A seu respeito, disse Horace Walpele: "Ele está há dois anos e recusa-se a dizer quem é e de onde vem, mas admite que não usa seu verdadeiro nome". Desconfiava-se que poderia ser um espião estrangeiro.
Falava e escrevia: grego, latim, sânscrito, árabe, chinês, francês, inglês, italiano, espanhol e português, a sua erudição era fantástica, sabia pintar, tocar cravo e violino, possuía conhecimentos de química e de alquimia que ultrapassavam os seus contemporâneos. Dizia-se que sabia como aperfeiçoar diamantes, fazer ouro e que possuía o elixir da longa vida.
Referiam-se também à sua invenção do barco a vapor que destinava-se a unir as pessoas que viessem no século seguinte, diziam também, que podia tornar-se invisível e reapa-recer onde quer que desejasse e que podia hipnotizar as pessoas e também à sua vontade, en-trar num estado de auto-hipnose.
Os seus conhecimentos de história pareciam sobrenaturais, costumava mencionar fatos ocorridos na corte da Babilônia, histórias com milhares de anos, outros ocorridos na corte de Henrique IV e Francisco I, além de outros relatos incríveis.
Abandonando a Inglaterra em 1746, ficou algum tempo nas suas terras na Ale-manha, mais tarde, em fevereiro de 1758, foi para Paris, na companhia do embaixador, ma-rechal de Belle Isle, aí passou a levar a vida de um nobre de elevada condição. O rei Luiz XV ordenou a S. Germain que se instala-se em Chambord, depois disso ele passa a ter livre acesso aos aposentos privados do soberano.
Presume-se que S. Germain desempenhava uma missão secreta, a primeira
sus-peita parte da afirmação de Frederico o Grande que afirmava
que ele era imortal, não havia razão para que o cético
rei prussiano afirmasse isso, a não ser que havia um determinado plano
secreto, a sua pessoa era intencionalmente rodeada de mistério.
Muitas histórias fantásticas eram apoiadas pelos soberanos da
Prússia e da França, a maioria, bastante duvidosas.
O conde de S. Germain preocupava-se com assuntos importantes, deslocava-se freqüentemente à Berlim onde Frederico aguardava seus relatórios, e a Viena, sede da Frater-nidade Rosa-Cruz era possível que recebesse ordens da Irmandade.
É difícil saber até que ponto os interesses do rei e dos Irmãos Rosa-Cruzes esti-vessem reunidos em S. Germain, os grupos mais importantes dos RC da Alemanha eram con-servadores, seguiam o ideal político de Johaner Valentine Andreae, de uma monarquia e he-gemonia alemã sobre a Europa e o Papa. Supõe-se que Frederico tinha interesse em enfraque-cer a França sem contudo querer destruir a monarquia.
Em 1760, S. Germain foi encarregado pelo marechal Belle Isle de uma missão em Haia, na época de Luiz XV a situação da França era grave. O ministro dos negócios es-trangeiros: duque de Choiseul, dava continuidade à política de Luiz XIV que era de enfraque-cer a Prússia, porém, era típico de Luiz XIV tratar de certos assuntos sozinho, sem consultar seus minis-tros, assim seus assuntos com S. Germain permaneciam em segredo.
O "imortal" conde era definido como um homem prodígio que captara o inte-resse do monarca através de transmutações, os dois reuniam-se freqüentemente no laboratório alquímico de Luiz XV.
Choiseul, não confiava nos estudos alquímicos de seu soberano, desconfiava do conde S. Germain, ele descobrirá secretamente que o conde nunca havia recebido fundos do estrangeiro, as grandes somas em dinheiro, provavelmente eram originárias na França, talvez da embaixada alemã ou de tesouros maçons.
As atividades de S. Germain foram postas a descoberto quando de sua súbita aparição na Holanda, através de cujo governo tentou negociar a paz com a Inglaterra. Tal ini-ciativa deve ter sido idéia sua, porque nem d´Affry, o embaixador francês nos Países-Baixos, nem Choiseul, tinham conhecimento dela, ambos teriam desaprovado esta medida.
D´Affry enviou Casanova ao encontro de S. Germain para saber o que fazia
na Holanda e S. Germain responde-lhe evasivamente que era para negociar um
empréstimo à França.
Choiseul não se conformou com tal evasiva e intimou d´Affry a
mandar prender o conde S. Germain. Os Países-Baixos recusaram-se a
extraditar S. Germain, oficialmente o rei abandonou o seu agente.
Alguns dias mais tarde, madame d´Urfé encontrou-se inesperadamente com S. Germain no bosque de Bolonha, ela apressou-se a contar o fato a Choiseul, que a informou de que S. Germain estivera durante toda a noite em seu gabinete, isto significava que o segredo não podia mais ser ocultado e que Luis XV ordenara ao conde que relatasse os seus planos ao ministro dos negócios estrangeiros.
Choiseul, sabendo que a Inglaterra apoiava a Prússia, desaprovou os planos e pediu a destituição de S. Germain mas Luis XV conservou-o como espião e foi nesta condição que ele viajou à Alemanha e a Rússia, pouco tempo depois de sua chegada a Rússia, o impera-dor modificou a sua política em relação à França e celebrou uma aliança com Frederico.
S. Germain em 1763 encontrava-se em Tournais fazendo-se passar por M. de Surmont, industrial. Pouco tempo antes de deixar a França, foi interrogado por Luis XV sobre certo crime misterioso, cujos pormenores eram conhecidos somente por S. Germain, este pro-pusera para revelar os fatos uma condição: Senhor, tornai-vos Rosa Cruz e contar-vos-ei. Se Luis XV tivesse aceitado esta proposta, talvez tivesse salvo a sua dinastia.
Em 1776 S. Germain fixa-se em Leipzig sob o nome de conde de Welldone, o arquiduque da Áustria, Maximiliano-José I, escreveu à irmã que ele tinha duzentos anos, mas que não aparentava. Devido às pressões para que ensinasse o segredo de tal longevidade, ele lhes ofereceu o seu elixir vital, de efeito purgativo, um pó com sabor de anis, que se bebia em solução sob a forma de um chá de longa vida.
Muitos químicos tentaram descobrir a composição desse elixir vital que parecia ter sido uma mistura de madeira de sândalo, folhas de sene e de sementes de funcho.
S. Germain enviou ao embaixador de Frederico II, uma lista de 29 procedimen-tos
que constituíam a sua nova física, eram processos industriais
para lavar a seda, melhorar os vinhos, preparar o papel e outros, apenas 2
relacionam-se com a saúde: um remédio preventivo contra doenças
e males de todos os tipos e outro purgativo que retiram apenas os elementos
negativos do corpo.
S. Germain apareceu mais uma vez na França quando Luis XVI subiu ao
trono, ele tentou conquistar o novo monarca para sua causa, fora enviado com
a missão de salvar o trono e a família real, mas após
um último esforço no sentido de convencer Maria Antonieta, S.
Germain abandonou o país, sabia que uma insistência prolongada
seria interpretada como atividade de um agente inimigo; o ministro Maurepas
já andava em sua perseguição e teve que fugir para a
Alemanha.
Em 1777 mudou-se para Berlim, ficou até 1778 quando instala-se em Altona na corte do príncipe Carlos de Hessen Cassel, um alquimista, grão mestre da ordem da Estrita Observância Templária, que estuda com ele três horas por dia e lhe dá instalações em Eckerfo-erd, porto do Báltico para aí realizar as suas experiências. Foi lá que morreu subita-mente nos braços de duas criadas de quarto, o príncipe encontrava-se ausente. Morreu no dia 27 de feve-reiro de 1784.
Muitas lendas surgiram a seu respeito, da sua suposta morte, registraram-se muitos casos de reaparições suas: seu discípulo Etteila, afirma que tinha almoçado com ele no dia 22/07/1784 em Paris. Após a tomada da Bastilha, Maria Antonieta recebeu uma carta e também madame Adhemar, a confidente de Maria Antonieta recebeu uma mensagem ambas atribuídas a S. Germain, cinco anos após a sua morte; durante a revolução foi visto em diver-sos lugares de Paris, dizia que queria ver a obra infernal iniciada pelo seu discípulo Cagliostro.
Outros fatos curiosos revelaram-se, o conde nunca comia, no decorrer das re-feições a que assistiu, contentava-se em deslumbrar a assistência com as suas narrações históri-cas e observações espirituosas.
Afirmava que consumia apenas pílulas, pão de sêmola e coisas do gênero, tam-bém o conde não se interessava pelo envolvimento com as mulheres, levava uma vida de casti-dade.
Atribui-se a ele uma obra na qual provavelmente não teve nenhuma autoria: A Muito Santa Trinosofia, cujo manuscrito, guardado na Biblioteca de Troyes, teria suposta-mente pertencido a Cagliostro, é um tratado de alquimia, com um simbolismo egípcio, caracte-res cuneiformes e palavras imitadas do árabe e do sânscrito.
Sabe-se que S. Germain foi um alto membro de Grupos Rosa Cruzes mais se-cretos da Europa, esteve presente no convento maçônico de Willensbad em 16/07/1782, como emissário Rosa Cruz.
Foi também um dos iniciadores de M. de Pasquallys, quando este apareceu
pela primeira vez em Paris em 1570 apareceu como membro dessa misteriosa irmandade.
Manteve correspondência com Willermoz e com outros ocultistas da época.