A HIPÓTESE DE BOEHME
Por Saint Martin o Filos.: Desc.:
Primeira parte
Boehme estava convencido, assim como o sábio Laplace (Pag. 261), de que todas as coisas estão conectadas na imensa corrente das verdades: portanto, ao desenvolver seu sistema, Boehme se utilizou de todos os fundamentos e dados que envolve todas as coisas; isto porque, se em pensamento, separássemos uma porção do sistema universal, para torná-lo um sistema à parte, nunca conseguiríamos dividir os princípios que conectam este sistema parcial com o princípio geral.
Boehme acreditava que o princípio, ou como ele chamava, a Natureza
Eterna, de onde esta atual Natureza desordenada e transitória se
derivou pela violência, repousava sobre sete fundamentos principais,
ou sete bases, os quais, algumas vezes chama de poderes, outras vezes de
formas e até mesmo de rodas espirituais, fontes e origens, pois ele
escreveu num tempo em que nenhum destes termos havia sido usado, como são
os termos "formas plásticas" e "qualidades" dos
antigos filósofos em nossos dias; além disso, estas expressões,
provavelmente, não foram melhor compreendidas do que aquelas usadas
pelo nosso autor. Ele acreditava que estas sete bases ou formas também
existiam nesta atual Natureza desordenada que habitamos, mas somente sob
controle, e neutralizadas por poderosas redes das quais tentam se livrar
a todo custo, afim de vivificar as substâncias elementares mortas,
e produzir tudo o que há de perceptível no universo.
Boehme procurou dar nomes a estas sete qualidades fundamentais ou formas,
em nossas linguagens, que segundo ele são degradadas, assim como
o próprio homem e o universo.
Eu poderia prontamente abster-me de fornecer esta nomenclatura, tendo em
conta a dificuldade de sua aceitação por parte do leitor;
mas como sem ela, seria ainda mais difícil compreender a formação
original dos planetas, de acordo com o sistema do autor, devo utilizar sua
própria linguagem.
O primeiro destes poderes é chamado de adstringência, ou poder
coercivo, já que compreende e inclui todas as outras. Assim, tudo
o que é duro na natureza, ossos, caroços das frutas, pedras,
lhe pareciam pertencer principalmente a esta primeira forma ou adstringência.
Boehme estende esta nomenclatura ao desejo que, em todas as criaturas, é
a base e o princípio de tudo o que elas fazem, e, através
de sua natureza, atraem e abarcam tudo o que deveria pertencer à
sua ação, tudo de acordo com sua espécie.
A segunda é denominada de amargor ou amargura que lutando, com sua
atividade penetrante, para dividir a adstringência, abre o caminho
da vida, sem a qual toda a Natureza permaneceria morta.
A terceira forma é denominada de angústia, pois a vida é
compressada pela violência das duas forças precedentes; contudo,
neste conflito, a adstringência é atenuada, se torna branda
e se transforma em água para dar passagem ao fogo, até então
preso na adstringência.
A quarta forma é chamada de fogo, pois do conflito e fermentação
das três primeiras, este surge através da água como
um relâmpago, que Boehme denomina de luz ígnea, ardor, o que
eqüivale ao que se passa diante de nossos olhos quando o fogo lança-se
em relâmpagos através da água das nuvens negras.
A quinta forma tem o nome de luz, pois a luz surge após o fogo, como
vemos nas lareiras, fogos de artifício e outros fenômenos físicos.
A sexta forma é chamada de som, pois o som, de fato, surge após
a luz, como verificamos no disparo de uma arma ou assim como só falamos
após termos pensado.
Finalmente, à sétima forma Boehme dá o nome de ser,
substância ou a coisa propriamente dita, pois como ele supõe,
é só então que a profundeza da existência é
revelada; de fato, as obras que geramos através de nossas palavras
devem ser consideradas como complementos de todas as forças que as
precederam.
Boehme aplica estas sete formas, no curso de suas obras, à própria
Força Suprema, à natureza pensante do homem, ao que chama
de Natureza primordial eterna, à Natureza atual na qual vivemos,
aos animais, plantas, e a todas as coisas criadas a cada uma na proporção
e combinação adequada a sua existência e emprego na
ordem das coisas: Eu digo ainda, que não devemos nos surpreender
ao ver Boehme aplicar estas formas aos planetas e a todos os corpos celestes,
que incluem em si estas sete bases fundamentais, da mesma forma que a mais
insignificante produção no universo.
Quando Boehme aplicou suas formas à natureza dos planetas, as aplicou
também aos seus números, compartilhando neste ponto da opinião
que dominou o mundo, de forma universal, e que só caiu por terra
a partir de recentes descobertas, ou seja, aproximadamente dois séculos
após sua morte.
Mas a aplicação de sua doutrina ao suposto número de
sete planetas foi algo secundário em seu sistema, e, se a existência
das sete forças ou sete formas fosse real, seu sistema ainda permaneceria
inabalável, apesar de que o número de planetas conhecidos
tenha aumentado desde que ele escreveu ou pudesse aumentar ainda mais daqui
para frente.
De fato, quando se acreditava na existência de sete planetas, nada
mais natural que este autor pensasse que cada um, embora incluindo neles
todas as forças ou sete formas em questão, pudessem, não
obstante, expressar mais particularmente uma destas sete formas e assim
derivar os diferentes caracteres que os distinguem, o que nada mais é
do que a diversidade de cores existente entre eles.
Muito embora a classificação dos planetas atualmente exceda
o número de sete, a predominância de uma ou outra das sete
formas da Natureza não cessaria de ter efeito em cada um; somente
alguns deles poderiam ser constituídos de tal forma que nos apresentassem
a marca e a predominância de uma e sempre a mesma forma ou propriedade.
O número de funções não varia; somente o número
de funcionários poderia crescer, de tal forma que nos ajudaria a
distinguir a qualidade daqueles empregados na mesma função:
é improvável que todos fossem iguais, pois a Natureza não
nos oferece nada igual. Agora iremos prosseguir com a hipótese em
questão.
A hipótese de Boehme continua
A geração ou formação original dos planetas
e de todas as estrelas, segundo Boehme, não foi outra senão
o engendramento a partir da eternidade, de acordo com as surpreendentes
proporções harmônicas da Sabedoria Divina.
Na ocasião da grande revolução, em uma das regiões
da Natureza primitiva, a luz saiu desta região e envolveu o espaço
da Natureza presente, que se tornou como um corpo morto, sem nenhum movimento.
Então, a Sabedoria Eterna, que Boehme chama, algumas vezes de SOPHIA,
Luz, Brandura, Êxtase e Deleite, provocou uma nova condição
que teve origem no centro, no coração do universo ou mundos
(monde, ver nota 1), para evitar e impedir sua total destruição.
Este espaço, ou centro, segundo o autor, é onde nosso sol
começa a arder. Fora deste espaço ou centro, todos os tipos
de qualidades, formas ou poderes que preenchem e constituem o universo,
são engendrados e produzidos, todos em conformidade com as leis da
geração divina; Boehme admite, em todos os seres e eternamente
na Sabedoria Suprema, um centro onde ocorre, uma produção
ou subdivisão setenária. Este centro é chamado de Separador.
Nota 1- Monde e Universo parecem ser usados como sinônimos pelo autor,
e são geralmente aplicados ao nosso sistema solar, exclusivamente
do sideral étoiles.
Boehme considera o sol o foco e órgão vivificante de todos
os poderes da Natureza, assim como o coração é o foco
e órgão vivificante de todos os poderes nos animais. Para
ele, o sol é a única luz natural deste mundo e supõe
que além deste sol, não há nenhuma outra luz verdadeira
na casa da morte; e embora as estrelas também tenham sido depositárias
de algumas das propriedades da mais elevada e primitiva Natureza, e embora
elas brilhem diante de nossos olhos elas estão limitadas pelo ávido
fogo da Natureza, que é a quarta forma; o desejo das estrelas está
todo voltado para o sol de onde retiram toda as suas luzes. Boehme não
conhecia, naquela época, a opinião mais tarde aceita de que
as estrelas são vários sóis; contudo, como tal opinião
não pode ser provada através de cálculos exatos, deixa
o caminho livre para outras opiniões.
Para explicar esta restauração do universo, que ainda é
temporária e incompleta, o autor supõe que, na ocasião
da grande revolução, uma barreira tenha sido situada pelo
Poder Supremo entre a luz da Natureza eterna e a conflagração
de nosso mundo; foi então por esta razão que este mundo tornou-se
um mero vale de trevas; não havia nenhuma luz que pudesse brilhar
naquilo que estivesse encerrado neste cerco; todos os poderes e formas estavam
ali aprisionados, como na morte; através da grande angústia
que eles experimentaram, se aqueceram, especialmente no centro deste grande
cerco, que é o espaço do nosso sol.
Boehme supõe que quando a fermentação desta angústia
atingiu o seu auge, pela força do calor, aquela luz da Sabedoria
Eterna, a qual chama de Amor ou SOPHIA, rompeu o cerco da separação
e veio equilibrar o calor; porque num instante, uma luz brilhante surgiu
naquilo que o autor chama de untuosidade da água ou poder e iluminou
o coração desta água, o que a tornou temperada e saudável.
Boehme acredita que, desta forma, o calor tenha sido aprisionado, e que
seu foco, que é o espaço do sol, tenha transformado numa brandura
adequada, aquilo que era uma terrível angústia; de fato, o
calor sendo iluminado com a luz, guardou sua terrível fonte de fogo
e não mais foi capaz de se inflamar; o romper da luz através
da barreira da separação não se estendeu além
deste ponto e, por este motivo, o sol não se tornou maior, embora,
após esta primeira operação, a luz possa ter tido outras
funções a desempenhar, como veremos mais adiante.
A TERRA - Quando, no momento da grande revolu&cccedil;ão, a luz
foi extinguida no espaço deste mundo, a qualidade adstringente foi
a mais ávida e austera em sua ação, restringindo enormemente
a atuação dos outros poderes ou formas. Assim, tiveram origem
a terra e as pedras, que contudo, ainda não agiam em uma massa, mas
estavam dispersas nesta imensa profundidade e pela poderosa e secreta presença
da luz, esta massa logo foi conglomerada e coletada de todo o espaço.
A terra é a condensação dos sete poderes ou formas;
mas o autor a considera apenas como o excremento de tudo o que foi feito
substancial no espaço, na ocasião da condensação
universal, o que não evitou que houvesse outros tipos de condenação
em outras partes do espaço.
O ponto central, ou coração desta massa conglomerada, pertencia
originalmente ao centro solar, mas não por muito tempo.
A terra se tornou um centro de si mesma. Ela gira ao redor de si a cada
vinte e quatro horas e ao redor do sol, uma vez ao ano, de onde retira revigoração
e busca a virtualidade. É o fogo do sol que a faz girar. Quando a
terra recuperar sua plenitude, ao final de seu curso, ela pertencerá
novamente ao centro solar.
MARTE - Mas se a luz dominou o fogo no espaço do sol, o impacto e
a oposição da luz ocasionou, no mesmo espaço, uma erupção
ígnea terrível, que lançou do sol, um lampejo violento
e assustador contendo em si a fúria do fogo. Quando o poder da luz
passou da Fonte Eterna da água superior, através do cerco
da separação, no espaço do sol, e iluminou a água
inferior, então o lampejo saiu da água com tremenda violência;
assim, o inferior se tornou corrosivo.
Porém, este lampejo de fogo não pôde avançar
além da luz, que o perseguiu e o alcançou. A uma certa distância
a luz aprisionou este lampejo de fogo, que parou e tomou posse daquele lugar.
É este lampejo ígneo que forma o que chamamos de planeta Marte.
Sua qualidade particular nada mais é do que a explosão de
um fogo amargo e venenoso lançado do sol.
O que impediu a luz de o apanhar rapidamente, foi sua intensa fúria,
além de sua rapidez; ele não se tornou cativo da luz até
que ela o tivesse impregnado e subjugado completamente.
Agora ele está lá, como um tirano, que luta e fica furioso
ao se ver incapaz de penetrar no espaço; é um espinho presente
em toda a circunscrição deste mundo; pois, de fato, o seu
trabalho é agitar todas as coisas, através de sua revolução
na roda da natureza; é dele que todas as coisas recebem uma reação.
É a bílis da Natureza, um estimulante, que ajuda a iluminar
o sol, assim como a bílis no corpo humano estimula e ilumina o coração.
Assim, origina-se o calor, tanto no sol como no coração; da
mesma forma, a vida tem sua origem em todas as coisas.
JÚPITER - Quando aquele ávido lampejo de fogo foi aprisionado
pela luz, esta, pelo seu próprio poder, penetrou ainda mais no espaço,
e alcançou a parte fria e rígida da Natureza. Então,
a virtualidade desta luz não pode se estender mais e tomou aquele
espaço como domicílio.
Aqui, o poder oriundo da luz, era muito maior do que aquele do lampejo de
fogo e por esta razão, ela se elevou muito além daquele relâmpago
ígneo e penetrou a fundo na rigidez da Natureza. Aqui a luz se tornou
fraca; seu coração se tornou, por assim dizer, congelado pela
ávida, dura e fria rigidez da Natureza.
Neste lugar a luz parou e se tornou corpórea; A luz vital do sol
não vai além deste ponto; mas o brilho ou luminosidade, que
também possui sua virtualidade, chega até as estrelas, e penetra
o corpo universal.
O planeta Júpiter e a substância do espaço de sua existência
surgiram do poder da luz congelada ou corporificada, que inflama continuamente
aquele espaço através de seu poder.
Júpiter ainda esta lá, como um servente, um criado, cujo ofício
é sempre o de esperar na casa que não lhe pertence. Nenhum
planeta possui sua própria casa além do sol.
Júpiter é o instinto e a sensibilidade da Natureza. É
uma essência graciosa e amável; a fonte de doçura em
tudo o que tem vida; é o moderador do furioso e destrutivo Marte.
SATURNO - Embora Saturno tenha sido criado ao mesmo tempo que a roda universal
desta presente Natureza, ele não pode amenizar ou moderar a árida
rigidez do espaço, especialmente acima de Júpiter, esta circunferência
permaneceu numa terrível angústia e nenhum calor pode despertar
ali, devido ao frio e a adstringência que a dominava.
Contudo, como o poder de movimento havia se estendido até a raiz
de todas as formas da Natureza, através da erupção
e introdução do poder da luz, isto impediu que a natureza
parasse; ela suportou as dores do trabalho, e a região rígida
e árida acima de Júpiter, engendrou do espírito árido,
adstringente e frio, um filho austero, o planeta Saturno.
O espírito do calor de onde surge a luz, o amor e a brandura, não
pôde ser inflamado naquele lugar, e nada foi engendrado além
da rigidez, da aridez e da fúria. Saturno é o oposto da brandura.
Cabe observar que os anéis de Saturno, separados do corpo do planeta,
e apresentando algo como fissuras e fraturas em suas camadas, parecem sustentar
a referida explicação sobre sua origem na aridez e rigidez.
O frio isola poderes generativos, ao invés de harmonizá-los.
Ele só trabalha sobre pressão, de tempo em tempo e a trancos;
e nos corpos é capaz de engendrar fraturas e rupturas; seus poderes
produtivos são conseqüência do estado de divisão
e violência.
Saturno não está preso ao seu lugar como está o Sol;
ele não é uma circunscrição estranha, corporificada
na imensidão do espaço; é um filho engendrado da rígida
angústia, da fúria e do frio; é a câmara da morte.
Saturno é contudo, um membro da família, no espaço
de sua rotação, que não tem nada dele próprio,
exceto sua propriedade corporal, como uma criança recém nascida.
O trabalho de Saturno é o de secar e contrair os poderes da Natureza,
além de trazer todas as coisas para a corporeidade; seu poder é
adstringente e engendra especialmente os ossos nas criaturas.
Assim como o Sol é o centro da vida e uma origem daqueles que são
chamados de espíritos, no corpo deste universo; é Saturno
que dá início a toda corporeidade. Nestas duas orbes, residem
o poder de todo o corpo universal. Sem estes poderes, não haveria
criatura e tampouco configuração no corpo universal natural.
URANO - não era conhecido na épooca do autor, ele está
mergulhado ainda mais profundamente no espaço da rigidez e do frio
e pode, de acordo com a doutrina que acabamos de ler, ter tido a mesma origem
de Saturno. Da mesma forma que os dois planetas novos, Ceres e Pallas, entre
Marte e Júpiter, podem derivar, mais ou menos, das causas originais
de seus dois vizinhos, ou seja, da luz e do fogo.
VÊNUS - O moderado planeta Vênus, o poder de movimento mobile
do amor na Natureza, tem origem na emanação do Sol.
Quando as duas fontes de vida e movimento surgiram na posição
do Sol, através da iluminação da untuosidade da água,
então a brandura, através do poder da luz, penetrou na câmara
da morte, por intermédio de uma impregnação benévola
e suave, caindo como uma nascente de água e numa direção
oposta à fúria do relâmpago.
Nesta ocasião surgiu a bondade e o amor nas fontes da vida, pois
quando a luz do Sol impregnou todo o corpo do Sol, o poder da vida, que
surgiu da primeira impregnação, aumentou por si mesmo, assim
como quando queimamos a madeira ou extraímos o fogo de uma pedra.
Em primeiro lugar vemos a luz, e da luz o fogo explode; após a explosão
do fogo, vem o poder do corpo que queima; com este poder, a luz surge imediatamente
acima da explosão, e predomina muito mais acima e mais poderosamente
do que a explosão do fogo; é assim que se deve compreender
a existência do Sol e dos planetas Marte e Júpiter.
Contudo, como a posição do Sol, ou seja, o Sol, assim como
todas as outras posições, possuíam em si todas as outras
qualidades, diante da similitude da Harmonia Eterna, ocorreu que, no instante
em que a posição do Sol foi iluminada, todas as qualidades
começaram a agir e a se expandir em todas as direções.
Elas se desenvolveram de acordo com a lei eterna que não tem início.
A Luz-Poder provocou, na posição do Sol, o desencadeamento
dos poderes amargo e adstringente ou as qualidades flexível e expansiva
como a água, que possuíam um caráter oposto àquele
que surgiu na fúria do fogo. Deste processo surgiu o planeta Vênus
que, na casa da morte, apresenta a brandura, ilumina a untuosidade da água,
penetra gentilmente a rigidez e inflama o amor.
Em Vênus, a ordem radical ou calor amargo, tão fundamental
neste planeta, como em todos as coisas, deseja Marte, e a sensibilidade
deseja Júpiter; o poder de Vênus torna a fúria de Marte
dócil e mais suave; e torna Júpiter moderado e modesto; se
assim não fosse, o poder de Júpiter atravessaria a ávida
câmara de Saturno, como faz através do crânio dos homens
e animais, e a sensibilidade se tornaria audaciosa, contrária a lei
da generação eterna.
Vênus é a filha do Sol; ela possui grande ardor pela luz e
está fecundada por ela; é por isso que Vênus brilha
de forma tão luminosa comparada com os outros planetas.
MERCÚRIO - Na ordem superior das leis harmônicas das sete formas
eternas, Mercúrio é o que Boehme chama de som. Este som, ou
Mercúrio, está segundo ele, em todas as criaturas da terra;
sem ele nada seria sonoro ou faria qualquer barulho. Mercúrio é
o separador; ele desperta os germes em todas as coisas; é o operário
chefe no círculo planetário.
Boehme atribui a origem de Mercúrio na ordem planetária, ao
triunfo alcançado pela Luz-Poder sobre a adstringência pois
é esta adstringência que continha o som, ou Mercúrio,
aprisionado em todas as formas e poderes da Natureza, o liberou através
de sua própria atenuação.
Este Mercúrio, que é o separador em tudo o que tem vida, o
principal operário na roda planetária e de certo modo a palavra
da Natureza, não poderia, na conflagração, situar-se
longe do Sol, que é o foco, centro e coração desta
Natureza, pois ao nascer do fogo, suas propriedades fundamentais o dispuseram
de forma oposta mas perto do Sol de onde exerce seus poderes sobre todas
as coisas que existem no mundo.
Mercúrio transmite seus poderes a Saturno e Saturno dá início
à corporificação destes poderes.
O autor supõe que Mercúrio está impregnado e é
continuamente alimentado pela substância solar; é aqui que
se encontra o conhecimento sobre o que havia na ordem acima, antes da Luz-Poder
ter penetrado na clausura, dentro do centro solar e dentro do espaço
do universo que pode ser a causa secreta de tantas pesquisas curiosas sobre
o mercúrio mineral.
Boehme supõe, contudo, que Mercúrio, ou o som, estimula e
abre, especialmente nas mulheres, o que, em todas as criaturas ele chama
de tintura, e que esta é a razão pela qual elas são
tão propensas a falar.
LUA - Este é o único satélite comentado pelo autor.
Ele diz que, quando a luz produziu o poder no espaço do Sol material,
a Lua apareceu, assim como havia acontecido com a Terra; ele diz que a Lua
é um extrato de todos os planetas; a Terra a intimida, por causa
de seu terrível estado de excremento, desde a grande revolução;
ainda segundo o autor, a Lua, em sua revolução extrai ou recebe
o que pode dos poderes de todos os planetas e estrelas; ela é como
uma esposa do Sol, e aquilo que é sutil e espirituoso no Sol, torna-se
corpóreo na Lua, pois a Lua auxilia na corporificação.
O autor não menciona os cometas. Em "O Espírito das Coisas",
eu os comparei a ajudantes de campo, que se comunicam com todas as partes
de um exército, ou de um campo de batalha. Isto fará com que
a rota dos cometas, em todas as direções, tão diferente
da rota dos planetas, não pareça tão extraordinária.
Contudo, o sistema em questão, se verdadeiro, poderia nos ajudar
a descobrir a origem e o destino destes cometas: o autor nos dá a
entender que o Poder da Luz atuou em grande parte na formação
de nosso sistema planetário, assim como o Poder do Fogo atuou na
formação das estrelas, que considera estarem na ávida
ebulição do fogo.
Como a harmonia só pode existir na união dos poderes da luz
e do fogo, os cometas podem ter sido originalmente compostos de ambos, mas
em diferentes níveis, é o que se presume da grande variedade
de suas cores e aparências. A partir desta idéia, pode-se imaginar
que as funções destes cometas seria o de servir de órgãos
de correspondência entre a região solar e a região das
estrelas; tal conjectura pode se sustentar ao se observar que, em seu periélio,
eles se assemelham ao Sol; pode-se imaginar ainda, que dada a prodigiosa
excentricidade de suas elipses, eles possam transmitir as influências
solares às regiões siderais, e trazer ao Sol a resposta das
estrelas.
Não seria nem mesmo necessário aos cometas se aproximarem
demasiadamente da região das estrelas, quando se encaminham em sua
direção; como quando eles atingem nosso sistema solar, vemos
também que seus periélios se mantém a uma considerável
distância do Sol.