A comenda, potência econômica e comercial


Além da exploração agrícola, os Templários se faziam pagar pelos serviços, como os moinhos que afetavam e cuja utilização estava sujeita a foros. Era, aliás, um dos pecadilhos dos seus amigos cistercienses cujos mosteiros borguinhões, no século XIII, possuíam cada um, em média, uma dezena de moinhos. Azenhas, na maior parte dos casos, mas também moinhos de vento, serviam, é claro, para a moagem de cereais, o esmagamento das azeitonas e do miolo das nozes para a extração de óleo, mas também para tarefas artesanais e semi-industriais como o pisoar dos tecidos de lã. Por vezes, os Templários associavam tanarias aos seus moinhos ou aproveitavam-nos para criarem verdadeiras redes de irrigação. Os outros agricultores podiam beneficiar delas, a troco de foros.
Os Templários possuíam também fornos, mas é preciso notar que os direitos que obrigavam a pagar pela sua utilização eram geralmente menos elevados do que os dos outros proprietários, o que atraía para eles uma clientela fiel e lhes valia algumas inimizades entre os concorrentes.
Os Templários recebiam ainda outros direitos. Para além dos dízimos, que já referimos, retiravam rendimentos das casas que arrendavam, bem como de lojas. Detinham, por vezes, os direitos sobre o conjunto das vendas nas feiras, nomeadamente em Provins, como lembra Bruno Lafille:
"Não se vende, em Provins, nenhum novelo de lã, nenhuma meada de fio, nenhum colchão de penas, almofada, veículo ou roda sem que os Templários recolham um imposto sobre o preço de venda."
Com efeito, o conde Henrique cedera-lhes, contra dez marcos e meio de prata, o imposto de lugar recebido quando das feiras. Em 1214, adquiriram também o imposto de lugar sobre os animais destinados ao matadouro. Recebiam, por fim, um direito sobre a pesagem das leis. A pedra de peso que servia de padrão de pesagem na cidade de Provins foi-lhes confiada e montaram dois estabelecimentos de pesagem: um, em Sainte-Croix, na cidade baixa, e outro em La Madeleine, na cidade alta.
É difícil imaginar a riqueza que tudo isso representava na época. Em 1307, quando foi feito o inventário da casa dos Templários de Baugy, que era apenas um estabelecimento muito secundário e modesto, encontraram-se nada menos que: 14 vacas, 5 vacas leiteiras, 1 bezerro, 7 vitelas, 200 bois adultos, 100 carneiros, 180 ovelhas e cordeiros, 98 porcos e marrãs, 8 jumentos, 8 potros de mais de um ano, 4 potros de leite, 6 cavalos, tonéis de vinho e cerveja, silos cheios de trigo, frumento, aveia, celeiros cheios de feno e erva, três belas charruas e inúmeras alfaias para arar.
A riqueza agrícola das comendas devia-se, em grande parte, às extraordinárias qualidades de gestores dos Templários. Punha-os à frente daquilo a que poderíamos chamar um verdadeiro império financeiro, tanto mais que souberam também ser banqueiros, como veremos mais à frente. Mas utilizaram também a sua experiência para fazer progredir as técnicas da época. Nomeadamente, melhoraram as técnicas de armazenamento em silos, o que permitiu evitar, durante a existência da Ordem, todas as fomes. Estas reapareceram depois da extinção do Templo.
Em todo o caso, esta riqueza, legítima aos olhos de alguns, gerou todas as lendas escritas e faladas de tesouros escondidos nos locais das antigas comendas do Templo. É certo que só se empresta aos ricos, mas não esqueçamos que uma grande parte dessa riqueza era investida e que os excedentes serviam essencialmente para financiar o esforço de guerra no Oriente. Mesmo assim, todos têm o direito de sonhar ao descobrir esses subterrâneos de que as comendas eram, amiúde, dotadas. Louis Charpentier pensa que a sua entrada pode ser detectada em lugares, que, geralmente, têm nomes como Épine, Épinay, Pinay, Épinac, Belle-Épine, Courbe-Épine, etc. Esses subterrâneos são, muitas vezes, difíceis de encontrar, hoje em dia. Em parte soterrados ou inundados, o solo revolto nem sempre permite encontrar os seus vestígios. Mesmo assim, conseguiu-se desenterrar alguns, como em Dormelle, no Seine-et-Marne. Encontrou-se lá uma bela galeria com abóbada de berço, suficientemente grande para que três cavaleiros pudessem cavalgar nela, lado a lado. Dirigia-se para a comenda de Paley, situada a nove quilômetros. E por certo haverá outras mais sob o solo de França. Mas veremos um pouco mais à frente que, se os subterrâneos existem mesmo e estão por vezes ligados a mistérios, não é apenas através das "épines" que podemos descobri-los, mas antes através de outras chaves, que são as de São Pedro.