O
Êxodo, uma correspondência da regeneração do Homem.
Louis Claude de Saint Martin
O
primeiro passo de nossa regeneração é a nossa evocação
fora da terra do esquecimento, do reino das trevas e da morte. Este primeiro
passo é tão indispensável, que depois dele podemos caminhar
na estrada da vida, já que ele é como um grão que deve
primeiramente fermentar na terra, para depois seguir seu curso de vegetação
e de produção de frutos. Da mesma forma, vemos que a regeneração
do povo Hebreu teve início com o poderoso trabalho que o trouxe fora
do Egito, e o colocou no caminho da terra prometida. O mais notável
é que, a própria época traz seu tributo de correspondência
a esta obra maravilhosa, já que ocorreu no primeiro mês do ano
santo hebraico, que tem início na primavera, o que expressou, temporariamente,
a passagem em que a Natureza sai do langor e da morte do inverno, para a vida
e a fertilidade.
É verdade que os Hebreus, naquela época, não ofereceram
sacrifícios; isto porque, assim como o homem, no primeiro ato de sua
libertação, eles ainda estavam em um estado de impotência,
e desconheciam a lei que atuava sobre eles, como ocorre a uma criança
quando é recém nascida no mundo.
No entanto, eles mataram um cordeiro em cada casa; e embora isto não
tenha sido feito de acordo com a forma de sacrifício instituída
mais na frente, houve nesta cerimônia uma virtude eficaz daquilo que
estava por vir; assim, naquela grande época, verificamos o surgimento
de quatro coisas importantes, ou seja, a evocação do Homem pela
vida terrestre, a libertação do povo escolhido, o nascimento
da natureza na primavera e o derramar do sangue de animais; e tudo isto não
podia ter ocorrido de forma mais notável sem que tivesse uma correspondência
íntima.
O Cordeiro.
É preciso observar que o abatimento de um cordeiro era o ato preparatório,
anterior à libertação dos Hebreus; disto podemos presumir
o quão puras e regulares eram as influências ligadas a esta espécie
de animal, quando liberadas através de seu abatimento, uma vez que
eram respeitadas pelo anjo da destruição, e haviam se tornado
o meio de proteção, ordenado por Deus, a fim de preservar os
Hebreus da espada da justiça. Isto nos leva, com suficiente evidência,
ao que dissemos anteriormente, que o sangue é o sepulcro do homem,
do qual ele precisa, necessariamente, ser liberado, para dar o primeiro passo
na grande senda da Vida. Isto mostra, da mesma forma, que de todos os animais,
o cordeiro tem a maior e mais útil harmonia para a libertação
e regeneração do homem, e que o seu sacrifício gera a
ele grandes vantagens, já que dispõe ao homem, através
das virtudes secretas do sacrifício, o mais seguro e glorioso meio
de sair de seu próprio sangue.
Podemos encontrar algumas evidências desta verdade, até mesmo
na ordem material, onde observamos que a espécie de rebanho a que pertence
os cordeiros é o mais útil aos nossos corpos, e é suficiente
a todas as nossas necessidades primárias, já que nos provê
de alimento, roupa e luz. E não será supérfluo acrescentar,
que esta espécie de rebanho, não obstante, só provê
nossas necessidades passivas, necessidades que podem ser comparadas àquelas
de nossa infância, ou do homem em privação; ele não
nos proporciona nenhum daqueles suprimentos ativos que necessitamos numa idade
mais avançada e que são fornecidas por outro tipo de animais.
Verificamos aqui o porquê dos cordeiros terem sido sacrificados somente
na partida do Egito, que era o lugar em que, naquela época, o povo
escolhido tinha acabado de nascer e representava, temporariamente a infância
corporal e espiritual do homem, assim como a estação da primavera
representava o nascimento e a infância da Natureza.
A Páscoa, seu caráter triplo: o primeiro período.
O primeiro período da Páscoa apresentava três características
de uma só vez: a comemoração da chamada do primeiro homem
para a vida terrestre; a chamada atual do povo escolhido para a lei espiritual,
e um sinal profético de nosso futuro renascimento na lei de Deus; este
caráter triplo será encontrado nos outros períodos que
examinaremos a seguir, pois todas estão conectadas pela realização
de seus respectivos números, e assim se tornam, sucessivamente, o primeiro,
comemorativo; o segundo, atual ou efetivo; o terceiro, figurativo ou profético.
A Lei, sua correspondência espiritual: o segundo período.
Após o primeiro período, segue-se o segundo, no qual os Hebreus
receberam a Lei no Monte Sinai. Todas as relações mencionadas
acima também serão encontradas neste período.
Após termos sido chamados para a vida terrestre, há um período
em que o espírito se junta a nós pela primeira vez, e nos comunica
seus primeiros raios. Depois que o primeiro homem foi retirado do abismo em
que o crime o havia mergulhado, e obteve através da morte de Abel e
do arrependimento, uma porta para os caminhos da justiça, ele foi consolado,
isto é comprovado pelo nascimento de seu filho Seth, que lançou
sobre sua família a primeira sedimentação daqueles presentes,
que a Misericórdia Suprema, ainda digna-se a oferecer à humanidade.
Mesmo supondo que nada sabemos sobre o período em que o primeiro homem,
que nunca foi uma criança, recebeu, pela primeira vez, os auxílios
da graça, sabemos que para o homem individual os primeiros gérmens
do espírito se apresentam por volta de seus sete anos, e os frutos
destes gérmens serão naturalmente desenvolvidos nas épocas
correspondentes aos múltiplos deste número.
Sabemos que a Lei foi dada ao povo Hebreu quarenta e nove dias após
a passagem do mar vermelho; sabemos que este período coincide com o
tempo dos primeiros frutos, e que a festa instituída com referência
a este fato foi chamada de a Festa das Semanas e dos Primeiros Frutos.
Finalmente, sabemos que esta lei foi salpicada com o sangue dos sacrifícios
e das oferendas de paz, tirado do grande rebanho ou bezerros (Êxodo
XXIV.5). É fácil levar a cabo as comparações que
resultam de tudo isto, de acordo com os princípios que temos delineado.
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