CÂMARA DE DIREÇÃO

Com a morte prematura de Papus, o grande criador do Martinismo moderno, a até então organização unida e fortalecida deu sinais de fragmentação e enfraquecimento. Foi necessário então no final dos anos 50 uma ação agregadora que visava organizar o Martinismo da época. Foi então criado a União Das Ordens Martinistas, o texto que redigimos abaixo é uma tradução livre do estatuto da nova organização e explica em detalhes como o Martinismo contemporâneo foi regulamentado. É portanto um documento histórico e muito elucidativo.

Artigo I

Em uma reunião fraternal celebrada em Paris , no dia 26 de outubro de 1958, por iniciativa do Doutor Philippe Encausse ( filho de Papus), congregando os representantes qualificados do Martinismo de Tradição, constitui-se uma “União da Ordens Martinistas”, dirigida pelos três sobreviventes legítimos e atuais desse Martinismo, a saber:

a-) A Ordem Martinista-Martinezista (Ramo de Lyon), da qual é Soberano Grão-Mestre o Muito Ilustre Irmão Henri Charles Dupont , como sucessor legítimo e regular dos Muito Ilustres e lembrados Irmãos Téder, Bricaud e Chevillon , sucessão que remonta a 1916, quando da morte do Muito Ilustre e saudoso Irmão Papus, falecido a 25 de outubro desse ano, cujo aniversário de morte comemorou-se no cemitério de Père Lachaise, na véspera da referida reunião.

b-) A Ordem Martinista, da qual é Soberano Grão-Mestre o Muito Ilustre Irmão Philippe Encausse , sucessor natural e regular do Muito Ilustre Irmão Doutor Gérard Encausse (Papus) seu pai - Ordem reativada em 1953, em Paris.

c-) A Ordem Martinista dos Elus-Cohen, da qual é o Soberano Grão-Mestre o Muito Ilustre Irmão Robert Ambelaim, uma vez que foi nomeado Grão-Mestre Substituto pe­los Ilustres e lembrados Irmãos Georges Lagreze e Camille Savoire, “Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa”; tinha tal caráter por ocasião do despertar da Ordem em 1942 e era detentora regular dos arquivos autênticos (século XVIII) do Martinismo.

Artigo II

O organismo diretor desta União das Ordens Martinistas é uma Câmara de Direção formada por seis membros, composta pelos três Grão-Mestres acima nomeados e por outros tantos Irmãos Assistentes, substitutos de cada um deles.

Artigo III

A União das Ordens Martinistas tem como objetivo manter os contatos mais fraternais entre os Irmãos das três Ordens , por meio de visitas recíprocas entre os Grupos e Lojas e pela participação em conferências comuns.

Artigo IV

A Câmara de Direção velará por intermédio de seus Membros, com plena con­fiança e sinceridade, que o Supremo Conselho de cada uma delas, dirijam e orientem leal­mente os candidatos eventuais, ainda profanos, atendendo os interesses e tendências espiritu­ais de cada um desses candidatos, para a Ordem cuja orientação espiritual melhor corresponda às suas próprias tendências e suas capacidades físicas, psíquicas e espirituais: O Martinismo de Saint-Martin (Via “Cardíaca”); o Martinismo de Dom Martinez de Pasqually (Via “Operativa”);

Artigo V

Considerando que as três Ordens Martinistas que a constituem representam as três fontes autenticamente indiscutíveis do Martinismo Moderno, de diversos graus e diferen­tes ângulos: Martinismo, Willermozismo e Martinezismo; considerando que todos os Grupos Martinistas atuais, no plano internacional, derivam sem exceção, seja do Movimento fundado em 1891 pelo ilustre Irmão Gérard Encausse (Papus), que foi assessorado pelo Ilustre e não menos lembrado Irmão Augustin Chaboseau; seja do Regime pró-maçônico dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa, constituído em Lyon, em 1778 pelo Ilustre e lembrado Irmão Jean-Baptiste Willermoz (Eques ab Eremo); seja da Ordem dos Cavaleiros Maçons Elus-Cohen, fundada em 1758 por Dom Martinez de Pasqually desta maneira, todos os grupos Martinistas internacionais, quanto à sua própria origem, derivam seus poderes de constituição, de alguma destas três Ordens, que tiveram sua origem na França e que ainda existem em tal país.

“Por estas razões, a União das Ordens Martinistas declara-se habilitada para conferir, somente ela, por meio de uma das três Ordens que a compõem, os poderes de consti­tuição de novos Grupos Martinistas internacionais, como para confirmar aos já existentes os poderes que detenham.”

“Detentora, pelas três Ordens que a compõem, das Tradições e dos arquivos do Martinismo autêntico e regular, a União das Ordens Martinistas considera-se igualmente ha­bilitada para zelar pela perpetuação e a pureza original das duas vias tradicionais desta Escola:

- O Martinismo de Saint-Martin (Via “Cardíaca”).

- O Martinezismo de Don Martinez de Pasqually (Via “Operativa”).”

Artigo VI

“Para levar a efeito a decisão solene do dia 26 de outubro de 1958, a União das Ordens Martinistas decide que sua Câmara de Direção deverá reunir-se quatro vezes ao ano, pelo menos, sem prejuízo de outras sessões, quando justifiquem as necessidades ou as circuns­tâncias. Em princípio, tais sessões realizar-se-ão no primeiro domingo que siga a um equinócio ou solstício.”

Artigo VII

“A Câmara de Direção preocupar-se-á, no prazo mais breve possível, em voltar a tomar contato com os diversos Grupos Martinistas estrangeiros.”

“Procederá com toda sinceridade e lealdade ao resolver, imparcialmente, as di­vergências que possam surgir entre duas organizações Martinistas de um mesmo Estado.”

“Com o objetivo de obter que os Martinistas do estrangeiro, de todas as ten­dências, voltem a unir-se fraternalmente pelo bem da Tradição Comum, a Câmara de Direção cuidará para que se constituam, com a maior brevidade, Ordens que, no plano nacional e es­trangeiro, repitam o que realizou a União das Ordens Martinistas, em Paris, no dia 26 de ou­tubro de 1958. É preciso obter, em um breve prazo, que os Irmãos do estrangeiro voltem a se encontrar nas Cadeias de União que, por serem diferentes em sua própria organização e em suas práticas externas, estarão, no entanto, iluminadas por uma Luz comum. Com efeito, trata-se de uma União, de um agrupamento das Ordens Martinistas, nas quais cada uma conserva sua independência; porém, têm tantos pontos comuns em suas finalidades, que não podem continuar ignorando-se e, por isso, devem unir seus esforços no prosseguimento dos trabalhos e realizações, no domínio do Espírito.”

Artigo VIII

“Em caso de demissão ou falecimento de um Membro-Assistente, o Grão-Mestre do qual obteve diretamente seu cargo, deverá designar seu sucessor.”

“No caso de falecimento de algum dos três Grão-Mestres, seu sucessor na Câ­mara de Direção será ipso-facto o Grão-Mestre que se nomeie ou lhe suceda.”

Artigo IX

“A Câmara de Direção está facultada para outorgar plenos poderes e para con­ferir mandato de representação ao Irmão de alguma das três Ordens que ela ache conveniente nomear, para o propósito de que a represente em qualquer Convenção, Assembléia, Posse de Grupo ou de Loja, tanto no plano nacional como no internacional.”

Artigo X

“Toda a correspondência relacionada com a Câmara de Direção deverá ser di­rigida ao Doutor Philippe Encausse, 46 Bld. de Montparnasse, em Paris (15 e), França que a encaminhará aos interessados.”

“A revista A INICIAÇÃO, fundada por Papus em 1888, publicada sob sua dire­ção desde 1888 até 1914 e novamente impressa desde 1953, sob a direção do Ilustre Irmão Philippe Encausse, como órgão oficial da Ordem Martinista, passa a ser órgão oficial da União das Ordens Martinistas . Cada uma das três Ordens disporá de certo número de páginas para publicação a partir de 1959.”

Artigo XI

“Os Irmãos signatários, titulares e assistentes, ao firmarem o presente texto que serve de Estatuto e de Convenção, reconhecem que, com isso comprometem, não só sua honra, em consideração aos artigos que o constituem, mas também a das Ordens que lhes ou­torgaram mandatos e lhes deram poder para agir em seu nome.”

“Subscrito em Paris, domingo, 15 de dezembro de 1958 e firmado com o Selo de cada Ordem.”

- Seguem as firmas dos Soberanos Grão-Mestres:

ORDEM MARTINISTA-MARTINEZISTA: Henri Dupont.

ORDEM MARTINISTA: Philippe Encausse.

ORDEM MARTINISTA DOS ELUS-COHEN: Robert Ambelain.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

Em 1º de dezembro de 1959, os três Grão-Mestres decidiram uniformizar no âmbito das três Ordens as palavras, sinais e toques, tanto para os Associados, como para os Iniciados e para os Superiores Incógnitos.

“No sábado, 13 de agosto de 1960, em Coutances (Manche), o Ilustre e lem­brado Amado Irmão Henry Charles Dupont, Soberano Grão-Mestre da Ordem Martinista-Martinezista (ex-Ordem Martinista de Lyon), designou o Ilustre Irmão Philippe Encausse, filho de Papus e Soberano Grão-Mestre da Ordem Martinista, como seu sucessor único e regular. Dupont presidia a Ordem desde a morte do Ilustre e lembrado Amado Irmão Constant Chevillon, assassinado na cidade de Lyon em março de 1944, por militares hitleristas.”

“Henry Charles Dupont faleceu aos 84 anos de idade, em 1º de outubro de 1960, às 22 horas, em Coutances.”

É conveniente assinalar, por outra parte, a existência de duas Ordens Martinistas, nascidas das Ordens criadas originalmente na França, após a morte do Doutor Gérard Encausse (Papus). Trata-se, respectivamente, da Ordem Martinista e Sinár­quica (Grã-Bretanha, entre outros países) e a antiga delegação para os Estados Unidos da América da Ordem Martinista Tradicional, cujo fundador foi o Ilustre Amado Irmão Agustin Chaboseau, companheiro desde a juventude de Papus e que faleceu em 2 de janeiro de 1946, em Paris.

“As Lojas da Inglaterra e do Canadá da Ordem Martinista e Sinárquica conce­dem o direito de visita aos membros (regularmente iniciados) das Ordens que constituem a União das Ordens Martinistas, atualmente agrupando a muitos milhares de membros, reparti­dos em trinta países.”

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