Sobre a obra "Confissões"
Pelo Amado irmão Frater Zelator ( S:::I:::) (S:::I:::I:::)
Tal obra também ajuda a entender melhor muito do que é dito na "Aurora Nascente". Sua linguagem é menos alquímica e astrológica. Já na Introdução, de Evelyn Underhill, a mesma que escreveu a obra "Misticismo" (ver edições AMORC), começa falando da importância do autor tanto para a filosofia como um todo quanto para o misticismo religioso. Desde a infância BOEHME tinha experiências visionárias, e também aprendeu a ler e a escrever (Franz Hartman declara isso).
Em 1600 sua 1ª grande iluminação. De 1610 a 1612 vêm
a Aurora Nascente. Segundo Underhill esta é uma obra que mostra até
que ponto BOEHME assimilou as noções teosóficas de
sua época. Ela nos mostra que BOEHME esteve em contato com as grandes
obras literárias de sua época e que alguns homens o marcaram
mais profundamente, como Weigel. Em 1622 abandonou sua profissão
para se dedicar a escrever e expor suas idéias.
Marcas que considero importantes para discussão na Introdução
são: a influência de São Paulo em seus escritos; também
as influências de Lutero e as leituras da Bíblia; a de Paracelsus
(principalmente na obra "Três Princípios"; e dos
filósofos herméticos alemães do Renascimento).
A Introdução
contém um bom resumo das principais idéias de BOEHME.
No Cap. 1 fala-nos que nunca buscou conhecer o Mistério, mas que
essa é uma condição do leigo e de sua simplicidade.
Diz que se arriscou pela sua Busca e que teve uma visão completa
do Universo.
No Cap. 2 fala que o homem é feito de todos os poderes de Deus, de
todos os 7 espíritos Divinos, como os anjos. Mas que agora o homem
é corrupto. Quando chega ao que queria o homem descobre que não
é oque esperava nas suas buscas. Está perdido. Mas busca a
perfeição pelo Cristo pelo que Ele é.
No cap. 3 BOEHME menciona o céu como uma circunferência. Já
não é a 1ª obra em que ele menciona isso, e acho interessante
ele ter essa idéia em uma época geocentrista na Europa. Fala
que em tudo está o bem e o mal. Diz que "12 anos se passaram
antes que o exato entendimento de tudo aquilo fosse concedido a mim".
Ou seja, doze anos entre a iluminação 1ª e a Aurora...
Será que neste hiato de tempo BOEHME ficou apenas fazendo sapatos?
Provavelmente não.
Em um dos parágrafos diz que a Luz deu-lhe um dom, onde Deus opera
à vontade nele. Mas que Deus está em tudo, acima e abaixo,
assim como os "Três Princípios". Porém, que
o céu e este mundo são o antagonismo, como um homem e uma
pedra.
A morte é o forte firmamento, mas que faz um grande abismo entre
o céu e este mundo. Existe ainda o astral, onde o amor e a cólera
lutam entre si e que também reside nas 7 fontes espirituais deste
mundo (talvez onde permanecia Estevão, segundo BOEHME). Há
também o céu que é o coração de Deus.
Tudo isso ele escreve com uma linguagem terrestre a partir de uma compreensão
celeste. O demônio testa-o sempre com provas carnais para faze-lo
fugir da Luz.
Moisés também purificou, glorificou e iluminou o astral, como
São Paulo. Mas a cólera, 1° Princípio, está
oculta nas trevas, e se o homem a desperta nela irá queimar. Existe
fogo até em uma pedra, que é tida como exemplo, pois se não
é golpeada o fogo não se manifesta. Os grandes homens tinham
todos os planos puros e neles podiam atuar.
Assim, no cap. 4 entendo que podemos dividir o homem como atuante em 3 "impulsos"
ou mundos neste plano: físico, astral e espiritual ou anímico.
Talvez haja em BOEHME uma influência neoplatônica, pois constantemente
reporta-se a um mundo de idéias, ou de arquétipos, para explicar
seus escritos e a própria Criação.
BOEHME nos diz que o demônio só pode alcançar até
metade do astral, que é o mesmo que chega o ódio. Não
chega na parte onde atua o amor. Este é um céu que mantém
cativa a cólera e os demônios. Onde está o Espírito
Santo, advindo do coração de Deus. Neste céu estão
os santos anjos, e na outra metade os anjos caídos. O homem vive
entre o céu e o inferno neste céu, meio desperto. Esta é
uma parte complexa de seu escrito.
Fala dos corpos gloriosos ou angélicos, como o de Cristo, e que na
ressurreição nossos corpos não terão carne e
nem ossos, mas que não serão, entretanto, palpáveis.
No cap. 6 cita em um parágrafo algo que considero marcante em sua
obra: " ..., quando a alma viaja na carruagem do Espírito."
Ele refere-se à sua tentativa de tentar expressar tudo o que encontra
fora deste mundo e que traduz em suas obras. Tinha plena consciência
de sua missão entre nós, não só para a sua época,
quanto para o futuro que vinha.
Ele cita que o espírito caído tem várias formas de
nos tentar: poder, honras, prazeres mundanos, etc., mas que Deus nos dá
ferramentas para nos superarmos. Porém interessante quando diz que
"Deus tem em suas mãos cruzes, perseguições, miséria,
pobreza, ignomínia e o pesar.; ...". O que pensamos ser o mal
muitas vezes é o caminho. O fogo infernal também está
aqui, mas ele tem uma luz e essa luz tem uma virtude e a virtude leva ao
paraíso...
A nobre pérola deve ser buscada por todos: a sabedoria que BOEHME
viu em suas experiências. Deus a dá aqueles que buscam, mas
deve ser "...compartilhada com os que desejam ser curados...".
Mais uma vez, como na "Chave", BOEHME fala que Deus fez o homem
à Sua imagem e semelhança, mas com a essência das estrelas,
e não a partir de um punhado de terra. Acho que essa afirmação,
sempre presente em suas obras e a qual cita Moisés como corroborador,
é uma das suas mais atuais afirmações. Pois pode ser
estendida além do conhecimento espiritual para o científico.
Ele repete isso no cap. 10. Mas no cap. 13 diz que não devemos "ver
a Deus com os olhos da terra e das estrelas"; Deus está dentro
de nós e não fora. E que a isso só se chega com muita
luta.
No cap. 7 BOEHME diz que deve se unir ao Filho da Sabedoria, mas a Virgem
ou Sabedoria Divina prometeu nunca deixa-lo na miséria (espiritual).
Sempre as duas vias estão presentes em seus escritos. Como a Beatriz
de Dante Alighieri, BOEHME fala aqui que a Sabedoria pode conduzir-nos "Até
aquele que possui a chave da porta do profundo,... após nos encontrar
no alto e profundo de nossa mente". No cap. 9 ele vai dizer que se
refugia no seio de nossa Mãe.
No cap. 8 BOEHME fala que para chegarmos ao conhecimento de suas obras devemos
acompanha-lo com um trabalho mental, não com a pena. Entendo que
ler o que ele escreveu seja um trabalho idêntico ao dos experimentos
que praticamos muitas vezes em alguns lugares que frequentamos. É
uma constante meditação, procurando digerir o que BOEHME pensou
e escreveu, onde cada um vai chegar mais ou menos próximo do centrum
de acordo com o que cada um pode apreender. É um constante exercício
que expande o nosso ser e a nossa mente. No início do 4° parágrafo
BOEHME diz: "..., devemos ir de Jerusalém a Jericó;...".
Mais à frente BOEHME menciona que quanto mais avançamos no
caminho mais fraco será o demônio. E que estaremos cada vez
mais perto do Reino de Deus. Que devemos cuidar para não desistir
antes de recebermos a jóia. Interessante como algumas Iniciações
falam que recebemos jóias, muitas vezes relacionadas a conhecimentos
espirituais. Os orientais usam muito este termo. BOEHME também diz
"a pedra dos filósofos", ou "pedra preciosa".
Quanto à 1ª parte acho que é a mais pura verdade, mas
também acho que quanto mais nos aproximamos da Luz mais o outro lado
vai tentar nos derrubar e demover. Nossos pontos fracos serão postos
à vista de nós mesmos e de outros. Essa dualidade estará
sempre presente tentando manter a neutralidade.
No cap. 9 BOEHME mostra que "A meta é o coração
de Deus; ...". E que devemos distinguir o material do terrestre. Acho
que esta é uma concepção muito clara dos Martinistas
de um modo geral.
O cap. 10 afirma que os judeus e os turcos fazem também à
vontade do pai. Na "Aurora Nascente" são citados como hereges.
Não penso que ele fale no sentido de degradar, mas simbolicamente,
até pq era difícil encarar as perseguições que
sofria. Mas anos depois não tenta disfarçar isso.
Cap. 11 é uma exortação a Deus e nossa Mãe que
nos protege. E que somos o que nos fazemos ser, na Luz ou nas trevas.
No cap. 12 diz que o Cristo não se fez homem apenas pela Virgem;
mas que Deus se manifestou ali como uma centelha de sua luz. Deus quis ser
carne e sangue. Devemos estudar a encarnação do Cristo, e
isso é muito citado em suas outras obras.
Citações do Cap. 13 para meditação:
"Pelo
caminho da morte de Cristo o novo homem vê no mundo angélico..."
"A Sabedoria é sem número".
"Todos são chamados ..."
"Deus fez um pacto conosco em Cristo..."