O REPOUSO SABÁTICO DA TERRA
Por Saint Martin o Filos.: Desc.:


O grande pecado dos judeus, segundo Moisés, foi não ter dado o descanso ou o sabat à terra, após as calamidades e total dispersão com que a ameaçaram, Moisés acrescenta: (deve XXVI.34) "Então a terra cumprirá os seus sábados, durante todos os dias da sua desolação, enquanto estiverdes na terra dos vossos inimigos. Então a terra repousará e poderá cumprir os seus sábados. Repousará durante todos os seus sábados. Repousará durante todos os dias da sua desolação, o que não aconteceu nos vossos dias de sábado, quando nela habitáveis".


Compare com isto, a idéia que devemos ter do povo de Israel que é a herança do Senhor. (Is XIX.25). Compare o povo sob este esplêndido título, com a idéia que devemos formar do Homem, que deve ser, preeminentemente, o herdeiro do Senhor quando este universo que nos contém, chegar ao seu fim.
Finalmente, compare o alto Ministério, o qual nos empenhamos em retraçar aos olhos do Homem, com o trabalho que os filhos de Israel tinham que cumprir na terra da Judéia, para dar o sabat ou o descanso à terra, e iremos descobrir que o homem, e o povo judeu, tinham o mesmo destino e emprego, o mesmo título e qualificação. Se há qualquer diferença é em favor ao homem. Israel não foi senão um projeto ou epítome do Homem. O Homem é Israel! Israel foi encarregada a dar repouso à terra prometida; O Homem é encarregado a dar repouso à toda terra, para não dizer, à todo o universo.


Mas, é essencial que compreendamos este repouso sabático, e que saibamos melhor o que devemos compreender por Ministério Espiritual do Homem.


É difícil para nós, evitar a convicção de que, independentemente dos frutos terrestres, os quais a terra nos produz de forma tão abundante, há outros frutos a serem produzidos, além destes. A primeira indicação que temos, disto, é a diferença que observamos entre os frutos selvagens os quais a terra produz naturalmente, e aqueles que a fazemos gerar através do cultivo; isto, manifesta claramente, que a terra só quer a ajuda do homem para trazer à tona maravilhas ainda mais interessantes.
Uma segunda indicação, é que há algumas nações pagãs que não tem prestado culto religioso à terra.
Por fim, a mitologia vem reforçar tal conjectura através da fábula das maçãs douradas no jardim de Hesperides, ao ensinar que os homens foram instruídos na arte da agricultura, por uma Deusa, e que, segundo Hesíodo, a terra surge imediatamente após o caos, casando-se com o Céu e sendo a mãe dos Deuses e Gigantes, do Bem e do Mal, das Virtudes e dos Vícios.


Se, destas observações naturais e mitológicas, passarmos a tradições de outra ordem, vemos que, após o assassinato de Abel, foi dito a Caim (Gen.IV.11 e 12): "Agora, és maldito e expulso do solo fértil que abriu a boca para receber de tua mão o sangue de teu irmão. Ainda que cultives o solo, ele não te dará mais seu produto: serás um errante fugitivo sobre a terra".
Contudo, não vemos que a terra deva ser cultivada somente pelas mãos dos justos, sob a pena da esterilidade. Nem que o sangue dos homens impede a sua fecundidade. Os campos da Palestina foram saturados com o sangue dos habitantes, a quem os filhos de Israel foram ordenados a exterminação e a fertilidade daquelas planícies foi uma das promessas, e parte da recompensa que os Judeus foram estimulados a reclamar, se obedecessem as leis oferecidas a eles.


Também, não observamos, em nossas guerras, o campo no qual sepultamos os mortos em grande escala, atingido pela esterilidade. Pelo contrário, ele é notável pela fertilidade. Assim, enquanto o sangue humano injustamente derramado, clama por vingança aos céus, não temos conhecimento de que as leis terrestres da vegetação no nosso globo sejam invertidas ou suspensas em conseqüência de homicídio.
Portanto, quando é dito a Caim que mesmo que ele cultivasse a terra ela não lhe daria seu fruto, temos toda a razão em crer que, a terra cultivada de que se fala aqui, seja uma outra além do cultivo original que foi mencionado; ora, que idéia podemos formar desta outra terra cultivada, a não ser que ela era parte do verdadeiro Ministério Espiritual do Homem? Um alto privilégio que lhe fora dado, para fazer com que a terra aprecie seu sabat; privilégio que contudo, é incompatível com o pecado e que deve ser suspenso ou interrompido, naqueles que não trilham os caminhos da retidão.


Mas não podemos penetrar muito bem o significado da palavra sabatismo, sem recorrer às noções comentadas anteriormente, tomando, no mínimo, por certo, as sete formas ou poderes, estabelecidas pelo nosso autor Alemão, como o fundamento ou bases da natureza.


Devemos, ao mesmo tempo, concordar com ele, que, como conseqüência da grande revolução, estas sete formas ou poderes são produzidas tanto na terra como em outras estrelas, de forma concentrada ou interrompida; e que esta inconstância é o que mantém a terra na privação ou sofrimento, já que somente através do desenvolvimento destas formas ou poderes é que ela pode produzir todas as propriedades das quais é depositária e as quais deseja gerar; esta observação pode ser aplicada a toda Natureza.
Finalmente, precisamos imaginar, o homem anunciando uma tendência universal de aperfeiçoar todas as coisas na terra, e como encarregado por Iahweh Deus (Gen. II.15), a cultivar o paraíso da bem-aventurança e de o guardar.


Ora, o que poderia ser esta cultura, senão algo para manter em atividade, na exata medida e proporção, a operação destes sete poderes ou formas, das quais o jardim do paraíso tinha tanta necessidade como outros lugares da criação?
O Homem deve ser o depositário do poder de movimento destas sete formas, para ser capaz de fazê-las agir, de acordo com os planos designados para ele, e manter este local escolhido em repouso, ou desfrutar de seu sabat, uma vez que não há nenhum repouso ou sabat para coisa alguma, a não ser na medida em que este lugar possa livremente desenvolver todas as suas faculdades.
Em nossos dias, embora o modo de existência dos homens esteja prodigiosamente alterado, em conseqüência da grande revolução, o objetivo da criação não se alterou quanto a isto, e o Homem Espírito ainda é chamado à mesma obra, que é, o de fazer a terra manter seus sabats.
A diferença consiste em que, agora, ele só pode desempenhar sua tarefa de forma difícil e dolorosa, e, acima de tudo, só pode realizá-la através daquele mesmo instrumento ativo formalmente apontado para dar movimento aos sete poderes fundamentais da Natureza.


Enquanto o Homem não cumprir esta sublime função, a terra sofrerá, pois não desfrutará de seus sabats. A terra sofre ainda mais quando o homem reage criminalmente sobre ela, ao tentar extrair-lhe, poderes vergonhosos ou corruptos, contrários aos planos recebidos pelo homem. No primeiro caso, a terra tolera o homem, apesar de sua negligência; no segundo caso, ela o expulsa, como aconteceu com os filhos de Israel.


HOME