MAGIA:
RITUAL, PODER E PROPÓSITO
EW Butler
Parte 2
Capítulo 5- Os Reis de Edom
O treinamento do caráter, para o mago, é algo muito diferente
do que o homem comum
considera ser, pois o treinamento do caráter mágico envolve
a reeducação firme e objetiva
de ambas as mentes - consciente e subconsciente. Os métodos normais
de construção do
caráter concentram-se quase inteiramente sobre a mente consciente,
atingindo níveis
subconscientes apenas superficialmente, se tanto. Não se deve pensar,
entretanto, que o
mago é transviado na direção oposta. Ele cultiva de
igual forma os níveis consciente e
subconsciente, mas uma vez que percebe que o subconsciente é a maior
parte da mente, ele
naturalmente tende a dar-lhe a maior parte de sua atenção.
Quando, seguindo o postulado oculto, o mago deita seu olhar interno sobre
sua própria
personalidade, ele vê, como dissemos antes, que essa personalidade
é em grande parte
imperfeita e descosturada, e percebe que antes que uma verdadeira superestrutura
possa ser
construída, será necessário demolir muito do atual
edifício. Surge, então, a questão do
quanto pode ser demolido com segurança, e como deve ser o teste que
dirá qual a parte que
deverá vir abaixo e qual deverá ser preservada.
Isso envolve a consideração do que constitui o mal, uma vez
que é evidente que serão os
aspectos malignos da personalidade que serão derrubados. Mas como
podemos ser capazes
de definir o que é o mal? Muitas coisas consideradas "más"
por algumas pessoas não o são
por outras! Existe algum teste básico pelo qual poderemos avaliar?
A resposta é que existe
um tal teste que é fornecido pelos sistemas cabalísticos na
história de Abraão e os Reis de
Edom. Essa história se encontra no Gênesis, capítulo
XIV, e para nossos objetivos vamos
resumi-la aqui. Aqueles que preferirem, poderão então ler
a narrativa na íntegra.
Resumidamente, Abraão armou uma expedição punitiva
e derrotou as forças inimigas,
libertando seu sobrinho. Aqueles contra quem lutou são chamados "Reis
de Edom", e nos
textos cabalísticos são mencionados como "aqueles que
reinaram, antes de haver um Rei
em Israel".
Ao retornar da Batalha, onde aniquilou os Reis, Abraão foi parado
por um misterioso ser -
Melkisedek, Rei de Salém, Sacerdote do Deus Altíssimo, que
ministrou-lhe a mística
Eucaristia do Pão e do Vinho, e o abeençou. Na Epístola
aos Hebreus, esse Melkisedek é
descrito como "sem pai nem mãe, não tendo dia de início
e nem de fim de vida, e que
perseverou no Sacerdócio para sempre". As probabilidades são
que essa história pode ser
lida em sua versão desmistificada. O chefe nômade Abraão,
em aliança com outros, derrota
o inimigo comum e é abençoado pelo sacerdote local.
Os cabalistas, entretanto, liam os livros do Velho Testamento de uma maneira
um tanto
quanto diferente. O Tora, a divina "Nemos", como era descrita,
era o Corpo da Lei, mas,
assim como é inerte e inútil se não for animado*, assim
a Lei da escrita era útil inútil sem o
seu espírito conformados - a Cabala. Assim, nessa história
de Abraão e os Reis de Edom,
cada personagem representa parte da personalidade humana, e a ação
da história mostra a
interação dessas partes da mente.
*usado nesse contexto como movido pela anima ou alma.
Antes, porém, de tratar das aplicações mágicas
e esotéricas da história em questão, vamos
considerar o problema do mal em si. O que é "mal"? A Doutrina
Mágica afirma que há
vários tipos de mal, alguns dos quais, para se usar um paradoxo,
não são males! O primeiro
tipo de mal é a resistência inata da forma à força.
A forma organizada opõe resistência a
força do livre movimento, mas essa própria restrição
e oposição propiciam o controle e o
direcionamento da força.
Na vida física, observamos que o atrito entre os pés e o solo
habilita-nos ao movimento
para frente. Num mundo onde não tivesse atrito, caminhar seria impossível,
e a força seria
ineficiente - e esse princípio de restrição funciona
para outros campos. Pela restrição da
câmara de compressão, do cilindro e do pistão, o vapor
é comprimido e posto para
trabalhar. Assim, esse mal da "inércia" não é
na realidade, um mal verdadeiro, mas parte da
engrenagem desse universo em evolução.
Existe, entretanto, uma forma de inércia que ultrapassa essa normal
e benéfica que, essa
sim, pode ser verdadeiramente chamada de mal. É a inércia
da amorfia e do caos - o
"Aborto do Espaço", as Areias Movediças Cósmicas.
Aqui não há resistência definida -
não existe o trampolim a partir do qual a vida possa galgar maiores
altitudes. Mas da
mesma forma como as areias movediças não permitem a "decolagem",
arrastando para
baixo tudo que nelas cai, assim se dá com o caos cósmico.
A vida emergente, não achando
resistência, não encontrando sustentáculo para sua alavancagem,
pode ser absorvida e
tornada impotente nesse "Caos e Escuridão, e nos Portões
da Terra da Noite".
A terceira forma de "mal" é chamada de "força
desequilibrada". Aqui uma força ou energia
completamente boa e utilizável foi deslocada no espaço ou
no tempo, e o desequilíbrio
resultante é definitivamente mau. Vamos analizar um ou dois exemplos
de tais forças
desequilibradas. O carvão na lareira está servindo a um propósito
útil e benéfico,
aquecendo o ambiente. Mas, se ele cair no carpete, imediatamente se tornará
mau.
Incendiará o cômodo, causará prejuízo, podendo
provocar perda de vidas. A água no
banheiro é boa, mas se essa escapar do banheiro e descer as escadas,
será má. Estes dois
exemplos podem servir como exemplo de deslocamento no espaço. Existem
também
deslocamentos no tempo. Esses podem ser de dois tipos: reversão para
o passado ou
antecipação do futuro.
Reversão para os padrões morais e éticos de um nível
inferior e mais primitivo da cultura
humana é mau para o moderno mundo civilizado, uma vez que se trata
de uma regressão
definitiva no processo de evolução. Mas seria igualmente mau
se, com as limitações e
perspectivas mentais dos dias atuais, a pessoa alcançasse o futuro
distante e tentasse
materializar, com as condições do século XX o estágio
civilizatório que possivelmente virá
a ser a norma das pessoas de, digamos, daqui a 10 mil anos. Para usar uma
observação
expressiva, este autor ouviu o seguinte: "O leão pode deitar-se
com o cordeiro, mas ele
precisará alterar seus sistema digestivo completamente".
Essa antecipação do futuro é a falácia por trás
da atitude pacifista. Uma vez que tal atitude
só é viável em uma comunidade bem politizada, é
claramente insustentável como política
nos tempos atuais. Aqueles que porventura sintam que isso é uma condenação
cínica do que
temos sido ensinados pelos grandes doutrinadores religiosos, nós
os remetemos aos
"Conselhos de Perfeição" dos católicos. Sempre
a idéia do futuro tem que ser vislumbrada,
mas embora essa versão deva ser força de inspiração
com tendência à sua própria
realização, o estabelecimento prematuro de tais condições
é mau.
Esses tipos de mal podem ser chamados positivos, mas existe também
o que pode ser
chamado de mal positivo-positivo. Aqui chegamos num ponto que, nos dias
modernos,
costuma ser freqüentemente negligenciado - a existência do mal
organizado. É como se a
ressaca materialista do século XIX tivesse levantado algumas inibições
inconscientes na
mente do homem moderno, tornando-se, desse modo, extremamente difícil
para ele
perceber que o mal organizado pode existir e existe, não só
no plano físico, como no
suprafísico.
As bestialidades
premeditadas realizadas durante a Segunda Guerra Mundial deveriam ter
aberto os olhos de alguns de nossos idealistas para a possibilidade do mal
organizado.
Dissemos "deveriam ter" deliberadamente, uma vez que alguns amigos
nossos - idealistas
até o âmago - nos contaram recentemente que todas as histórias
das atrocidades eram
absolutamente sem fundamento, pura propaganda, já que "ninguém
poderia ser tão mau a
ponto de fazer tais coisas!". Sugerimos que eles deveriam comparecer
aos tribunais e ver
um pouco das provas fornecidas em alguns dos casos mais sórdidos
que vieram a ser
julgados. A sugestão foi recusada com uma manifestação
de emoção tal, que sugeriu que o
Velho Adão não estava inteiramente extinto, mesmo em seus
corações pacifistas!
Todas as antigas religiões falaram sobre o mal espiritual organizado,
e a fé cristã o
personificou em Satã. São Paulo fala de tal mal organizado
nos níveis suprafísicos quando
diz: "Pois que não combatamos contra a carne e o sangue, mas
contra os Principados,
contra os Poderes, contra os Dirigentes das Trevas do Mundo Atual, contras
os Espíritos da
Perversidade nos Lugares Exaltados."(Eph: Capítulo VI, verso
XII).
No processo
de evolução do universo, vários tipos de energia foram
deslocados e depois
incorporados ao pensamento mal-direcionado do todo da humanidade em evolução
ao
longo dos tempos. Assim, a atmosfera psíquica deste planeta fica
periodicamente carregada
e encoberta pelas más "vibrações", até
que em certo ponto no tempo a vida em evolução é
posta em cheque. É aí então que as grandes almas vêm
a Terra para reconduzir as mentes
dos homens aos caminhos da sabedoria e da paz e "tirar um pouco da
pesada carga de
pecado e do sofrimento do mundo".
O mais rico
e significativo desses ciclos evolucionários chegou por volta de
2 mil anos
atrás, quando o nadir da configuração da vida em sua
forma física foi alcançado e a
totalidade da vida manifestada correu perigo de ser completamente encurralada
e
desvirtuada. Então, Ele veio, a manifestação encarnada
do Logos, o Senhor da Luz; e, pela
Sua Identificação com a totalidade da raça humana,
ele amealhou em si todas as más
condições do planeta e, pelo poder que era Seu, transmutou-as
em condições e influências
mais elevadas - uma alquimia em nível mundial!
Assim também,
com sua vida e morte, Ele estabeleceu uma linha de contato direto entre
Deus Transcendente e a humanidade em evolução ao longo da
qual pudessem fluir para a
alma do mundo as forças divinas de regeneração,e ,
assim, "um caminho novo e vivo"
estava criado, por onde a humanidade podia entrar no Mais Abençoado
dos Lugares.
Na parábola
do filho pródigo, podemos ver que não somente o filho pródigo
partiu em sua
longa e atormentada viagem de volta ao lar, mas também, quando ele
ainda estava bem
longe de casa, seu pai o viu e correu para encontra-lo. Da mesma maneira,
o Logos
transcendente precipita-se sobre os Seus filhos em evolução,
e, à medida em que esses
trilham o caminho que toda a humanidade deve trilhar, o Senhor da Luz, que
é também o
Senhor do Equilíbrio, harmoniza as forças desequilibradas
do universo.
Assim isso também está no coração de cada indivíduo,
e por essa razão também se diz ao
estudante de magia que, num ritual, ele pode receber o Pão Sagrado
da Vida Imorredoura e
o Cálice da Eterna Salvação "quando tiver matado
os Reis das Forças Desequilibradas em
sua própria Natureza interior".
Essa conquista
do equilíbrio é de extrema importância para alguém
que deseje trabalhar
com a Alta Magia, de forma que o seu espírito possa se manifestar
por meio do Véu do
tabernáculo terrestre, e é também por essa razão
que, na Tradição do Oriente, é dito que a
Discriminação é a primeira virtude do caminho. Pois
o poder da Luz Interior, descendo pela
personalidade mais densa, energiza e ativa todos os seus níveis bons
e maus, o complexo
dissociado explode, e toda a natureza psíquica e mental é
posta a fermentar. Assim, por
conseguinte,quem quer que, sendo indigno e tendo a personalidade desequilibrada,
beba do
Graal do Sagrado Anjo da Guarda está bebendo sua própria condenação,
pois as poderosas
forças que ele invoca o dilaceram, inflando seu falso ego, intensificando
suas paixões
desequilibradas e finalmente começando a desintegração
da própria personalidade. Para
esse, o símbolo é o da "Torre Fulminada" do Tarô,
pois a casa de sua vida é destruída pelo
Fogo do Céu e ele segue "fugindo para onde ninguém alcança",
um filho da Perdição, uma
Estrela Cadente, para quem está reservada a Escuridão das
Trevas, pelos Tempos dos
Tempos.
Que tal destino
aguarda todos os que se dediquem à Arte da Magia é certamente
falso,e ,
aliás, rituais de magia, adequadamente usados, podem ser da maior
utilidade na produção
do estado de equilíbrio interior, em que é baseado a Grande
Obra. O neófito é alertado de
que, acima de todas as coisas, tem que cultivas a verdadeira humildade -
não a humildade
do Uriah Heep, mas a humildade Dele, que disse: "Eu estou entre vós
como O que serve".
No primeiro grau de certos Mistérios, o neófito aproxima-se
do Leste na posição ritual de
humildade, a cabeça baixa e as palmas das mãos para o lado
exterior, e é instruído de que
somente pelo serviço altruísta na Luz poderá obter
o poder para avançara até o Lugar Mais
Sagrado.
Capítulo 6- Invocação e Evocação
"Eu posso
chamar os espíritos das profundezas", exclamou um dos personagens
de
Shakespeare, ao que seu amigo retrucou "Ora, eu também posso,
e assim também pode
qualquer homem; mas será que eles virão quando chamados?"
Esse é, certamente o x do
problema. O homem comum tem uma concepção excessivamente cética
do assunto e,
resolutamente responderia à pergunta com um categórico "Não!",
e consideraria o esforço
do mago tresloucado uma coisa vã. A superstição popular
também tem tratado o mago
como aquele que conjura ou afirma conjurar habitantes dos mundos invisíveis.
Tendo em mente a nossa definição de magia como a arte de causar
mudanças na
consciência pela ação da vontade, fica evidente termos
que considerar em primeiro lugar
toda a questão da invocação e da evocação
do ponto de vista subjetivo. Em outras palavras,
partindo do pressuposto de que, por um momento, o mago possa "conjurar
em forma
visíveis" seres de outras ordens de existência, mostraremos
que é a própria personalidade
do mago o canal pelo qual tais manifestações são produzidas.
Constitui-se em um princípio fundamental, nas escolas esotéricas
do Ocidente, os planos da
natureza serem distintos, não contínuos, cada plano de existência
tendo as suas próprias leis
e seus próprios métodos peculiares de trabalho, não
exercendo influência direta sobre
nenhum outro plano. Qualquer que seja a influência exercida, ela será
indireta ou
"indutiva". O fenômeno de indução elétrica
fornece um paralelo bem semelhante para essa
afirmativa. Se um fio, por exemplo, por onde passa uma corrente alternada
ou contínua, for
colocado perto, mas não tocando outro fio similar, ligado por sua
vez a um galvanômetro,
mas sem estar ligado a corrente alguma, ver-se-á que, à medida
que o fio carregado de
energia chega mais próximo do outro, o mostrador irá registrar
que uma corrente elétrica
foi gerada no segundo.
Além do mais, será constatado que se o galvanômetro
for colocado no fio carregado
eletricamente e se o segundo rolo tiver sua resistência alterada,
o fluxo livre no primeiro fio
será detido ou aumentado, mostrando assim que os fios agem um sobre
o outro. Assim é
também com os planos de existência. Um é negativo ou
receptivo ao que é mais elevado do
que ele próprio, e positivo ou dinâmico ao que lhe é
inferior. Mas, da mesma forma, o
inferior age sobre o superior, essa é a justificativa para a afirmativa
bíblica de que o Reino
do Céu "sofreu uma violência e foi tomado por uma tempestade".
Descobriu-se pela experiência que os níveis podem entrar em
contato direto uns com os
outros através da lente de uma consciência organizada de um
tipo ou de outro. O melhor
ponto de contato é o de uma consciência humana treinada e equilibrada.
A mente humana
contém dentro de si os parâmetros vibratórios de todos
os planos e, ao tocar certos pontos,
uma ligação pode ser feita com a existência daquele
nível. É o processo de "sintonizar", tal
como acontece no rádio, e aqui novamente a analogia com a eletricidade
é muito
apropriada. Quando sintonizamos no nosso programa de rádio favorito,
qualquer que seja
ele, não ouvimos a voz real do cantou ou o som real do instrumento.
O que ouvimos é uma
reprodução projetada de voz ou do som do instrumento real.
Assim também acontece com a invocação e a evocação.
Fazemos contato, por meio da
nossa própria consciência energizada, com a consciência
dos seres que procuramos evocar,
e a "aparência visível" é apenas uma projeção
da nossa própria mente (assim, aliás, é a
imagem visível que formamos quando usamos os nossos olhos físicos!
A vibração da luz
atinge a retina, envia impulsos elétricos para o centro óptico,
e aí projetamos uma imagem
mental correspondente a esses impulsos).
Em ambos os casos, no entanto, essa reação é causada
por uma realidade objetiva de
alguma espécie, seja ela física ou suprafísica, e aqui
chegamos ao que pode ser denominado
de ponto de vista "objetivo".
A tradição afirma que todas essas existências existem
per se e têm seu próprio lugar na
natureza. Mas - isso é importante - as aparências vistas são
condicionadas pelo mecanismo
mental subjetivo do próprio mago. Também por intermédio
desse mecanismo o poder e a
energia desses invisíveis são trazidos para a consciência
vígil ( não é o poder real dos
invisíveis que é trazido, mas sim o efeito do contato da consciência
do mago com a do ser
evocado ou invocado que põe em atividade a força correspondente
dentro dele mesmo, e é
esse poder correspondente que é projetado e produz os resultados
desejados).
É importante notar a diferença entre "invocação"
e "evocação". Na invocação, agimos
de
maneira a atrair a atenção de algum ser de natureza superior
à nossa própria ou alguma
força cósmica de ordem superior. Na evocação
impomos nossa vontade sobre seres de uma
ordem inferior de existência e os compelimos a executarem nossos desejos.
Em ambos os
casos, o contato real ocorre por meio de nosso contato com o canal mental,
mas
desenvolveu-se uma técnica mágica por onde a diferença
essencial entre os dois tipos de
influências - a superior e a inferior - pode ser mostrada diante do
mago. Há uma razão para
isso - caso haja alguma confusão na mente do mago, os resultados
poderão ser desastrosos.
Por um momento, vamos considerar isso do ponto de vista psicológico.
Se as forças ou os seres convocados pela invocação
representam a superconsciente da
mente, então os seres que respondem que respondem aos comando evocatórios
do adepto
representam, ou melhor, trabalham ao longo dos níveis subconscientes.
Mas, enquanto os
contatos supraconscientes tendem na direção de uma maior e
mais efetiva integração da
mente, os subconscientes tendem, se não forem controlados, , a causar
sua desintegração
total ou parcial, como C.G. Jung demonstrou. Desse modo, a Tradição
da Magia
desenvolveu dispositivos técnicos conhecidos como "Círculo
de Segurança" e o "Triângulo
da Arte", sendo todo o conjunto conhecido como "Local de Trabalho".
Por meio de certos rituais, o lugar onde o trabalho mágico será
realizado é purificado
eletricamente no plano objetivo, e psicologicamente no plano subjetivo,
e um Círculo de
Segurança é riscado no chão como uma fortaleza dentro
da qual o mago pode trabalhar.
Então, o Triângulo da Arte é desenhado fora do Círculo,
pois no caso da Evocação, é
necessário que a manifestação objetiva dos seres evocados
seja mantida dentro dos limites e
sob rígido controle, devendo haver, na mente do operados uma nítida
distinção psicológica
entre ele mesmo, como a força positiva ou dominante, e as forças
inferiores ou seres que
lhe são negativos.
A purificação do Local de Trabalho é feita na magia
ocidental pelo que ficou conhecido
como Ritual Menor de Banimento do Pentagrama, ou em outros casos, pelo Ritual
do
Hexagrama. O Ritual Inferior do Pentagrama é mais freqüentemente
usado, e sua eficácia
pôde ser atestada por esse autor, que o realizou em muitas ocasiões.
Ele é uma combinação
de sinais geométricos feitos pelo operador, Nomes de Poder que são
entoados por ele,
certas imagens mentais que são visualizadas muito fortemente e a
invocação definida de
certas forças Arquiangelicais.
Novamente, olhando pelo ângulo psicológico, o que estamos fazendo
é reafirmar, por
palavras e sinais, a soberania do Eu Superior, enquanto pelas invocações,
atraímos sobre
nós mesmos alguns de seus poderes que são liberados pela ação
da existência de outras
ordens superiores a eles.
Em sua grande maioria, os casos de invocação ou evocação
"em forma visível" são
percebidos somente pela visão psíquica, nada sendo visto no
plano físico. Onde ocorre a
visibilidade material, temos outro processo operando, o da "materialização",
Para que tal
materialização aconteça, é necessário
que esteja presente alguma fonte de uma substância
peculiar conhecida pelos espiritualistas como "ectoplasma". Uma
das suas fontes e a mais
efetiva é o organismo corpóreo de uma dessas pessoas conhecidas
como "médiuns de
materialização". São pessoas que possuem certo
poder ainda muito pouco compreendido,
que as capacita a ejetar ectoplasma em grandes quantidades. Chama-se ectoplasma
por ser
um plasma peculiar, uma substância viva que é secretada e se
manifesta do lado de fora do
organismo físico do médium.
O ectoplasma parece se prestar a ser moldado pelo pensamento e pelo desejo
em formas -
de fato, uma das suas características é uma tendência
inata para a organização. Os registros
até aqui obtidos pelos espiritualistas e observadores de mente aberta,
como Sir William
Crookes, o Barão Shrenk-Notzing e o Dr. W. J. Crawford, sugerem que
o ectoplasma é a
substância básica do protoplasma vivo e, como tal, é
a matriz do organismo físico.
Achamos, entretanto, que existem outras origens de ectoplasma, ainda que
sejam de tipos
diferentes e emitidos somente em pequenas quantidades. Antes de passarmos
a essas fontes,
vamos mencionar rapidamente um método de se obter ectoplasma suficiente
para uma
materialização. Esse método consiste no uso de sangue
fresco de um animal. Há referências
disso ao longo da história, e Homero o citou. Existe uma obscura
lenda gnóstica que diz
terem os sininhos de ouro, usados nas vestes dos altos sacerdotes judeus,
a finalidade de os
seres evocados pelos sacrifícios de sangue no templo a assumirem
formas feições humanas
ao invés de suas grotescas formas. Qualquer um que se dê ao
trabalho de estudar os
detalhes dos Sacrifícios do Templo irá compreendera força
dessa lenda e também se
convencerá de que havia sangue suficiente para qualquer materialização.
.
Pode-se garantir a eficácia do sangue fresco como base de tal materialização.
Bem
recentemente, um caso de "assombração" investigado
por esse escritor provou ter como
base de sua manifestação exatamente tais emanações
de sangue. Uma vez retirada a base
material, as manifestações objetivas cessaram, e a atmosfera
psíquica subjetiva foi
facilmente dissipada por um ritual de banimento. Pode-se observar, de passagem,
que
muitos casos de "assombrações" são, na verdade,
o esforço dos assim chamados "mortos"
para fazer contato com o mundo que eles deixaram, e os espiritualistas desenvolveram
uma
técnica bastante efetiva que permite à pessoa desencarnada
ter a oportunidade de fazer
contato consciente com aqueles na Terra que são capazes, por conhecimento
dos
mecanismos psíquicos, de ajuda-los nos ajustes necessários
às novas condições de vida.
Voltando à nossa consideração sobre as fontes de outros
ectoplasmas além da dos médiuns
de materialização ou das emanações do sangue,
uma das mais usadas nos ritos de magia é
um incenso peculiar conhecido como Dictamno de Creta. Flores frescas também
liberam
uma apreciável quantidade dessa substância de forma rarefeita,
assim como a chama das
velas. No trabalho de magia, os procedimentos com sangue nunca são
empregados, e o uso
do médium também é evitado por causa da depressão
da vitalidade que isso pode provocar.
O uso do incenso está livre dessas desvantagens, mas as formas que
são evocadas para
"aparência visível", embora claramente perceptíveis
para a visão, não possuem a solidez
daquelas produzidas pelos métodos anteriores.
Embora a evocação para aparência visível seja
uma das façanhas mais espetaculares da arte
da magia, ela não é freqüentemente empreendida, pois
para a maioria dos propósitos é
suficiente a "aparência visível" o seja para a visão
psíquica. É suficiente o operador estar
habilitado a perceber objetivamente os seres evocados - compreensão
consciente e
percepção direta deles dá ao mago poder sobre eles!
Outra vez aqui vamos encontrar um
paralelo com o campo psicológico; os "complexos" dissociados
ou reprimidos da mente são
controlados pela percepção consciente dos mesmos. Além
disso, quando espíritos de
natureza "benéfica" são evocados, podemos novamente
recorrer a chave psicológica, pois é
fato que a clara percepção de uma faculdade mental resulta
no rápido desenvolvimento
daquela faculdade no indivíduo em questão.
E uma tal percepção subjetiva também significa que,
por meio da lei da indução simpática,
entramos em contato com seres objetivos e forças de tipos similares
existentes nos mundos
interiores. É isso que dá validade às afirmações
dos "grimórios" medievais ou livros de
magia como: "Os Espíritos de Mercúrio dão compreensão
da Ciência".
Tendo completado a evocação, torna-se necessário despedir
os seres evocados. Podemos
empregar aqui uma analogia elétrica e dizer que é necessário
descarregar nosso círculo
carregado, "aterra-lo" e, desse modo, levar de volta a força
evocada para seu lugar normal
na economia natural. Essa liberação é produzida pela
"Licença para Partir". Aqui vai uma
típica licença para partir. O mago faz sobre si a Cruz Cabalística
e se dirige aos seres que
evocou da seguinte maneira:
"Por ter aparecido claramente entre nós e realizado aquilo que
vos foi ordenado, parti agora
em paz para o vosso próprio mundo. Que a paz esteja entre nós,
que estejais sempre pronto
a obedecer à convocação, que as bênçãos
de Adonai caiam sobre vós, assim como nós
sejamos capazes de recebe-las."
O mago, então, prossegue, usando os dispositivos técnicos
do "Fechamento do Portão",
retirando sua atenção tanto consciente quanto subconsciente
dos níveis do plano interior e
se refocalizando no plano físico. Isso é o mais importante,
pois impede a mente de se
desintegrar, o que é o resultado habitual da evocação
descontrolada do subconsciente. Caso
o mago tenha invocado inteligências superiores, a licença para
partir é desnecessária, mas o
Fechamento dos Portões continua sendo necessário. Algumas
autoridades afirmam que, na
Eucaristia, as palavras ite missa est no final do serviço são,
de fato, não uma licença para
partir, mas uma declaração aos seres angelicais que tomaram
parte no serviço de que o seu
trabalho está concluído. Não se trata de uma ordem
taxativa de que partam.
Continua na
próxima atualização do site Hermanubis