Reconcilie-se

Mestre Philippe de Lyon


Sei que é preciso ser humano. Assim, vedes esta senhora que está satisfeita por ter feito condenar alguém a vinte anos nas galés; ela esfrega as mãos de contente. Pois bem, pensais que se tivéssemos tido os mesmos instintos que a pessoa recentemente condenada, não teríamos feito a mesma cousa? Há muito pouca gente entre os presentes nesta sala que, quando criança, não tenha roubado alguma cousa dos companheiros. E há crianças que, com 10, 15 anos, têm a mesma responsabilidade que mais tarde. Há guris que, condenados, vêm mais tarde vos pedir trabalho. Pensais que vos serviriam muito bem, mas a folha corrida deles não está branquinha: mandai-os buscar trabalho noutra parte. Se não acharem, os condenais a reincidir e, se repetem, são logo postos fora da sociedade. Sabeis a quem condenais assim? A vosso irmão. Quando ouvis que uma criança foi condenada, dizeis: bem feito. E gostaríeis logo de perceber e ver a cara com que ficam os pais. Ah! se fôsseis vós, seria diferente, seríeis dignos de pena. Achais que esteja certo?

E quando ofendeis alguém, não é à pessoa ofendida que ides procurar, ides ao confessor e lhe direis: "Padre (meu pai!) pois é assim que vos dirigis ao confessor perdoai-me". Porém se quiserdes ir até o fundo das cousas, interrogai-o sobre a remissão dos pecados. Ele sabe perfeitamente que quanto às cousas de Deus são do seu ministério, porém o mesmo não se dá com a ofensa a um semelhante. Porém eu, também, tenho um confessor, e a ele me dirijo após alguma ofensa a meu semelhante. Mas irei antes procurar a pessoa ofendida e lhe estender a mão:

"Façamos as pazes". E pedirei perdão a Deus se provoquei uma dor, e que passe pela mesma pena, para obtê-lo. E nos negócios, quando vendeis um objeto bem acima do seu valor, pensais que no comércio é permitido. Pois bem, é um roubo, e o roubo não entra no Céu. Aqui estão algumas pessoas que podem ter cometido essa falta: pelo que foi feito até este dia, peço a Deus que se passe a esponja nisso.

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