A caridade, virtude suprema



Sendo a caridade a virtude mais excelente, entende-se que na última Ceia dissesse Yeschouá aos Apóstolos: "Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amais uns aos outros" (João 13,34-35). O mandamento novo assinala a medida com a qual devemos aos demais: assim como Yeschouá nos amou. Os mandamentos da lei do Criador resumem-se em dois: amar ao Criador sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. O amor, portanto, é a perfeição da Lei. Assim, concluímos que a caridade é a virtude mais importante do martinista, enquanto peregrinamos nesta terra, e será também a nossa ocupação no céu, onde não existirá mais a fé - já que veremos Criador face a face - , nem existirá também a esperança, porque teremos chegado à meta. Somente a caridade permanecerá. Vejamos em que consiste esta virtude, que resume e coroa toda a vida sobrenatural.


Como já vimos num artigo publicado nesta atualização, a caridade é uma das três virtudes teologais, infundida pelo Criador na vontade, com a qual amamos ao Criador sobre todas as coisas - por quem Ele é - e a nós e ao próximo por amor ao Criador . Por esta virtude que a Providencia infunde, e porque nos capacita para amar ao Criador tal qual é, é um dom sobrenatural. Com a mesma caridade com que amaremos eternamente no céu, amamos já na terra. A caridade pode debilitar-se em conseqüência dos pecados veniais, e perde-se quando se comete um pecado mortal. Se fazemos atos de amor ao Criador e amamos com obras o próximo, esta virtude crescerá em nós.


A primeira obrigação que o ser humano tem - a maior de todas - é amar ao Criador "com todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua mente e com todas as tuas forças" (Marcos 12,30); quer dizer, temos de amar ao Criador sobre todas as coisas. Ele nos criou, é infinitamente digno de ser amado e nos amou antes. E quando podemos dizer que amamos ao Criador sobre todas as coisas? Quando cumprimos nossos deveres, quando estamos dispostos a perder tudo antes de que nos afastemos do Criador por um só pecado e antes de nos afastarmos de nosso legado de duas letras e alguns pontos..


Dentro da virtude da caridade está presente também o amor a si mesmo; mas é evidente que deve ser um amor ordenado, buscando os verdadeiros bens da alma e do corpo em relação à vida eterna. Se alguma vez desejássemos algo que nos afaste do Criador , nós não estaríamos amando-nos de verdade, por nos afastarmos de nosso fim real que é o único que nos pode fazer felizes rumo a Reintegração.


Um martinista não pode dizer que ama ao Criador , se não ama a seu próximo. Como adverte São João, "se alguém diz que ama a Criador e odeia a seu irmão, é um mentiroso, porque quem não ama a seu irmão a quem vê, como poderia amar ao Criador a quem não vê?" (1 João 4,20). As razões nas quais se funda a nossa fraternidade são claras: todos somos filhos do mesmo Pai celestial e, em conseqüência, irmãos; fomos redimidos com o sangue de Yeschouá e estamos destinados ao céu. Yeschouá mesmo se identifica com o próximo para urgir nosso amor: "Todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes" (Mateus 25,40). Por isso temos de querer aos demais por amor ao Criador . A pura simpatia, a admiração ou o altruísmo, não são a caridade que Yeschouá nos pede.


Para ensinar de maneira gráfica como viver a caridade, Yeschouá propôs a parábola do bom samaritano (Lucas 10,30-37). Na realidade Ele é o bom samaritano, que curou nossas feridas com seu infinito amor misericordioso. Quando praticamos as obras de misericórdia - as sete corporais e as sete espirituais - vamos nos identificando com o coração de Yeschouá, de quem aprendemos a dar de comer ao faminto, a ensinar a quem não sabe ( sendo instruídos) a dar bom conselho, a corrigir, a perdoar, a consolar, a sofrer com paciência, a rogar ao Criador por todos etc..


A caridade exige amar primeiro ao Criador e depois aos outros. Existe uma hierarquia no amor oa Criador e ao próximo. Dentro do amor ao próximo, temos a obrigação de querer mais àqueles que estão mais próximos de nós: os pais, irmãos, professores, amigos; vem logo depois os necessitados de ajuda espiritual e material. No amor a nós mesmos está, antes de tudo, a nossa necessidade espiritual, antes mesmo da necessidade material dos outros.


Propósitos de vida martinista, independente de Ordem ou Fraternidade:
" Aprender as Obras de Misericórdia espirituais e corporais:
1. Espirituais:
" Ensinar aquele que não sabe, ou seja saber instruir e ser instruido
" Dar bons ensinamentos a quem o necessitar
" Corrigir aquele que erra, com energia, mas também com afeto
" Perdoar as ofensas recebidas
" Consolar os tristes e s desamparados
" Sofrer com paciência os defeitos alheios
" Rogar a Criador pelos vivos e aqueles que não estão mais entre nós


2. Materiais:
" Visitar e cuidar dos enfermos
" Dar de comer a quem tem fome
" Dar de beber a quem tem sede
" Dar pousada ao irmão peregrino
" Vestir ao nu indispensavel
" Redimir o cativo da ignorância e da escuridão
" Acostumar-se a agir sinceramente por amor ao Criador , porque o que assim se fizer - grande ou pequeno - adquire um mérito sobrenatural.
" Comprovar o amor ao Criador , observando se ajudamos aos demais com obras da verdade única.