AS CONDIÇÕES NECESSÁRIAS DE UM VERDADEIRO LIBERTADOR
SE COMPLETARAM EM CRISTO. "ESTÁ FEITO"

Louis Claude de Saint Martin - O Filósofo Desconhecido


Estava reservado a Ele, o Princípio do Homem, reunir todas estas condições para o Homem. Nada senão este criativo, vital e vivificante Princípio poderia ser o verdadeiro libertador, porque o derramamento voluntário de seu sangue, ao qual nenhum sangue sobre a terra pode ser comparado, foi capaz, por si só, de realizar o completo deslocamento das substâncias estranhas mergulhadas no sangue do Homem.

Nada, senão este divino princípio poderia extrair a alma humana de seu abismo, e identificá-la com sigo próprio, a fim de que a alma fosse capaz de experimentar os prazeres de sua verdadeira natureza; só Ele, sendo o depósito da chave de Davi, poderia por um lado fechar o abismo e, por outro, abrir o Reino da Luz, restaurando o Homem ao posto que sempre deveria ter ocupado.

Observá-lo somente de um ponto de vista externo e temporal, é não saber nada sobre o Redentor, é não se elevar, através de um desenvolvimento da compreensão, ao centro divino a que pertenceu. Vamos, então, traçar, a partir da diversidade de características com as quais foi revestido, alguns meios de adequar sua homificação (Antropomorfização) espiritual as nossas débeis faculdades, o que precedeu seu advento corporal.

Sendo o Eterno Princípio do Amor, era necessário, antes de mais nada, que ele tomasse o caráter de Homem imaterial, seu Filho; e para cumprir tal tarefa, foi suficiente olhar a si próprio no espelho da Virgem Eterna, ou SOPHIA, no qual sua mente havia gravado, por toda Eternidade, o modelo de todas as coisas.

Após se tornar Homem imaterial, pelo simples ato de contemplação de sua mente no espelho da Virgem Eterna ou SOPHIA, era preciso se revestir com o puro elemento, aquele corpo glorioso que está absorvido em nossa matéria desde a Queda.

Após se revestir com puro elemento, ele tinha que se constituir de princípio da vida corporal, unindo-se com o Espírito do Grande Mundo ou Universo. Depois de se tornar o princípio da vida corporal, era preciso se tornar elemento terrestre, unindo-se com a região elementar; para tanto, teve que se fazer carne, no ventre de uma virgem terrestre, revestindo-se com a carne procedente do pecado do primeiro Homem, já que foi da carne, elementos e espírito do Universo (Grand Monde) que veio nos libertar. Sobre isto, tenho que reportar o leitor a Jacob Boehme que tem emitido tão grande e profunda luz sobre este assunto.

Agora vemos porque o sacrifício feito pelo Redentor a cada passo, descendo das alturas de onde caímos, era necessariamente apropriado a todas as nossas misérias e todos os nossos sofrimentos. Este foi o único sacrifício que culminou com aquelas confortantes, ainda que terríveis palavras, "Está feito"; confortantes pela certeza que nos dá de que a obra está realizada, e de que nossos inimigos serão colocados sob nossos pés, sempre que seguirmos os passos daquele que os subjugou; terríveis porque se permitirmos que se tornem vãs através de nossa ingratidão e indiferença, nenhum recurso, então, nos restará, porque não podemos contar com nenhum outro Deus, e não há nenhum outro libertador a esperar.

Agora não é hora de expiar nossas faltas e limpar nossas manchas através do sacrifício de animais, já que Ele próprio expulsou as ovelhas, bois e pombos do Templo. Não é tempo em que os profetas podem vir e abrir a nós os caminhos do Espírito, pois já deixariam estes caminhos abertos e o Espírito olha por nós continuamente.

Finalmente, não é mais tempo de esperar que o Salvador das nações venha até nós, Ele já veio; sendo o princípio e o fim de todas as coisas, não podemos agir como se houvesse outro Deus depois dele, e nem lhe negar uma fé sem limites e uma convicção universal, já que tudo o que sabemos sobre isto aprendemos com ele, seria uma ofensa; a fé e a convicção de fato só poderia repousar nele, real e fisicamente, pois só o Redentor é universalidade. Está feito.

Desta forma, não temos outro trabalho, outra tarefa senão a de nos empenhar, ao máximo, a fim de participarmos da obra acabada e banir de nós tudo o que possa evitar nosso progresso.

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