O REPOUSO SABÁTICO DA TERRA
Por Saint Martin o Filos.: Desc.:
Compare com isto, a idéia que devemos ter do povo de Israel que é
a herança do Senhor. (Is XIX.25). Compare o povo sob este esplêndido
título, com a idéia que devemos formar do Homem, que deve
ser, preeminentemente, o herdeiro do Senhor quando este universo que nos
contém, chegar ao seu fim.
Finalmente, compare o alto Ministério, o qual nos empenhamos em retraçar
aos olhos do Homem, com o trabalho que os filhos de Israel tinham que cumprir
na terra da Judéia, para dar o sabat ou o descanso à terra,
e iremos descobrir que o homem, e o povo judeu, tinham o mesmo destino e
emprego, o mesmo título e qualificação. Se há
qualquer diferença é em favor ao homem. Israel não
foi senão um projeto ou epítome do Homem. O Homem é
Israel! Israel foi encarregada a dar repouso à terra prometida; O
Homem é encarregado a dar repouso à toda terra, para não
dizer, à todo o universo.
Mas, é essencial que compreendamos este repouso sabático,
e que saibamos melhor o que devemos compreender por Ministério Espiritual
do Homem.
É difícil para nós, evitar a convicção
de que, independentemente dos frutos terrestres, os quais a terra nos produz
de forma tão abundante, há outros frutos a serem produzidos,
além destes. A primeira indicação que temos, disto,
é a diferença que observamos entre os frutos selvagens os
quais a terra produz naturalmente, e aqueles que a fazemos gerar através
do cultivo; isto, manifesta claramente, que a terra só quer a ajuda
do homem para trazer à tona maravilhas ainda mais interessantes.
Uma segunda indicação, é que há algumas nações
pagãs que não tem prestado culto religioso à terra.
Por fim, a mitologia vem reforçar tal conjectura através da
fábula das maçãs douradas no jardim de Hesperides,
ao ensinar que os homens foram instruídos na arte da agricultura,
por uma Deusa, e que, segundo Hesíodo, a terra surge imediatamente
após o caos, casando-se com o Céu e sendo a mãe dos
Deuses e Gigantes, do Bem e do Mal, das Virtudes e dos Vícios.
Se, destas observações naturais e mitológicas, passarmos
a tradições de outra ordem, vemos que, após o assassinato
de Abel, foi dito a Caim (Gen.IV.11 e 12): "Agora, és maldito
e expulso do solo fértil que abriu a boca para receber de tua mão
o sangue de teu irmão. Ainda que cultives o solo, ele não
te dará mais seu produto: serás um errante fugitivo sobre
a terra".
Contudo, não vemos que a terra deva ser cultivada somente pelas mãos
dos justos, sob a pena da esterilidade. Nem que o sangue dos homens impede
a sua fecundidade. Os campos da Palestina foram saturados com o sangue dos
habitantes, a quem os filhos de Israel foram ordenados a exterminação
e a fertilidade daquelas planícies foi uma das promessas, e parte
da recompensa que os Judeus foram estimulados a reclamar, se obedecessem
as leis oferecidas a eles.
Também, não observamos, em nossas guerras, o campo no qual
sepultamos os mortos em grande escala, atingido pela esterilidade. Pelo
contrário, ele é notável pela fertilidade. Assim, enquanto
o sangue humano injustamente derramado, clama por vingança aos céus,
não temos conhecimento de que as leis terrestres da vegetação
no nosso globo sejam invertidas ou suspensas em conseqüência
de homicídio.
Portanto, quando é dito a Caim que mesmo que ele cultivasse a terra
ela não lhe daria seu fruto, temos toda a razão em crer que,
a terra cultivada de que se fala aqui, seja uma outra além do cultivo
original que foi mencionado; ora, que idéia podemos formar desta
outra terra cultivada, a não ser que ela era parte do verdadeiro
Ministério Espiritual do Homem? Um alto privilégio que lhe
fora dado, para fazer com que a terra aprecie seu sabat; privilégio
que contudo, é incompatível com o pecado e que deve ser suspenso
ou interrompido, naqueles que não trilham os caminhos da retidão.
Mas não podemos penetrar muito bem o significado da palavra sabatismo,
sem recorrer às noções comentadas anteriormente, tomando,
no mínimo, por certo, as sete formas ou poderes, estabelecidas pelo
nosso autor Alemão, como o fundamento ou bases da natureza.
Devemos, ao mesmo tempo, concordar com ele, que, como conseqüência
da grande revolução, estas sete formas ou poderes são
produzidas tanto na terra como em outras estrelas, de forma concentrada
ou interrompida; e que esta inconstância é o que mantém
a terra na privação ou sofrimento, já que somente através
do desenvolvimento destas formas ou poderes é que ela pode produzir
todas as propriedades das quais é depositária e as quais deseja
gerar; esta observação pode ser aplicada a toda Natureza.
Finalmente, precisamos imaginar, o homem anunciando uma tendência
universal de aperfeiçoar todas as coisas na terra, e como encarregado
por Iahweh Deus (Gen. II.15), a cultivar o paraíso da bem-aventurança
e de o guardar.
Ora, o que poderia ser esta cultura, senão algo para manter em atividade,
na exata medida e proporção, a operação destes
sete poderes ou formas, das quais o jardim do paraíso tinha tanta
necessidade como outros lugares da criação?
O Homem deve ser o depositário do poder de movimento destas sete
formas, para ser capaz de fazê-las agir, de acordo com os planos designados
para ele, e manter este local escolhido em repouso, ou desfrutar de seu
sabat, uma vez que não há nenhum repouso ou sabat para coisa
alguma, a não ser na medida em que este lugar possa livremente desenvolver
todas as suas faculdades.
Em nossos dias, embora o modo de existência dos homens esteja prodigiosamente
alterado, em conseqüência da grande revolução,
o objetivo da criação não se alterou quanto a isto,
e o Homem Espírito ainda é chamado à mesma obra, que
é, o de fazer a terra manter seus sabats.
A diferença consiste em que, agora, ele só pode desempenhar
sua tarefa de forma difícil e dolorosa, e, acima de tudo, só
pode realizá-la através daquele mesmo instrumento ativo formalmente
apontado para dar movimento aos sete poderes fundamentais da Natureza.
Enquanto o Homem não cumprir esta sublime função, a
terra sofrerá, pois não desfrutará de seus sabats.
A terra sofre ainda mais quando o homem reage criminalmente sobre ela, ao
tentar extrair-lhe, poderes vergonhosos ou corruptos, contrários
aos planos recebidos pelo homem. No primeiro caso, a terra tolera o homem,
apesar de sua negligência; no segundo caso, ela o expulsa, como aconteceu
com os filhos de Israel.