A Pratica Teúrgica Através da Prece
Por Monte Cristo SI


Seteira numa fortaleza e ínclito entre os místicos, a Teurgia e a magia foram alvo de vários manuscritos e inúmeras teses, entretanto vale a pena nos dedicarmos um pouco mais sobre estes assuntos tão debatido e tão estudado pelos estudantes Martinistas.

Papus em seu livro " Tratado elementar de magia prática " Capítulo IV, faz a mais simples de todas as definições:

"A magia, considerada como uma ciência de aplicação, limita quase unicamente sua ação ao desenvolvimento das relações que existem entre o homem e a natureza. O estudo das relações que existem entre o homem e o plano superior ou divino, em todas as suas modalidades, pertence à Teurgia "

Para Martinès de Pasqualy e os Elus-Cohen a teurgia era uma santa magia, seu principal objetivo era o de apresentar aos seus membros uma purificação mais próxima possível da perfeição de seu corpo material, do envoltório plástico e da alma, a fim de fazer desta composição trina um verdadeiro receptáculo, digno das inspirações do Arquétipo. Os iniciados acreditavam que desta forma, "purificados", poderiam entrar em contato com os seres angélicos, tradutores das vontades do Criador, e receber destes as diretrizes e ordens divinas, além é claro colocar a prova sua devoção.

Não se tem notícias que os Elus-Cohen utilizassem em seus complexos rituais, instrumentos comuns a esta prática: espadas , bastões , lanças , etc.. Ao contrario Pasqualy se utilizava basicamente do incensário para seus trabalhos litúrgicos, além de círculos e palavras de poder e orações, logicamente tudo isto na ocasião correta e oportuna, principalmente nos solstícios e equinócios, como podemos verificar nas correspondências trocadas entre ele e seu discípulo Jean Baptiste Willermoz.

Os salmos ocupavam neste contexto Elus Cohem, um lugar de destaque. Os salmos como todos nós sabemos e como conta a história, foram escritos pelo Rei Davi. Todos os dias depois de suas funções, este Rei passava noite adentro em estudos e depois da meia noite, compunha seus cânticos, súplicas e louvores até o amanhecer do dia; desta reverência ao Criador surgiu esta obra sagrada.

Em cerimônias, o Elu-Cohen utilizava os sete primeiros salmos do Rei Davi , para as suas prosternações , sempre direcionada a um ponto cardeal. O primeiro era recitado para o oriente, o segundo de frente para o Norte, o terceiro de frente para o Sul, o quinto e o sétimo de frente para o oriente e finalmente o quarto e o sexto no centro do templo. Ritual bastante parecido é ainda hoje praticado em algumas organizações Martinistas modernas.

Especialmente, esta técnica praticada por Pasqualy, se utilizava de um salmo em especial, o 118 que sempre foi particularmente utilizado para a manutenção de uma ligação transcendental com o Divino:

Dai graças ao Senhor, porque ele é bom; porque a sua benignidade dura para sempre...Com força me impeliste para me fazeres cair, mas o Senhor me ajudou. ... ó Senhor, nós te pedimos, envia-nos a prosperidade. Bendito aquele que vem em nome do Senhor; da casa do Senhor vos bendizemos. O Senhor é Deus, e nos concede a luz; Tu és o meu Deus, e eu te darei graças; tu és o meu Deus, e eu te exaltarei. Dai graças ao Senhor, porque ele é bom; porque a sua benignidade dura para sempre. a tua palavra.

Como vimos, a prece foi muito utilizado pelos Elu-Cohen do Universo, mas o que pensava a este respeito o Filósofo Desconhecido?

Saint-Martin explica : " A prece é o verdadeiro alimento da alma, é quando ela coloca principalmente em ação todas as suas faculdades ; também é dela que ele retira suas maiores forças e toda evidência da luz. O estado da alma na oração é um combate em que ela se despoja de tudo que lhe seja estranho, para se renovar com toda pureza, claridade e sublimidade de sua natureza".

Saint-Martin declarava que a prece é a chave fundamental da viagem mística, da verdadeira iniciação. Esta prece que na verdade pode ser traduzida como uma meditação ou uma comunhão silenciosa com o Criador. Pasqualy alimentava a idéia que a prece deveria ser proferida, ou seja, que a prece deveria ser essencialmente vocal, falada ou cantada, já Saint-Martin defendia dois procedimentos diferentes: a prece mental ou silenciosa tem uma força protetora e atrativa com relação ao Bem, enquanto que a prece falada, cantada ou vocalizada acrescenta a essas qualidades o poder de vencer os inimigos ou as diversidades o que, logicamente a torna mais forte e superior.

Com esta breve introdução, acreditamos que todos os buscadores tenham formado em si uma conclusão unânime no que concerne ao valor da prece e sua importância no desenvolvimento do Homem de Aspiração e da teurgia cerimonial.

Não é demais portanto, afirmar que podemos chamar de atuação teúrgica uma tentativa bastante séria, planejada e racional de tentarmos agir no plano do Arquétipo sobre os fluxos mentais do Universo, e que um tipo elementar, de uma operação teúrgica é aquilo que chamamos de prece ou oração. A prece não contem pedido particular, pois procura somente um laço com o Arquétipo a fim de poder receber Dele, Influxos Superiores.

Por conseguinte podemos abordar este assunto de forma prática, há uma prece ensinada por Yeschouá a seus discípulos que servirá de modelo perfeito para aplicarmos de forma produtiva a Teurgia na forma de prece. O “ Pai nosso” objeto deste artigo não deve ser encarado do ponto de vista meramente religioso, mas sim como um exercício de aplicação e de meditação.

O Pai Nosso, tal como os mantras e os cantos gregorianos e hebraicos, tem uma eficiência maior quando recitados em uma língua antiga, que a faz conservar suas características antigas através dos tempos além é claro da força vibratória de suas palavras e letras. O Pai nosso, possui sua raiz mais antiga no hebraico e no latim, certamente encontraremos certa dificuldade em absorver seus ensinamentos nestas línguas que para a maioria de nós é incompreensível, porém é importante que compreendamos a extensão de seus benefícios quando corretamente utilizadas.

Para fins didático e certamente esotérico, iremos dividir O Pai nosso em 10 partes ou emanações do Amor Ativo.

1. Pai nosso que estás no céu (O Amor Ativo) esta invocação corresponde logicamente ao destino de nossas atenções, ou seja, a quem estamos dirigindo nosso trabalho e nossa atenção, que está no lugar mais alto do poder.
2. Santificado seja seu nome (o primeiro pedido), significa que seu nome dentre tantas interpretações existentes deve ser santificado. Corresponde à Sabedoria, ou o binário do destino e da vontade.
3. Venha a nós o Teu Reino (o segundo pedido), significa que o solicitante anceia para que o seu mundo Incognoscível possa um dia ter morada em seu coração. Corresponde a razão das coisas, ou ainda do equilíbrio ou da neutralidade.
4. Que tua vontade seja feita no Céu (o terceiro pedido) , significa que aspiramos participar da grande Lei Universal, aquela que se aplica em cima . Corresponde à Misericórdia, ou a condensação.
5. Como na Terra (o quarto pedido), significa que também aspiramos participar da grande Lei Universal aqui no estado material. Corresponde a conformidade da Lei material ou à Severidade, revela ainda o início do predomínio do princípio energético.
6. O pão nosso de cada dia dai-nos hoje - (o quinto pedido), o pão é a possibilidade de conhecer a vida através da forma, das experiências, das diversidades de cada momento. Corresponde à Harmonia e à Beleza, ou ainda do estabelecimento das polaridades.
7. E perdoa a nossa faltas - (sexto pedido) significa: "que seja aplicado em mim o princípio do perdão”. Corresponde à Vitória, ou a vitória do três sobre o quatro, ou seja, da vitória do imaterial sobre o material.
8. Assim como nós perdoamos aos nossos devedores - (sétimo pedido), significa: que possamos ter a mesma misericórdia recebida para com nossos semelhantes. Corresponde à Glória ou à Paz, ou a criação da lei das compensações.
9. E não nos deixeis cair em tentação - (o oitavo pedido), significa: livrai-nos dos constantes movimentos pendulares entre as colunas das oposições. Corresponde à Orientação ou da Forma equilibrada, da formação da matéria.
10. Mas livrai-nos do mal -(o nono pedido), significa: livrai-nos, se possível, do caminho do extremo, da floresta dos erros, do "homem da correnteza", do homem sem força de vontade. Corresponde ao Fim ou ao Começo, a reencarnação no estado mais denso da matéria.

Podemos finalizar este artigo, com um conselho dado por Saint-Martin a respeito da prece:


"O segredo de nosso progresso consiste na oração, o segredo da prece na preparação, o segredo da preparação numa conduta pura, o segredo de uma conduta pura no temor a Deus, o segredo do temor a Deus em seu amor. Assim, o amor é o princípio e o centro de todos os segredos”.

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