A Mãe do Filho
ELIPHAS LÉVI
Como uma mulher
chorava por não ser mãe e como teve uma filha que se tornou
a mãe de Deus. Havia uma mulher chamada Hannah que era estéril
porque seu esposo tinha-se afastado dela. Essa mulher estava, pois, triste
e desolada, como a Sinagoga quando aguardava o Messias. Veio o tempo das
novas páscoas e ela não ousava vestir suas roupas de festa,
porque não era mãe e suas próprias criadas a censuravam
por ser estéril. Ela se foi, então, e deixou-se cair sob um
loureiro.
Era no tempo em que Roma acabava de dominar o mundo. E sobre os galhos desse
loureiro ela viu um ninho de pardais e chorou amargamente, repetindo: Não
sou mãe. Então o Espírito do Senhor lhe falou e lhe
disse: Estou tocado pela tua dor, e te devolverei teu esposo; Porque meu
ouvido está sempre inclinado em direção aos lábios
daqueles que choram. Tu dizes: Não coloquei um homem no mundo, e
eu te prometo alguma coisa mais feliz: porque tu gerarás a mulher
sem pecado; Aquela a quem direi, pela boca da humanidade: És minha
mãe! A Sinagoga gerará a Igreja de onde sairá o princípio
da associação católica; a escravidão engendrará
a liberdade; a mulher escrava colocará no mundo a mulher pura e livre.
Com essas palavras, Hannah sentiu suas lágrimas secarem:
levantou-se e correu, porque pressentia que seu esposo não estava
longe. Ela o encontrou, quando ele conduzia seu rebanho e voltava dos campos
dizendo: Dormirei esta noite em minha casa. E ela o abraçou e em
seguida lhe disse: Amanhã deixarei de ser estéril. E tudo
lhe aconteceu conforme ela havia acreditado, e cumprido o termo tornou-se
mãe. Mas suas companheiras, que a felicitaram, disseram-lhe, como
que para amainar sua alegria:
É apenas uma menina. Que seja chamada Maria, respondeu Hannah, e
que o mundo espere, porque minha filha terá um filho: Maria será
mãe de Deus. Suas companheiras não compreenderam o que ela
queria dizer, mas envolveram a
criança em roupas brancas e colocaram-na em seu berço novo,
admirando o quanto era bela. Quando a pequena Maria tinha três anos
seus pais levaram-na ao templo, e, como eles a haviam colocado no chão,
ela subiu sozinha os degraus do altar. Assim, numa idade tão tenra,
sua religião já foi livre e suas crenças não
lhe foram impostas.
Ela ficou no templo até a idade de catorze anos e tomou-se de amor
pela beleza eterna. É por isso que disse: Sou a serva do Senhor.
É por isso que jamais foi serva de um homem. O espírito de
amor então não havia ainda descido sobre a Terra, a geração
era vista como uma mácula. O homem era filho da carne, o cristianismo
não o havia feito ainda filho de Deus.