SOBRE O SILÊNCIO INTERIOR

Madame Guyon




"Mas Iahweh está em Seu santuário sagrado: Silêncio em sua presença, terra inteira!" (Hab 2,20). O
motivo pelo qual o silêncio interior se faz indispensável é a natureza essencial e eterna do Verbo; ele
necessariamente requer disposições na alma correspondentes, em certo grau, à Sua natureza, como uma
espécie de capacidade para a Sua própria recepção. A audição é um sentido formado para receber sons e
é mais passivo do que ativo; ela recebe, mas não comunica sensações; se quisermos ouvir devemos
prestar o ouvido para este fim. Cristo, o Verbo eterno, que deve ser comunicado a alma, a fim de
conceder-lhe vida nova, requer a mais intensa atenção à sua voz, assim que nos falar interiormente.
As Sagradas Escrituras freqüentemente nos alertam a ouvir e a estar atentos à voz de Deus; Aponto
algumas das numerosas exortações a este respeito: "Atende-me, povo meu, dá-me ouvidos, gente
minha! Porque de mim sairá uma lei, farei brilhar o meu direito como uma luz entre os povos." (Is.
51,4); novamente: "Ouvi-me, vós, da casa de Jacó, tudo o que resta da casa de Israel, vós, a quem
carreguei desde o seio materno, a quem levei desde o berço" (Is 46,3); também nos Salmos: "Ouve,
filha; vê, dá atenção; esquece o teu povo e a casa de teu pai. Então o rei cobiçará a tua formosura;
pois ele é o teu Senhor" (Sl. 45,10,11).


Devemos esquecer de nós mesmos e de todo interesse próprio para escutar e estar atento a Deus; estas
duas ações simples, ou melhor, disposições passivas, produzem o amor de extrema beleza, que Ele
mesmo comunica.


O silêncio exterior é bastante requisitado para o cultivo e melhoramento do interior; de fato, é impossível nos voltarmos verdadeiramente ao interior, sem amar o silêncio e o retiro. Deus disse pela
boca de seu profeta: "Portanto, eis que eu a atrairei, e a levarei para o deserto, e lhe falarei ao
coração"; sem dúvidas, o ser engajado a Deus internamente é incompatível com o ser exterior guiado
por milhares de insignificâncias.


Quando, por conta da fraqueza, nos encontramos descentrados, devemos voltar imediatamente para o
interior; esse processo deve ser repetido tão logo ocorra a distração. Não é de grande valia estar
recolhido e devotado por uma ou meia hora, se a unção e o espírito da oração não continua conosco
durante todo o dia.

 

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