MEMPHIS-MIZRAIM E O MARTINISMO


Vários visitantes de nosso portal tem solicitado informações sobre o Rito de Memphis- Mizraim que tem forte ligação com o Martinismo, Apesar de pouca literatura disponível, temos em nosso poder alguma documentação interessante sobre a matéria:

Os Ritos Orientais de Memphis e Mizraim representavam na Europa a Maçonaria Ocultista e Hermética. Em tais ritos procurava-se admitir aqueles Irmãos que tinham interesse em se aprofundar no estudo da doutrina Maçônica. Através de seus rituais, graus, símbolos, inserem-se uma série de Tradições Iniciáticas Antigas que não deixam de interessar aos SS. II. e FF. RR. CC.. A própria denominação destes Ritos: Memphis e Mizraim, perpetua dois importantes Centros da Iniciação e do Sacerdócio Egípcio na mente de todos os iniciados do Ocidente.


A este Rito pertenceu na Europa o Irmão Ragon, que esteve em contato com o Imperator R+C ou Chefe dos Rosa-Cruzes e, inclusive, foi seu aluno o Conde de Saint-Germain. Por outro lado, na Itália este Rito teve uma grande importância nos acontecimentos históricos que deram nascimento à nação Italiana. Devemos recordar que Garibaldi pertenceu a esta Ordem. No nosso vizinho país, a Argentina, o Rito de Memphis teve um período de grande esplendor não faz muito tempo, chegando a contar com cerca de setenta Lojas.


O Rito de Memphis é de origem oriental. Foi renovado em 1820 pelo Irmão Boulage, professor da Faculdade de Direito de Paris, sujeitando-se ao plano dos Grandes e dos Pequenos Mistérios do Egito e da Grécia Antiga. O Rito de Misraim, também denominado Egípcio e, as vezes, judaico, foi fundado em Paris, em 1805, pelo Irmão Lechangeur.


Conforme o traçado arquitetônico destes Ritos da Maçonaria Oriental, a origem da Ordem se remonta às primeiras idades do mundo, supondo-se que um nasceu na Índia o outro no Egito, nas margens do Nilo, sendo uma continuação dos antigos Mistérios. Consideram-se fundadores diretos do Rito os Cavaleiros da Palestina e os Irmãos Rosa-Cruzes do Oriente.


Os diversos graus do Rito de Memphis e Mizraim foram tomados do Escocismo, do Martinismo ( por este motivo conserva a influencia de Pasqually e de Saint Martin) , da Maçonaria Hermética e de vários outros sistemas e reformas que praticaram-se com êxito na Alemanha, França e Itália, em épocas anteriores a 1730. Um documento muito interessante sobre a Maçonaria Oriental e Espiritualista é a "Muito Santa Trinosofia" escrita pelo Conde de Saint-Germain.


O Rito conta com um total de 96 graus divididos em três séries: simbólica, filosófica e mística. Por outro lado, o Rito Misraim conta com 90 graus classificados em quatro séries e divididas em 17 categorias, a saber:

1º - Série - Simbólica: compreende os 33 primeiros graus divididos em seis classes, que ensinam a moral e o estudo do homem.

2º - Série - Filosófica: compreende 33 graus a partir do 34º ao 66º, divididos em 4 classes. Ensina as ciências naturais, a filosofia da história e explicação os mitos poéticos da Antigüidade que, sob a alegoria da fábula, encerram a origem dos Mistérios.

3º - Série - Mística: compreende 11 graus, do 67º ao 77º, divididos em 4 classes, desenvolve a parte transcendental da Filosofia Maçônica.

4º - Série - Cabalística: Inclui os 13 últimos graus, do 78º ao 90º, divididos em 3 classes e contém as chaves do ensinamento e doutrinas do Rito, chaves que são de índole Cabalista, conforme as Tradições Rosa-Cruzes do Oriente.


A organização e estabelecimento destes Ritos exige por parte dos Dignitários um perfeito conhecimento das Tradições Iniciáticas do Oriente e do Ocidente, além de outras condições muito especiais que não se podem improvisar. A menos que estes requisitos sejam cumpridos, torna-se muito difícil subsistirem tais ritos.


Em seguida transcreveremos algumas denominações de seus graus, nos quais os SS. II. e os FF. RR. CC. notarão como os Ritos Orientais Memphis e Miszraim conseguiram perpetuar um conjunto de símbolos muito sagrados da Iniciação Antiga e Medieval. Ainda que em alguns aspectos esta terminologia possa nos parecer pomposa e bizarra, devemos compreender que não era considerada desta maneira no século XVIII, a cujo espírito e compreensão obedece.


Cavaleiros: da Abóbada Sagrada, da Espanha e do Oriente, de Jerusalém, da Águia Vermelha e Negra, do Oriente e do Ocidente, Rosa-Cruz, Noaquita ou da Torre, da Serpente de Bronze, da Cidade Santa da Alegria, do Tabernáculo.


Filalete: Doutor dos Planisférios, Sábio Sivaísta, príncipe do Zodíaco, Sublime Filósofo Hermético, Cavaleiro das Sete Estrelas, das Sete Cores ou do Arco-Iris, Rei Pastor dos Hurtz, Príncipe da Colina Sagrada, Sábio das Pirâmides.

Filho da Lira: Cavaleiro da Fênix, da Esfinge, do Pelicano, Sábio do Labirinto, Pontífice de Cadméa, Mago Sublime, Príncipe Brahman, Cavaleiro do Templo da Verdade, Sábio de Heliópolis, Pontífice de Mithra, Guardião do Santuário, Sublime Kavi, Sapientíssimo Muni.

Sublime Príncipe da Cortina Sagrada: Intérprete dos hieróglifos, Doutor Órfico, Guardião dos Três Fogos, Guardião do Nome Incomunicável, Doutor do Fogo Sagrado, Doutor dos Vedas Sagrados, Cavaleiro do Tesouro de Ouro, Sublime Cavaleiro do Triângulo Luminoso, Sublime Cavaleiro do Temível Sadah, Sublime Cavaleiro Teósofo, Sublime Mestre do Anel Luminoso, Sublime Mestre da Grande Obra, Soberano Príncipe de Memphis, etc..

Alguns dos Sinais Hieroglíficos e Cabalísticos:

Paralelograma com 7 pontos - arco-iris - o ponto no centro de um quadrado - duas linhas cruzadas dentro de um quadrado - duas linhas cruzadas dentro de um quadrado com um ponto no centro - um círculo com um quadrado dentro e um ponto no centro destes - dois círculos concêntricos dentro de um quadrado - quadrado - quadrado - quadrado com três pontos, no centro, formado um triângulo - duplo círculo encerando a estrela de quatro pontas - edifício quadrado e de pedra sobre o qual repousam as bases de quatro triângulos em cujo centro figura um olho, ou uma gama, uma estrela, esferas, crescentes, flechas, claves, orlas dentadas, serpentes, águias negras ou vermelhas, varetas floridas e de ouro, as Tábuas da Lei, a Arca da Aliança - o Tabernáculo, altares de sacrifício e dos perfumes, palmas e lauréis, candelabros de 3, 7 ou 9 velas, o Livro dos Sete Selos, salamandras, castelo com ameias, abóbadas estreladas, subterrâneos luminosos, Sol de Ouro, Lua, Estrela Polar, uma medalha de ouro cunhada em 2995 AC, o Zenite e o Nadir, cabeças de mortos e ossaturas... uma tumba, etc..

Os diferentes graus contém invocações a Jehovah, Adonai, Iod, Alá, Emmanuel, Salomão, Hiram, Zorobabel, Abraão, Daniel, Jonas, Zabulão, com elementos das lendas Hebraícas, Caldéias e Islâmicas.

De seus rituais convém lembrar o termo "Autópsia", tomado dos Mistérios Antigos. Nenhum outro poderia simbolizar melhor a conclusão da Obra Iniciática. Da mesma maneira que o médico busca nos órgãos a causa da morte de um sujeito para tentar preservar os outros seres humanos, assim também o Iniciado deve buscar nele as causas do Mal para combatê-lo e fazer triunfar o Bem.

Transcrevemos a continuação, tomados de seus diferentes graus, algumas máximas morais e filosóficas enunciadas em seu simbolismo e que merecem o interesse dos Iniciados:

Demi-our-gros, reunião das palavras gregas: Demo (eu construo), ouranos (o céu), gros (a terra), simbolizando o "Grande Arquiteto do Universo", porém na interpretação Maçônica que é diferente da interpretação Martinista que reconhece ser Yeschouá ( Jesus Cristo) o GADU.

"Pensa que, para chegar à esfera da inteligência, é preciso sondar, sem medo, os mistérios da morte física."

"Despoja-te do homem velho para renascer na virtude. Lança um olhar para teu passado. Busca motivos de esperança no porvir."

"A morte não pode separar o que está unido pela virtude. Proceda assim como queres que procedam contigo."

"Se a bebida que te oferecem é amarga em lugar de ser agradável, ao menos, bebe-a com resignação, porém afasta-a dos demais, já que a bebida amarga é o símbolo da adversidade."

"Tu que desejas passar rapidamente pelos graus de instrução, recorda que antigamente não era admitido ninguém a Maestria senão depois de transcorridos sete anos dedicados ao estudo das ciências úteis ao gênero humano e haver compreendido os segredos da Natureza. Estuda suas forças e busca suas causas segundas."

"Busca as causas e as origens, compreende o mito poético dos antigos, desenvolve teu sentido humanitário e compreensivo."

"O Conhecimento completa, ao Iniciado, sua ascensão para além do plano em que moram seus semelhantes."


"O mundo é uma eterna figueira, cujas raízes estão no céu e que estende seus ramos sobre o abismo. Recorda este princípio dos Vedas."

"Tudo segue de 7 em 7, em todos os sistemas e em todas as seitas: 7 esferas celestes dos antigos, os 7 dias da semana, as 7 cores e os 7 sons fundamentais, etc.."

"O gênero humano é Um, apesar da diversidade de línguas."

"Todas as religiões assemelham-se com suas lendas: Rama, o Indiano; o Egípcio Osiris; Adônis; Hércules e Baconos Gregos; o Atys dos Frígios e o Cristo não são mais que uma só e mesma alegoria."

"Não te ocupes senão de trabalhos úteis, iluminando-os com a tocha da tua razão e trabalha na elevação e enobrecimento do espírito humano."

"O mais útil dos conhecimentos é o de si mesmo, pelo qual aprenderás a desenvolver tua natureza, tomando consciência de tua dignidade."

"Para que uma civilização material não se degenere, é necessário que seja limitada por uma civilização moral."

"A escala misteriosa das existências deve ser subida progressivamente pelos que se acham dignos de chegar perfeitos ao triângulo. Não é senão pelo estudo e a perseverança que se pode chegar até lá."

"O Espírito sobrevive à matéria, animada por sua força e que vai se aperfeiçoando mediante os corpos que vai animando sucessivamente."

"As partículas da Matéria, animadas por esta força, aglomeram-se para constituir, reconstituir e aperfeiçoar as espécies."

"A morte é um sono seguido de renascimentos."

"Recorda as máximas e conselhos do programa iniciático."

"A iniciação não é nem uma ciência nem uma religião, mas uma escola em que se é instruído nas Artes, Ciências, Moral, Filosofia e nos fenômenos da Criação, com o propósito de conhecer a verdade sobre todas as coisas."

"Não é a iniciação que faz o iniciado, mas a educação e a meditação."

"Faz sair a luz das Trevas, a Beleza da Incoerência."

"Mais vale esclarecer os inimigos da virtude do que combatê-los."

"Regula as ações de acordo com a Razão e não conforme as paixões."

"Os atos dos homens não são senão a sucessão do que viram e aprenderam, da mesma maneira que a forma da pedra bruta depende dos golpes que o artista vai lhe dando com seu martelo e cinzel."

"O homem é mais ou menos vicioso, ou mais ou menos esclarecido, segundo as verdades ou os erros que se lhes inculquem."

"Estuda a arte de dirigir os homens para concentrar o domínio da Verdade, modular a propagação, deter a perigosa e demasiada dispersão."

"A inteligência é a causa e não o efeito da evolução."

"A cadeia das causas e dos efeitos constitui o Mundo."

"A pluralidade, concentrada na Unidade, governa tudo."

"Saber, calar, querer, ousar. Sabedoria, Força, Beleza na harmonia."

"Tudo vem do Fogo, condensador e animador universal, sem o qual o Grande Todo voltaria a cair na noite do caos primitivo."

Em um interessante folheto publicado por J. Bricaud, em Lyon, em 1933 e reeditado por Chevillon em 1938, intitulado "Notas históricas sobre o Rito Antigo e Primitivo de Memphis-Mizraim", consta que, "em 1908, constituiu-se em Paris um Soberano Grande Conselho Geral do Rito de Memphis e Mizraim para a França e suas dependências. A Patente Constitutiva foi outorgada pelo Soberano Santuário da Alemanha e estava assinada e selada em 24 de junho, em Berlim, pelo Grão-Mestre Théodor Reuss Peregrinos."

"Foram designados Grão-Mestre e Grão-Mestre Adjunto", escreve Bricaud, "o Dr. Gérard Encausse (Papus) e Charles Détré (Téder). A Loja "Humanidade", anteriormente auspiciada pelo Rito Nacional Espanhol, chegou a ser a Loja-Mãe do Rito de Memphis e Mizraim para a França." , vemos portanto mais uma ligação do Rito com o Martinismo, desta vez com dois de seus mais importantes protagonistas.

Em sua obra "O que deve saber um Mestre Maçon", Papus que havia obtido os graus 33, 90 e 96 diz:

"Se a Franco-Maçonaria é uma simples sociedade de ação social, por que existem então estes mistérios, esta linguagem tão peculiar e toda essa decoração?. Se isso não serve de nada, francamente, poderia ser suprimido. Porém, se sob esses símbolos oculta-se uma elevada verdade, cujo conhecimento pode conduzir a adaptações sociais libertadoras da Humanidade, então estudemos esta ciência maçônica com todo o devido respeito."

"Não é na França, onde quase todas as tradições, lamentavelmente, se perderam, mais no estrangeiro, na Inglaterra, na Espanha e, sobretudo, na Alemanha, que prorroguei minhas investigações sobre esse ponto."

"Em minhas conversações com o meu Ilustre Irmão John Yarker, chefe Supremo do Rito Primitivo e Original; com o Dr. W. Wescott, da Sociedade Rosacruciana da Inglaterra; com Villarino del Villar, ilustre Maçon Espanhol e com os Rosa-Cruzes e Alquimistas da Alemanha é que consegui estudar de uma maneira séria, fora dos livros, a origem da Ciência Maçônica."

Em nosso país, há informações seguras da atividade do Rito de Memphis e Mizraim atraiu a censura da Grande Loja do Chile, que sentiu-se menosprezada em sua exclusividade para auspiciar Lojas Maçônicas no território da República, conforme o direito de território que possuem as Grandes Lojas.

Como conseqüência disto os Ilustres Irmãos que, na realidade, sustentavam as Colunas de Memphis e Mizraim com seu talento e capacidade, retiraram-se, deixando o dito Rito abandonado à sua sorte, porque a Ordem de Memphis e Mizraim deixou de existir no Chile, em seu aspecto espiritual e iniciático. Atualmente, continuam trabalhando com esse Rito, algumas Lojas de Santiago e Valparaiso, ainda que sem maiores irradiações espirituais e cada dia com maior flacidez.

Convém esclarecer no final deste artigo que O Martinismo e a Maçonaria são organizações distintas e autônomas. Nada impede, entretanto, que os Martinistas se tornem Maçons ou que Maçons se tornem Martinistas.

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