A REINTEGRAÇÃO
contribuição do Am. Ir. Frater Zelator S:::I::: CBCS

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O Martinista busca vivenciar a reintegração que restabelece sua união com a Unidade. Desta maneira, ele é mais um místico que um ocultista, pois não está interessado em acumular conhecimentos sobre os meios de atingir esse objetivo. Ele se preocupa apenas com os assuntos que propiciem seu progresso efetivo nesse sentido. Já aprendemos que a reintegração é a Grande Obra a ser realizada, restaurando em nossas faculdades a mesma lei, a mesma ordem, a mesma regularidade que rege todos os seres da Natureza.


Pela "queda", fenômeno necessário ao exercício do livre-arbítrio, o homem entrou num estado onírico de exílio que ele próprio criou. Afastando-se mais e mais do contato com a Unidade, suas linhas de comunicação com a origem se alongaram e os símbolos passaram a ser a única evidência de contato com o lar de onde partiu. Esse lugar pode parecer uma floresta de erros sem trilhas, um lugar de ansiosa confusão e tormento, mas é daí que deverá começar a se orientar.


A finalidade da existência do homem está em que ele aprenda, pelo exercício de seu próprio livre-arbítrio, a perpetuar o bem e a verdade. Para isso é essencial que saiba se disciplinar para manter contato com as oposições da vida. É assim que aprende a aceitar tanto a conseqüência das más ações, como a recompensa pelas boas, até que alcance a capacidade de se posicionar diretamente na corrente de reintegração. Assim, as oposições da vida se constituem em suas instrutoras e estabelecem o caminho para seu retorno. Essas oposições são tais como sabedoria-insensatez, riqueza-pobreza, fertilidade-esterilidae, vida-morte, domínio-dependência, paz-guerra e beleza-feiura.


Durante o período de inquieto questionamento, no século dezoito, quando os buscadores da verdade se sentiam perdidos em seu desejo de encontrar a união com a Unidade, Martinez de Pasquales apresentou-se em reuniões maçônicas com uma doutrina confiável. Parecendo um tanto vaga e sutil, essa doutrina era ao mesmo tempo sincera e capaz de apresentar certos fenômenos de modo convincente. Trabalhando como um evangelista, Martinez organizava, aqui e ali, Lojas dos Elus Cohens (Sacerdotes Eleitos), que, em rituais teúrgicos, preperava comunicações com seres angélicos. Era um homem sério, dedicado e deu provas suficientes a seus discípulos de que tinha uma consciência iluminada.


Embora não tenha conseguido despertar em seus discípulos poderes comparáveis aos seus, Martinez exerceu sobre eles profunda influência. O ritual que ele tentou aperfeiçoar para realização da magia, foi em vão, pois carecia de desenvolvimento espiritual. Por isso, quando partiu para a América, a apatia se abateu sobre os discípulos. Jean Baptiste Willermoz esforçou-se para seguir seus passos, conseguindo apenas incluir na Maçonaria rituais e cerimônias, cujos participantes não reagiam de forma satisfatória.


Louis-Claude de Saint-Martin, embora tivesse um profundo respeito e total confiança em Martinez, como instrutor espiritual, percebeu, desde o início, que forma e cerimônia erram apenas meios precário para se alcançar o fim que desejava, ou seja, a condução do homem à luz interior. Ele era um místico e não um ritualista, por isso encontrou um caminho de interiorização que não requeria práticas elaboradas. Assim, dedicou-se cada vez mais a escrever e trabalhar com estudantes individuais, ao invés de grupos.


Diante dessas duas práticas, cada iniciado deve buscar aquilo que acha estar preparado para receber. A doutrina de Pasquales é esssencialmente cabalista,, pois a Cabala é a estrutura em que ele baseava seus rituais e explanações. Seu único manuscrito intitulado "Tratado da Reintegração dos Seres" deixa claro que estava cumprindo uma missão e que suas fontes de Luz eram tradicionalmente corretas, embora sua tese, inteiramente clara, não tenha constituído um sistema filosófico.


A instrução de Pasquales começa pela Omnidade, o eterno Criador de tudo que existe. Ela é absoluta em Seu Poder e Conhecimento. Sua compreensão transcende a de qualquer ser mortal criado. Ela é, de certo modo, inescrutável e incognocível para nós. A Omnidade, sendo o Criador, existia antes de tudo de todos. Na imensidão de Seu Pensamento e Poder, Ela abrangia todas as possibilidades, sem limitações, necessidades obstáculos ou qualquer insuficiência. Por razões que somente Ela pode conhecer, a Omnidade emanou inicialmente de sua própria imensidão um grupo de seres espirituais - os primeiros seres criados. Receberam eles leis de ordem e propósito adequados a sua natureza, bem como o livre-arbítrio. Contudo, esses seres cometeram o crime de colocarem sua vontade contra a Vontade divina, querendo modificar a ordem e o propósito de seu ser e desafiando os poderes do Criador.


Por sua desobediência às leis, esses seres foram lançados no mundo temporal, emanado para o fim específico de ensinar a eles a humildade, a obediência e a cooperação harmoniosa. É o fenômeno denominado primeira "queda". Um segundo grupo de seres espirituais foi então emanado para serem os regentes da Natureza, da criação temporal e dos primeiros seres perversos - o Homem-Deus. Esse homem coletivo, também conhecido como Adão, é o Adão Kadmon da Cabala. Foi criado com enormes poderes e privilégios, seu ser estava envolto numa forma espiritual gloriosa, que não estava sujeita aos efeitos destrutivos do tempo nem às limitações do espaço.


Um dos deveres de Adão era recuperar os seres perversos, mas o chefe desses seres o seduziu, sugerindo que ele também desafiasse o Poder Divino. Pleno de orgulho, Adão sucumbiu às tentações e tentou ações espirituais para as quais não tinha poder e voltou sua vontade contra a Vontade Divina. Como resultado dessa fraqueza e desse uso errôneo do livre-arbítrio, Adão foi submetido ao que se chama de segunda queda, ou seja, trocou seu corpo de glória por um corpo material, sujeito não só à ação do tempo, como também do espaço. Teve de viver em trevas espirituais, na privação, na dor e no sofrimento.


O processo para superação dessa situação, a fim de recuperar o estado do Homem-Deus, é o que denominamos de Reintegração.

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