JEAN
BAPTISTE WILLERMOZ
Nasceu
em Lyon em 10/07/1730, morreu na mesma cidade em 20/05/1824, era filho de
Claude e Caterin Willermoz, comerciante da cidade. Devido às necessidades
da família foi obrigado a deixar os estudos aos 12 anos de idade para
ajudar seu pai nos negócios, três anos mais tarde ingressou como
aprendiz numa loja especializada no comércio de sedas.
Tendo aprendido a profissão, instalou-se, aos 24 anos, por conta própria,
produzindo e comercializando sedas. Havia sido iniciado na Maçonaria
aos 20 anos de idade, dois anos depois já era venerável da Loja,
no ano seguinte, 1753, fundou sua própria Loja Maçônica,
A PERFEITA AMIZADE, a qual teve um rápido desenvolvimento realizando
estudos ocultistas e principalmente a alquimia.
Willermoz permaneceu Venerável dessa Loja durante 8 anos, dedicava
parte de seus recursos a obras de caridade junto à comunidade, para
o profano, era tido como um homem sério, honesto, enriquecido pelo
trabalho com o comércio de sedas, cristão e freqüentador
da Igreja; pelos seus discípulos era admirado pela sua cordialidade
e pela grande dedicação aos trabalhos maçônicos.
Na própria família, outros membros se interessaram pelo ocultismo:
sua irmã mais velha, Claudine (Madame Provensal), seus irmãos
Antoine e Pierre-Jaques, seu sobrinho Jean Baptiste Willermoz Neveu.
No meio ocultista era admirado pela solidez de seus conhecimentos que eram
praticados juntamente com um pequeno grupo de esoteristas, escolhidos criteriosamente
no seio da Maçonaria.
Durante sua longa existência, Willermoz manteve correspondência
com os principais ocultistas de sua época: Martinez de Pasqually, Saint
Martin, Joseph de Maistre, Savalette de Lange, Brunswick, Saint Germain, Cagliostro,
Dom Pernety, Salzman e outros ocultistas alemães, franceses, ingleses,
italianos, dinamarqueses, suecos e russos.
Em 21 de novembro de 1756, sua Loja filiou-se à Grande Loja da França,
com a evolução dos trabalhos, Willermoz fundou uma Obediência,
composta por 3 Lojas, tornou-se o primeiro Grão Mestre da Grande Loja
dos Mestres Regulares de Lyon. Em 1760 as 3 Lojas contavam com 62 membros:
A Perfeita Amizade: 30 membros, A Amizade: 20 membros, Os Verdadeiros Amigos:12
membros. Foi eleito presidente da Grande Loja dos Mestres Regulares de Lyon,
em 04/05/1760, o irmão Grandon, recebeu do Conde de Clermont, o reconhecimento
da Grande Loja da França e também o direito de ocultar os Altos
Graus Escoceses.
Willermoz elegeu-se Grão Mestre da Grande Loja de Lyon em 1761 e 1762
mas não aceitou a renovação de seu mandato em 1763 para
que pudesse dedicar-se mais à parte oculta. Em 1763 fundou, juntamente
com seu irmão Pierre-Jacques, o Capítulo dos Cavaleiros da Águia
Negra, nele, entraram os irmãos mais instruídos das Lojas de
Lyon. As reuniões eram secretas para evitar a curiosidade dos demais
irmãos, a admissão de novos membros foi fechada, estudavam particularmente
o simbolismo e a importância dos diversos níveis e os catecismos
dos diferentes graus e sistemas maçônicos.
Willermoz e seus companheiros não aprovavam os graus de vingança
contidos em muitos sistemas maçônicos, com relação
aos exterminadores da Ordem do Templo em 1314.
Os membros do Soberano Capítulo da Águia Negra, estariam ligados
aos Iluminados de Avignon, dirigidos por Dom Pernety, este, tinha contato
com a Estrita Observância Templária, na Alemanha e provavelmente
também com Dom Martinez de Pasqually e por seu intermédio, possivelmente,
foi que Willermoz conheceu Pasqually e que se tornou Delegado Geral da Estrita
Observância Templária para a região de Lyon.
Com a aprovação da grande loja da França, os maçons
de Lyon desenvolveram seus trabalhos sob o comando de sua própria Grande
Loja, Willermoz deixou o Grão-Mestrado em 1763, tornando-se simples
Guarda-selos e Arquivista, nunca deixou de exercer alguma função
na Maçonaria.
Willermoz acreditava, desde a sua primeira admissão na Maçonaria,
que Ela detinha o conhecimento de um objetivo possível e capaz de satisfazer
o homem honesto. Trabalhos e estudos por mais de vinte anos, uma correspondência
particular intensa com os Irmãos mais instruídos da França
e do exterior e os arquivos da Ordem em Lyon, forneceram-lhe os meios para
encontrar os inúmeros sistemas, alguns mais singulares que os outros.
Willermoz era em primeiro lugar, um discípulo esforçado, dedicado
aos estudos, em segundo, foi um grande organizador de sistemas iniciáticos,
grande pesquisador, ativo e prático; pela relação com
Dom Pernety, deu uma impregnação alquímica ao seu sistema
maçônico cujo objetivo era alcançar a iluminação
e realizar a Grande Obra.
Em uma viagem à Paris, em maio de 1767, encontrou Bacon de la Chevalerie,
substituto da Ordem dos Elus-Cohens do Universo, no Grão Mestrado,
foi nessa oportunidade que constatou pela primeira vez com a doutrina de Martinez
de Pasqually. Tinha 37 anos de idade quando foi iniciado por Pasqually na
Ordem dos Elus Cohens, em cerimônia realizada em Versalhes, proximidades
de Paris.
Bacon colocou Willermoz em contato também com outros irmãos,
juntamente com seu irmão Pierre Jacques, entraram na nova Sociedade,
cujo chefe era Pasqually, um dos sete chefes soberanos universais da Ordem,
como ele próprio se apresentava. Iniciado há 18 anos na Maçonaria
e possuidor de todos os seus graus, compreendeu que até aquele momento
nada sabia da Maçonaria essencial e que havia um vasto campo de conhecimentos
a percorrer.
Seus conhecimentos de alquimia, uma ampla base de conhecimentos de simbolismo
maçônico e do ocultismo em geral, permitiram-lhe destacar-se
rapidamente na Ordem dos Elus Cohens do Universo. As teorias expostas por
seu novo Mestre respondiam aos desejos secretos que possuía e a tudo
aquilo que sempre procurou. A nova Ordem detinha prescrições
particulares à seus discípulos, era vetado o consumo de sangue,
dos rins, e da graxa dos animais, recomendava a prática mundana com
moderação e duas vezes por ano praticavam um rigoroso jejum;
abstinham-se de toda alimentação algumas horas antes de seus
trabalhos.
Pasqually concedeu-lhe o direito de estabelecer uma Grande Loja do novo rito
em Lyon e deu-lhe o título de Inspetor Geral do Oriente em Lyon e fez
com que entrasse como membro não residente do Tribunal Soberano de
Paris. Em 13 de março de 1768, Bacon de la Chevalerie ordena Willermoz
no Grau Rosa Cruz.
Willermoz iniciou longa correspondência com Pasqually, através
da qual era instruído acerca das operações de equinócio
e em relação aos trabalhos diários. Determinados irmãos
iam de Bordeaux à Lyon para operarem com Willermoz. Os irmãos
de Paris realizavam trabalhos a sós ou acompanhados por Pasqually,
como o Mestre não tinha meios de estar presente em todos os lugares
ao mesmo tempo, havia irmãos descontentes, Willermoz procurou acalmar
os irmãos, tanto os de Paris como os de Versalhes e com tom moderado
solicitou a assistência do Mestre em Bordeaux.
Todos aguardavam suas promessas, os discípulos impacientes esperavam
a manifestação do sinal do Reparador. O Mestre mandou que estudassem
com mais perseverança ainda e que tivessem paciência e esperassem
que a luz se faria presente no interior de cada um. Essa cobrança de
que Willermoz foi o porta-voz, parece ter irritado o Mestre, que proibiu Willermoz
de realizar os trabalhos de determinado equinócio.
Desde 1768 Willermoz mantinha correspondência com Saint Martin, na época
secretário de Pasqually, formou-se entre ambos uma forte amizade, estavam
em início de carreira iniciática e ainda bastante imaturos na
Iniciação Real.
Saint Martin reconfortava o líder Lyones, seu estilo elegante, seu
fervor espiritual e seus conhecimentos de ocultismo acalmaram a mente dos
irmãos de Lyon, dando-lhes coragem e paciência.
Através de Saint Martin, Willermoz em 11/07/1770, Pasqually falou-lhe
de seus mestres, sendo ele próprio apenas um intérprete, possuidor
do terceiro grau de uma Ordem originária dos lendários Rosa
Cruzes.
Willermoz encontrou nos novos companheiros da Ordem dos Elus Cohens: Grainville,
Champollion, Bacon de la Chevalerie, Saint Martin, entre outros, uma grande
fé em Martinez de Pasqually, na imortalidade da alma e na iluminação
humana. Todos praticavam as técnicas mágicas oriundas do sistema
organizado por Pasqually; esperavam pacientemente o desenvolvimento espiritual
que se mostrava lento para todos os discípulos.
Aguardavam a presença do agente incógnito, de "la Chose",
que deveria um dia manifestar-se no seu meio e aportar-lhes os conhecimentos
divinos.
Com a partida de Pasqually para São Domingos, a Ordem dos Elus Cohens
começou a declinar, Willermoz não esperou o desaparecimento
do Mestre para agir por conta própria. Da América o Mestre escreveu-lhe
colocando um fim em sua punição e dizendo-lhe que continuasse
seu trabalho com a dedicação demonstrada até aquele momento,
porque acabaria obtendo o sucesso almejado nas operações.
Willermoz recebia encorajamento de Grainville e de Champollion no sentido
de lhe pacientar, salientavam a necessária distinção
que se deve estabelecer entre o instrutor, falível como qualquer ser
humano e a doutrina secreta, divina, pura, que ele nada mais fazia de que
interpretá-la.
A idéia de Willermoz de adaptar o sistema da Ordem dos Elus Cohens
do Universo, de Pasqually, dentro da Maçonaria, não era tarefa
fácil. O sistema maçônico representa a Iniciação
Primitiva e é tão antigo como a própria raça humana.
Sua ritualística está inserida dentro de um contexto histórico,
simbólico e iniciático.
Em 1771 recebeu instruções de Saint Martin sobre a ordem e o
método, Willermoz era apegado à organização e
às experiências, ainda que se sentindo constantemente decepcionado
pelos seus insucessos. Willermoz necessitava de provas para afirmar seu espiritualismo
e sentia-se fascinado pelo cerimonial e pelo ritualismo. Saint Martin tentava
faze-lo acessível à voz interior.
Willermoz procurava obter por carta, maiores esclarecimentos acerca dos problemas
que iam surgindo no transcorrer de sua jornada iniciática. Os resultados
positivos da iniciação não apareciam tão rapidamente
como os discípulos desejavam, era necessário muito trabalho
como em qualquer sistema de iniciação, para que surgisse alguma
manifestação de aprimoramento espiritual.
Difícil era encontrar adeptos capazes de professar uma Maçonaria
espiritualista, havia homens dispostos a praticar a Maçonaria Ocultista
tanto em Lyon, como em Metz, em Estrasburgo, em Paris, em Versalhes; Willermoz
mantinha contato com todos esses grupos de maçons.
Os contatos com os grupos maçons da Alemanha foram intensos a partir
de 1772. Através do Venerável da Loja A Virtude, de Metz: Meunier
de Précourt, Willermoz ficou sabendo da sobrevivência da Ordem
do Templo na Alemanha através dos Cavaleiros Teutônicos, que
era a herança externa e dos Rosa-Cruzes, o legado interno.
Em 1772, Willermoz recebeu uma carta da Loja La Candeur, de Estrasburgo, confirmando
existir na Alemanha, uma Obediência Maçônica rica pelo
número e pela qualidade de seus membros, fundada por Superiores Incógnitos
e denominada Estrita Observância Templária. Seu Grão Mestre
era o Barão de Hund e o objetivo: a prática das virtudes cristãs
e o desenvolvimento moral e espiritual de seus membros.
Tratava-se de uma Maçonaria Templária e Ocultista, seus membros
estudavam a Cabala, a Alquimia e o Ocultismo em geral, Willermoz foi conquistado
ao tomar conhecimento dos objetivos altruísticos e da seriedade dos
seus trabalhos.
Em 24 de junho de 1772, a Estrita Observância Templária tornou-se
Lojas Reunidas Escocesas e o Barão de Hund foi substituído pelo
Duque Ferdinand de Brunswick.
Em dezembro de 1772, Rodolphe de Salzmann, Mestre dos Noviços do Diretório
de Estrasburgo, chega a Lyon para fazer a iniciação de Willermoz
e de seus companheiros, na Sociedade dos Filósofos Desconhecidos, como
Willermoz, Salzmann era um grande admirador do sistema maçônico.
Paralelamente, Willermoz e Saint Martin, que em setembro de 1772 havia se
instalado em Lyon, na casa de Willermoz, Trabalhavam juntos para o aperfeiçoamento
do sistema maçônico, com base na doutrina e no sistema oriundo
da Ordem dos Elus Cohens e dos demais sistemas existentes que conheciam. Willermoz
pretendia através da Maçonaria, a adaptação dos
ensinamentos secretos recebidos de Pasqually.
Saint Martin permaneceu um ano em Lyon, seguiu depois para sua cidade natal
e depois para Paris.
Em carta de 14/12/1772, Willermoz pedia a sua filiação na Estrita
Observância Templária, o Barão Weiler respondeu-lhe em
18/03/1773, que nada aceitariam que fosse contrário à sua religião
de nascimento e a seus deveres de cidadãos como fiéis súditos
do Rei da França. Conservaram também a ligação
com a Grande Loja da França no que dizia respeito aos graus simbólicos;
a ligação com a Grande Loja da Alemanha foi estabelecida somente
em relação aos altos graus.
Em 1773, o Barão Weiler foi a Lyon e iniciou Willermoz e seus companheiros
na Estrita Observância Templária, deixou instalada a Loja Escocesa
Retificada: La Bienfaisance, em condições de desenvolver independentemente
seus trabalhos, isso aconteceu no dia 07/11/1773.
Face à decadência da parte externa da Ordem dos Elus Cohens,
ocorrida a partir do ano de 1772, com a partida de Pasqually para São
Domingos, Willermoz encontrou no sistema maçônico um substituto
à altura. Nesse novo sistema, pretendia espargir as luzes recebidas
na senda interior dos Elus Cohens e receber também a manifestação
do Agente Invisível; Willermoz retirou, a partir dessa época,
os melhores ensinamentos de suas operações e a luz começava
a brilhar no seio das trevas.
Como a Ordem dos Elus Cohens, a Estrita Observância Templária
possuía dez graus, sendo: três simbólicos, três
intermediários e quatro superiores, esta última classe, de origem
Templária.
Willermoz obteve a corrente de Jacob Böheme ao ser iniciado por Salzmann
e confirmada na linha mais antiga dos Templários, ao associar-se com
a Estrita Observância Templária.
Willermoz recebeu o grau de Grande Professo no Convento de Gaules, realizado
em Lyon entre 25/11/1778 a 10/12/1778, também conseguiu com Salzmann,
que se introduzisse após o sexto grau da Estrita Observância
Templária, os dois graus denominados: Professo e Grande Professo que
continham a doutrina da Ordem dos Elus Cohens.
A Estrita Observância Templária da região de Auvergne
(Lyon) ficou conhecida pelo nome de Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa
ou Maçonaria Retificada. Os graus simbólicos ficaram sendo quatro:
Aprendiz, Companheiro, Mestre e Mestre Escocês; a classe superior ficou
denominada: Cavaleiro Professo e Grande Professo.
Willermoz, tendo conseguido introduzir no sistema maçônico de
Lyon, da Estrita Observância Templária, a filiação
espiritual e doutrinária de Pasqually, tentou fazer o mesmo no resto
das obediências maçônicas.
No seu conceito, o Rito Escocês Retificado tinha por objetivo o estudo
das ciências ocultas, pretendia unir o ocultismo com o cristianismo,
estudar o esoterismo do cristianismo, considerar a Cristo, o Reparador; crê
em Cristo porém renega a autoridade do Vaticano, do Catolicismo de
Roma.
No Rito Escocês Retificado seus princípios aparecem como cristãos,
fundamentados nos evangelhos. O Willermosismo tendeu sempre para o agrupamento
das fraternidades iniciáticas, à constituição
de coletividades de iniciados dirigidas por centros ativos religados ao iluminismo.
No convento de Wilhemsbad, aberto no dia 14/07/1782, Willermoz encontrou o
apoio precioso dos dois príncipes dignatários da Estrita Observância
Templária: os irmãos: Ferdinand de Brunswick, que presidiu o
Convento, e Charles de Hesse, recebeu a missão de organizar o Rito
Escocês Retificado e foi designado Soberano Delegado Geral do Movimento
para a região de Lyon.
Conseguiu também que todos os irmãos da Ordem Interior recebessem
o título de Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa. E no novo conjunto
de graus, no número de sete, continha todo o sistema doutrinário
de Pasqually, organizado inteiramente em Lyon através de: Willermoz,
Saint Martin, Grainville, Savaron e outros e que a partir do Convento de Wilhemsbad
passou a ser adotado igualmente em toda a Alemanha e resto da França.
O título "Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa" originou-se
do nome da Loja "La Bienfaisance", de Lyon, que abrigou os primeiros
cavaleiros.
Em 05/04/1785, Willermoz obteve sucesso com as suas operações,
a "Coisa" ativa e inteligente mostrou-se aos homens. O Agente Incógnito,
ser de natureza divina, teria ditado uma série de instruções
aos Irmãos de Lyon, através de uma sonâmbula: Madame de
Vallière:..." não rejeiteis a voz do Espírito Puro
que se serve de uma mão corruptível", teria dito o Agente.
Era a prova definitiva da validade das cerimônias pela manifestação
da "Coisa", 13 anos após a partida de Pasqually para São
Domingos. Willermoz não rejeitou a voz do Espírito Puro, mensageiro
da Divindade; seu grupo foi escolhido para ser o centro de irradiação
da Luz.
Com auxílio do Invisível, Willermoz e Saint Martin adquiriram
um lugar de destaque na organização da Maçonaria Retificada
e da Ordem Interior; iniciaram adeptos de toda a França e Alemanha,
porém sabiam que o sucesso não seria fácil, Saint Martin
disse à Willermoz: " o espírito é como o vento,
ele sopra quando quer e como quer e ninguém sabe quem ele é
e de onde vem...".
Foi também no seio desta Loja que foram recrutados os membros do Conselho
dos Onze que fundaram a Loja Elue et Cherie pela ação do Agente
Incógnito, o mensageiro divino esperado desde o tempo de Pasqually.
No dia 10/04/1785, Willermoz comunicou aos onze irmãos de sua Loja
La Bienfaisance, que ela passaria a denominar-se Loja Elue et Cherie, centro
de uma nova sociedade. Os irmãos escolhidos pelo Agente foram: Willermoz,
Pagannuci, Graiville, Millancia, Monspey, Savaron, Braun, Périsse-Duloc,
Castellas, Rachain, Antoine Willermoz. Havia um décimo segundo irmão
que estava ausente dos trabalhos e o Agente disse que ele ainda não
podia ser designado porque seu coração estava muito ocupado
com os negócios profanos. Tudo leva a crer que se tratava de Saint
Martin.
Willermoz falava sobre a iniciação: "Aquele que me a transmitiu
não é um ser inspirado interiormente, nem um magnetizador privilegiado,
nem um ser versado nas iniciações antigas, que conhece muito
menos que nós".
"É um ser que goza de todos os sentidos ao escrever, que escreve
quando lhe fazem pegar na pena, sem saber nada do que escreverá, nem
a quem escreverá. Uma potência invisível, que não
se manifesta a ele senão por diversas partes de seu corpo, toma a mão
como se toma a mão de uma criança de três anos, para lhe
fazer escrever o que se deseja. Ele não pode conduzir a ação,
mas pode resisti-la por ato de sua vontade, que então pára de
escrever; ele lê então o que sua mão escreveu e é
o primeiro admirador do que vê, muitas vezes nada compreende de que
escreveu, foi prevenido, desde o tempo que esse dom extraordinário
começou a se manifestar nele, que escreveria coisas que não
deveria compreender porque não foram escritas para si, mas para aqueles
a quem elas se destinavam".
O próprio Agente tinha seus superiores, "as potências celestes
superiores ou secundárias" que dirigiam seus trabalhos e faziam-no
escrever. Eram depósitos de conhecimentos admiráveis, uma doutrina
da verdade.
A revelação e o desenvolvimento dessa doutrina deveria continuar,
através do Agente, desde que se formasse uma nova sociedade secreta
de Iniciação, cujos membros escolhidos individualmente pelo
Agente, seriam os obreiros da décima primeira hora, os sucessores dos
Apóstolos e dedicados à Grande Obra; seriam os precursores de
um novo amanhã, homens regenerados pela fé e pelo trabalho.
A reunião havia sido realizada na casa de Savaron, onde Willermoz também
dissertou sobre os quatro cadernos de instrução ditados pelo
Agente. " Informei-vos do que se passou, de vossa eleição
pessoal, do destino atribuído a esta nova Sociedade. Esforcei-me, confesso,
em vos comunicar a persuasão e a confiança de que venho de ser
comulado. Ao aspecto desse depósito maravilhoso, ficaste tão
admirados quanto eu... A Iniciação que ele fornecia e a forma
que ele a apresentava vos pareceram um prodígio e vós permanecestes
tomados de admiração e reconhecimento. ..assim a nova Sociedade
de amigos foi fundada.
Os Iniciados da nova Sociedade não eram recrutados apenas em Lyon,
um mês depois, Willermoz viu-se obrigado a aumentar sua correspondência
com pessoas residentes em outras cidades. Dois amigos de Saint Martin foram
iniciados: o Visconde de Saulx-Tavannes e o Saxon Tieman. Seguindo o apelo
do Agente, Willermoz contatou o Cavaleiro de Barberin, Ferdinand de Brunswick
e Charles de Hesse. Em 30/06/1785, a Sociedade possuía trinta membros.
Quando o Abade Fournier, último secretário particular de Pasqually,
soube do sucesso dos trabalhos de Lyon, partiu para essa cidade, porém,
chegando à Lyon, não foi recebido no Templo, porque os altos
graus na Ordem dos Elus Cohens nada valiam na nova Sociedade e também
porque somente seriam iniciados novos membros mediante convite especial do
próprio Agente.
A decepção tocou também o Dr. Archbold, que foi também
rejeitado. Essas pessoas teriam desencadeado uma série de intrigas
que abalou a Sociedade.
Willermoz parou de remeter sua contribuição ao Abade Fournier.
Saint Martin também ficou sabendo da notícia, partiu de Paris,
em junho de 1785, levando consigo uma bíblia em hebraico e um dicionário,
para entreter-se na viagem. Pelo que se pôde perceber ele teria tido
previamente contato com o Agente, porém ele teria agido como precursor
não autorizado em relação ao Agente Incógnito
e publicado seu livro: "Dos Erros e da Verdade", sem autorização
e com o pseudônimo de Filósofo Desconhecido. O próprio
Saint Martin esclareceu esse ponto: "Eu sei que, em meu foro íntimo,
a publicação de meus escritos jamais teve meu próprio
assentimento completo. O erro que cometi em me deixar conhecer não
me pareceu comparável ao de ter escrito. Este último erro ofendeu
"La Chose" por me colocar em seu lugar, sem sua ordem; o outro erro
não expunha senão minha pessoa".
Saint Martin acabou por alcançar a Graça da Reconciliação,
porque os homens não são castigados eternamente. Após
ter aceito o Agente como sinal da Divindade, foi recebido em julho de 1785,
segundo as leis do Agente, sob o nome de Eques a Leone Sidero, no seio da
Loja Elus et Chérie, permaneceu em Lyon até janeiro de 1786.
De abril a dezembro de 1785, cento e vinte cadernos foram escritos, somente
trinta e um foram escolhidos por Willermoz para serem copiados pelos irmãos
e servirem de instrução aos novos membros.
A Doutrina da Verdade ensinava que Phaleg deveria ser reverenciado como fundador
da Maçonaria, no lugar de Tulbacain. Phaleg teria reagrupado pela primeira
vez homens em Lojas. Esta palavra Loja, ensinou o Agente, teria se originado
da palavra primitiva Logos ou Verbo. O Agente trouxe um reconhecimento divino
às Lojas. Lyon tornou-se o depósito e centro dessa bem-aventurada
Luz, que a partir desse local, propagou-se por toda a província, pela
França e outros países.
Vários Homens de Desejo foram chamados em presença dos Martinistas
de Lyon e se submeteram às formalidades da Iniciação
na nova Ordem.
Saint Martin ajudou Willermoz a colocar em ordem os Cadernos de Instrução
dos irmãos. Entre 1785 e 1787, foram iniciados várias pessoas,
oriundas de inúmeras localidades, a organização dos círculos
de Iniciados em Lyon, recebia a inspiração do Agente, o Superior
Incógnito.
Desde a revelação, no dia 5 de abril de 1785, Willermoz, com
54 anos de idade, não cessou de trabalhar, inspirado pelo Agente, procurava
suscitar nos corações de seus Iniciados, não apenas o
conhecimento das coisas transcendentais, mas a convicção de
que entravam em uma Loja onde a Luz estava presente e cuja aliança
com a Divindade fazia irradiar dessa Loja a Luz dos últimos tempos
sobre todas as nações, e que os Maçons Retificados de
Lyon formavam os elementos do novo templo escolhido.
Esperando a conclusão da Grande Obra, os Iniciados de Lyon deveriam
praticar as virtudes ensinadas pelo Agente Incógnito, antes de pretenderem
propagar a doutrina por todo o Universo.
A fraternidade reinante entre os irmãos castigava os recém-chegados,
Gaspar de Savaron, Millanois e Périsse-Duloe salientavam-se por sua
cordialidade em relação a todos os irmãos; o próprio
Willermoz mostrava-se um mestre afável e hospitaleiro, irradiava amizade
entre todos os irmãos.
No dia 10 de abril de 1786, os Iniciados de Lyon comemoravam o primeiro aniversário
de fundação da nova Sociedade, alguns dias após, o Agente
revelou que em três anos sua ação seria renovada e que
um ser providencial faria a Sociedade entrar em uma fase decisiva: "Recebeis,
como bons estudantes, as lições de Maria ainda no segundo ano,
mas no terceiro, Jesus Cristo tornar-se-á vosso mestre. Sua sábia
voz escolheu o "tipo" entre vós".
Em abril de 1786, Willermoz colocou a disposição dos irmãos
o Caderno de Instrução nº 131.
Os três primeiros anos foram de muita expectativa para todos os Iniciados
de Lyon, porque aguardavam o novo Mestre Incógnito. Esperavam todos
os amigos íntimos de Willermoz: Gaspar de Savaron, Grainville, Saint
Martin e à distância: Charles de Hesse, Ferdinand de Brunswick,
Bernard Turkheim, banqueiro e maçom ativo de Estrasburgo, amigo íntimo
de Salzmann.
O Agente teria também prometido comentários inéditos
sobre a Bíblia e sobre os escritos dos primeiros Padres da Igreja.
Até 1788 nada de novo ocorreu, o Agente suspendeu sua ação
e isto fez com que alguns discípulos ficassem com a fé abalada.
Um dos irmãos, o Conde de Tavannes, apresentava de vez em quando, crise
de nervos, ele tinha sido encarregado pelo Agente, de procurar um manuscrito
grego, que apresentava revelações sensacionais e que estaria
depositado na Biblioteca Imperial. Tavannes tentou encontrá-lo mas
não teve sucesso e responsabilizou as doutrinas da Iniciação
Lyonesa pelo seu estado de saúde. Saint Martin tinha previsto que esse
acidente, bem como a falta de comunicação do Agente, iria abalar
a reputação dos Iniciados de Lyon.
Com efeito, os Iniciados de Estrasburgo começaram a vacilar na senda,
através das dúvidas lançadas por Bernard de Turkheim,
voltaram todos sua atenção para os príncipes alemães.
Em 18 de junho de 1788, o Grão Mestre da Maçonaria Retificada,
o Duque de Havré, depositou em Lyon, junto a Willermoz, sua demissão;
em vão Willermoz tentou convencê-lo da realidade dos trabalhos,
da sinceridade de intenções de todos os irmãos de Lyon.
"Infelizmente", escreveu Willermoz a Saint Martin, por essa época,
"aquele que recebeu a ordem de velar pelo Agente, de falar a todos em
seu nome, tendo as vezes que gritar para melhor se fazer ouvir, não
deixou de ser, para alguns, senão um usurpador que, ao abusar dos mistérios,
aproveitava-se das circunstâncias para dominar seus irmãos...
Seu cargo excitou murmúrios secretos, ciúmes... Outros preferiram
duvidar de sua missão, porque ele não a mantinha por prodígios
que lhes pareciam necessários para ser acreditado."
Saint Martin, profundo conhecedor do caráter de Willermoz, vivendo
na sua intimidade há quase vinte anos, acentuou suas atividades após
julho de 1785, os Cadernos de Instrução passaram a ser copiados
por ele.
Em 10 de outubro de 1788, Willermoz convocou uma assembléia extraordinária
para tentar reconquistar a confiança dos Iniciados; não teve
sucesso. Em dezembro de 1789, Saint Martin pediu demissão de Loja Maçônica
de Lyon.
O Agente reapareceu em 1790, mandou destruir 80 Cadernos de Instrução,
que não tinham sido copiados pelos irmãos, porém, entre
1790 e 1791 o Agente ditou mais 40 cadernos, tratando de: orações,
liturgia, leis sobre a natureza, comentários sobre a Bíblia,
etc. Em 1798, surgiu um caderno comentando criticamente as obras do Saint
Martin: "Dos Erros e da Verdade", "A Tábua Natural",
"O Homem de Desejo", "O Novo Homem", "O Homem Espírito".
Em 1793, quando eclodiu a Revolução Francesa, o terror tomou
conta da cidade de Lyon, Virieu desapareceu, Millanois, Grainville e o veterano
Guilaume de Savaron (irmão de Gaspar de Savaron), oficiais do exército
em Lyon, foram condenados pelo tribunal e fuzilados; Antoine Willermoz e Bruyzet
foram guilhotinados. A obra maçônica de Willermoz sofreu a perseguição
da Revolução, muitos Templos Retificados ou Cohens foram obrigados
a fecharem as portas. O sistema maçônico Retificado dos Cavaleiros
Benfeitores da Cidade Santa passou para a Suíça, fugindo dos
Revolucionários e depois de Napoleão, dando origem ao Sistema
Retificado Moderno, mais tarde esse sistema voltou à França
e recentemente à Alemanha.
Muitos fugiram para a Suíça, alguns para o campo, o grupo de
Iniciados de Lyon ficou praticamente extinto, Willermoz foi à uma casa
retirada onde se reuniam os Iniciados e em dois baús colocou os arquivos
e os trouxe para a cidade, no dia seguinte aquela casa ficou reduzida a cinzas.
Na casa onde se alojava em Lyon, caiu uma bomba que atingiu um dos baús,
desmanchando-o com todos os documentos, Willermoz fugiu levando o que restava
dos documentos e colocou-os em mãos seguras; parte deles ficaram com
seu sobrinho Jean Baptiste Willermoz Neveu.
Willermoz, como Périsse, seguiu as funções de caridade
em hospitais e escapou da condenação, ação de
seu irmão Pierre-Jaques Willermoz, médico, foi decisiva para
salva-lo da Revolução.
Passada a tormenta revolucionária, graças aos rituais que havia
salvo, Willermoz reorganizou a Maçonaria Espiritualista, até
a morte procurou como objetivo, as práticas da virtude e da caridade
e fez com que as Lojas e Capítulos fossem centros de seleção
para os grupos de Iluminados.
A primeira parte de sua obra era clara, a segunda, oculta, Willermoz continuou
sua obra sobre a terra, 19 anos após a partida de Saint Martin para
o Mundo Invisível (1803), os dois Adeptos completavam-se, Willermoz
destacou-se pelo seu dinamismo e pela capacidade de organização,
usava a Maçonaria como centro de recrutamento para a Ordem Interior.
Saint Martin, mais intelectual, procurava em todos os meios onde se encontrava,
os Homens de Desejo para colocá-los em Sua Senda Interior. Willermoz
escolheu a Maçonaria como base fundamental para preparar o Iniciado
e colocá-lo em condições de marchar na Senda da Luz entre
as duas colunas, até chegar ao Oriente, onde encontrará a coluna
invisível que o ligará com a Divindade.
Para Willermoz, como para Saint Martin e demais Mestres do Ocultismo Ocidental,
a Iniciação Real é um trabalho eminentemente pessoal
e interior.
O Homem ao encarnar ficou com a alma por desenvolver, isto a partir de uma
centelha espiritual. O receptáculo é a Alma Humana, a Pedra
Bruta que deverá ser transformada e inserida na obra de construção
do Templo Universal, a Jerusalém Celeste das almas regeneradas e imortalizadas
pelo Verbo Divino.
Poucos anos, antes de sua morte, confiou os arquivos à seu sobrinho,
seu Iniciado, posteriormente foram legados à Élie Steel e depois
à Papus (1895).
Após sua morte subsistiram Lojas de seu sistema trabalhando com êxito
em toda a França, Alemanha e Itália