A ORAÇÃO

Constant Chevillon

Tradução BAI Eder Manccini de Oliveira Barros



A oração é a única magia verdadeira e sagrada. A magia cerimonial, com muita frequência, coloca a vontade a serviço do orgulho. A oração, por outro lado, é uma aspiração muito humilde do finito na direção do infinito. A pessoa que ora é como um deserto tentando se transformar num campo cheio de flores, embora a sua súplica não exija isso. As pessoas comuns, no entanto, ignoram tudo o que envolve a oração. Para esmagadora maioria, orar é articular palavras com os lábios, às vezes com o coração, e o ardor corresponderia à intensidade de sua vontade; ou então é implorar de joelhos num templo ou oratório, e um deus antropomórfico, se quiser, poderia lhe conceder dons totalmente materiais, como saúde, fortuna, sucesso ou amor. Assim, atualmente oramos como os judeus de outrora, desejando trocar o maná por cebolas do Egito. Certamente, é lícita a oração que pede bens deste mundo. Dirigir-se ao Pai de Misericórdia e rogar que nos guarde da miséria física é prestar homenagem ao Seu poder absoluto e universal. Porém com muita frequência esquecemos as palavras do Evangelho: "Buscai, assim, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas". A oração não teria apenas o intuito de romper o ciclo infernal do destino; ela é notavelmente mais elevada e nobre. Trata-se de uma ascensão sobre-humana ao divino esplendor, assim como no ato de se ajoelhar habita inexplicável êxtase na presença da Caridade Inefável. Orar dessa maneira exige silêncio interior. Liberte-se de todos os pensamentos malignos, inclusive aqueles que são apenas negativos. Para entrar num estado passivo que permita a realização da atividade divina em nós, é preciso colocar o sentimento, a compreensão e a razão em sintonia com o espírito. É preciso emanar indiferença e frieza para oferecer o nosso próprio ser em holocausto e projetar sobre todo egoísmo humano um chamado prodigioso de amor. Então o canal de beatitude se abre por si mesmo e em toda a sua sublimidade. Duas correntes se projetam em sentidos diferentes. A primeira, ascendente, conduz o homem ao seio de Deus; a outra como um rio celestial, desce sobre a terra para fazer a alma conceber a gravidez da eternidade. Assim, esse ser finito, esse nada, perdido no oceano do Ser sem limites, se eleva aos limites do Absoluto. Uma misteriosa operação, com a qual certa vez o Filho de Deus se tornou filho do homem, repete-se inversamente. A distância cessa. A natureza humana, transfigurada numa união incompreensível, abraça a Vontade de Deus, de sua Justiça e de sua Misericórdia. Na ocasião em que a oração atinge essas alturas, as coisas terrenas parecem tão sem importância! As palavras de Crisóstomo irradiam em sua severidade: Vaidade de vaidades, tudo é vaidade! Riquezas... Vaidade! Honras... Vaidade! Poder humano... Vaidade das vaidades! Tudo desaparece ao ardente sopro do Paráclito; nada permanece, exceto a imensa fornalha do amor: FONS... VIVUS... IGNIS... CARITAS.

Apenas os santos podem se perder nesse arrebatamento místico, próximo da beatitude? Não. Se a paz está consigo, qualquer homem de boa vontade o é capaz, pois toda oração é santa quando baseada na fé e na esperança - sempre medida pelo crivo humano. Ó tu de coração humilde e espírito puro, não desanimes com a esterilidade e a ineficácia aparentes das tuas preces. Se pedes favores transitórios, não te surpreendas ao nada receber. O Reino de Cristo não é deste mundo; teus desejos são de pouca monta se comparados ao dom eterno que te foi misteriosamente concedido. Reza, portanto, nos cumes do êxtase, por ti e pelos outros, mas especialmente pelos outros, lembrando a última visão de Dênis (frequentemente confundido com Dionísio, o Areopagita), que, na prisão, à véspera de seu martírio, pensava na salvação da Humanidade. Jesus veio consolá-lo e disse: "se rogares pelos demais, serás ouvido". Se Deus é capaz de retribuir a menor esmola dada ao pobre, na razão de cem por um, quanto não pagará pelo fruto das tuas orações?

ORAÇÃO PELA PAZ

Adonai, ó Elohim dos Elohim, rogamos paz: paz nas famílias, nas cidades, nas nações, paz sobre toda a Terra. O coração dos homens é feito para amar, não aborrecer. Dá-nos a todos bondade, mansidão e amor. Que se aparte de nós, para sempre, a ambição por guerras ímpias e fratricidas. Que tenhamos insaciável sede de Paz. Inunda o mundo com uma onda de Amor e Fraternidade. Suplicamos em nome do Verbo incriado, expressão do Teu amor infinito: dá-nos a Paz Universal. Que por todo lado a Paz dilate a sua serenidade e justiça, especialmente sobre os povos cuja vida, liberdade, convicção e consciência humana estejam ameaçadas. Ó Adonai, e tu, Poder da Luz, fazei com que as ambições individuais sumam diante do interesse geral da Humanidade; que este se eleve no plano espiritual da Fraternidade e do Amor, vencendo, para sempre, a fúria, a inveja e o ódio! Aos ricos da Terra, dá um coração sensível e generoso; aos pobres, ciência do Reino da Luz e temperança nas paixões; aos poderosos governantes do mundo, senso de equidade com prudência e sabedoria; aos que obedecem, o respeito à hierarquia justa e legítima; a todos os homens, humildade na Fé, na Esperança e na Caridade. Amém! Amém! Amém!

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