Os
Sephiroth
Ambelain
A palavra hebraica Séphira [plural: Sephiroth] significa Números,
Numeração. [Se vê por aí a influência das
idéias platônicas, pitagóricas, alexandrinas, sobre
a Kabala hebraica]. Em efeito, desde que compreendeu o processo gerador
das Cinco pessoas, dos dois Casais e dos Dois Rostos, o estudante em Kabala
vai os abandonar, e, decompondo esse sistema primitivo em novos elementos,
exprimidos por novos vocábulos, ele vai abordar o estudo dos Sephiroth.
Os Sephiroth nos fazem penetrar no domínio do Absoluto. Eles nos
permitem de alguma maneira adaptarmo-nos às condições
da Relatividade. Seu sistema exprime as condições de inteligibilidade
e de existência de toda realidade não absoluta [pois que eles
estão no plano da Natureza Naturante]. Para o Homem, eles especificam
a emanação pelo pensamento divino da condições
de possibilidade para: a Criação, a Conservação
e a perfeição de toda realidade.
Eles resumem pois o pensamento Divino, conforme este se manifesta pela produção
de Criaturas, e que ele se faz conhecer às ditas Criaturas. Os Sephiroth
manifestam as adaptação da natureza absoluta as condições
da relatividade, em função da Vida, todas essas coisas próprias
à Esfera da Criação. Forças Energéticas
Universais, "Números-deuses", seu estudo exprime de alguma
maneira a técnica, os procedimentos operatórias, pelos quais
o Absoluto, concretiza pelo Filho, ou Verbo Criador, condescende à
sua Criatura para elevar para Si. Eles são, estudados através
das regras e técnicas das duas Kabalas [mística e prática],
das etapas que servirão de mediação entre o Absoluto
e o Relativo. Das deduções dessas condições
transitivas, da constituição e do estudo dos Nomes Divinos
[expressões imaginadas dos aspectos do Absoluto, a respeito desse
ser relativo que é o Homem], a Kabala tirará a hierarquia
dos quatro mundos, que veremos mais adiante. O Homem encontrará pois
aí os reflexos, no todo Universal, dos múltiplos aspectos
do Absoluto. Ser relativo, o homem arquétipo não poderá
pois subsistir na Natureza, a não ser que se submeta às próprias
condições que constituem nessa Esfera o próprio princípio
de existência, da inteligibilidade, da ação possíveis.
Concluímos que somente a percepção e a concepção
da "divino" permitem ao Homem conservar a Vida no seio desse caleidoscópio
eternamente mutável, e de vir a ser um ser imortal. O que definimos
no início desta obra, sob o nome de "Divino Conhecimento",
é pois efetivamente a chave de um eterno devir. Se vê por essa
exposição que os Sephiroth não são em absoluto
pessoas divinas, mas simplesmente emanações.
É um erro que frequentemente os Kabalistas modernos cometem em atribuir
os três primeiros Sephiroth as três pessoas da Trindade. Aqueles
não são mais que a imagem, a lembrança. Os Kabalistas
de antes não se enganaram a esse respeito. O Zohar nos diz que os
Sephiroth são "Formas, que Deus manifestou para dirigir através
deles os mundos desconhecidos e invisíveis ao Homem, assim como os
mundos invisíveis..." [igual aos Eons dos gnósticos].
Ezra-Azriel declara que eles são: "a potência de ser de
tudo o que é, de tudo o que está sob o conceito do Número
puro". Conforme Irira. "São instrumentos espirituais de
que se serve o Emanador Infinito, para criar, formar, fabricar, conservar".
Ele acrescenta: "Não são pois criaturas para dizer a
verdade [pois que eles servem para criar], mas raios do Infinito, que descem
da Fonte Suprema, sem dela se separar realmente". Moisés de
Cordoba nos diz: "Eles aderem a Causa Primeira, quanto a essência,
mas quanto a operação [do latim opera: trabalho], são
mediadores que representam a Causa Primeira, inteiramente 22 22 inacessíveis
em si. Eles emanam imediatamente e pela virtude dessa mesma Causa Primeira,
produzem e governam todo o resto". Concluímos que os Sephiroth
são demiurgii, é o Pleroma dos gnósticos. Não
é inútil dar uma análise da idéia sephirótica,
segundo a ética de Spinoza, tal como ela foi apresentada pelo Dr.
Jellincks, em seu "Estudo sobre a Kabala "[1].
1°) Para o SER que é a Causa e o Governo de todas as coisas,
compreendemos o que é Ain-Soph, quer dizer um ser infinito, livre,
absolutamente idêntico a si mesmo, unido em si, sem atributos, nem
vontade, nem intenção, nem desejo, nem pensamento, nem palavra,
nem ação esses atos dependem, de fato, uns dos outros.
2°) Por Sephiroth, compreendemos as potencialidades emanadas pelo Absoluto,
Ain-Soph, e que são todas, necessáriamente, entidades limitadas
pela quantidade, que, como a vontade, sem mudar de natureza diferencia as
coisas que são as "possibilidades de coisas multiformes".
[1] - Leipzig, 1852. Em efeito, cada efeito tem uma causa, e tudo que demonstra
a ordem e a intenção tem um diretor. Além disso, tudo
o que é visível tem um limite, aquilo que é limitado
é finito, o que é finito não é absolutamente
idêntico. A Causa Primeira do mundo sendo invisível, ela é
pois ilimitada, infinita, absolutamente idêntica, e corresponde a
definição de Ain-Soph. Pois a Causa Primeira do mundo sendo
infinita, nada pode existir fora dela mesma. Ela é imanente.
3°) Os Sephiroth são necessáriamente o intermediário entre o Absoluto Ain Soph e o mundo contigente. Em efeito, esse mundo é limitado, e imperfeito. Ele não procede pois diretamente de Ain Soph. Pois bem, Ain Soph deve necessáriamente exercer sua influência sobre ele; se fosse de outra maneira, o dito mundo não subsistiria !
Daí
a necessidade de um intermediário, o conjunto dos Sephiroth que,
em sua íntima conexão com Ain Soph, constituem um Todo Perfeito,
mas que portanto, em sua pluraridade, são necessáriamente
imperfeitos. Pois bem, já que todas as coisas existentes são
nascidas de sua ação, que elas mesmas são diferente
umas das outras, há pois um ápice, um estado médio,
e um degrau inferior no mundo real.
Porque há dez Sephiroth ? Spinoza nos dá, segundo Jellincks,
a razão abaixo. Todos os corpos tendo dimensões, e cada uma
delas repetindo as três outras, e aí acrescentando o Espaço,
obtemos: (3x3)+ 1= 10. Pois bem, como os Sephiroth são as potencialidades
de tudo o que é, eles devem ser em número de dez. Portanto
esse número, definindo a pluralidade - tipo, constitui também
o retorno a unidade, pois que contém em si todos os números
princípios de um a nove. Sobre o fato que os Sephiroth são
emanações e não criações, se pode dizer
isto: Sendo dado que eles procedem de Ain-Soph, que é a perfeição
Absoluta, eles devem pois necessáriamente serem perfeitos, cada um
em seu domínio próprio. Daí, se conclui que eles não
poderiam ser criados, mas que eles são consubstanciais com Ain-Soph,
e simplesmente emanados. 23 23
Sephiroth não estão fora da unidade de Ain-Soph; cada um deles
deve receber daquele que o precede e comunicar aquele que o segue quer dizer
que eles são ao mesmo tempo receptivos e comunicativos, assim como
chamas que se iluminam umas nas outras sem que cada uma perca nada durante
essa transmissão da luz. Mas como conceber sua fonte ? É o
que vamos agora tentar precisar.