A
EGRÉGORA
Michèle Séguret
Já aconteceu com você de sentir-se particularmente feliz num
lugar qualquer, particularmente à vontade, sem razão aparente?
Na floresta povoada de claros-escuros cintilantes, sentiu, como o Conde
de Gabalis, o roçar sutil dos gnomos, dos silfos e das salamandras,
hóspedes espirituais desses locais? Após uma reconfortante
reunião, você saiu satisfeito, sentindo-se em união
perfeita com todos? Quanto a mim, lembro-me de um concerto de danças
caucasianas, onde a sala inteira encontrava-se unida como um só ser.
Lembro-me de um extraordinário solo de Heifetz no silêncio
religioso de quinhentas
respirações suspensas ao som cristalino do violino, silêncio
que permaneceu por alguns segundos após a última nota do virtuose,
antes da explosão das aclamações.
Por outro lado, aconteceu com você de sentir-me oprimido ao pisar
nos restos dos campos de concentração, nos campos de batalha
de Oradour- sur-Glane? Diz-se que o sangue dos mártires de todas
as ideologias clama ao céu sua dor e que a imagem dos acidentes impregna
os cruzamentos onde se produziram. No metrô parisiense, que transporta
tantos espíritos heteróclitos e libera uma infinita tristeza,
quantos têm o coração apertado pela atmosfera que lá
impera e pela morosidade dos viajantes que nos cercam; privados também
da "bolha de ar" necessária ao bem-estar de nossa aura,
sufocamos.
Esses estados de espírito podem vir de nossa percepção
da egrégora do lugar.
Que é uma egrégora?
Ao se reunirem, os seres formam, pela união de sua vontade, um ser
coletivo novo chamado Egrégora. La Voix Solaire (A Voz Solar) em
seu número de março de 1961, dava-nos a seguinte definição:
"Egrégora, reunião de entidades terrestre e supra-terrestres
constituindo uma unidade hierarquizada, movidas por uma idéia-força".
Esta palavra poderia originar-se no grego "egregoren", que significa
"velar". No Livro de Enoch está escrito que os anjos que
tinham jurado velar sobre o Monte Hermon teriam se apaixonado pelas filhas
dos homens, ligando-se "por mútuas execrações".
Papus, em seu Traité élémentaire de Science Occulte
(Tratado elementar de Ciência Oculta) introduz uma nova noção:
As egrégoras são "imagens astrais geradas por uma coletividade"
(pág. 561).
Em La Voie initiatique (A Via iniciática), Serge Marcotoune constata
que a energia nervosa se manifesta por raios no plano astral: "O astral
está cheio de miríades de centelhas, flechas de cores das
idéias-força. Sabemos que cada pensamento, cada intenção
a que se mistura um elemento passional de desejo, se transmite em idéia-
movimento dinâmica, completamente separada do ser que a forma e a
envia, mas seguindo sempre a direção dada. As idéias-força
são os elementos mais elementares do plano astral; elas seguem sua
curva traçada pelo desejo do remetente". (pág. 195) É
por isso que precisamos controlar nossos desejos a fim de que eles não
pesem sobre nós, acorrentando-nos, imprimindo à nossa aura
cores diferentes. A meditação e a prece do iniciado regeneram-no,
permitindo-lhe emitir idéias sadias e tranqüilizantes. No astral,
os "spiritus directores", os espíritos-guias, canalizam
as idéias-força para zonas determinadas.
Em La Clef de la Magie Noire (A Chave da Magia Negra), Stanislas de Guaita
analisa a história da Convenção, desmascarando as entidades
homicidas coletivas e os atos sanguinolentos delas decorrentes (pág.
324). De fato, no mundo astral as coisas semelhantes aglutinam-se para criar
um coletivo, graças às suas vibrações idênticas.
A
egrégora, ser astral, possui seu centro e seu eixo nesse plano e
busca um ponto de apoio terrestre para assegurar-se das formas estáveis.
O iniciado aproxima-se assim dos seres superiores e elevados. No astral
nascem os germes das grandes associações, das grandes amizades,
das proteções. Em constante modificação, em
evolução, as formas das egrégoras são, na maior
parte do tempo, efêmeras. As egrégoras não possuem ponto
de apoio. Elas podem obstruir nosso caminho ou ser utilizadas por um operador.
Marcotoune escreve: "As egrégoras que podemos considerar como
prontas formam uma classe à parte. São as egrégoras
da cadeia iniciática ou das grandes religiões. Elas servem
à obra sacrifical de expiação do Filho de Deus para
salvar a humanidade. São dirigidas diretamente pelos seres reintegrados
e pela vontade divina. Situadas no cume do plano astral, perdem-se na fusão
com os planos espiritual e divino". (pág. 206) Elas realizam
o destino cósmico de todo o universo.
Os antigos...
Basta que o mundo invisível seja um poderoso auxiliar para os seres
humanos, para convencê-los de ler os textos antigos. Se os homens
criaram mitos, foi porque se viram confrontados com forças imensas,
incompreensíveis, dissimuladas nas profundezas ocultas da Natureza.
Sabiam que cotidianamente eram travados combates na terra e no céu.
Zeus luta contra os Titãs; Rama combate os demônios gigantescos
do Ramayana; Krishna ajuda o guerreiro Ariuna em seus embates com a Vida,
os exércitos vindos do invisível são confrontados com
os do manifesto. No Règlement de Guerre (Regulamento da Guerra) dos
essênios, vê-se o mundo angélico inteiro empenhado na
batalha terrestre. Na China, o Culto dos Ancestrais estabelecia um equilíbrio
ente a Terra e o Céu por meio da Egrégora familiar astral.
Papus cita Ovídio no Traité Elementaire de Science Occulte:
"Quatro coisas devem ser consideradas no homem: os manes, a carne,
o espírito e a sombra. Essas quatro coisas são colocadas cada
uma em seu lugar: a terra cobre a carne; a sombra flutua em redor da tumba,
os manes estão no inferno e o espírito voa para o céu"
(pág. 404). Os egípcios pensavam que não só
o ser humano possui um duplo (Kha), mas também todos os animais e
todas as coisas em que a vida se faz sentir: as cidades, as províncias,
as nações. Henri Duville o observa na sua A Ciência
Secreta (La Science secrète)
E nós...
Estamos convencidos, como Beaudelaire que: "A Natureza é um
templo onde viventes pilares Deixam às vezes escapar confusas palavras,
O homem nela passa através de florestas de símbolos Que o
observam com olhares familiares..."
Somos convidados com insistência a decifrar o que está oculto
(ocultismo), a descobrir o que está fora das coisas (esoterismo),
a aprofundar o que nos espanta porque, diz Aristóteles, "do
espanto vem a Sabedoria".
A noção de Egrégora libera dos grilhões religiosos.
Na verdade somente o Amor ao Bem e à Verdade, somente nossa ação
e nosso Coração nos conduzirão à família
espiritual que nos corresponde, segundo a densidade de nosso espírito.
Como Swedenborg, viajaremos em grupos unidos, sendo ensinados pelos diversos
grupos de anjos que formam sociedades à parte, elas próprias
reagrupadas em um grande corpo porque, diz ele, "o céu é
um grande homem". Paulo, na Epístola aos Romanos (12) e em 1
Coríntios 12, escreve: "Formamos um único corpo com o
Messias"... "Sim, o corpo é um, mas há vários
membros e todos os membros do corpo, que são numerosos, formam um
único corpo". Tal é a comunhão dos Santos.
Jesus dissera: "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome,
estarei entre eles".
No Apocalipse, João faz os Anjos responsáveis pelas Nações
intervirem, porque somos responsáveis pelos erros coletivos cometidos.
Ninguém pode lavar as mãos, como fez Pilatos: guerras, fomes,
massacres diminuem nossa liberdade, porque participamos da
egrégora da terra; da mesma forma que os genes de nossa hereditariedade
marcam a história de nosso corpo. Segundo a Bíblia, cidades
inteiras foram punidas por causa de sua egrégora envenenada. Phaneg
escreveu: "Todo coletivo constitui na verdade uma família no
espiritual e tem seu chefe. É a este chefe que o Espírito
fala..."
Compreende-se, nessa ordem de idéias, que jamais se deve responder
ao ódio como ódio, porque então as duas egrégoras
selariam uma aliança estreita para nossa maior danação.
Devemos estar convencidos que nenhuma de nossas aspirações
para o Bem se perde e que nossa vida deve produzir Idéias-força
poderosas. É o segredo da prece dos "fracos". Se utilizamos
ritos é porque eles constituem um apelo às forças elevadas.
Se realizamos uma Cadeia de União, é para ligar o visível
ao invisível num campo magnético fechado onde as forças
perpendiculares se projetarão. Ela é ao mesmo tempo criadora
e receptora; escudo protetor e receptor de influências astrais e espirituais.
As egrégoras são dinamização das auras num objetivo
preciso.
Todo o esforço da vida iniciática tem por meta utilizar, da
melhor maneira possível, nossa vida, nossos ímpetos, nosso
amor, para equilibrá-los e fazer deles uma base sólida num
esforço de continuidade e de ascensão.
Metamorfoseemo-nos pela mutação de nosso coração;
é a via cardíaca martinista.