O Decálogo ensina quais são os males que são pecados

Emanuel Swedenborg


53. Qual é o povo, em todo este globo terrestre, que não sabe que é um mal roubar, cometer adultério, matar e dar falso testemunho? Se os povos o ignorassem e não procurassem por leis prevenir tais ações, seria o fim para eles, porque sem essas leis as sociedades, as repúblicas e os reinos pereceriam. Quem, pois, pode presumir que o povo israelita tenha sido mais estúpido que todos os outros, a ponto de ignorar que essas ações fossem males? Pode-se, pois, ficar admirado que tais leis, universalmente conhecidas em toda a terra, hajam sido promulgadas da montanha do Sinai com tantos milagres, por JEHOVAH Mesmo. Mas escuta: Essas leis foram promulgadas no meio de tantos milagres, a fim de que se soubesse que eram leis não somente civis e morais, mas também espirituais, e que transgredi-las era não só fazer mal ao concidadão e à sociedade, mas também pecar contra Deus. Eis porque tais leis, pela promulgação que delas fez JEHOVAH da montanha do Sinai, tornaram-se leis de religião; porque é evidente que tudo o que JEHOVAH Deus ordena, Ele o ordena para que seja coisa de religião, para que seja feita em vista d'Ele Mesmo e por causa da salvação do homem.

 


54. Como essas leis foram às primícias da Palavra e, por conseqüência, as primícias da Igreja que ia ser instaurada pelo Senhor na nação israelita, e, como eram, em um curto sumario, o complexo de todas as coisas da religião, pelas quais há conjunção do Senhor com o homem e do homem com o Senhor, por isso é que elas foram tão santas que nada houve mais santo.

 


55. Que elas tenham sido santíssimas, pode-se ver por isto: que JEHOVAH mesmo, isto é, o Senhor, desceu sobre o Monte Sinai, no fogo e com os anjos, e daí as promulgou de viva voz; que o povo se preparou durante três dias para ver e ouvir; que o monte foi cercado para que ninguém se aproximasse e morresse; que nem os sacerdotes, nem os anciãos se aproximaram, mas só Moisés; que essas Leis foram gravadas pelo dedo de Deus sobre duas tábuas de pedra; que a face de Moisés irradiava, quando pela segunda vez desceu com essas tábuas; que, mais tarde, as tábuas foram colocadas na arca, a arca depositada no íntimo do tabernáculo; e sobre ela havia o propiciatório, e sobre este os querubins de ouro; que isso era o que havia de mais santo na igreja deles, e foi chamado o "santo dos santos"; que fora do véu, que o envolvia, tinham sido postos objetos que representavam as coisas santas do céu e da igreja, a saber, o candelabro de ouro com sete lâmpadas; o altar de ouro, dos perfumes; a mesa coberta de ouro, sobre a qual ficavam os pães das faces, com as cortinas de fino linho, púrpura e escarlate, que estavam ao redor. A santidade de todo este tabernáculo vinha unicamente da Lei, que estava na arca. Por causa da santidade do tabernáculo, proveniente da Lei na arca, todo o povo Israelita recebeu o mandamento de se acampar em ordem, em torno dele, conforme as tribos, e de caminhar em ordem atrás dele; e também, uma nuvem pousava durante o dia sobre o tabernáculo e uma coluna de fogo durante a noite. Por causa da santidade dessa Lei, e da presença do Senhor nela, o Senhor falava com Moisés acima do propiciatório, entre os querubins, e a arca era chamada "JEHOVAH-ali". Ademais, não era permitido a Aarão passar além do véu senão com sacrifícios e perfumes. É porque essa Lei era a Santidade mesma da Igreja, que a arca foi introduzida por David em Sião; por isso também foi colocada depois no meio do templo de Jerusalém e formou o seu santuário. Por causa da presença do Senhor nessa Lei e em tudo ao redor, milagres foram operados pela arca, na qual estava a Lei; que as águas do Jordão foram separadas e, enquanto a arca ficou no meio do rio, o povo o passou a pé seco; que os muros de Jericó caíram quando a arca os rodeou; que Dagon, o deus dos filisteus, caiu diante dela e, mais tarde, foi achado estendido na porta do templo, a cabeça separada do corpo; por causa da arca alguns milhares de bethsemitas foram feridos; além de muitos outros milagres. Todas essas coisas provinham, somente, da presença do Senhor em Suas Dez Palavras, que são os preceitos do Decálogo.

 


56. Se havia tanto poder e tanta santidade nessa Lei, é também porque ela era o conjunto de todas as coisas de religião; pois que consistia em duas tábuas, uma das quais contêm todas as coisas que se referem a Deus e a outra, no conjunto, todas as coisas que se referem ao homem. É por esta razão que os preceitos dessa Lei são chamados as "dez palavras"; são chamados assim porque "dez" significa todas as coisas. Mas como essa Lei é o conjunto de todas as coisas da religião, ver-se-á no artigo seguinte.
57. Como, por essa lei, há conjunção do Senhor com o homem e do homem com o Senhor, ela é chamada Aliança e Testemunho; Aliança, porque conjuga, e Testemunho porque atesta, porquanto "aliança" significa a conjunção e "testemunho" significa o atestado. É por isso que havia duas tábuas, uma para o Senhor e a outra para o homem. A conjunção é feita pelo Senhor, mas somente quando o homem cumpre o que foi escrito em sua tábua; porque continuamente o Senhor está presente, opera e quer entrar, mas o homem, segundo seu livre que lhe vem do Senhor, deve abrir. Com efeito, o Senhor diz:
"Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele, e ele comigo." (Apoc. 3:20).

 


58. Na outra tábua, que é para o homem, não foi dito que o homem fará tal ou tal bem, mas foi dito que ele não fará tal ou tal mal, como: "Não matarás", "não adulterarás", "não roubarás", "não dirás falso testemunho", "não cobiçarás." A razão disso é que o homem não pode por si mesmo fazer bem algum, mas quando não faz os males, então faz o bem, não por si mesmo, mas pelo Senhor. Que o homem, segundo o poder do Senhor, se o implora, possa fugir dos males como por si mesmo, ver-se-á na seqüência.
59. Os fatos acima referidos (n.1 55), sobre a promulgação, a santidade e o poder dessa Lei, acham-se na Palavra nas seguintes passagens:
Que JEHOVAH desceu sobre o Monte Sinai no fogo e que então o monte foi coberto de fumaça e tremeu; e que houve trovões, relâmpagos, uma nuvem espessa e um som de trombeta (Êxodo 19:16, 18; Deut. 4:11, 5:19 a 23).
Que o povo, antes da descida de JEHOVAH, tinha-se preparado e santificado durante três dias (Êxodo 19:10, 11, 15).
Que o monte foi cercado, para que ninguém, a não ser Moisés, somente, se aproximasse e o tocasse, e morresse, até mesmo os sacerdotes (Êxodo 19:12, 13, 20- 23; 24:1, 2).

 


Que a Lei foi promulgada do alto do Monte Sinai (Êxodo 20:2-14; Deut. 5:6-18).
Que essa Lei foi gravada pelo dedo de Deus sabre duas tábuas de pedra (Êxodo 31:18, 32:15, 16; Deut. 9:10).
Que a face de Moisés resplandecia, quando trouxe do monte essas tábuas pela segunda vez (Êxodo 34:29 a 35).
Que as tábuas foram depositadas na arca (Êxodo 25:16; 40:20; Deut. 10:5; I Reis, 8:9).
Que se colocou o propiciatório sobre a arca e querubins de ouro sobre o propiciatório (Êxodo 15:17 a 21).
Que a arca, com o propiciatório e os querubins, fazia o íntimo do tabernáculo; e que o candelabro de ouro, o altar de ouro do perfume e a mesa coberta de ouro, sobre a qual ficavam os pães das faces, faziam o exterior do tabernáculo; e que as dez cortinas de fino linho, de púrpura e de escarlate constituíam o seu êxtimo (Êxodo 25:1 até o fim; 26:1 até o fim; 40:17 a 28).
Que o lugar onde estava a arca foi chamado o "santo dos santos." (Êxodo 26:33).
Que todo o povo de Israel se acampava em ordem, conforme as tribos, em redor do habitáculo e partia em ordem, atrás dele (Núm. 2:1 até o fim).
Que, então, sobre o tabernáculo, havia uma nuvem durante o dia e uma coluna de fogo à noite (Êxodo 40:38; Núm. 9:15, 16 até o fim; 14:14; Deut. 1:33).
Que o Senhor falava com Moisés acima da arca, entre os querubins (Êxodo 25:22; Núm. 6:89).
Que a arca, por causa da Lei nela, era chamada "JEHOVAH-ali"; porque Moisés dizia, quando a Arca partia: "Levanta-Te, JEHOVAH!" e quando parava: "Torna-Te, JEHOVAH!." (Núm. 10:35, 36 e outras passagens; II Samuel 6:2; Salmo 132:7,8).
Que não era permitido a Aarão, por causa da santidade dessa Lei, penetrar além do véu senão com sacrifícios e perfume (Levít. 16:2 a 14 e seguintes).
Que a Arca foi introduzida por David em Sião com sacrifícios e com júbilo (II Sam. 6:1 a 19).
Que então Uzah morreu porque a tinha tocado (Ibid., vers. 6, 7).
Que a Arca foi colocada no meio do templo de Jerusalém, cujo santuário formava (I Reis 6:19 e seg.; 8:3 a 9).
Que, pela presença e poder do Senhor na Lei que estava na Arca, as águas do Jordão foram separadas, e enquanto a Arca ficou no meio o povo o passou em seco (Jos. 3:1 a 17; 4:5 a 20).
Que os muros de Jericó desmoronaram, enquanto a arca os rodeou (Jos. 6:1 a 20).
Que Dagon, o deus dos filisteus, caiu por terra diante da arca e foi, depois, achado estendido à porta do templo, a cabeça separada do corpo (I Sam. 5:1 a 4).
Que alguns milhares de bethsemitas foram feridos por causa da arca (I Sam. 6:19).

 

60. Que as tábuas de pedra, sobre as quais a Lei estava gravada, foram chamadas "tábuas da aliança", e que a arca, por causa dessas tábuas, foi chamada "arca da aliança", e a Lei mesma a "aliança", vê-se em Núm. 10:33; Deut. 4:13, 23; 5:2, 3; 9:9; Jos. 3:11; I Reis, 8:19, 21; Apoc. 11:19, e em muitas outras passagens. A Lei foi chamada "aliança" porque a aliança significa a conjunção; por isso o Senhor disse que Ele "será dado por aliança do povo." (Isa. 42:6; 49:8); e é chamado "o Anjo da aliança." (Malaq. 3:1); e seu sangue, o "sangue da aliança." (Mat. 26:27; Zac. 9:11; Êx. 24:4 a 10). É por isso que a Palavra é chamada a "Antiga Aliança" e a "Nova Aliança". As alianças também se fazem em vista do amor, da amizade, da consorciação, por conseguinte, em vista da conjunção.
61. Os preceitos desta Lei são chamados as "Dez palavras." (Êx. 34:28; Deut. 4:13; 10:4). Assim são chamados porque "dez" significa todas as coisas e "palavras" significam os veros. De fato, havia ali mais de dez palavras. Como "dez" significa todas as coisas, por isso o tabernáculo tinha dez cortinas (Êx. 26:1). Por isso o Senhor disse que o homem, quando foi tomar posse de um reino, chamou "dez servos" e lhes deu "dez minas" para negociar (Luc. 19:13). É por isso que o Senhor comparou o reino dos céus a "dez virgens." (Mat. 25:1). Por isso foi dito, na descrição do dragão, que este tinha "dez chifres" e sobre os chifres "dez diademas" (Apoc. 12:3), como a besta que subia do mar (Apoc. 13:1), e também como a outra besta (Apoc. 16:3,7); também a besta em Daniel (7:7, 20, 24). "Dez" significa a mesma coisa em Levít. 26:26, Zac. 8:23 e em outros lugares. Daí se originaram os "dízimos", que significam algo proveniente de todas as coisas.

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