Estas coisas tu revelarás e tu as esconderás!
Moisés e a Cabala - Por Adnilson Rafael Telles, FR+C,
Uso
com respeito às palavras reveladas a Moisés por "Aquele
que É o que É" como frase título a este trabalho.
Palavras estas que acredito mostrarem o que é o nosso serviço
como místicos estudantes da Rosa+Cruz, suplicantes Martinistas, enfim,
Neófitos, eternos Neófitos.
Um Ser mitológico fantástico que tinha raios na cabeça,
se confunde o mito deste iniciado com muitas provas etimológicas
que o consideram o próprio Baco, divindade grega portadora de chifres,
fato que nos explica o porque da intrigante escultura de Michelangelo, onde
retrata Moisés, o patrono judeu e "avô" do cristianismo,
com dois pequenos chifres.
Sem ser aula de história, mas querendo que fosse, uso um rápido
excerto do Mestre Joseph Campbell, que nos fala a respeito da mitologia:
"Uma
das funções da mitologia tradicional é conduzir o individuo
através dos vários estágios e crises da vida - ou seja
- ajudar as pessoas a compreender o desenrolar da vida com integridade.
Essa completude significa que as pessoas passarão por eventos significativos,
do nascimento a meia idade, e até a morte em harmonia primeiramente
com elas próprias (vida física), em segundo com seu meio (vida
emocional), seguido do universo que a cerca (vida cultural) e finalmente
com aquele "mysterium tremendum" (vida mística) além
de si mesmas e de todas as coisas".
Pensemos agora:
"Por que devo entender o mundo que me cerca? Por que estou aqui hoje
vivo? Em que minha vida tem a ver com os mitos?"
"Deus não é um sonho, Deus não é um fato!"
Deus é uma palavra que nos remonta a algo além do que possa
ser concebido ou nomeado (ou Inominável). Moisés recebeu muita
informação desta fonte que podemos chamar de "não-fato",
ou de "palavra perdida" em termos mais poéticos, podemos
tentar o uso da definição, Termo final?
Termo final, levando em consideração o ponto onde nossa consciência
objetiva pode chegar, que nós, homens da torrente podemos tentar
vislumbrar. O próprio Deus disse a Moisés após a revelação
de seu mais secreto nome, "Tu não verás a minha face...
Mas tu me verás pelas costas!"
O que isso tenta nos dizer? No entendimento simbólico, muita coisa,
mas comparando a termos práticos o nível de consciência
deste iniciado com os demais, o seu preparo e treinamento, nem ele pode
ver a face "Daquele que É o que É". Este foi o termo
final, disso não se passa em vida.
A tradição nos mostra isso, e, até seu tempo, somente
Enoch teve este contato tão "particular" com a divindade.
Suas iniciações nas mais diversas tradições
onde viver e ensinou e o contato com seu dito "sogro" Jethro,
o conduziram a ser o compilador dos primeiros cinco livros da Bíblia
cristã ( a saber: Genesis, Êxodo, Levítico, Números
e Deuteronômio) conhecidos como "Pentateuco", ou na tradição
Judaica/Cabalista como "Torah" (Livro da lei). É incontestável
e já sabido por nós que a Torah não tem seu conteúdo
original de seu tempo, pois sendo um texto hieroglífico (lê-se
simbólico e velado), não se tem certeza de sua língua
de origem, e após suas muitas traduções e correções
no hebraico, grego e latim, a sua deformação e visível
mutilação de muitos significados, o que nos resta hoje pode
não ser nem a sombra do que foi em seus áureos tempos.
Mas também por nós é sabido que os símbolos
só se fazem presentes a aqueles que "tem olhos para ver",
se for do nosso merecimento, o símbolo se faz vivo e se não
o for, o véu simbólico da ignorância cria suas camadas
cada vez mais espessas, criando assim o entendimento como mito, estória
para crianças, conto de fadas... Enfim, o símbolo se recolhe.
Os passos de nossa consciência, tanto a objetiva como a subjetiva,
nosso aprendizado diário e a dedicação que damos a
nossa parcela na Obra vão fazer com que o véu se vá
ou fique.
Com isso, digo que temos hoje em termos de literatura bíblico-cabalística,
mesmo que fragmentada aquilo que Michel Coquet nos expõe no seguinte
fragmento:
"Ainda
com seu texto alterado, para aqueles que sabem reconhecer as chaves, pode
ser de grande enriquecimento."
Nestes livros, além de um apanhado de costumes, leis, pudores e dilemas
de um povo (necessários para a organização deste povo
na época), Moisés nos apresenta a sua Lei Mosaica. Em seu
contato com "Aquele que É", sintetiza todas as suas tradições
nas Tábuas da Lei, com a representação daquilo que,
em termos simples, serviu de mangual e açoite com o povo hebreu,
que são os Dez Mandamentos.
Como disse, em termos simples, pois sua leitura não é somente
feita de forma simplória, direta.
"Estas coisas tu as revelarás e tu as esconderás!"
Estas Leis
são o momento máximo de Moisés mostrando a Lei de Deus
aos homens, mas a apresenta velada pelo manto hermético do simbolismo,
mantendo oculto aquilo que era esotérico, onde vemos aqui, de uma
forma inteligível as Sephiroth, representadas por ele no Santuário
do Tabernáculo com o Menorah (fig. 1), atualmente conhecido por nós
com o esquema em forma de Árvore da Vida (fig. 2), onde após
milhares de anos os Cabalistas da idade média revelaram o sistema
de entendimento do macrocosmo (Sephiroth relacionadas aos planetas) e do
microcosmo (Sephiroth relacionadas às partes do corpo humano).
Moisés recebeu o ensinamento completo, dividido em três níveis
de apresentação/entendimento:
- 1º nível (parte exotérica/tabernáculo): Aos
profanos (em geral mitológica, como afirma Papus) direcionados a
todos os filhos de Israel,
- 2º nível (alma da lei/Santo dos Santos): "Mishna",
revelada aos mestres e aos rabinos,
- 3º nível (a alma da alma da lei/a arca da aliança):
"Kabbalah", revelada somente a alguns, sob o manto do silencio.
Podemos analogamente, trazendo a vida iniciatica comparar aos três
atria do neófito Rosa+cruz, aos três níveis do iniciado
Martinista, aos três graus fundamentais da Maçonaria... Enfim,
temos as três pontas de nosso sagrado triângulo, e sua lei assim
comprovada.
Todas essas analogias têm seu significado refinado em seu 3º
nível de entendimento, onde Moisés nos mostra a Sagrada Cabala.
Tendo o Tabernáculo em seu 1º nível, o Santo dos Santos
no 2º nível, o 3º nível é onde a Arca da
Aliança, o templo esta montado para que os homens de vontade busquem
aquilo que os ilumina.
Arca da Aliança? Por que Arca? Que Aliança? A Arca sempre
se faz presente na história do homem, muitas culturas a usaram como,
por exemplo, Maias, Incas, Astecas, Egípcios dentre outros muitos,
mas podemos relembrar a primeira Arca bíblica, a de Noé onde
a Aliança foi feita ao fim do dilúvio com o arco-íris,
este representando o que nos liga ao divino (terra e céus), sendo
esta a aliança física (1º nível do entendimento),
após ela, o texto bíblico nos relata a Arca de Moisés,
onde somente os iniciados teriam o acesso a ela (2º nível do
entendimento), e saberiam o que seu interior continha, e o poder que poderia
despertar sendo bem ou mal utilizado.
E o 3º nível de entendimento, onde se dá? Qual é
ele?
Os Egípcios provavelmente foram a maior influência de Moisés
com suas arcas ancestrais (Arca de Isis, Arca de Osíris) onde o símbolo
do Amor Materno e da Morte e Ressurreição se fazem completar,
criando assim uma Arca somente. Moisés e sua Arca da Aliança
nos brindam com o caminho da disciplina e conhecimento, aonde irão
se fundir na figura do Cristo, que nos lembra estas metas com seu amor incondicional
no momento da crucificação. Mas o que o Cristo e a Arca têm
em comum?
Cristo nega seu direito a vida física, nega sua condição
humana em compaixão a nós, homens e mulheres, e esta sua negação,
sua contração, a contração de Cristo transfigurado
em Cristo crucificado, sai da cruz onde morre e nos dá o cubo, a
arca, a nova Arca da Aliança, renovando esta aliança novamente
entre o homem e a divindade, transformando os pecados do velho homem nas
possibilidades do novo homem, com o símbolo de sua ressurreição.
Moisés foi parte de um plano no qual muita gente estava envolvida,
e seu papel de líder, de iniciado, de escolhido para ser o tutor
de um povo serve como símbolo para nós, que, por meio do conhecimento
do existente, respeito a tradição, consciência de seus
papel na obra e responsabilidade em transmutar, sintetizar o que dominava
tendo assim a sabedoria de levar o povo hebreu (que metaforicamente são
nossos pensamentos, palavras e atos), a atravessar o mar vermelho via uso
correto da palavra perdida, do nome sagrado do "não-fato",
que representa aquilo que esta a nosso alcance e possibilidades, e se compreendermos
nosso papel de negar a nós mesmos e nos tornarmos uno com a divindade,
encontramos na Cabala as possibilidades, as ferramentas e o entendimento
das relações entre o Homem, a Natureza e a Divindade.
Fecho com mais um excerto de Joseph Campbell:
"Quem, portanto, pode nos falar do Ser ou do Não-Ser de Deus, exceto através de implicação, apontando para além de suas palavras, dele mesmo e tudo o que ele sabe, e indicando o transcendente, a experiência do mistério?"
Bibliografia:
- "Bíblia de Jerusalém", Ed. Paulus, 2002
- Blavatsky - Helena Petrovna, "Glossário Teosófico",
Ed. Ground, 2000
- Camino - Rizzardo da, "Dicionário Maçônico",
Ed Madras, 2006
- Campbell, Joseph, "Tu És Isso", Ed, Madras, 2003
- Coquet, Michel, "A Arca da Aliança", Ed. Ibrasa, 1986
- Halevi, Zev ben Shimon, "Kabbalah e Êxodo", Ed. Siciliano,
1994
- Pasqually, Martinès de, "Tratado da Reintegração
dos Seres", Difusion Rosicrucienne, 2007
- Saint-martin, Louis-claude de, "Quadro Natural", Difusion Rosicrucienne,
2007
- Schuré, Édouard, "Os Grandes Iniciados", Ed, Madras,
2003