Uma das confusões que Jacob Boehme provoca é chamar também o Pai de Primeiro Princípio e o Filho de Segundo. É preciso ter cuidado ao que ele está se referindo: ao Pai ou às Trevas, ao Filho ou ao Paraíso. Nesse momento da Criação estamos no processo que se chamaria de manifestação, portanto aparecem as duas fases da Energia, o que Boehme chama de substâncias.

A primeira substância é feminina, restritiva, o yin do taoístas, a substância propriamente dita, inteligente, traz em si a Sofia, por isso é inteligente; tem similitude com o Filho da Tri-unidade.

A segunda é espírito, masculino, expansivo, o yang dos taoístas, não tem inteligência; por isso tem similitude com o Espírito Santo da Tri-unidade.

Essas duas substâncias estão presentes na Energia independentemente das qualidades - que lá também estão. Estas, em doses variadas de cada uma, dependendo de cada personalidade ou coisa. Tudo isso junto é o que se chama de tintura.

Seguindo o processo criativo, o Filho traz com Ele a Sabedoria Divina, agora banhada com Sua Luz, o que dá Força ou Poder para que haja o segundo Fiat, que J. Boehme chama de Fiat Celeste. O Espírito Santo age novamente para parir a Natureza. A sexta qualidade se faz presente para dar harmonia. Vejamos que em um primeiro momento de combate entre a adstringência e o amargor, apareceu a angústia para equilibrar, mas a tensão permaneceu, e por isso apareceu o fogo. Aqui não acontece apenas o equilíbrio, mas também a harmonia, que é consequência do Amor do Filho. Tudo está pronto para o surgimento da sétima qualidade, a tangibilidade, matéria prima da Natureza naturante.

Existem no momento apenas dois mundos, que Boehme chama de Internos (são eternos): o Céu e o Inferno. Mas para que o Ternário Eterno se manifeste aqui também, é necessário um terceiro mundo, que ele chamou de Exterior (pois é passageiro), composto do astral e do material. Portanto, não é um mundo de provação, sacrifícios ou penas, mas um mundo de reconciliação, nós (Adão) é que o transformamos em um mundo de penas ao nos afastarmos do Paraíso, nos aproximando das Trevas. O Big-Bang dos cientistas parece ser a Criação do mundo exterior.

A 1ª Propriedade é feminina, restritiva, matriz, mãe, portanto ela almeja a Unidade Eterna. A 2ª Propriedade é expansiva, masculina, impetuosa, portanto quer criar, quer movimento. Criar implica em sensibilidade e fogo - ou emoção e ação. Essa luta é equilibrada pela 3ª Propriedade, a angústia, mas como disse anteriormente, esse equilíbrio não implica numa tranqüilidade: a luta continuará na Criação, daí a angústia, que acaba por tomar proporções tão tensas que provoca o clarão.

Em princípio, a 5ª Propriedade é proveniente da Luz do Filho. Aqui tudo já se transformou em Espírito, satisfazendo a Vontade pelo Fogo (a 4ª Propriedade), e então o Poder e a Luz do Filho se manifestam trazendo dentro o Conhecimento ou Sabedoria (Sofia).

Boehme complica suas palavras para afastar "os suínos que chafurdam os jardins das delícias" e, segundo ele próprio, propositadamente. Temos que ser persistentes no estudo de suas obras.