A
NUVEM SOBRE O SANTUÁRIO
Eckhartshausen
A SEGUNDA CARTA
É necessário,
meus caríssimos irmão no Senhor, dar-vos uma idéia
pura da Igreja interior, desta "Comunidade Luminosa de Deus",
que está dispersada através do mundo; mas que é governada
pela verdade e unida pelo espírito.
Esta comunidade da luz existe desde o primeiro dia da criação
do mundo, e sua existência permanecerá até o último
dia dos tempos.
Ela é a sociedade dos eleitos que distinguem a luz nas trevas, separando-a
em sua essência.
Esta comunidade da luz possui uma escola na qual o próprio Espírito
de Sabedoria instrui àqueles que têm sede de luz; e todos os
mistérios de Deus e da natureza são conservados nesta escola
pelos filhos da luz. O conhecimento perfeito de Deus, da natureza e da humanidade,
são os objetos do ensinamento desta escola. É dela que todas
as verdades vêm ao mundo; ela foi a escola dos profetas e de todos
aqueles que procuram a sabedoria; e é somente nesta comunidade que
se encontra a verdade e a explicação de todos os mistérios.
Ela é a comunidade mais íntima e possui membros de todo o
universo, eis as idéias que se podem ter dela. Em todos os tempos,
o exterior tinha por base um interior do qual não era mais do que
a expressão e o plano.
Assim é que, em todas as eras, existiu uma assembléia íntima,
a sociedade dos eleitos, a sociedade daqueles mais capazes para a luz e
que a procuravam; esta sociedade íntima era chamada o Santuário
interior ou a Igreja interior.
Todos os símbolos, cerimônias e ritos que possui a Igreja exterior,
correspondem à letra da qual o espírito e a verdade se acham
na Igreja interior.
Portanto, a Igreja interior é uma sociedade cujos membros estão
espalhados por todo o mundo, mas ligados intimamente pelo espírito
do amor e da verdade, ocupada sempre na construção do grande
templo para a regeneração da humanidade, pela qual o reino
de Deus há de se manifestar. Esta sociedade reside na comunhão
daqueles que estão mais aptos para receber a luz, ou dos eleitos.
Estes eleitos estão unidos pelo espírito e a verdade e o seu
chefe é a própria Luz do Mundo, Jesus Cristo, o eleito da
luz, o mediador único da espécie humana, o Caminho, a Verdade
e a Vida; a luz primitiva, a sabedoria, o único "meio"
pelo qual os homens podem retornar a Deus.
A Igreja interior nasceu logo após a queda do homem e recebeu de
Deus, imediatamente, a revelação dos meios pelos quais a espécie
humana caída seria reintegrada na sua dignidade, e libertada de sua
miséria. Ela recebeu o depósito primitivo de todas as revelações
e mistérios; ela recebeu a chave da verdadeira ciência, tanto
divina como natural.
Mas quando os homens se multiplicaram, a fragilidade e fraqueza inerentes
a espécie impuseram um culto exterior para ocultar a sociedade interior
e encobrir pela letra o espírito e a verdade. Porque a coletividade,
a multidão, o povo, não eram capazes de compreender os grandes
mistérios interiores e constituiria um perigo demasiado grande confiar
o mais santo aos incapazes, encobriram as verdades interiores nas cerimônias
exteriores e sensíveis, para que o homem, pelo sensível e
o exterior que é o símbolo do interior, se tornasse gradativamente
capaz de aproximar-se mais das verdades internas do espírito.
Mas a essência sempre foi confiada àquele que, no seu tempo,
tinha mais aptidões para receber a luz; e somente esse era o possuidor
do depósito primitivo como Sumo sacerdote do Santuário.
Quando se tornou necessário que as verdades interiores fossem simbolizadas
nas cerimônias exteriores, por causa da fraqueza dos homens que não
eram capazes de suportar a vista da luz, o culto, exterior nasceu, mas ele
foi sempre o tipo e o símbolo do interior, quer dizer, o símbolo
da verdadeira homenagem feita a Deus "em espírito e verdade".
A diferença entre o homem espiritual e o homem animal, ou entre o
homem racional e o homem dos sentidos, obrigou as formas exterior e interior.
As verdades internas ou espirituais manifestaram-se envoltas em símbolos
e cerimônias, para que o, homem animal ou dos sentidos pudesse despertar
e ser conduzido pouco a pouco, às verdades interiores.
Portanto, o culto exterior é uma representação simbólica
das verdades interiores, das verdadeiras relações do homem
com Deus antes e após a queda, no estado de sua dignidade, de sua
reconciliação e de sua mais perfeita união. Todos os
símbolos do culto exterior estão construídos sobre
estas três relações fundamentais.
O cuidado do exterior era a ocupação dos sacerdotes, e cada
pai de família estava, nos tempos primitivos, encarregado deste ofício.
As primícias dos frutos e as primeiras crias dos animais eram oferecidas
a Deus; os primeiros simbolizando que tudo o que nos alimenta e nos conserva
vem Dele; e os segundos simbolizando que o homem animal deve morrer para
dar lugar ao homem espiritual e racional.
A adoração exterior de Deus não deveria jamais separar-se
da adoração interior; mas como a fraqueza do homem leva-o
facilmente a esquecer o espírito para agarrar-se à letra,
o Espírito de Deus despertou sempre, entre todas as nações,
naqueles que tinham as aptidões necessárias para a luz, e
serviu-se deles, como seus agentes, para espalhar por todo o mundo a verdade
e a luz, segundo a capacidade dos homens a fim de vivificar a letra morta
pelo espírito e a verdade.
Por estes instrumentos divinos, as verdades interiores do santuário
eram levadas às nações mais longínquas, e modificadas
simbolicamente, segundo os hábitos, capacidade de cultura, clima
e receptividade.
De maneira que os tipos exteriores de todas as religiões, seus cultos,
suas cerimônias e seus livros santos, em geral, têm quase claramente
por objeto as verdades interiores do santuário, pelas quais a humanidade
será conduzida somente no devido tempo, à universalidade do
conhecimento da verdade única.
Quanto mais o culto exterior de um povo permaneceu unido ao espírito
das verdades interiores, mais a sua religião foi pura; quanto mais
a letra simbólica se separou do espírito interior, mais a
religião se tornou imperfeita, até a ponto de degenerar entre
alguns, em politeísmo, quando a letra exterior perdeu completamente
seu espírito interior e não restou mais de que o cerimonial
exterior sem alma e sem vida.
Quando os germens das verdades mais importantes puderam ser levados aos
povos pelos agentes de Deus, Ele escolheu um povo determinado para erigir
um símbolo vivo, destinado a mostrar como Ele queria governar toda
a espécie humana em seu estado atual, e conduzi-la à sua mais
alta purificação e perfeição.
Deus próprio deu a seu povo a sua legislação exterior
religiosa; e, como signo de sua verdade, entregou-lhe todos os símbolos
e todas as cerimônias que continham a essência das verdades
interiores e grandiosas do santuário.
Deus consagrou essa igreja exterior em Abraão, deu-lhe os mandamentos
por Moisés, e assegurou-lhe sua mais alta perfeição
pela dupla missão de Jesus Cristo, no princípio, vivendo pessoalmente
na pobreza e no sofrimento, e depois pela comunhão de seu espírito
na glória do ressuscitado.
Mas, como o próprio Deus deu os fundamentos da Igreja exterior, a
totalidade dos símbolos do culto exterior formou a ciência
do templo, ou dos sacerdotes daqueles tempos, e, todos os mistérios
das verdades mais santas e interiores tornaram-se exteriores pela revelação.
O conhecimento científico deste simbolismo santo, era a ciência
de religar Deus ao homem caído, e daí a religião recebeu
seu nome como sendo a doutrina que liga o homem, separado e afastado de
Deus, a Deus que é sua origem.
Vê-se facilmente por esta idéia pura do nome religião
em geral, que a unidade da religião está no santuário
íntimo, e que a multiplicidade das religiões exteriores não
pode jamais alterar nem enfraquecer esta unidade que é a base de
todo exterior.
A sabedoria do templo da antiga aliança era governada pelos sacerdotes
e pelos profetas.
O exterior, a letra do símbolo, o hieróglifo; eram confiados
aos sacerdotes.
Os profetas tinham a seu cuidado o interior, o espírito e a verdade,
e sua função era a de conduzir sempre os sacerdotes da letra
ao espírito, quando lhes acontecia esquecer o espírito e agarrar-se
à letra.
A ciência dos sacerdotes era a do conhecimento dos símbolos
exteriores.
A ciência dos profetas era a posse prática do espírito
e da verdade destes símbolos. No exterior a letra; no interior o
espírito vivificante.
Existia também, na antiga aliança, uma escola de sacerdotes
e uma escola de profetas.
A dos sacerdotes ocupava-se dos emblemas e a dos profetas das verdades que
estavam encerradas sob os emblemas. Os sacerdotes estavam de posse exterior
da Arca, dos pães da proposição, do candelabro, do
maná, da vara de Aarão, e os profetas estavam de posse das
verdades interiores e espirituais que eram representadas exteriormente pelos
símbolos dos quais vimos falar.
A Igreja exterior da antiga aliança era visível; a Igreja
interior era sempre invisível, devia ser invisível, e entretanto
governar tudo, porque somente a ela estavam confiados o poder e a força.
Quando o culto exterior abandonava o interior, caia, e Deus provava por
uma continuidade das mais notáveis ocorrências, que a letra
não pode subsistir sem o espírito; que ela somente é
dada para conduzir ao espírito, tornando-se inútil e mesmo
rejeitada de Deus, se abandona sua finalidade.
Assim como o espírito da natureza se espalha nas profundezas mais
estéreis para vivificar, para conservar e para dar desenvolvimento
a tudo que lhe é susceptível, assim também o espírito
da luz se espalha no interior de todas as nações, para animar
completamente a letra morta pelo espírito vivo.
É assim que encontramos um Jó entre os idólatras, um
Melquisedeck entre as nações estrangeiras, um José
entre os sacerdotes egípcios, e Moisés no país de Madian,
como prova palpável de que a comunidade interior daqueles que são
capazes de receber a luz, estava unida pelo espírito e pela verdade
em todos os tempos e entre todas as nações.
A todos esses agentes de luz da comunidade interior e única, uniu-se
o mais importante de todos os agentes, o próprio Jesus Cristo, no
meio do tempo como um rei-sacerdote; segundo a ordem de Melquisedeck,
Os agentes divinos da antiga aliança não representaram senão
as perfeições particulares de Deus; no decorrer dos tempos
uma ação poderosa devia produzir-se que mostrasse de uma só
vez o todo em Um. Um tipo universal apareceu acentuando a completa unidade,
abrindo uma nova porta e destruindo a numerosa servidão humana. A
lei do amor começou quando a imagem emanada da própria Sabedoria
mostrou ao homem toda grandeza de seu ser, revigorou-o de todas as forças,
assegurou-lhe sua imortalidade e elevou seu ser intelectual para tornar-se
o verdadeiro templo do Espírito.
Este agente maior de todos, este Salvador do mundo, este regenerador universal
fixou toda a sua atenção sobre esta verdade primitiva, pela
qual o homem pôde conservar sua existência e recobrar a dignidade
que possuía.
Em suas humilhações implantou a base da redenção
dos homens e prometeu cumpri-la completamente por seu espírito. Ele
mostrou também num perfeito esboço aos seus apóstolos
tudo o que devia se passar um dia com seus eleitos.
Ele continuou a cadeia da comunidade interior da luz, entre seus eleitos,
aos quais enviou o Espírito da Verdade, e confiou-lhes o depósito
primitivo mais elevado de todas, as verdades divinas e naturais, em sinal
de que eles não abandonariam jamais sua comunidade interior.
Quando a letra e o culto simbólico da Igreja exterior da antiga aliança,
passaram em verdade pela encarnação do Salvador, e foram atestados
em sua pessoa, novos símbolos se tornaram necessários para
o exterior, que mostrassem segundo a letra, a realização futura
ou integral da redenção.
Os símbolos e os ritos da igreja exterior Cristã foram dispostos
segundo estas verdades invariáveis e fundamentais, e anunciaram coisas
de uma força e importância que não se podem descrever,
nem foram reveladas àqueles que conheciam o santuário intimo.
Este santuário interior permaneceu sempre invariável, ainda
que o exterior da religião, ou seja, a letra recebesse no decorrer
do tempo e circunstâncias, diferentes modificações,
e se afastasse das verdades interiores, que são as que podem conservar
o exterior ou a letra.
O pensamento profano de querer atualizar tudo o que é cristão,
e de querer cristianizar tudo o que é político, modificou
o edifício exterior, e cobriu com as trevas e a morte o que estava
no interior, a luz e a vida. Daí nasceram as divisões e as
heresias: o espírito sofístico queria explicar a letra embora
já tivesse perdido o espírito da verdade.
A incredulidade levou a corrupção ao mais elevado grau; até
se procurou atacar o edifício do cristianismo em suas primitivas
bases, confundindo o interior santo, com o exterior que estava sujeito às
fraquezas e à ignorância dos homens frágeis.
Assim nasceu o deísmo, que engendrou o materialismo e viu como uma
fantasia toda união do homem com as forças superiores; e por
fim nasceu, parte pelo entendimento e parte pelo coração,
o ateísmo, último grau de decadência do homem.
No meio de tudo isto, a verdade permaneceu sempre inquebrantável
no interior do santuário.
Fiéis ao Espírito da verdade que prometeu jamais abandonar
a sua comunidade; os membros da Igreja interior viveram em silêncio
e em atividade real e uniram a ciência do templo da primitiva aliança
ao espírito do Grande Salvador dos homens, a espírito da aliança
interior, esperando humildemente o grande momento no qual o Senhor os chamará,
e reunirá sua comunidade para dar a toda letra morta a força
exterior e a vida.
Esta comunidade interior da luz é o conjunto de todos aqueles que
estão capacitados para receber a luz dos eleitos, e é conhecida
sob o nome de "Comunhão dos santos". O depósito
primitivo de todas as forças e de todas as verdades foi confiado
em todos os tempos a esta comunidade da luz; que só ela, como disse
São Paulo, estava de posse da ciência dos Santos. Por ela os
agentes de Deus foram formados em cada época, passaram cio interior,
ao exterior, e comunicaram o espírito e a vida à letra morta,
como já dissemos anteriormente.
Esta comunidade da luz foi em todos os tempos a verdadeira escola do Espírito
de Deus; e, considerada como escola, tem sua Cátedra, seu Doutor;
possui um livro no qual seus discípulos estudam as formas e os objetos
dos ensinamentos, e finalmente um método de estudo.
Ela tem, também, seus graus pelos quais o espírito pode desenvolver-se
sucessivamente e elevar-se sempre cada vez mais.
O primeiro grau, o menor, consiste no bem moral pelo qual a vontade simples,
subordinada a Deus, é conduzida ao bem pelo móbil puro da
vontade, quer dizer, Jesus Cristo, que ela recebeu pela fé. Os meios
dos quais o espírito desta escola se serve são chamados inspirações.
O segundo grau consiste no assentimento intelectual, pelo qual a compreensão
do homem de bem que está unido a Deus, é coroada com a sabedoria
e a luz do conhecimento; e os meios pelos quais o espírito se serve
para este grau são chamados iluminações interiores.
O terceiro grau enfim, e o mais elevado, é o completo despertar do
nosso sensorium interno, pelo qual o homem interior alcança a visão
objetiva das verdades metafísicas e reais. Este é o grau mais
elevado onde a fé se transforma em visões claras e os meios
pelos quais o espírito se serve para isso são as visões
reais.
Eis os três graus da verdadeira escola de sabedoria interior, da comunidade
interior da luz. O mesmo espírito que aperfeiçoa os homens
para esta comunidade, distribui também os graus, pela coação
do próprio candidato, devidamente preparado.
Esta escola da sabedoria foi em todos os tempos, a mais secreta e a mais
oculta do mundo, porque ela estava invisível e submissa unicamente
à direção divina.
Ela não esteve jamais exposta aos acidentes do tempo nem às
fraquezas dos homens. Porque nela não houve em todos os tempos senão
os mais capazes que foram escolhidos pelas suas qualidades, e o Espírito
que os escolheu não podia errar.
Nessa escola se desenvolveram os germens de todas as ciências sublimes
que foram primeiramente recebidas pelas escolas exteriores, e, aí
revestiram-se de outras formas verdadeiras algumas vezes tornadas disformes.
Esta sociedade interior de sábios comunicou, segundo o tempo e as
circunstâncias, às sociedades exteriores, seus hieróglifos
simbólicos para tornar o homem exterior atento às grandes
verdades do interior.
Porém todas as sociedades exteriores só subsistem enquanto
esta sociedade interior lhes comunica seu espírito. No momento em
que as sociedades exteriores queriam emancipar-se da sociedade interior
e transformar o templo de sabedoria em um edifício político,
a sociedade interior retirava-se e nelas ficava somente a letra sem o espírito.
Assim é que todas as escolas exteriores secretas da sabedoria foram
somente véus hieroglíficos, a verdade mesma permaneceu sempre
no santuário para que não pudesse ser jamais profanada.
Nesta sociedade interior o homem encontra a sabedoria, e com ela tudo; não
a sabedoria do mundo que não é senão um conhecimento
científico rodeando o invólucro exterior, sem jamais tocar
o centro onde residem todas as forças; mas a verdadeira sabedoria,
assim como os homens que a ela obedecem.
Todas as disputas, todas as controvérsias, todos os objetos da falsa
prudência do mundo, todos os idiomas estrangeiros, as vãs dissertações,
os germens inúteis das opiniões que propagam a semente da
desunião, todos os erros, os cismas e os sistemas, dela estão
banidos. Não se encontra ali nem calúnias nem maledicências;
todo homem é honrado. A sátira, o espírito que gosta
de se divertir a custa do próximo, são ali desconhecidos,
e somente se conhece o amor.
A calúnia, este monstro não levanta jamais entre os amigos
da sabedoria, sua cabeça de serpente, o respeito mútuo é
ali observado rigorosamente; ali não se nota as faltas do próximo
nem se lhe fazem criticas sobre defeitos. Caridosamente, conduz-se o viajante
ao caminho da verdade, procura-se persuadir, tocar o coração
que está em erro, deixando a punição do pecado a clarividência
do Mestre da Luz. Alivia-se a necessidade, protege-se a fraqueza, rejubila-se
da elevação e da dignidade que o homem adquire.
A felicidade que é o dom do destino não eleva ninguém
sobre o próximo; somente se considera feliz aquele ao qual se apresenta
a ocasião de fazer o bem a seu próximo, e todos estes homens,
que um espírito de verdade une, formam a Igreja invisível,
a sociedade do Reino interior sob um chefe único que é Deus.
Não se deve imaginar que esta comunidade representa qualquer sociedade
secreta que se reúne em certos tempos, escolhendo seus chefes e membros
e propondo-se a determinados fins. Todas as sociedades, quaisquer que sejam
não vêm senão depois desta comunidade interior da sabedoria;
ela não conhece quaisquer formalidades que são a obra dos
homens. No reino das forças todas as formas exteriores desaparecem.
O Próprio Deus é o chefe sempre presente. O homem mais perfeito
de seu tempo, o primeiro chefe, não conhece por si mesmo todos os
membros; mas no instante em que para a finalidade de Deus se torna necessário
esse conhecimento, ele os encontra certamente no mundo para agir em direção
a essa finalidade.
Esta comunidade não tem absolutamente véus exteriores. Aquele
que é escolhido para agir perante Deus é o primeiro, apresenta-se
aos outros sem presunção, e é recebido por eles sem
inveja.
Se é necessário que verdadeiros membros se unam, eles se encontram
e se reconhecem sem dúvida alguma. Não pode existir nenhum
disfarce, e nenhum gérmen de hipocrisia ou dissimulação
sobre os traços característicos desta comunidade, porque são
fora do comum. São arrancadas a máscara e a ilusão,
e tudo aparece em sua verdadeira forma.
Nenhum membro pode escolher um outro; o consentimento de todos é
requerido. Todos os homens são chamados; os chamados podem ser escolhidos,
se eles se tornarem aptos para a entrada.
Cada qual pode procurar a entrada, e todo homem que está no interior
pode ensinar ao outro a procurar a entrada. Mas enquanto não se estiver
preparado não se alcança o interior.
Homens não preparados ocasionariam desordens na comunidade, e a desordem
não é compatível com o interior. Este interior expulsa
tudo aquilo que não é homogêneo.
A Prudência do mundo espreita em vão este Santuário
interior; em vão a malícia procura penetrar os grandes mistérios
que aí estão ocultos; tudo é hieróglifo indecifrável
para aquele que não está prepara do; nada pode ver nem ler
no interior.
Aquele que já está preparado junta-se à corrente, muitas
vezes lá onde menos pensava e a um elo do qual nem supunha a existência.
Procurar alcançar a maturidade deve ser o esforço daquele
que ama a sabedoria.
Nesta comunidade santa está o depósito original das ciências
mais antigas do gênero humano com os mistérios primordiais
de todas as ciências e técnicas conduzindo à maturidade.
Ela é a única e verdadeira comunidade da Luz em possessão
da chave de todos os mistérios e conhecendo o íntimo da natureza
e da criação. Ela une as suas forças às forças
superiores e compõem-se de membros de mais de um mundo. Estes formam
uma república que será um dia a mãe regente do universo
inteiro.