INEOPITAGORISMO E RELIGIÃO
Frater Zelator SI SII
Os primeiros neopitagóricos.
Não há uma data precisa do início do neopitagorismo. Ele tem atrás de si uma tradição que remonta às ligas pitagóricas da velha Itália, do século 5-o. a.C., quando viveu Pitágoras (c. 570-496 a.C.). Sabe-se que os pitagóricos exploraram a doutrina dos números e que já praticavam os rituais de purificação. O neopitagorismo aliou-se às transformações platônicas dadas à doutrina dos números e se concentrou, sobretudo nas práticas de purificação, influenciando notoriamente às práticas religiosas de seu novo tempo.
É nos conhecido como precursor do neopitagorismo, ou mesmo como primeiro
neopitagórico, Nigídio Fígulo (+ 45 a.C.), amigo de
Cícero e autor de uma obra sobre os deuses. Seguem-se, entre outros,
Apolônio de Tiana (4-97 d.C.), escritor e pregador de uma nova religião,
ao tempo do imperador Nero.
De futuro serão os neopitagóricos aguerridos adversários
dos cristãos. Celso, em 179, escreverá contra os cristãos
um Discurso verdadeiro, ao qual responderá Orígenes, com um
Contra Celso. Destruída pelos cristãos, a obra de Celso se
conservou, embora fragmentariamente, nas citações e informações
dos seus contestadores. Entretanto havia uma grande proximidade entre o
neopitagorismo e o cristianismo.
Numênio de Apaméia, também do fim do 2-o. século,
foi de grande destaque no quadro dos pregadores do neopitagorismo. A ele
e a Pitágoras teriam sido feitas revelações. Já
sob a influência do neoplatônico judeu Filon de Alexandria (c.
25 a.C. - c.50 d. C.) , apresentou uma doutrina de três deuses: o
Supremo supra-sensível, o Demiurgo que põe forma na matéria,
o Universo que ele formou.
Plutarco de Cheronéia (45-125 d.C.), com atuação em
Roma e Atenas, foi um pitagórico eclético com elementos platônicos
e estóicos. Autor de várias obras, entre outras, Vida de homens
ilustres da Grécia de Roma e Obras morais. Influenciou notavelmente
ao mundo pagão e indiretamente ao cristão. Defendeu o dualismo
do bem e do mal, com uma série considerável de intermediários.
Estes intermediários lhe possibilitaram dar lugar às divindades
ocidentais e orientais, racionalizando a mitologia.
Versos de ouro.
Há ainda uma série se escritos pseudos, atribuídos ao remoto Pitágoras. Entretanto, outra coisa não são que a tradição pitagórica codificada tardiamente, na fase neopitagórica dos primeiros séculos cristãos. Neste contexto surgiu a apreciável coletânea denominada Versos de ouro, um repertório de moral sentenciosa. Acredita-se na afinidade entre os neopitagóricos e a seita dos judeus essênios, a cujo contexto esteve ligado Jesus de Nazaré. E assim desde o início houve um canal de influências do neopitagorismo sobre o cristianismo. Ocorreu também uma influência dos escritos neopitagóricos sobre os primeiros cristãos, por exemplo Eusébio de Cesaréia (séc. 4-o. ) autor de Preparação evangélica. Esta influência se deu mesmo por causa da conversão de neopitagóricos ao cristianismo.
A crença dos neopitagóricos na revelação foi
um dos lados por onde o neopitagorismo estava próximo do judaísmo
e do cristianismo. Acreditavam os neopitagóricos numa intuição
direta do inteligível (noetón), algo como uma revelação.
A religião seria mais do que o conhecimento discursivo do entendimento
e sensação, mas também um exercício sobrenaturalista.
Entretanto, a doutrina pura é própria apenas dos indivíduos
mais santos, que são tocados por ela como por uma graça. Isto
se afirmava de Pitágoras e de Numênio, aos quais a divindade
ter-se-ia revelado.
O misticismo pitagórico admite, pois, a revelação como
um fenômeno ordinário e que é recebida sobretudo pelos
espíritos mais adiantados.
Deus contém as idéias (ou números). É interioridade
consciente, que não pode conter imperfeição ou qualquer
mal. Não exerce qualquer contato direto com o mundo material. Fá-lo
por seres intermediários, como já ocorria com o Demiurgo de
Platão, colocado entre as idéias reais e o mundo material.
Surge, pois, o Logos, (inteligência, ou verbo). Abaixo deles há
outros e outros espíritos que servem de intermediação.
A subida da alma ao céu astronômico.
O neopitagorismo, desde o velho pitagorismo, está sob influência oriental. Continuou a assimilar elementos da religião de Mitra, e, de um modo geral, da religião de Zoroastro, ao mesmo tempo que fazendo reelaborações. Para o neopitagorismo, a alma, depois da morte do indivíduo, é julgada. Se o julgamento lhe for favorável, ela sobe ao céu astronômico. Ainda que a religião dos egípcios já acreditasse neste julgamento, a alma ficava junto ao corpo, e dali porque este era conservado o melhor possível pela mumificação.
Com os neopitagóricos acentua-se a imagem de que o céu das
almas se encontra no alto e não mais em um lugar especial embaixo
da terra. As concepções mais antigas das religiões
se imaginavam o lugar dos justos embaixo da terra, ainda que pudessem imaginar
que Deus também circulava pelo cosmos. Há um momento na história
das religiões, em que o céu passa a ser considerado como estando
no alto.
Divide-se o céu neopitagórico em sete esferas, que correspondem
aos sete planetas. Cada céu é penetrado através de
uma porta, cujo anjo a abre aos iniciados, anteriormente instruídos
com fórmulas especiais. Ante cada passagem despe-se a alma, como
que de vestes sucessivas das funções tipicamente humanas e
materiais. Nos cerimoniais litúrgicos de preparação,
por meio de vestes simbólicas, por vestes simbólicas, que
os indivíduos vão trocando, estes são iniciados para
aquele percurso de ascensão ao último céu. Chegada
a alma ao sétimo e definitivo céu, agora já sem impurezas,
passa a viver ali a felicidade beatifica sem fim.
Próximos entre si, o neopitagorismo (com suas purificações
em céus intermediários e espíritos intercessores) e
o cristianismo (com o seu purgatório preparador e a meditação
de Jesus, dos anjos e santos) hostilizavam-se facilmente, ao mesmo tempo
que se influenciavam mutuamente, sem que disto se apercebessem.
Fonte: Enciclopédia Simpozio