A origem do Homem.
Louis Claude de Saint Martin
Agora
podemos chegar a uma idéia concreta sobre a origem do Homem. O Homem
nasceu e nasce continuamente na Fonte Eterna que não deixa de ser a
perpétua embriaguez de suas próprias maravilhas e deleites.
Esta é a razão pela qual afirmamos freqüentemente que o
Homem pode viver somente pela admiração, uma vez que, como mostrado
pelo autor Alemão citado, nenhuma criatura pode ser mantida senão
pela substância ou frutos de sua própria mãe.
O Desejo e a Vontade.
Contudo, o Homem também nasceu na Fonte do desejo; pois Deus é
um Desejo e uma Vontade Eterna de ser manifestado; Sua magia, ou a doce impressão
de Sua existência, pode se propagar e se estender a tudo aquilo capaz
de a receber e a sentir. O Homem também deve viver através deste
desejo e desta vontade; e ele é encarregado de manter estas sublimes
afeições com ele; pois, em Deus, o desejo é sempre vontade,
enquanto que no Homem o desejo dificilmente atinge este termo, sem o qual
nada pode ser feito. É através deste poder, dado ao Homem de
elevar seu desejo ao caráter de vontade, que ele deve realmente ser
uma imagem de Deus.
A União entre a Vontade Divina e o desejo do Homem.
De fato, o Homem pode fazer com que a Vontade Divina propriamente dita venha
até ele para se unir com seu desejo; a partir de então ele passa
a trabalhar e a atuar de acordo com a Divindade, que se digna, por assim dizer,
a compartilhar Sua obra, Suas propriedades e Seus poderes com o Homem: e se,
ao lhe dar o desejo, que é como a raiz da planta, Ele reserva a Vontade,
que é como seu botão ou flor, não é com a intenção
de que o homem permaneça na privação desta Vontade Divina
e não a conheça; mas, ao contrário, Seu desejo é
que o homem chame por ela, a conheça por ele mesmo; pois, se o Homem
é a planta, Deus é a seiva ou a vida. E o que seria da árvore
se a seiva não corresse em suas veias?
O Pacto Divino.
É nesta profundidade, nas regiões naturais e verdadeiras da
emanação do Homem, que o pacto divino é estabelecido;
tal pacto liga a Fonte Suprema ao Homem. Através deste pacto, a Fonte
Suprema, só podia transmitir ao Homem todos os seus próprios
gérmens sagrados, se acompanhados de todas as fundamentais e incontestáveis
leis que constituem sua própria Essência criativa Eterna, das
quais não pode se separar sem deixar de existir. Este pacto não
sofre alterações, como sofrem os pactos materiais pela vontade
das partes.
Ao formar o Homem, a Fonte Suprema haveria de ter-lhe dito: "Com os fundamentos
eternos ou com as bases de meu ser, e as leis, eternamente inerentes a eles,
Eu te constituo, Homem; Não tenho regras para fixar a ti senão
aquelas que resultam naturalmente de minha eterna harmonia; não tenho
nem mesmo a necessidade de impor qualquer penalidade a ti se não as
infringi-las; cada cláusula de nosso pacto está, exatamente,
nas bases de tua constituição. Se tu observá-las e não
cumpri-las, irás causar teu próprio julgamento e punição;
pois, a partir deste momento deixarás de ser Homem.
O Pacto se estende por toda a Natureza.
Podemos observar este princípio em toda cadeia de seres, onde descobriremos
que todas as criações estão ligadas, cada uma de acordo
com sua classe, à sua fonte gerativa por um tratado implícito;
destas fontes procedem todas as suas leis; e, na verdade estes seres caíram
em desarmonia no momento em que estas leis foram infligidas, leis que carregam
em sua essência e que são recebidas de suas fontes gerativas
no instante em que lhe dão a vida.
O peso, número e medida na Natureza.
Ao prestarmos atenção nas leis fixas e regulares, pelas quais
a Natureza produz e governa todas as suas obras, e acompanhando, passo a passo,
cuidadosamente, as pistas deixadas por ela, reconheceremos em todo lugar,
um peso, um número e uma medida que são os inseparáveis
ministros da Natureza; eles mostram que existiam, primitivamente, na Fonte
mencionada acima, e constituem o ternário eterno, cuja imagem encontramos
em nós mesmos; sobre eles repousa o pacto divino.
Vemos, além do mais, que estas três bases, satisfazem o Onipotente,
pois estabelecem as fundações de todas as obras da Natureza
caracterizando externamente todas as variedades de Sua produção,
ou aqueles desenvolvimentos externos da forma, cor, duração,
cheiro, propriedades essenciais, qualidades etc., coisas que não são
números, embora possuam números para manifestação
e indicação.
É desta forma que o ternário Universal varia, ad infinitum,
multiplicando suas operações, e as mantendo sempre em operação
no infinito do qual dependem; assim, o Homem nunca pode numerá-las
ou apoderar-se delas; e, de fato, é suficiente para ele ter o uso destas
operações; ele está proibido de as possuir com suas propriedades,
já que, através desta multiplicidade de meios que o todo poderoso
possui de variar as manifestações de seu ternário Universal,
Ele assegura somente a si mesmo, o direito de propriedade deste ato gerativo;
nunca deixando, contudo, de manifestar esta infinidade, de forma externa,
para que seja admirada.
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