A PUREZA NO MARTINISMO

Frater Zelator SI SII


Louis-Claude de Saint-Martin, escreveu certa vez que considerava obrigação do instrutor místico "conduzir a mente do ser humano por um caminho natural para as coisas sobrenaturais que lhe pertencem por direito, mas das quais perdeu ele toda noção, em parte por sua degradação, em parte pela instrução freqüentemente falsa de seus instrutores". Provavelmente já se tornou evidente que estamos cumprindo essa obrigação, primeiro auxiliando o postulante a abandonar as falsas noções do mundo profano e, segundo, ensinando ao desperto Homem de Desejo a técnica pela qual poderá ele progredir mais seguramente rumo, "às coisas sobrenaturais que lhe pertencem por direito". No momento vamos considerar dois pontos que servirão de preparação para discursos seguintes. Esses pontos dizem respeito ao sacrifício ou à subjugação do Eu carnal e à Senda da Pureza, ou Óctupla Senda. Como o ser humano era puro antes da queda simbólica e se tornou impuro ou misturado à matéria por causa da mesma, os Martinistas fazem da pureza um ideal sagrado. Assim agem eles graças à sua confiança na veracidade das palavras do Mestre Conciliador: "Bem-aventurados são os puros de coração, pois eles verão Deus". Para o Martinista, pureza primordial é sinônimo de Unidade Divina. Tendo-a por meta, sua constante preocupação é encontrar o melhor meio de alcançá-la.


Fomos advertidos no sentido de sacrificarmos a natureza sensual. No padrão trino do Martinismo, o 1º Grau na Senda Martinista poderia ser chamado de "Grau do Sacrifício", ou da subjugação do Eu carnal. Isto não deve ser entendido como a extirpação, ou o aniquilamento dos desejos do corpo. E sim como a sua subordinação, a fim de que as necessidades da nossa natureza anímica e do Eu superior sejam libertadas de obstáculos e frustrações. O ser humano é um ser complexo e extraordinário. Nele encontramos a natureza angélica e a natureza animal ou demoníaca. O treinamento espiritual que recebemos pelos sublimes ensinamentos do Martinismo requer a subjugação do animal no ser humano e a libertação do seu ser angélico. Assim, como disseram os antigos Mestres, "obterás a Liberdade da Alma e da Mente, lutando contra tuas paixões, tuas ânsias terrenas; e assim poderás esperar conquistar a liberdade tão louvada, tão exaltada, tão verdadeiramente divina".


Embora o sofrimento seja urna parte inevitável do desenvolvimento superior, não é um fim em si mesmo e não é somente por ele que Deus pode ser alcançado. O ensinamento que afirma o contrário é uma distorção ou inversão da verdade mística. O caminho do ascetismo termina em aridez de corpo e coração. Todo Homem de Desejo deve aprender a superar a tentação para vencer a silenciosa luta interna contra seus adversários, os seus sentidos. É um triste engano aceitar como verdadeira a idéia de que "quanto maior o pecador, maior é o santo", pois é uma distorção do discernimento correto pensarmos que é preciso descer ao mais baixo para subir ao mais elevado. Este ponto de vista falseia e exagera o fator tentação.


Platão, um de nossos antigos predecessores, declarou que a alma estava acorrentada enquanto permanecia no corpo; mas isto não nos leva, como Martinistas, nem a desprezar o corpo nem a necessariamente reverenciá-lo. Nosso envoltório físico é um maravilhoso exemplo da lei natural e espiritual; não obstante, é uma severa arena e testes para o ser espiritual em nosso interior. Estamos precipuamente interessados na liberação dos poderes e faculdades superiores do ser humano espiritual interior, pois, em última análise, só a parte espiritual é real, imortal e capaz de divina reintegração.

 

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