Nasceu em Lyon em 10/07/1730, morreu na mesma cidade em 20/05/1824, era filho de Claude e Caterin Willermoz, comerciante da cidade. Devido às necessidades da família foi obrigado a deixar os estudos aos 12 anos de idade para ajudar seu pai nos negócios, três anos mais tarde ingressou como aprendiz numa loja especializada no comércio de sedas.
Tendo aprendido a profissão, instalou-se, aos 24 anos, por conta própria, pro-duzindo o comercializando sedas. Havia sido iniciado na Maçonaria aos 20 anos de idade, dois anos depois já era venerável da Loja, no ano seguinte, 1753, fundou sua própria Loja Maçô-nica, A PERFEITA AMIZADE, a qual teve um rápido desenvolvimento realizando estu-dos ocultistas e principalmente a alquimia.
Willermoz permaneceu Venerável dessa Loja durante 8 anos, dedicava parte de seus recursos às obras de caridade junto à comunidade, para o profano, era tido como um ho-mem sério, honesto, enriquecido pelo trabalho com o comércio de sedas, cristão e freqüen-tador da Igreja; pelos seus discípulos era admirado pela sua cordialidade e pela grande dedica-ção aos trabalhos maçônicos.
Na própria família, outros membros se interessaram pelo ocultismo: sua irmã mais velha, Claudine (Madame Provensal), seus irmãos Antoine e Pierre-Jaques, seu sobrinho Jean Baptiste Willermoz Neveu.
No meio ocultista era admirado pela solidez de seus conhecimentos que eram praticados juntamente com um pequeno grupo de esoteristas, escolhidos criteriosamente no seio da Maçonaria.
Durante sua longa existência, Willermoz manteve correspondência com os principais ocultistas de sua época: Martinez de Pasqually, Saint Martin, Joseph de Maistre, Savalette de Lange, Brunswick, Saint Germain, Cagliostro, Dom Pernety, Salzman e outros ocultistas alemães, franceses, ingleses, italianos, dinamarqueses, suecos e russos.
Em 21 de novembro de 1756, sua Loja filiou-se à Grande Loja da França, com a evolução dos trabalhos, Willermoz fundou uma Obediência, composta por 3 Lojas, tornou-se o primeiro Grão Mestre da Grande Loja dos Mestres Regulares de Lyon. Em 1760 as 3 Lojas contavam com 62 membros: A PERFEITA AMIZADE: 30 membros, A AMIZADE: 20 mem-bros, OS VERDADEIROS AMIGOS: 12 membros. Foi eleito presidente da GRANDE LOJA DOS MESTRES REGULARES de Lyon, em 04/05/1760, o irmão Grandon, recebeu do Conde de Clermont, o reconhecimento da Grande Loja da França e também o direito de ocul-tar os Altos Graus Escoceses.
Willermoz
elegeu-se Grão Mestre da Grande Loja de Lyon em 1761 e 1762 mas não
aceitou a renovação de seu mandato em 1763 para que pudesse
dedicar-se mais à parte oculta. Em 1763 fundou, juntamente com seu
irmão Pierre-Jacques, o CAPÍTULO DOS CA-VALEIROS DA ÁGUIA
NEGRA, nele, entraram os irmãos mais instruídos das Lojas
de Lyon. As reuniões eram secretas para evitar a curiosidade dos
demais irmãos, a admissão de novos membros foi fechada, estudavam
particularmente o simbolismo e a importância dos di-versos níveis
e os catecismos dos diferentes graus e sistemas maçônicos.
Willermoz e seus companheiros não aprovavam os graus de vingança
contidos em muitos sistemas maçônicos, com relação
aos exterminadores da Ordem do Templo em 1313.
Os membros do Soberano Capítulo da Águia Negra, estariam ligados
aos Ilumi-nados de Avignon, dirigidos por Dom Pernety, este, tinha contato
com a Estrita Observância Templária, na Alemanha e provavelmente
também com Dom Martinez de Pasqually e por seu intermédio,
possivelmente, foi que Willermoz conheceu Pasqually e que se tornou Delegado
Geral da EOT para a região de Lyon.
Com a aprovação da grande loja da França, os maçons de Lyon desenvolveram seus trabalhos sob o comando de sua própria Grande Loja, Willermoz deixou o Grão-Mes-trado em 1763, tornando-se simples Guarda-selos e Arquivista, nunca deixou de exercer al-guma função na Maçonaria.
Willermoz acreditava, desde a sua primeira admissão na Maçonaria, que Ela detinha o conhecimento de um objetivo possível e capaz de satisfazer o homem honesto. Tra-balhos e estudos há mais de vinte anos, uma correspondência particular intensa com os Irmãos mais instruídos da França e do exterior e os arquivos da Ordem em Lyon, forneceram-lhe os meios para encontrar os inúmeros sistemas, alguns mais singulares que os outros.
Willermoz era em primeiro lugar, um discípulo esforçado, dedicado aos estu-dos, em segundo, foi um grande organizador de sistemas iniciáticos, grande pesquisador, ativo e prático; pela relação com Dom Pernety, deu uma impregnação alquímica ao seu sistema ma-çônico cujo objetivo era alcançar a iluminação, realizar a Grande Obra.
Em uma viagem à Paris, em maio de 1767, encontrou Bacon de la Chevalerie, substituto da Ordem dos Elus-Cohens do Universo, no Grão Mestrado, foi nessa oportunidade que constatou pela primeira vez com a doutrina de Martinez de Pasqually. Tinha 37 anos de idade quando foi iniciado por Pasqually na Ordem dos Elus Cohens, em cerimônia realizada em Versailles, proximidades de Paris.
Bacon colocou Willermoz em contato também com outros irmãos, juntamente com seu irmão Pierre Jacques, entraram na nova Sociedade, cujo chefe era Pasqually, um dos sete chefes soberanos universais da Ordem, como ele próprio se apresentava. Iniciado há 18 anos na Maçonaria e possuidor de todos os seus graus, compreendeu que até aquele momento nada sabia da Maçonaria essencial e que havia um vasto campo de conhecimentos a percorrer.
Seus conhecimentos de alquimia, uma ampla base de conhecimentos de simbo-lismo maçônico e do ocultismo em geral, permitiram-lhe destacar-se rapidamente na Ordem dos Elus Cohens do Universo. As teorias expostas por seu novo Mestre respondiam aos dese-jos secretos que possuía e a tudo aquilo que sempre procurou. A nova Ordem detinha prescri-ções particulares à seus discípulos, era vetado o consumo de sangue, dos rins, e da graxa dos animais, recomendava a prática mundana com moderação e duas vezes por ano praticavam um rigoroso jejum; abstinham-se de toda alimentação algumas horas antes de seus trabalhos.
Pasqually concedeu-lhe o direito de estabelecer uma Grande Loja do novo rito em Lyon e deu-lhe o título de Inspetor Geral do Oriente em Lyon e fez com que entrasse como membro não residente do Tribunal Soberano de Paris. Em 13 de março de 1768, Bacon de la Chevalerie ordena Willermoz no Grau Rosa Cruz.
Willermoz iniciou longa correspondência com Pasqually, através
da qual era instruído acerca das operações de equinócio
e em relação aos trabalhos diários. Determinados irmãos
iam de Bordeaux à Lyon para operarem com Willermoz. Os irmãos
de Paris realizavam trabalhos a sós ou acompanhados por Pasqually,
como o Mestre não tinha meios de estar pre-sente em todos os lugares
ao mesmo tempo, havia irmãos descontentes, Willermoz procurou acalmar
os irmãos, tanto os de Paris como os de Versailles e com tom moderado
solicitou a assistência do Mestre em Bordeaux.
Todos aguardavam suas promessas, os discípulos impacientes esperavam
a ma-nifestação do sinal do Reparador. O Mestre mandou que
estudassem com mais perseverança ainda e que tivessem paciência
e esperassem que a luz se faria presente no interior de cada um. Essa cobrança
de que Willermoz foi o porta-voz, parece ter irritado o Mestre, que proibiu
Wi-llermoz de realizar os trabalhos de determinado equinócio.
Desde 1768 Willermoz mantinha correspondência com Saint Martin, na época secretário de Pasqually, formou-se entre ambos uma forte amizade, estavam em início de car-reira iniciática e ainda bastante imaturos na Iniciação Real.
Saint Martin reconfortava o líder lyones, seu estilo elegante, seu fervor espiri-tual e seus conhecimentos de ocultismo acalmaram a mente dos irmãos de Lyon, dando-lhes coragem e paciência.
Através de Saint Martin, Willermoz em 11.07.1770, Pasqually falou-lhe de seus mestres, sendo ele próprio apenas um intérprete, possuidor do terceiro grau de uma Ordem originária dos Lendários Rosa Cruzes.
Willermoz encontrou nos novos companheiros da Ordem dos Elus Cohens: Grainville, Champoleon, Bacon de la Chevalerie, Saint Martin, entre outros, uma grande fé em Martinez de Pasqually, na imortalidade da alma e na iluminação humana. Todos praticavam as técnicas mágicas oriundas do sistema organizado por Pasqually; esperavam pacientemente o desenvolvimento espiritual que se mostrava lento para todos os discípulos.
Aguardavam a presença do agente incógnito, de la Chose, que deveria um dia manifestar-se no seu meio e aportar-lhes os conhecimentos divinos.
Com a partida de Pasqually para S. Domingos, a Ordem dos Elus Cohens co-meçou a declinar, Willermoz não esperou o desaparecimento do Mestre para agir por conta própria. Da América o Mestre escreveu-lhe colocando um fim em sua punição e dizendo-lhe que continuasse seu trabalho com a dedicação demonstrada até aquele momento, porque aca-baria obtendo o sucesso almejado nas operações.
Willermoz recebia encorajamento de Grainville e de Champoleon no sentido de lhe pacientar, salientavam a necessária distinção que se deve estabelecer entre o instrutor, falí-vel como qualquer ser humano e a doutrina secreta, divina, pura, que ele nada mais fazia de que interpretá-la.
A idéia de Willermoz de adaptar o sistema da Ordem dos Elus Cohens do Uni-verso, de Pasqually, dentro da Maçonaria, não era tarefa fácil. O sistema maçônico representa a Iniciação Primitiva e é tão antigo como a própria raça humana. Sua ritualística está inserida dentro de um contexto histórico, simbólico e iniciático.
Em 1771 recebeu instruções de Saint Martin sobre a ordem e o método, Wi-llermoz era apegado à organização e às experiências, ainda que se sentindo constantemente decepcionado pelos seus insucessos. Willermoz necessitava de provas para afirmar seu espiri-tualismo e sentia-se fascinado pelo cerimonial e pelo ritualismo. Saint Martin tentava faze-lo acessível à voz interior.
Willermoz
procurava obter por carta, maiores esclarecimentos acerca dos pro-blemas
que iam surgindo no transcorrer de sua jornada iniciática. Os resultados
positivos da iniciação não apareciam tão rapidamente
como os discípulos desejavam, era necessário muito trabalho
como em qualquer sistema de iniciação, para que surgisse alguma
manifestação de aprimoramento espiritual.
Difícil era encontrar adeptos capazes de professar uma Maçonaria
espiritualista, havia homens dispostos a praticar a Maçonaria Ocultista
tanto em Lyon, como em Metz, em Estrasburgo, em Paris, em Versailles; Willermoz
mantinha contato com todos esses grupos de maçons.
Os contatos com os grupos maçons da Alemanha foram intensos a partir de 1772. Através do Venerável da Loja A Virtude, de Metz: Meunier de Précourt, Willermoz ficou sabendo da sobrevivência da Ordem do Templo na Alemanha através dos Cavaleiros Teutônicos, que era a herança externa e dos Rosa-Cruzes, o legado interno.
Em 1772, Willermoz recebeu uma carta da Loja La Candeur, de Estrasburgo, confirmando existir na Alemanha, uma Obediência Maçônica rica pelo número e pela qualidade de seus membros, fundada por Superiores Incógnitos e denominada Estrita Observância Tem-plária. Seu Grão Mestre era o Barão de Hund e o objetivo: a prática das virtudes cristãs e o desenvolvimento moral e espiritual de seus membros.
Tratava-se de uma Maçonaria Templária e Ocultista, seus membros estudavam a Cabala, a Alquimia e o Ocultismo em geral, Willermoz foi conquistado ao tomar conheci-mento dos objetivos altruísticos e da seriedade dos seus trabalhos.
Em 24 de junho de 1772, a EOT tornou-se Lojas Reunidas Escocesas e o Barão de Hund foi substituído pelo Duque Ferdinand de Brunswick.
Em dezembro de 1772, Rodolphe de Salzmann, Mestre dos Noviços do Diretó-rio de Estrasburgo, chega a Lyon para fazer a iniciação de Willermoz e de seus companheiros, na Sociedade dos Filósofos Desconhecidos, como Willermoz, Salzmann era um grande admi-rador do sistema maçônico.
Paralelamente, Willermoz e Saint Martin, que em setembro de 1772 havia se instalado em Lyon, na casa de Willermoz, Trabalhavam juntos para o aperfeiçoamento do sis-tema maçônico, com base na doutrina e no sistema oriundo da Ordem dos Elus Cohens e dos demais sistemas existentes que conheciam. Willermoz pretendia através da Maçonaria, a adap-tação dos ensinamentos secretos recebidos de Pasqually.
Saint Martin permaneceu um ano em Lyon, seguiu depois para sua cidade natal e depois para Paris.
Em carta de 14.12.1772, Willermoz pedia a sua filiação na EOT, o Barão Wei-ler respondeu-lhe em 18.03.1773, que nada aceitariam que fosse contrário à sua religião de nascimento e a seus deveres de cidadãos como fiéis súditos do Rei da França. Conservaram também a ligação com a Grande Loja da França no que dizia respeito aos graus simbólicos; a ligação com a Grande Loja da Alemanha foi estabelecida somente em relação aos altos graus.
Em 1773, o Barão Weiler foi a Lyon e iniciou Willermoz e seus companheiros na EOT, deixou instalada a Loja Escocesa Retificada: La Bienfaisance, em condições de des-envolver independentemente seus trabalhos, isso aconteceu no dia 07.11.1773.
Face à
decadência da parte externa da Ordem dos Elus Cohens, ocorrida a par-tir
do ano de 1772, com a partida de Pasqually para S. Domingos, Willermoz encontrou
no sis-tema maçônico um substituto à altura. Nesse novo
sistema, pretendia espargir as luzes re-cebi-das na senda interior dos Elus
Cohens e receber também a manifestação do Agente Invisí-vel;
Willermoz retirou, a partir dessa época, os melhores ensinamentos
de suas operações e a luz começava a brilhar no seio
das trevas.
Como a Ordem dos Elus Cohens, a Eot possuía dez graus, sendo: três
simbóli-cos, três intermediários e quatro superiores,
esta última classe, de origem templária.
Willermoz obteve a corrente de Jacob Boheme ao ser iniciado por Salzmann
e confirmada na linha mais antiga dos Templários, ao associar-se
com a EOT.
Willermoz recebeu o grau de Grande Professo no Convento de Gaules, reali-zado em Lyon entre 25.11.1778 a 10.12.1778, também conseguiu com Salzmann, que se in-troduzisse após o sexto grau da EOT, os dois graus denominados: Professo e Grande Professo que continham a doutrina da Ordem dos Elus Cohens.
A EOT da região de Auvergne (Lyon) ficou conhecida pelo nome de Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa ou Maçonaria Retificada. Os graus simbólicos ficaram sendo qua-tro: Aprendiz, Companheiro, Mestre e Mestre Escocês; a classe superior ficou denominada: Cavaleiro Professo e Grande Professo.
Willermoz, tendo conseguido introduzir no sistema maçônico de Lyon, da EOT, a filiação espiritual e doutrinária de Pasqually, tentou fazer o mesmo no resto das obediências maçônicas.
No seu conceito, o RER tinha por objetivo o estudo das ciências ocultas, pre-tendia unir o ocultismo com o cristianismo, estudar o esoterismo do cristianismo, considerar a Cristo, o Reparador; crê em Cristo porém renega a autoridade do Vaticano, de Catolicismo de Roma.
No RER seus princípios aparecem como cristãos, fundamentados nos evange-lhos. O Willermosismo tendeu sempre para o agrupamento das fraternidades iniciáticas, à constituição de coletividades de iniciados dirigidas por centros ativos religados ao iluminismo.
No convento de Wilhemsbad, aberto no dia 14.07.1782, Willermoz encontrou o apoio precioso dos dois príncipes dignatários da EOT: os irmãos: Ferdinand de Brunswick, que presidiu o Convento, e Charles de Hesse, recebeu a missão de organizar o RER e foi desi-gnado Soberano Delegado Geral do Movimento para a região de Lyon.
Conseguiu também que todos os irmãos da Ordem Interior recebessem o título de Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa. E no novo conjunto de graus, no número de sete, continha todo o sistema doutrinário de Pasqually, organizado inteiramente em Lyon através de: Willermoz, Saint Martin, Grainville, Savaron e outros e que a partir do Convento de Wi-lhemsbad passou a ser adotado igualmente em toda a Alemanha e resto da França. O título "Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa" originou-se do nome da Loja "La Bienfaisance", de Lyon, que abrigou os primeiros cavaleiros.
Em 05.04.1785, Willermoz obteve sucesso com as suas operações, a Coisa ativa e inteligente mostrou-se aos homens. O Agente Incógnito, ser de natureza divina, teria ditado uma série de instruções aos Irmãos de Lyon, através de uma sonâmbula: Madame de Vallière:..." não rejeiteis a voz do Espírito Puro que se serve de uma mão corruptível", teria dito o Agente.
Era a prova definitiva da validade das cerimônias pela manifestação da Coisa, 13 anos após a partida de Pasqually para S. Domingos. Willermoz não rejeitou a voz do Espí-rito Puro, mensageiro da Divindade; seu grupo foi escolhido para ser o centro de irradia-ção da Luz.
Com auxílio
do Invisível, Willermoz e Saint Martin adquiriram um lugar de des-taque
na organização da Maçonaria Retificada e da Ordem Interior;
iniciaram adeptos de toda a França e Alemanha, porém sabiam
que o sucesso não seria fácil, Saint Martin disse à
Willer-moz: " o espírito é como o vento, ele sopra quando
quer e como quer e ninguém sabe quem ele é e de onde vem...".
Foi também no seio desta Loja que foram recrutados os membros do
Conselho dos Onze que fundaram a Loja Elue et Cherie pela ação
do Agente Incógnito, o mensageiro divino esperado desde o tempo de
Pasqually.
No dia 10.04.1785, Willermoz comunicou aos onze irmãos de sua Loja La Bi-enfaisance, que ela passaria a denominar-se Loja Elue et Cherie, centro de uma nova socie-dade. Os irmãos escolhidos pelo Agente foram: Willermoz, Pagannuci, Graiville, Millancia, Monspey, Savaron, Braun, Périsse-Duloc, Castellas, Rachain, Antoine Willermoz. Havia um décimo segundo irmão que estava ausente dos trabalhos e o Agente disse que ele ainda não podia ser designado porque seu coração estava muito ocupado com os negócios profanos. Tudo leva a crer que se tratava de Saint Martin.
Willermoz falava sobre a iniciação: Aquele que me a transmitiu não é um ser inspirado interiormente, nem um magnetizador previlegiado, nem um ser versado nas iniciações antigas, que conhece muito menos que nós.
É um ser que goza de todos os sentidos ao escrever, que escreve quando lhe fazem pegar na pena, sem saber nada do que escreverá, nem a quem escreverá. Uma potência invisível, que não se manifesta a ele senão por diversas partes de seu corpo, toma a mão como se toma a mão de uma criança de três anos, para lhe fazer escrever o que se deseja. Ele não pode conduzir a ação, mas pode resisti-la por ato de sua vontade, que então pára de escrever; ele lê então o que sua mão escreveu e é o primeiro admirador do que vê, muitas vezes nada compreende de que escreveu, foi prevenido, desde o tempo que esse dom extraordinário co-meçou a se manifestar nele, que escreveria coisas que não deveria compreender porque não foram escritas para si, mas para aqueles a quem elas se destinavam.
O próprio Agente tinha seus superiores, "as potências celestes superiores ou secundárias" que dirigiam seus trabalhos e faziam-no escrever. Eram depósitos de conhecimen-tos admiráveis, uma doutrina da verdade.
A revelação e o desenvolvimento dessa doutrina deveria continuar, através do Agente, desde que se formasse uma nova sociedade secreta de Iniciação, cujos membros esco-lhidos individualmente pelo Agente, seriam os obreiros da décima primeira hora, os sucessores dos Apóstolos e dedicados à Grande Obra; seriam os precursores de um novo amanhã, homens regenerados pela fé e pelo trabalho.
A reunião havia sido realizada na casa de Savaron, onde Willermoz também dissertou sobre os quatro cadernos de instrução ditados pelo Agente. " Informei-vos do que se passou, de vossa eleição pessoal, do destino atribuído a esta nova Sociedade. Esforcei-me, confesso, em vos comunicar a persuasão e a confiança de que venho de ser comulado. Ao as-pecto desse depósito maravilhoso, ficaste tão admirados quanto eu... A Iniciação que ele for-necia e a forma que ele a apresentava vos pareceram um prodígio e vós permanecestes toma-dos de admiração e reconhecimento. ..assim a nova Sociedade de amigos foi fundada.
Os Iniciados
da nova Sociedade não eram recrutados apenas em Lyon, um mês
depois, Willermoz viu-se obrigado a aumentar sua correspondência com
pessoas residentes em outras cidades. Dois amigos de Saint Martin foram
iniciados: o Visconde de Saulx-Tavannes e o Saxon Tieman. Seguindo o apelo
do Agente, Willermoz contatou o Cavaleiro de Barberin, Ferdinand de Brunswick
e Charles de Hesse. Em 30.06.1785, a Sociedade possuía trinta mem-bros.
Quando o Abade Fournier, último secretário particular de Pasqually,
soube do sucesso dos trabalhos de Lyon, partiu para essa cidade, porém,
chegando à Lyon, não foi re-cebido no Templo, porque os altos
graus na Ordem dos Elus Cohens nada valiam na nova So-ciedade e também
porque somente seriam iniciados novos membros mediante convite especial
do próprio Agente.
A decepção tocou também o Dr. Archbold, que foi também
rejeitado. Essas pessoas teriam desencadeado uma série de intrigas
que abalou a Sociedade.
Willermoz parou de remeter sua contribuição ao Abade Fournier.
Saint Martin também ficou sabendo da notícia, partiu de Paris, em junho de 1785, levando consigo uma bíblia em hebraico e um dicionário, para entreter-se na viagem. Pelo que se pôde perceber ele teria tido previamente contato com o Agente, porém ele teria agido como precursor não autorizado em relação ao Agente Incógnito e publicado seu livro: Dos Erros e da Verdade, sem autorização e com o pseudônimo de Filósofo Desconhecido. O próprio Saint Martin esclareceu esse ponto: "Eu sei que, em meu foro íntimo, a publicação de meus escritos jamais teve meu próprio assentimento completo. O erro que cometi em me dei-xar conhecer não em pareceu comparável ao de ter escrito. Este último erro ofendeu "La Chose" por me colocar em seu lugar, sem sua ordem; o outro erro não expunha senão minha pessoa".
Saint Martin acabou por alcançar a Graça da Reconciliação, porque os homens não são castigados eternamente. Após ter aceito o Agente como sinal da Divindade, foi rece-bido em julho de 1785, segundo as leis do Agente, sob o nome de Eques a Leone Sidero, no seio da Loja Elus et Chérie, permaneceu em Lyon até janeiro de 1786.
De abril a dezembro de 1785, cento e vinte cadernos foram escritos, somente trinta e um foram escolhidos por Willermoz para serem copiados pelos irmãos e servirem de instrução aos novos membros.
Vários Homens de Desejo foram chamados em presença dos Martinistas de Lyon e se submeteram às formalidades de Iniciação na nova Ordem.
Saint Martin ajudou Willermoz a colocar em ordem os Cadernos de Instrução dos irmãos. Entre 1785 e 1787, foram iniciados várias pessoas, oriundas de inúmeras localida-des, a organização dos círculos de Iniciados em Lyon, recebia a inspiração do Agente, o Supe-rior Incógnito.
Desde a revelação, no dia 5 de abril de 1785, Willermoz, com 54 anos de idade, não cessou de trabalhar, inspirado pelo Agente, procurava suscitar nos corações de seus Inici-ados, não apenas o conhecimento das coisas transcendentais, mas a convicção de que entravam em uma Loja onde a Luz estava presente e cuja aliança com a Divindade fazia irradiar dessa Loja a Luz dos últimos tempos sobre todas as nações, e que os Maçons Retificados de Lyon formavam os elementos do novo templo escolhido.
Esperando a conclusão da Grande Obra, os Iniciados de Lyon deveriam praticar as virtudes ensinadas pelo Agente Incógnito, antes de pretenderem propagar a doutrina por todo o Universo.
A fraternidade
reinante entre os irmãos castigava os recém-chegados, Gaspar
de Savaron, Millanois e Périsse-Duloe salientavam-se por sua cordialidade
em relação a todos os irmãos; o próprio Willermoz
mostrava-se um mestre afável e hospitaleiro, irradiava amizade entre
todos os irmãos.
No dia 10 de abril de 1786, os Iniciados de Lyon comemoravam o primeiro
aniversário de fundação da nova Sociedade, alguns dias
após, o Agente revelou que em três anos sua ação
seria renovada e que um ser providencial faria a Sociedade entrar em uma
fase decisiva: "Recebeis, como bons estudantes, as lições
de Maria ainda no segundo ano, mas no terceiro, Jesus Cristo tornar-se-á
vosso mestre. Sua sábia voz escolheu o "tipo" entre vóz".
Em abril de 1786, Willermoz colocou a disposição dos irmãos o Caderno de Instrução nº 131.
Os três primeiros anos foram de muita expectativa para todos os Iniciados de Lyon, porque aguardavam o novo Mestre Incógnito. Esperavam todos os amigos íntimos de Willermoz: Gaspar de Savaron, Grainville, Saint Martin e à distância: Charles de Hesse, Ferdi-nand de Brunswick, Bernard Turkheim, banqueiro e maçom ativo de Estrasburgo, amigo ín-timo de Salsmann.
O Agente teria também prometido comentários inéditos sobre a Bíblia e sobre os escritos dos primeiros Padres da Igreja. Até 1788 nada de novo ocorreu, o Agente suspen-deu sua ação e isto fez com que alguns discípulos ficassem com a fé abalada. Um dos irmãos, o Conde de Tavannes, apresentava de vez em quando, crise de nervos, ele tinha sido encarre-gado pelo Agente, de procurar um manuscrito grego, que apresentava revelações sensacionais e que estaria depositado na Biblioteca Imperial. Tavannes tentou encontrá-lo mas não teve sucesso e responsabilizou as doutrinas da Iniciação Lyonesa pelo seu estado de saúde. Saint Martin tinha previsto que esse acidente, bem como a falta de comunicação do Agente, iria abalar a reputa-ção dos Iniciados de Lyon.
Com efeito, os Iniciados de Estrasburgo começaram a vacilar na senda, através das dúvidas lançadas por Bernard de Turkheim, voltaram todos sua atenção para os príncipes alemães. Em 18 de junho de 1788, o Grão Mestre da Maçonaria Retificada, o Duque de Havré, depositou em Lyon, junto a Willermoz, sua demissão; em vão Willermoz tentou convencê-lo da realidade dos trabalhos, da sinceridade de intenções de todos os irmãos de Lyon.
"Infelizmente, escreveu Willermoz a Saint Martin, por essa época, aquele que recebeu a ordem de velar pelo Agente, de falar a todos em seu nome, tendo as vezes que gritar para melhor se fazer ouvir, não deixou de ser, para alguns, senão um usurpador que, ao abusar dos mistérios, aproveitava-se das circunstâncias para dominar seus irmãos... Seu cargo excitou murmúrios secretos, ciúmes... Outros preferiram duvidar de sua missão, porque ele não a man-tinha por prodígios que lhes pareciam necessários para ser acreditado."
Saint Martin, profundo conhecedor do caráter de Willermoz, vivendo na sua intimidade há quase vinte anos, acentuou suas atividades após julho de 1785, os Cadernos de Instrução passaram a ser copiados por ele.
Em 10 de outubro de 1788, Willermoz convocou uma assembléia extraordinária para tentar reconquistar a confiança dos Iniciados; não teve sucesso. Em dezembro de 1789, Saint Martin pediu demissão de Loja Maçônica de Lyon.
O Agente reapareceu em 1790, mandou destruir 80 Cadernos de Instrução, que não tinham sido copiados pelos irmãos, porém, entre 1790 e 1791 o Agente ditou mais 40 ca-dernos, tratando de: orações, liturgia, leis sobre a natureza, comentários sobre a Bíblia, etc. Em 1798, surgiu um caderno comentando criticamente as obras do Saint Martin: Dos Erros e da Verdade, A Tábua Natural, O Homem de Desejo, O Novo Homem, O Homem Espírito.
Em 1793, quando eclodiu a Revolução Francesa, o terror tomou conta da ci-dade de Lyon, Virieu desapareceu, Millanois, Grainville e o veterano Guilaume de Savaron (irmão de Gaspar de Savaron), oficiais do exército em Lyon, foram condenados pelo tribunal e fuzilados; Antoine Willermoz e Bruyzet foram guilhotinados. A obra maçônica de Willermoz sofreu a perseguição da Revolução, muitos Templos Retificados ou Cohens foram obrigados a fecharem as portas. O sistema maçônico Retificado dos CBCS passou para a Suíça, fugindo dos Revolucionários e depois de Napoleão, dando origem ao Sistema Retificado Moderno, mais tarde esse sistema voltou à França e recentemente à Alemanha.
Muitos fugiram para a Suíça, alguns para o campo, o grupo de Iniciados de Lyon ficou praticamente extinto, Willermoz foi à uma casa retirada onde se reuniam os Inicia-dos e em dois baús colocou os arquivos e os trouxe para a cidade, no dia seguinte aquela casa ficou reduzida a cinzas.
Na casa onde se alojava em Lyon, caiu uma bomba que atingiu um dos baús, desmanchando-o com todos os documentos, Willermoz fugiu levando o que restava dos do-cumentos e colocou-os em mãos seguras; parte deles ficaram com seu sobrinho Jean Baptiste Willermoz Neveu.
Willermoz, como Périsse, seguiu as funções de caridade em hospitais e escapou da condenação, ação de seu irmão Pierre-Jaques Willermoz, médico, foi decisiva para salva-lo da Revolução.
Passada a tormenta revolucionária, graças aos rituais que havia salvo, Willer-moz reorganizou a Maçonaria Espiritualista, até a morte procurou como objetivo, as práticas da virtude e da caridade e com que as Lojas e Capítulos fossem centros de seleção para os grupos de Iluminados.
A primeira parte de sua obra era clara, a segunda, oculta, Willermoz continuou sua obra sobre a terra, 19 anos após a partida de Saint Martin para o Mundo Invisível (1803), os dois Adeptos completavam-se, Willermoz destacou-se pelo seu dinamismo e pela capaci-dade de organização, usava a Maçonaria como centro de recrutamento para a Ordem Interior. Saint Martin, mais intelectual, procurava em todos os meios onde se encontrava, os Homens de Desejo para colocá-los em Sua Senda Interior. Willermoz escolheu a Maçonaria como base fundamental para preparar o Iniciado e colocá-lo em condições de marchar na Senda da Luz entre as duas colunas, até chegar ao Oriente, onde encontrará a coluna invisível que o ligará com a Divindade.
Para Willermoz, como para Saint Martin e demais Mestres do Ocultismo Oci-dental, a Iniciação Real é um trabalho eminentemente pessoal, interior.
O Homem ao encarnar ficou com o espírito por desenvolver a partir de uma centelha espiritual. O receptáculo é a Alma Humana, a Pedra Bruta que deverá ser transfor-mada e inserida na obra de construção do Templo Universal, a Jerusalém Celeste das almas regeneradas e imortalizadas pelo Verbo Divino.
Poucos anos, antes de sua morte, confiou os arquivos à seu sobrinho, seu Inici-ado, posteriormente foram legados à Élie Steel e depois à Papus (1895).
Após sua morte subsistiram Lojas de seu sistema trabalhando com êxito em toda a França, Alemanha e Itália.