Papus (Dr Gérard Encausse) nasceu em 1865 em La Corunã (Espanha), mas os seus pais se estabeleceram em Paris logo após o seu nascimento. Podemos dizer que o propagador do Martinismo foi um parisiense que, jovem estudante de medicina, freqüentou na capital todos os seus recantos . Sua curiosidade abrangia tudo e seu apetite por todos os conhecimentos humanos era insaciável. Era dotado de uma inteligência sintética, de uma memória e facilidade de expressão incomuns. Papus tornou-se logo o pivô e a alma do renascimento tradicional que marcou a passagem do século XIX para o XX. Suas qualidades lhe valeram a honra de se tornar o depositário do pensamento de Saint Martin e, através deste, do de Jacob Boehme e do rosacrucianismo primitivo. Esta herança de "Filósofo Desconhecido" lhe foi transmitida por Henri Dalaage. Uma outra corrente originária de Saint Martin havia chegado a Augustin Chaboseau.

Os dois amigos,fieis depositários de uma mesma e única tradição, se encontraram e trocaram suas iniciações. Papus, sempre empreendedor, constitui um "Supremo Conselho" que reuniu, além dos dois protagonistas, Stanislas de Guaita, Charles Détré, Péladan, Maurice Barrês e alguns outros. Assim nascia a primeira Ordem Martinista.
Papus entregou-se sem demora à tarefa de escrever os rituais para as cerimônias e as recepções dos novos membros. Devemos reconhecer, que estes rituais foram fortemente influenciados pelas tradições maçônicas. Papus não cessava de criticar os irmãos maçons da época pelo seu distanciamento dos princípios da sua própria tradição iniciática, e sem dúvida passou pela sua mente a idéia de criar uma espécie de "maçonaria tradicional", cristã e gnóstica. É certo que nunca houve relação administrativa entre a franco-maçonaria e o Martinismo, salvo o fato de que certas lojas maçônicas (particularmente as do Regime Escocês Retificado) reivindiquem o espírito martinista e cultivem em seus trabalhos esta tradição.
Papus era prosélito na alma Por isso não devemos nos surpreender se viermos a saber que certas personalidades notáveis em Paris, entre 1900 e 1913, foram martinistas, ainda que seus nomes não constem nos livros de matrícula da Ordem. Papus saía muito, fazia muitas conferências e suas obras eram muito conhecidas e apreciadas. Quando se conhece muita gente faz-se forçosamente amigos. Quando se tem uma fé inquebrantável na justeza da obra que se realiza e se goza de uma aura excepcional, faz-se inevitavelmente adeptos. É conhecida também a ação de Papus na Rússia do último tzar, que o recebeu duas vezes e o tinha em grande estima.

Em 1914, a Europa treme e já não é tempo de conferências filosóficas. Papus é mobilizado na qualidade de médico. Dois anos mais tarde, em 25 de outubro de 1916, morre em conseqüência de uma pneumonia contraída na guerra.

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