A
DEFINIÇÃO DO MESTRE
Papus
Somos guiados passo a passo em nossa evolução, e os guias
que nos são enviados pelo invisível vêm de diferentes
planos; em linguagem mística "apartamentos", segundo o
gênero de faculdade que eles devem evoluir.
Trata-se de mestres, mas é necessário darmos a este termo,
de imediato, seu significado verdadeiro e geral, porque em nossa época
de mediocracia universal, termos tão elevados como "mestre"
são atribuídos, pela cortesã nice dos arrivistas, a
qualquer indivíduo que
lhes possa ser de alguma utilidade em sua ascensão às alegrias
e aos horrores materiais.
O Mestre é um guia, e ele pode devotar-se à evolução
de três tipos de faculdades humanas: pode dirigir a evolução
da coragem, do trabalho manual ou das forças físicas como
o oficial, o mestre construtor ou o professor de boxe. É realmente
um Mestre, mas este é o produto da sociedade e age sobre a porção
física das faculdades humanas.
Esse tipo de maestria é coroado por um enviado do plano invisível
que se chama "o Conquistador" e que faz evoluir a humanidade como
a febre faz evoluir as células humanas na batalha, no terror, no
sacrifício e na matança em todos os planos.
O segundo tipo de maestria visa à evolução do mental
humano. Ele começa pelo Mestre de escola, a quem Grosjean quer sempre
retornar para chegar ao professor universitário, com todos os intermediários
possíveis.
Tudo isto constitui a banda dos queridos Mestres, horda sagrada que defende
justamente suas prerrogativas e eleva diante do profano a barreira das ciências
técnicas e dos exames.
Esse tipo de maestria é dominado por um enviado do mundo invisível
vindo do apartamento que os antigos chamavam Hermes, trimegista, e que chamamos
pessoalmente o Mestre intelectual, caracterizado pelas luzes que projeta
em todos os planos de nstrução.
Acima, enfim, encontramos aquele que é o único a ter verdadeiramente
direito a esse título de Mestre. É o enviado real, encarregado
de evoluir as faculdades espirituais da humanidade, e ele apela a forças
que bem poucos compreendem e de quem poucos ainda podem seguir as incitações.
Este é aquele a quem chamamos um Mestre espiritual, que foi assim
chamado por Marc Haven, em seu maravilhoso estudo sobre Cagliostro, o Mestre
Desconhecido, e por Sédir, em seus comentários sobre o Evangelho,
o homem livre.
Seja qual for o nome que lhe demos, ele chega a certo período manifestando-se
abertamente, aa outros períodos ocultando-se em meio aos humanos
e agindo esconhecido para o bem coletivo e todos os que podem entrar em
contato com ele guardam uma tal lembrança que seu coração
permanece comovido por várias encarnações.
É dele que Sédir diz, em uma de suas conferências: "Mas
quando o Mestre aparece, é como um sol que se ergue no coração
do discípulo; todas as nuvens se desfazem; todas as gangues se desagregam;
uma nova claridade, ao que parece, se expande no mundo; esquecem-se dissabores,
desesperos e ansiedades; o pobre coração tão infeliz
se lança rumo às radiosas paisagens entrevistas, sobre as
quais o tranqüilo esplendor da Eternidade estende suas glórias;
nada mais terno lança sombras na Natureza; tudo, enfim, se concilia
na admiração, na adoração e no amor". É
aquele que provoca discípulos ardorosos ou adversários impiedosos
e que recebe, como Cagliostro, cartas desse tipo: "Eu ficaria feliz,
então, se pudesse dar-lhe provas dessa afeição terna
e respeitosa da qual foi penetrado, dessa afeição da alma
que não sei dar e que sinto tão vivamente. Minha existência
física e moral pertence a ele; que ele disponha dela como do mais
legítimo apanágio... Minha mulher, meus irmãos, meus
pais, Me du Piqueet e sua família, que também lhe devem grandes
obrigações, querem... Que o Senhor Conde de Cagliostro esteja
persuadido de que
fomos afetados além da expressão de tudo o que os acontecimentos
imprevistos lhe fazem sofrer, e que nossa ambição e nossa
glória estariam satisfeitas se pudéssemos encontrar ocasiões
de servir-lhe de maneira útil, é a homenagem simples e espontânea
de nossos
corações".
Estas classificações, como todas as classificações
humanas, são forçosamente um pouco artificiais; em geral um
Mestre aborda, mais ou menos, as três categorias a que nos referimos,
e como tudo no invisível é coletivo, esses enviados se prendem
não a personalidades, mas a "apartamentos". Assim, um enviado
do apartamento do Cristo está
sempre ligado à lei Cristal solar, o que fecha a porta invisível
a todos os impostores.
É perigoso deixar-se chamar "Mestre", porque, além
da evocação dos seres de orgulho que velam ao nosso redor,
isto dá àquele que aceita esse título, a responsabilidade
de todos as faltas cometidas por seus auto-intitulados discípulos.
Assim vosso servidor, que não passa na realidade de um pobre soldado
desse exército, não tendo sequer podido nele obter os galões
de cabo, fica desagradavelmente impressionado cada vez que lhe enfiam goela
abaixo o título de "Mestre".
Consolo-me imaginando que estou fazendo uma viagem à Itália.
Nesse país encantador, recebe-se um título nobiliário
segundo o valor da gorjeta que se distribui aos empregados dos trens; por
cinqüenta centavos é-se cavalheiro; por um franco, duque ou
excelência; e por cinco francos, é-se pelo menos príncipe.
O número de Mestres que são mestres como o viajante à
Itália é príncipe, é de tal forma grande na
terra, principalmente nos centros intelectuais, que o verdadeiro Mestre
tem razão de permanecer desconhecido.
Permitam-me abrir um parêntesis aqui. É a propósito
de uma associação misteriosa de homens evoluídos, conhecidos
sob o título de "Rosa- Cruz". Esse título é
um nome exotérico, cuja finalidade é ocultar o nome secreto
e verdadeiro da sociedade em questão. Ora, uma multidão de
ambiciosos, que nada sabem de real sobre esta sociedade, ornam-se
a torto e a direito com esse nome e dizem, misteriosamente aos seus amigos
e conhecidos: "Admirem-me, vejam minha belas plumas de pavão;
não digam a ninguém: Eu sou Rosa-Cruz".
Não falamos, bem entendido, do 18º grau do escocismo. Ora, os
verdadeiros Rosa-cruzes (eles são dez, ao todo) não se dizem
tal. Apresso-me a dizer que não sou um deles, mas os conheço.
Eles se divertem muito em ver que o nome profano de sua sociedade ser desavergonhadamente
empregado de todas as maneiras; é um pouco como um societário
da Comédie-Française que vê na província um figurante
se esforçando para desempenhar seu papel e copiar seu nome. Ele sorri,
mas não se aborrece.
De onde vem esse nome de "Mestre"? Na França, do latim
magister que, decomposto em suas raízes nos dá: MaG, fixação
em uma matriz (intelectual ou espiritual) do princípio A
pela ciência G; IS, dominação da serpente (S) pela ciência
divina (I), característica do nome de "ÍSIS";
TR, proteção pelo sacrifício de qualquer expansão
(R). Se, deixando de lado as chaves hebraicas e o tarô, dos quais
acabamos de nos servir, nos voltarmos ao sânscrito, obteremos duas
palavras: MaGa, que quer dizer "felicidade e sacrifício"
com seu derivado "Magoni", a aurora, e IsTa, que quer dizer "o
corpo do sacrifício", a oferenda.
O Mestre, o Maga Ista, ou o Magisto, o Mago, é pois aquele que vem
sacrificar-se, que dá seu ser em oferenda para a felicidade de seus
discípulos. Compreender-se-á agora o símbolo maçônico
do Pelicano e a lei misteriosa "O iniciado matará o Iniciador".
Antes de deixar o sânscrito, digamos que a palavra "Guru"
originou a palavra francesa "Grave"; é o instrutor, aquele
a quem chamamos "o Mestre intelectual", o Grave professor, e isto
não tem qualquer ligação, em geral, com o plano das
forças divinas.