Síntese das Obras de Saint-Martin


Para dar uma compreensão da doutrina de Saint-Martin citaremos algumas passagens de suas obras, tiradas da recapitulação publicada por André Tauner, em 1946.

Eis aqui um extrato sobre a Origem e o Fim do Homem contido no Quadro Natural. Sente-se nitidamente, nesta passagem, a influência de Martinez de Pasqually e da doutrina da Reintegração: "Afastemos pois, de nós as idéias criminosas e insensatas desse nada, à qual homens cegos ensinam que devemos nossa origem. Não envileçamos nosso ser, que é feito de uma sublime diferença que constitui seu Princípio, pois segundo as leis físicas, nada pode elevar-se senão ao grau de onde desceu. No entanto, essas leis deixariam de ser verdadeiras ou universais se o princípio do homem fosse o nada. Tudo nos indica nossas relações com o mesmo centro, produtor da universalidade material e da universalidade corporal, mesmo que todos nossos esforços tendam continuamente, a apropriar-nos de um ou de outro e a atrair as virtudes até ao redor de nós".

"Observemos, ainda, que está doutrina sobre a emanação do ser intelectual do homem, concorda com a que nos ensinaram, que todos nossos descobrimentos não são senão reminiscências. Pode-se dizer, ainda, que estas duas doutrinas sustém-se mutuamente, pois se somos emanados da fonte universal da verdade, nenhuma verdade deve parecer-nos nova e, reciprocamente, se alguma verdade nos parece nova, ela é só aparente. No entanto, nós não percebemos senão a recordação e a representação do que estava escondido em nosso interior; em conseqüência, devemos ter tomado conhecimento dessas verdades, primitivamente, na fonte universal da verdade."

"Pode-se dizer que todos os seres criados e emanados na região temporal, inclusive o homem, trabalham na mesma obra: redescobrir sua identidade com o Princípio, isto é, crer sem cessar até chegar ao ponto de produzir seus frutos. Eis aí porque o homem, tendo a recordação da luz e da verdade, prova que ele descende da morada da luz e da verdade."

As seguintes considerações sobre o tempo e o espaço, são notoriamente metafísicas:

"O tempo não é mais que um intervalo entre dois atos, não é mais que uma contração, uma suspensão nas faculdades de um ser. Também cada ano, cada hora, cada momento, o Princípio Superior tira e dá poderes aos seres; é esta alternativa que forma o tempo, que está submetida às mesmas progressões do tempo, que faz com que o tempo e o espaço, sejam progressivos."

"Enfim, consideremos o tempo e o espaço contido entre duas linhas que formam um ângulo ou vértice, tanto mais obrigados estão a dividir sua ação, para completá-la ou para percorrer o espaço que fica entre uma linha e outra. Ao contrário, quanto mais perto estão dessa ponta, tanto mais se simplifica sua ação. Julguemos, pois, o que deve ser a simplificação de ação, no Ser Fundamental e Princípio de tudo, que é a ponta do ângulo. Este Ser não tendo que recorrer senão à unidade de sua própria essência para alcançar a plenitude de todos seus atos e de todos seus poderes, não reconhece senão a nulidade do tempo, o tempo é absolutamente nulo para Ele ..."

Eis aqui uma passagem que não seria desaprovada por nossos físicos modernos:

"É inquestionável que a matéria não existe senão pelo movimento, pois vemos que, quando os corpos encontram-se privados dele, dissolvem-se e desaparecem insensivelmente. É também igualmente verídica a observação que o movimento é o que dá a vida aos corpos e que não lhes pertence, propriamente, uma vez que o vemos cessar neles, tendo deixado de ser sensíveis a nossos olhos, e nós mesmos não podemos duvidar que eles estão completamente sob sua dependência, uma vez que ao parar este movimento, acontece o primeiro ato de sua destruição. Concluímos, pois, que se tudo desaparece à medida que o movimento cessa, é evidente que a existência não existe senão pelo movimento; é bem diferente dizer que o movimento pertence à existência e que está na existência ..." (Extratos de Dos Erros e da Verdade).

Para Saint-Martin, o candidato à Iniciação espiritual denomina-se Homem de Desejo. Eis aqui algumas linhas do Ministério do Homem-Espírito, que esclarecerão esta denominação:

"Por um lado, a magnificência do destino natural do homem, consiste em poder, real e radicalmente, querer por seu desejo, somente a coisa que pode, real e radicalmente, possuir. Esta coisa só é o desejo de Deus; todas as outras coisas que arrastam o homem, este não as deseja em absoluto, sendo tão somente escravo ou joguete delas. Por outro lado, a magnificência de seu mistério consiste em não poder, radical e realmente, atuar senão de acordo com a ordem positiva, pronunciada a todo instante, como por um professor ao seu redor, e isto por aquela autoridade que só é eqüitativa, boa, conseqüente, eficaz e conforme o desejo eterno".

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