A Estrita Observância Templária e os "Superiores Desconhecidos"


A História antiga assemelha-se a uma paisagem noturna pela qual vamos tateando e indistintamente discernindo alguns contornos na escuridão prevalecente, mas felizes quando aqui e ali as obras de um determinado autor, alguma ruína ou obra de arte iluminam como um relâmpago nas trevas o nosso campo especial de exploração.
- Philo, sobre a vida contemplativa, p. 349, F. C. Conybeare.
Ingênuos ou charlatães! Eis a crítica das autoridades maçônicas aos principais espíritos da Estrita Observância; o estudante, todavia, ao avançar com dificuldade por entre as montanhas de literatura polêmica que se acumularam, particularmente em volta desta entidade, sente-se impelido a perguntar: estarão toda a honestidade e sabedoria do lado dos críticos e será racional supor que neste desenvolvimento da difusão da Maçonaria não exista alguém com clarividência suficiente para realizar no interior da entidade o trabalho que o inimigo "fora das portas" arroga-se constantemente o direito de fazer - o trabalho salutar da investigação?
Uma conhecida autoridade abre fogo com a seguinte zombaria: De todas as extraordinárias perversões da Maçonaria, cuja origem deve-se à férvida imaginação de nossos confrades do século passado, nenhuma pode comparar-se, sob o ponto de vista do interesse, ao sistema da "Estrita Observância".! (...) Todo o sistema era baseado na ficção de que, ao tempo da destruição dos Templários, certo número de Cavaleiros se refugiou na Escócia e lá preservou a existência da Ordem. A seqüência dos Grão-Mestres supostamente não foi interrompida e era conhecida dos iniciados uma lista de regentes, em sua sucessão regular, sendo que a identidade do Grão-Mestre empossado no momento era mantida em segredo, durante sua vida, para todas as pessoas, menos pára seus confidentes imediatos; daí o termo "Superiores Desconhecidos",
Dizem que esses Cavaleiros, a fim de conseguir uma segurança perfeita, juntaram-se às Guildas de Maçons, na Escócia, e deram assim início à Fraternidade dos Maçons.


O rasto da serpente materialista pode ser identificado em seu precioso trabalho, embora o autor adiante-se a alguns críticos alemães, reconhecendo os motivos honestos de pelo menos um dos líderes deste Rito. Mesmo com este aumento de generosidade, porém, é evidente que "ingênuos ou charlatães" resume pelo menos dois terços da opinião dos escritores maçônicos do século passado e do presente, quanto às condições mentais e morais dos membros da Estrita Observância.
As evidências da posição - mental, moral e mundana - de muitos dos seus membros, todavia, impedem uma generalização assim apressada, porquanto os críticos que assim estigmatizam os estudantes de misticismo não devem olvidar que pertenceram a esta Ordem mais reis, membros de famílias reinantes, eruditos e altos funcionários do que figuravam em outra qualquer lista da Ordem Maçônica. E entre tais príncipes e grão-duques encontravam-se estudantes aplicados, governantes bons e sábios e homens respeitados por todos que os conheciam, pelo seu juízo e probidade. Com eles encontramos eruditos, nobres e funcionários de alta posição, com nomes imaculados; estes, aliás, não podem ser sumariamente incluídos numa ou noutra categoria - e mesmo admitindo que houvesse um resíduo de membros cujos princípios não eram dos mais altos, e dando generoso desconto para tais pessoas, que são encontradas em todas as sociedades, ainda assim resta uma quantidade enorme de irmãos honestos, consagrados à pesquisa mística - e isto não permite qualquer generalização apressada; subsiste, porém, o fato de que existe difundido sentimento de que, no interior da Maçonaria, esconde-se uma tradição mística e oculta que é a própria história da evolução espiritual.


Ao ler a crítica impiedosa e frívola aos membros da Estrita Observância que tentavam reafirmar a doutrina mística, é divertido observar a petulante pretensão à honestidade e clarividência que - de seu próprio ponto de vista - parecem ser as únicas prerrogativas de alguns poucos oniscientes que haviam sondado - pensavam eles - o misticismo e suas sobrenaturais loucuras com uma sabedoria luminosa que eles - o misticismo e suas sobrenaturais loucuras com uma sabedoria luminosa que os próprios anjos invejariam.
Antes de falar no próprio sistema, será bom referir alguns dos irmãos que caíram sob "o dente estraçalhador da crítica". Encontramos, no ano de 1774, nada menos que doze príncipes reinantes membros do Rito e, na lista seguinte - na qual de modo algum são citados todos os membros da família real -, verificamos que, em alguns casos, famílias inteiras entravam para a Sociedade. Não podem ter sido todos ingênuos e certamente não podem todos ter sido charlatães; ocupavam posições da maior responsabilidade e não poderiam ligar-se-á algo de duvidoso. A lista é a seguinte:
Karl George, landgravede Hesse-Darmstadt.
Friedrich, landgravee príncipe de Hesse-Kassel.
Ludwig, grão-duque e príncipe de Hesse-Darmstadt.
Christian Ludwig,landgrave e príncipe de Hesse-Darmstadt.
Friedrich George August, príncipe de Hesse-Darmstadt.
Ludwig George,príncipe de Hesse-Darmstadt.
Friedrich Karl Alexander, margrave de Brandenburg, Onolzbach e
Baireuth.
Karl I, duque de Brunswicke seus três filhos:
Friedrich August, MaximilianJulius Leopold, WilhelmAdolf.
Karl, grão-duque de Meck1enburg-Strelitz.
Karl, príncipe de Hesse-Kassel.
Karl, príncipe de Courland.

São estes uns poucos dos que entraram para este malsinado Rito e, na Áustria, Itália, França, Rússia e Suécia, podem ser encontrados membros da mesma classe. Todos, além disso, eram grandes entusiastas do misticismo; e muitos deles eram membros da entidade Rosa-cruz e de outras semelhantes que buscavam, todas, dentro dos vários sistemas, aquela velha senda estreita que conduz à sabedoria e não procuravam apenas um caminho, mas experimentavam todos que se apresentassem. Um esboço dos principais espíritos desta interessante Ordem, portanto, pode ser proveitoso e servir para dar daqueles espíritos uma idéia mais clara ao leitor.
O mais importante personagem é Charles Gotthelf, Barão do Sacro Império Romano, de Hund e Alten-Grotkare, nobre lusácio, nascido em 1722. Tomou-se, em 1753, Camarista Real Polonês e Eleitor Saxão; e, em 1755, foi eleito para uma posição superior entre os nomes da Lusácia Superior. A Guerra dos Sete Anos ocasionou-lhe grande infortúnio, tendo seus estados sido ocupados e saqueados pelos exércitos em luta. Ele próprio, aliado da Áustria, teve que fugir para a Boêmia, onde permaneceu até o fim da guerra. O Rei Augusto da Polônia indicou para Conselheiro Privado em 1769 e Maria Thereza, nesse mesmo ano, indicou para posto igual; ele, porém, não aceitou o posto de Viena, pois desejava realizar uma reforma na Maçonaria.
Entrara para a Ordem Maçônica em 1742, quando estava em Frankfurt-am-Main.
Dizem que no ano seguinte estabeleceu uma Loja em Paris e que, estando com o exército francês, veio a conhecer os chefes de um Rito que pretendia ser, em seus graus mais altos, continuação da famosa Ordem dos Cavaleiros Templários. Segundo as reiteradas declarações que fez e manteve até em seu leito de morte, foi recebido nessa Ordem, em Paris, por Lorde Kilmamock, Grão-Mestre da Escócia e nobre jacobita, tendo, nessa ocasião, Lorde Clifford oficiado como Prior. Foi apresentado a um membro da Ordem mui altamente colocado, um personagem misterioso, chamado apenas "Cavaleiro da Pena Vermelha", que talvez fosse o próprio Principe Charles Edward. Supunha von Hund que ele era o Mestre Supremo da Ordem e por ele foi designado coadjutor da Sétima Província da Ordem (Germânia Inferior). Hund visitou a Escócia, onde o convidaram a dar início à Ordem na Alemanha, juntamente com o então Mestre da Sétima Província, de Marschall, a quem sempre considerou como seu predecessor.


Marschall havia fundado as Lojas de Altenburg e Naumburg, mas só nesta última encontrou homens dignos de serem conduzidos mais além, isto é, de serem recebidos nos graus dos Templários. Ele não dava grande importância ao resto das Lojas alemãs, e voltando à Alemanha (cerca de 1751) Hund entrou em contato com Marschall que, por infelicidade, estava já muito doente e veio a morrer logo depois.
Antes de morrer, Marschall destruíra quase todos os papéis relativos aos Templários, dos quais dera só alguns a Hund. Esperava este encontrar os rituais que faltavam, etc., na loja de Naumburg, mas teve uma decepção. Mandou, pois, dois irmãos dessa Loja à Inglaterra e Escócia, a fim de lá adquirir os documentos que faltavam. Os irmãos voltaram, trazendo-lhe apenas a patente de Mestre da Sétima Província, escrita em cifra - e nada mais. o escritor que ora resumimos apresenta um relatório completo das disposições operacionais da Ordem e nos revela que elas eram modificadas de tempos em tempos, conforme as condições que pudessem surgir dos constantes ataques feitos a esta e a todas as outras sociedades ocultas pelos grupo de materialistas da Alemanha, Herr von Biester e colegas, que aqui já foram mencionados e a que mais tarde será necessário referir-nos novamente.