
magicamente através da pronúncia correta.
Se estiver trabalhando com um círculo bordado em um pedaço
de tecido, os nomes inseridos nos vários campos devem também
estar em latin ou hebreu. Eu deverei dar detalhes exatos sobre os gênios
e suas analogias, uso e efeito no meu próximo trabalho chamado "A
chave para a verdadeira cabala".
Um círculo bordado tem a vantagem de que pode ser facilmente estendido
e dobrado novamente sem ter que ser desenhado e carregado novamente cada
vez que deve ser usado.
A cobra presente no centro não é somente a cópia de
um círculo interior, mas acima disto, é o símbolo da
sabedoria. Além disto, outros significados podem ser atribuídos
a este símbolo da cobra, por exemplo, a força de uma cobra,
o poder da imaginação, etc. Não é possível
dar uma completa descrição disto, pois iria muito além
do objetivo deste livro. Um mago budista desenhando sua mandala, colocando
suas cinco deidades na forma de figuras ou diagramas no topo da emanação
relevante, está, no momento, meditando sobre cada deidade única
cuja influência ele está tentando evocar. Esta cerimônia
mágica é também em nossa opinião equivalente
ao desenhar um círculo mágico, embora realmente seja uma oração
autêntica às divindades budistas.
Dizer mais sobre este assunto neste livro é certamente desnecessário
pois material suficiente já foi publicado na literatura oriental
sobre este tipo de práticas mágicas, tanto em manuscritos
exotéricos ou secretos.
Um círculo mágico pode servir a muitos propósitos.
Pode ser utilizado para evocações de seres ou como meio protetivo
contra influências invisíveis. Não é necessário
em todos os casos que seja desenhado ou posto no chão. Pode ser desenhado
no ar com uma arma mágica, como a espada mágica ou bastão
mágico, sobre a condição de que o mago esteja completamente
consciente da qualidade universal de proteção, etc.
Se nenhuma arma mágica estiver à mão, o círculo
pode também ser efetuado com o dedo ou com a mão somente,
considerando que isto é feito com o espírito reto, em concordância
com Deus. É mesmo possível formar um círculo mágico
através da mera imaginação.
O efeito de tal círculo no plano mental ou astral, indiretamente
e também neste mundo material depende, neste caso, no grau e força
de tal imaginação. A força agregante do círculo
é geralmente conhecida na magia magnética. Além disso,
um círculo mágico pode ser produzido pela acumulação
de elementos ou pela condensação de luz. Quando praticando
evocação ou invocação de seres, é desejável
desenhar dentro do círculo em que se deve ficar outro círculo
menor ou pentagrama com uma de suas pontas para cima, o símbolo que
representa o homem. Isto é então o simbolismo do pequeno mundo,
do homem como mago autêntico.
Os livros que lidam com a construção do círculo mágico
claramente sustentam que durante o ato de invocação o mago
nunca deve deixar o círculo, o qual, em seu senso mágico,
significa nada mais do que a consciência ou contato com o Absoluto
(i. e . o macrocosmo) não deve ser interrompida.
Desnecessário dizer que o mago, durante sua operação
mágica com o auxílio do círculo mágico e com
os seres ficando em pé em sua frente, não deve pisar fora
do círculo com seu corpo físico ao menos que ele tenha terminado
seu experimento e dispensado o ser relevante.
Tudo isto claramente mostra que o verdadeiro círculo mágico
é realmente o melhor para praticar magia cerimonial. O mago irá
sempre descobrir que o círculo mágico é, em cada aspecto
particular, o mais elevado símbolo à mão.
É dificilmente necessário mencionar que o specimen de um círculo
mágico, desde que cada mago irá agora saber do que o que eu
disse acima como ele tem que proceder, e é agora por sua conta fazer
uso das instruções dadas aqui.
Ainda ele nunca deve esquecer o principal, que é a orientação
que ele precisa quando trabalha com um círculo mágico, pois
somente se ele alcançou o contato cósmico necessário
através da meditação e imaginação, i.e.
a conexão pessoal com seu deus, estará ele qualificado para
entrar no círculo e começar a trabalhar dentro dele.