A Cosmogonia Perene
FEDERICO GONZALEZ
A cosmogonia é uma ciência cultivada por todos os povos arcaicos e tradicionais e se refere ao conhecimento do homem (pequeno cosmos) e do universo (homem grande). Repete-se de modo unânime e de maneira perene ao longo do tempo (história) e do espaço (geografia), descrevendo uma única realidade, a do cosmos. Esta realidade, por outro lado, é a mesma que nós, os contemporâneos, vivemos e habitamos, pois é essencialmente imutável apesar das mutantes formas em que pode ser expressa ou apreendida, já que se mantém perenemente viva.
Esta ciência é praticamente desconhecida para o ser humano atual,
que é produto do racionalismo, do positivismo, do materialismo e da
técnica. Foi, no entanto, a estrutura básica, primária,
sobre a qual tanto os povos primitivos como as grandes civilizações
da antiguidade como, por exemplo, os egípcios, fundaram suas crenças,
e a ferramenta com a qual construíram sua vida e cultura, que no caso
desse exemplo durou três mil anos; o mesmo poderia ser dito do império
chinês, ou melhor, da Tradição extremooriental.
Esta ciência, na verdade, é o denominador comum de todas as tradições
conhecidas, quer se encontrem vivas ou aparentemente mortas.
O modo normal pelo qual essa Cosmogonia, Universal e Perene se expressa é
o símbolo, ou um conjunto de símbolos em ação,
constituindo códigos e estruturas que se conjugam permanentemente entre
si, manifestando e veiculando a realidade, ou seja, toda a possibilidade do
discurso universal, que se faz audível e compreensível por seu
intermédio. O símbolo é, portanto, a tradução
inteligível de uma realidade cosmogônica e, ao mesmo tempo, essa
realidade em si, ao nível em que ela se expressa.( 1 )
Para o caso da cosmogonia nos interessam particularmente os símbolos
numéricos e geométricos, que, como se sabe, mantém uma
perfeita correspondência entre si. Constituem módulos paradigmáticos,
presentes em todas as culturas, já que formam a estrutura de qualquer
construção, neste caso, da Construção Universal.
Não obstante, trataremos aqui não só dos números
e figuras geométricas e do simbolismo construtivo em geral, mas, em
particular, do símbolo da roda. É importante ressaltar que aquilo
que a simbólica manifesta dentro de si, no mais profundo de sua intimidade,
não é senão a totalidade do cosmos, atual e constante.
Ela própria, a Cosmogonia Perene e Universal e não só
a ciência que trata dela que é válida para todo
tempo e lugar na dimensão do humano, não é nada mais
que um símbolo de algo muito mais amplo que a transcende, já
que pode ser concebida e explicada como uma modalidade arquetípica
do Ser Universal.
1 Ver René Guénon: Símbolos Fundamentales de la Ciencia
Sagrada, Eudeba, Buenos Aires 1988. (R)