A TERRA, UMA PRISÃO PARA O HOMEM
Por Saint Martin o Filos.: Desc.:


Partindo do princípio de que o Homem é um ser degenerado, vestido com os trajes da vergonha, podemos, sem nenhuma incoerência, considerar a Terra como nossa prisão ou nossa masmorra; sem falar das abundantes e contínuas misérias de todos os mortais; onde está o Homem, que mergulhando no mais íntimo e secreto de seu ser, não suportará testemunhar a veracidade desta dolorosa conclusão?
Mas se a Terra é uma prisão para o homem, é difícil imaginá-la tão pouco notada entre as estrelas; ora, até mesmo em nossa justiça humana, oferecemos em nossas prisões não mais que pequenos espaços e simples acomodações aos condenados.


A Terra, representada pelo nosso autor alemão como o excremento da Natureza, e que de acordo com o princípio da degradação do Homem, é somente uma prisão, não tem motivo para ser o centro dos movimentos astrais, como os antigos e Tycho-Brahe acreditavam: um amontoado de estrume ou uma prisão, normalmente não é o centro ou o lugar principal de um país.
Vemos ainda, é verdade, que os governos alimen

tam seus prisioneiros, mas não com o mais fino pão e a mais tenra carne; da mesma forma, vemos que a terra tem vegetação, é frutífera e produtiva, porque, apesar de nossa qualidade de prisioneiros, a Justiça Suprema ainda deseja nos prover de nosso alimento. Contudo, observamos, ao mesmo tempo que, assim como seus prisioneiros, a Justiça Suprema permite que a Terra produza, naturalmente, nada além de frutos imperfeitos, e nos alimente com o pão da aflição, um pão selvagem, e, somente através da doçura de nossas frontes poderemos melhorar um pouco nosso modo de vida; como, na justiça humana, o prisioneiro está sujeito a mais comum dieta, e não lhe é permitido nada além de sua ração, além daquilo que está pagando.
Se, na nossa justiça humana, os prisioneiros estão sujeitos a tão miserável existência, por outro lado vemos os socorros de benevolência e caridade penetrar este confinamento; e por mais repulsiva que seja a masmorra destes prisioneiros, vemos consolos sagrados e religiosos serem trazidos a eles diariamente.
Em resumo, o olho da compaixão, mesmo da mais alta autoridade, às vezes visita este antro do crime, por mais vil que sejam as condições dos condenados. Como não deve ser então quando o prisioneiro é intimamente relacionado com o Soberano?


Tudo isto é sinal seguro de que, se por um lado, estamos sujeitos a severidade de uma rigorosa masmorra, por outro lado, ela é temperada pelo amor e pela doçura; como, de fato, é exemplificado fisicamente pelo lugar que a Terra ocupa, que, como todos sabem, é entre Marte e Vênus.


Os Auxílios dados ao Homem em sua prisão
Se, o Homem Espírito abrisse seus olhos, rapidamente reconheceria em si os inumeráveis auxílios que a benevolência da Autoridade Divina Suprema envia a ele, mesmo em seu lugar de confinamento. Veria que se, em conseqüência de sua pequenez, foi errado tomar a Terra como centro dos movimentos celestes, este foi um engano desculpável, ele próprio deve ser o centro dos movimentos Divinos na Natureza; todos estes erros tem origem no sentimento secreto de sua própria grandiosidade, que levou o homem a desprover sua prisão dos privilégios que deveria atribuir à sua pessoa e das quais não lhe restou nada além de dolorosas lembranças em sua memória, ao invés dos gloriosos traços que tais privilégios devem oferecer.
Acredito que, se o Homem Espírito seguisse atentamente e com constância a linha de orientação que lhe é oferecida em seu labirinto, conseguiria, certamente, resolver todos os problemas restantes da prisão onde está confinado.


As aberturas a que o homem poderia chegar com isto, lhe fariam sentir que, se ele não está na primeira posição entre os seres do universo, com relação à glória, ele tem sido recolocado nesta posição com relação ao amor, e como sua prisão experimentou, necessariamente, algo deste alívio, deve apresentar sinais convincentes do destino a que é chamada. Este destino nada mais é do que ser o templo de purificação, no qual o Homem pode não só se reafirmar através da abundante assistência que lhe é oferecida, mas onde ele pode também receber e manifestar todos os tesouros da Sabedoria Suprema que o formou e que não desdenha nada para derramar sobre ele Seu próprio Amor e Luz, tão grande é Seu desejo de preservar Sua imagem no Homem.

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