AS
HIPÓTESES DE BUFFON E LAPLACE
Por Saint Martin o Filos.: Desc.:
Eu falo de Buffon, que segundo grandes sábios, é o primeiro, desde a descoberta do verdadeiro sistema dos movimentos celestes, que procurou chegar à origem dos planetas e de seus satélites. Ele supõe que algum cometa, ao lançar-se sobre o sol, arremessou de seu interior um fluxo de matéria, que se unindo à distância formaram globos, segundo Buffon, são os planetas e satélites que sob resfriamento, tornaram-se opacos e sólidos.
O erudito Laplace não admite tal hipótese, porque satisfaz
somente o primeiro dos cinco fenômenos numerados por ele (Pag. 298).
Laplace tenta, por sua vez (Pag. 301), levantar a verdadeira causa; embora,
de forma modesta e com sábia hesitação, ele nos oferece
algo que não é o resultado da observação e dos
cálculos.
Sua idéia da "causa verdadeira" se baseia no fato de que
se os planetas receberam seus movimentos circulares, todos na mesma direção,
ao redor do Sol, um imenso fluído deve ter circundado aquele Orbe,
assim como uma atmosfera; ele supõe que, no princípio, esta
atmosfera solar tenha se estendido além das órbitas de todos
os planetas, e gradualmente se contraído ao seu atual limite.
Laplace acredita que a grande excentricidade das órbitas dos cometas
conduz ao mesmo resultado, e evidentemente indica o desaparecimento de um
grande número de órbitas menos excêntricas; isto sugere
uma atmosfera ao redor do sol, estendendo-se além do periélio
de todos os cometas conhecidos, que destroe os movimentos daqueles que a
atravessam durante sua grande extensão, reunindo-se ao sol.
Então, diz ele, fica claro que somente aqueles cometas que estavam
além daquela atmosfera, durante aquele período, pode existir
atualmente; que, como podemos observar, somente aqueles cujo periélio
se assemelham ao sol devem possuir uma órbita bastante excêntrica;
mas que, ao mesmo tempo, suas inclinações devem ser tão
desiguais como se estes corpos tivessem sido arremessados de qualquer forma,
já que a atmosfera solar não influenciou seus movimentos;
desta forma, a grande duração da revolução dos
cometas, a grande excentricidade de suas órbitas, e a variedade de
suas inclinações, são naturalmente explicadas por meio
desta atmosfera.
Contudo, Laplace pergunta, como esta atmosfera determina os movimentos de
revolução e rotação, dos planetas? Ele mesmo
responde: se estes corpos tivessem penetrado neste fluído, suas resistências
os teriam lançados sobre o sol; podemos conjeturar que eles foram
formados em limites sucessivos desta atmosfera, pela condensação
de suas zonas, as quais tiveram que abandonar, no plano de seu equador,
no processo de resfriamento e condensação, podemos conjeturar
ainda, que os satélites tenham sido formados da mesma maneira, pelas
atmosferas planetárias e finalmente, que os cinco fenômenos
dos quais falou, seguiram naturalmente estas hipóteses, sendo que
os anéis de Saturno contribuem com adicional probabilidade.
Vamos examinar estas duas hipóteses:
A de Buffon, além dos defeitos apontados pelo erudito Laplace, oferece
uma dificuldade ainda maior, ou seja como saberemos de onde surgiu aquele
cometa, que se supõe ter se chocado contra o sol, e separado a matéria
dos planetas, visto que os planetas e cometas pareciam ter tido, originalmente,
uma grande afinidade em seus movimentos.
De fato, se estas duas ordens de corpos celestes diferem quanto a excentricidade,
direção e inclinação, elas se assemelham umas
às outras ao estarem sujeitas às mesmas leis de gravidade
e atração, de proporção como a velocidade e
distância, e na igualdade de áreas percorridas no mesmo espaço
de tempo; estas semelhanças permitem que se calcule, através
do mesmo método, o curso dos planetas, dos cometas e aplicar a eles
as magníficas descobertas de Kepler e Newton.
Quanto a Laplace, se ele perceber que seus cinco fenômenos resultam
naturalmente de sua hipótese, irá perceber também,
que apesar de tudo, ela ainda deixa muito a desejar.
Na verdade, é difícil conceber como a atmosfera solar permitiu
a formação dos planetas e cometas apenas através da
sua própria contração em seus atuais limites, assim
como é difícil compreender como ela se retraiu, uma vez que
originalmente se estendia além do periélio de todos os cometas
conhecidos, e ainda segundo Laplace, como a grande excentricidade de suas
órbitas levam aos mesmos resultados; não se pode conceber,
penso eu, como a atmosfera solar que, de acordo com esta hipótese,
se estendia além do periélio de todos os cometas conhecidos,
tenha sido atravessada, por toda sua grande extensão, por um grande
número de orbes menos excêntricos, sendo estes reunidos ao
sol após perderem seus movimentos, já que a existência
e formação destes orbes e cometas menos excêntricos,
no centro desta atmosfera, poderia contradizer todo o seu sistema.
Não se pode conceber porque os cometas puderam penetrar nesta atmosfera
solar; quanto aos planetas, considerando a sua pequena excentricidade, não
deveriam ter penetrado ali sem serem igualmente destruídos; e sua
circulação mesmo que exclusiva ao redor de seu eixo os teriam
precipitados na massa solar, uma vez que ambos, segundo Laplace, devem suas
origens à mesma causa; disto resultaria que, depois de se passar
muito tempo, não deveríamos ter mais planetas, visto que foi
dito , que esta imensa extensão fluida deve ter envolvido todos os
corpos, planetas e satélites.
Finalmente, não se pode conceber, que os planetas devam sua formação
somente à retração ou encolhimento da atmosfera solar,
e nem que se possa atribuir a formação dos satélites
à retração ou encolhimento daquele seus dirigentes
planetários, uma vez que estes satélites que se supõe
serem exatamente da mesma natureza de seus dirigentes, devam atribuir sua
origem à uma causa simultânea; além disso a atmosfera
solar, ao se encolher ou retrair, não deve deixar atmosfera alguma
atrás de si.