A Morte do Pai do Filho
ELIPHAS LÉVI
A morte do carpinteiro José. Quando chegou o tempo em que o bom velho
José deveria descansar, suas faculdades se debilitaram, sua memória
obscureceu e sua inteligência diminuiu. Maria cuidou dele com ternura
e paciência, como havia cuidado de seu filho. Chegou o momento da
agonia e José começou a se atormentar dizendo: Ai, ai de mim!
porque pequei durante minha longa vida, e que será de minha pobre
alma se Deus julgá-la com rigor?
Os terrores do inferno me perseguem. Ai de mim, porque trabalhei bastante
durante minha vida e minha morte está cheia de medo. Jesus, então,
aproximou-se do leito do doente e lhe disse: José, meu pai, homem
justo e laborioso,
repousa em paz. O inferno do pobre trabalhador é na terra, e como
Deus poderia, após uma vida tão penosa e laboriosa, atormentá-lo
ainda após a morte? Em seguida, levantando os olhos, Jesus viu aproximar-se
os fantasmas da noite eterna, os esqueletos com olhos ardentes, os demônios
horríveis com os membros peludos e monstruosos, as larvas gementes
e pálidas, os grifos negros com asas de morcegos e o inferno inteiro
se movendo sobre ondas de sombras espessas como a baleia de Jonas e com
uma imensa boca aberta, como que para engolir o mundo. Jesus soprou essas
hediondas quimeras e elas se evaporaram como a lembrança de um sonho.
E José só viu perto dele Jesus e Maria, que sustentavam sua
cabeça entre as mãos e enxugavam o suor frio de sua fronte,
enquanto o anjo da morte tocava seus olhos com um ramo de lis, cujo perfume
parecia espalhar por
todos os seus traços o repouso e o sorriso eternos. Os anjos da fé,
da esperança e da caridade receberam sua alma e seu corpo voltou
à terra. Mas Jesus ordenou que ele fosse preservado da corrupção,
porque, disse ele, sua morte é apenas um sono, à espera de
que o reino dos maus tenha passado. Então virá meu reino,
o da justiça e da fraternidade, e lembrar-me-ei de meu pai, o velho
e corajoso trabalhador. Eu o acordarei de seu sono de morte e ele virá
sentar-se junto a mim no banquete da comunhão universal. Que o sepulcro
lhe seja, pois, como a crisálida para o inseto laborioso que fia
seu sudário e espera uma outra vida mais livre e mais brilhante.
Dorme José, dorme pobre trabalhador! Quando despertares, serás
herdeiro do céu e, pelo trabalho, poderás conquistar o mundo.