TRINDADE EM JACOB BOEHME - PRIMEIRA
PARTE
Frater Zelator SI SII
Na medida em que tudo está dentro da Unidade Eterna, os atributos de todas as três Pessoas (Tri-Unidade Divina) estão aí misturados (é o caos). Quando, porém, surge na Mente a Vontade do Filho, o Pai, por ser andrógino, não necessita de ninguém para engendrar. Ele gera o Filho a partir de Si mesmo e para parir necessita do princípio móbil (de ação ou de expansão).
A Unidade Eterna se revela. Os textos chamam isso de manifestação. Após, em outra etapa, a Tri-Unidade Divina se diversifica. Poderia-se fazer uma analogia com a fotografia. Primeiro o filme está dentro da máquina ou no carretel com a imagem fotografada em potencial ("Unidade Eterna", ou "Ain Soph Aur", ou "Ungroud" bohemista, ou "Aquilo"), depois ele é revelado, ou seja, você já pode ver a imagem, porém pouco identifica nela (a Tri-Unidade Divina com as três Pessoas identificadas). E por fim o retrato, ou seja, o filme revelado no papel (a manifestação na Natureza naturante). A natureza naturada não é imagem, mas sim a realidade que foi fotografada.
Certa confusão se faz com relação ao sexo - ou fase - das Pessoas da Trindade. O Espírito Santo em Boehme é um princípio masculino, por ser o expansor, portanto só resta o princípio feminino para o Filho, algo que parece incoerente. O problema é que estamos falando de energias cujas fases, positiva e negativa, o são em relação ao que estamos observando. É isso que causa a confusão. Veremos mais tarde, por exemplo, que a Sofia pode ser considerada masculina quando conseguimos casar nossa alma feminina com ela.
A Mente (que na Unidade Eterna é um atributo do Todo, pois está misturada com os atributos das demais Pessoas ainda não reveladas - o caos) bombardeou o Pai, que se abriu em Filho e Espírito Santo. Portanto, este parto é realizado sem mãe. Aqui surge outro aspecto que parece incoerente: a Mãe, Sofia ou Sabedoria Divina, é um atributo do Filho, após a revelação, pois antes disso Ela é um atributo do Todo, ou seja, da Unidade Eterna.
O Verbo é o impulso inicial que é dado ao Espírito Santo para que aja. É a Vontade do Pai manipulada pelo Poder e pelo Amor, ou seja, a Vontade após ser banhada pelo Poder que vem do Amor ao Filho. Estamos falando ainda em revelação e não em manifestação.
Poder é a força proveniente do Amor, no caso, Amor ao Filho. Esse Poder é dado ao Espírito Santo para agir e é impulsionado pelo Verbo. Virtude é o Amor. Onde está a palavra Aspecto?
Após o processo de revelação, os atributos divinos que estavam como que misturados caoticamente na Unidade Eterna, se transformam em atributos das Pessoas da Tri-unidade Divina. Assim, a Mente passa a ser um atributo do Pai. Na mente acham-se a Imaginação, a Sabedoria (que não recebeu ainda a Luz do Filho), Percepção, Memória, Pensamento, Inteligência, etc. Isto não é mais o caos, mas é tenebroso, é a matéria prima do inferno, é o Pai furioso. É daí que brota a Vontade, provocada pelo Desejo, o que faz provocar as qualidades de Boehme: adstringente (feminina restritiva, mãe, matriz), amarga (masculina expansiva), angustia (equilibrante das duas anteriores) e o fogo (proveniente das tensões provocadas pelo processo equilibrante).
Esta é a fase em que "Deus morre", e foi uma das razões porque foi considerado herege. Nesse ponto ocorre o que O Príncipe dos Filósofos chama "o Fiat da Vida": o Filho é parido para jogar Luz (água, ou Amor, ou a quintessência) nessa fogueira. É uma interferência do Espírito Santo, que aparentemente está fora da hora: a Terceira Pessoa agindo antes da Segunda. Nesse mesmo momento é criado o Mundo Interior ("Mysterium Magnum", também uma obra de Boehme), onde ainda estão misturados o bem e o mal.
A criação
espiritual começa aqui, e então surgem os líderes das
personalidades, que agora têm autoconsciência e ficam livres
para escolher a quem aderir. Lúcifer aparece então liderando
a rebelião daqueles que não desejam receber a Luz do Filho,
ou seja, não acatam a Autoridade Divina. Preferem continuar na exaltação
nas quatro primeiras qualidades divinas, no ambiente colérico, na
esperança de que Lúcifer assuma a liderança do Universo.
Aparece então a discriminação no Mundo Interior, onde
são apresentadas duas opções: Paraíso (Céu
ou Segundo Princípio) ou Trevas (Inferno ou Primeiro Princípio)
às criaturas, caso elas queiram ou não se banhar nessa Luz
do Filho, ou seja, caso queiram obedecer ou não as Leis Divinas.