Anjos ou Demônios


Os clérigos sempre se esforçaram em conservar só para si a possibilidade de comunicação com o plano Divino. A partir dessa pretensão, todo contato que não vem por seu intermédio atribui-se a Satã ou a outros demônios. Caluniaram ao ponto de pretender que os Martinistas não eram cristãos, não servindo ao Cristo, mas a um demônio qualquer, disfarçado sob esse nome. Eis a resposta de Saint-Martin a essas acusações:


"Acrescento que os elementos mistos foram o meio de que se serviu o Cristo para vir até nós; enquanto devemos quebrar e atravessar esses elementos para chegar até ele; assim, enquanto repousarmos sobre esses elementos, estaremos atrasados". "Entretanto, como acredito falar a um homem sensato, calmo e discreto, não esconderei que na escola onde passei há mais de vinte e cinco anos as comunicações de todo o tipo eram numerosas e freqüentes; e eu tive a minha parte como muitos outros. Nesses trabalhos, todos os sinais indicativos do Reparador estavam compreendidos.


Ora, não ignorais que o Reparador e a Causa Ativa são a mesma coisa". "Acredito que a palavra comunicou-se sempre, diretamente e sem intermediário, desde o começo das coisas. Ela falou diretamente a Adão, a seus filhos e sucessores, a Noé, a Abraão, a Moisés, aos Profetas, etc., até o tempo de Jesus Cristo. Ela falou pelo grande nome e queria tanto transmiti-lo, diretamente, que segundo a lei levita o grande sacerdote encerrava-se sozinho no Santo dos Santos para pronunciá-lo; e, segundo algumas tradições, ele possuía campainhas na barra de seu balandrau para ocultar sua voz aos que permaneciam nos recintos vizinhos.


"Quando o Cristo veio, tornou a pronúncia dessa palavra ainda mais central ou mais interior, uma vez que o grande nome que essas quatro letras exprimem é a explosão quaternária ou o sinal crucial de toda vida. Jesus Cristo, transportando do alto o dos hebreus, ou a letra S, juntou o santo ternário ao grande nome quaternário deve encontrar em nós sua própria fonte nas ordenações antigas, com mais forte razão o nome do Cristo deve também esperar dele, exclusivamente, toda eficácia e toda luz.


Também, ele nos disse para nos encerrarmos em nosso quarto quando desejássemos orar; ao passo que, na antiga lei, era absolutamente necessário ir ao Templo de Jerusalém para adorar; e aqui, vos envio os pequenos tratados de vosso amigo sobre a penitência, a santa oração, o verdadeiro abandono, intitulados: Der Weg zu Christ caminho de Cristo)(10); ai vereis, passo a passo, que se todos os costumes humanos não desaparecerem, e se é possível que qualquer coisa nos seja transmitida, verdadeiramente, se o espírito não se criar em nós, como criasse eternamente no princípio da natureza universal, onde se encontra permanentemente a imagem de onde adquirimos nossa origem e que serviu de exemplo a Mensebwerdung. Sem dúvida, há uma grande virtude ligada a essa verdadeira pronúncia, tão central quanto oral, deste grande nome e daquele de Jesus Cristo que é como a flor. A vibração de nosso ar elementar é uma coisa bem secundária na operação pela qual esses nomes tornam sensíveis aquilo que não o foi. A virtude deles é de fazer hoje e a todo momento o que fizeram no começo de todas as coisas para lhes dar a origem; e como produziram toda coisa antes que o ar existisse, sem dúvida que ainda estão abaixo do ar, quando desempenham as mesmas funções; não é impossível a esta Divina palavra se fazer escutar mesmo por um surdo e em lugar privado de ar, pois não será difícil à luz espiritual tornar-se sensível a nossos olhos mesmo físicos, pelo menos não ficaríamos cegos e ofuscados no mais tenebroso calabouço. Quando os homens fazem sair as palavras fora de seu verdadeiro lugar, livrando-as por ignorância, imprudência ou impiedade, às regiões exteriores ou à disposição dos homens de torrente, elas conservam sempre, sem dúvida, sua virtude, mas daí retiram muito de si próprias, porque não se acomodam por combinações humanas; também, esses tesouros tão respeitáveis não fizeram outra coisa senão provar a escória, passando pela mão dos homens; sem contar que não cessaram de serem substituídos pelos ingredientes nulos ou perigosos, que, produzindo enormes efeitos, acabaram por encher o mundo inteiro de ídolos, porque ele é o templo do Deus verdadeiro, que é o centro da palavra".


Ao terminar estas citações, salientemos que a Ordem recebeu de Saint-Martin o pantáculo e o nome místico do Cristo, , que ornamenta todos os documentos oficiais do Martinismo.


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